“Rio é o São Francisco, o Rio do Chico. O resto pequena vereda. E algum ribeirão.” Riobaldo Tatarana, personagem de Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas, explica assim a nomenclatura dos rios do sertão. Entre sertanejos, o Velho Chico é único a merecer o nobre título de rio. O próprio apelido já atesta a intimidade com que os brasileiros – não só os que habitam a região – tratam o São Francisco, que leva grande volume de água para o semi-árido nordestino, região sujeita a extensos períodos de secas. Sua bacia ocupa uma área de 645 mil quilômetros quadrados, distribuídos em 503 municípios, e tem uma descarga (vazão) média de 2.850 metros cúbicos por segundo.
O São Francisco percorre 2.700 quilômetros da serra da Canastra em Minas Gerais, até o Atlântico, na divisa entre Alagoas e Sergipe. Sua bacia ocupa territórios da Bahia, Pernambuco, Goiás e Distrito Federal. Nesse trajeto, atravessa a Floresta Atlântica, o Cerrado, a Caatinga e o litoral.
É uma região que se destaca pela relativa pobreza em águas subterrâneas, o que contrasta com a abundância de recursos minerais: nas proximidades do Alto do Rio das Velhas estão quase todas as reservas brasileiras de cádmio, diamantes, além de mais de 65% das reservas de zinco, enxofre e chumbo. A região é também bastante sujeita à erosão: uma área correspondente a quase 13% da bacia perde até 10 toneladas por hectare a cada ano – limite máximo aceitável para solos tropicais.
O São Francisco tem 168 afluentes. Desses, 99 são perenes e 69, intermitentes – ou seja, estes últimos ficam secos durante parte do ano. Entretanto, quando há chuva excessiva, muitas vezes os rios da bacia provocam inundações, principalmente na Grande Belo Horizonte, Divinópolis e Pirapora, entre outras cidades. Pelo menos 14,1 milhões de pessoas vivem nessa bacia, mas a agricultura é, de longe, a maior consumidora de água: em algumas regiões, a irrigação chega a gastar até dez vezes mais que as residências. Isso porque na bacia do São Francisco há 336.200 hectares de áreas irrigadas – 11% do total nacional – das quais 55% pertencem a empreendimentos privados.
Fonte: Como cuidar da nossa água. Coleção Entenda e Aprenda. BEI. São Paulo-SP, 2003.