Projeto Dendrogene

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Conservação Genética em Florestas Manejadas na Amazônia

Uso e conservação da floresta tropical. Estas são as palavras-chave do Projeto Dendrogene, iniciado em 2000 sob o financiamento da Embrapa Amazônia Oriental (Belém-PA) e Departamento para o Desenvolvimento Internacional (DFID), do Governo Britânico. O Dendrogene (dendro = árvore e gene = genética) desenvolve meios de avaliar os impactos da exploração florestal sobre a biodiversidade tendo em vista a sustentabilidade a longo prazo. Trata-se dos impactos sobre a capacidade da floresta de se regenerar, ou seja, de garantir, através dos processos de reprodução, a continuidade das diferentes espécies.

A Amazônia é um dos mais ricos e biologicamente diversificados ecossistemas do mundo e a exploração madeireira tem destaque na economia regional gerando em torna de 600 mil empregos e movimentando recursos de 2 a 3 bilhões de reais anuais. Portanto, o uso sustentável e a conservação de florestas tropicais é uma das maiores preocupações do governo, do setor privado, das ONGs e da sociedade em geral.

Baseado no conhecimento atual e novas pesquisas, o Projeto Dendrogene desenvolve novas ferramentas que promovam o manejo florestal sustentável, isto é, o manejo que concilie o uso dos recursos florestais e a sua conservação garantindo assim a qualidade de vida de pessoas por várias gerações.

Atualmente, o setor florestal não consegue identificar as espécies utilizadas com confiabilidade. O projeto desenvolve fichas de identificação e cursos de identificação botânica. Espera-se produzir fichas para mais de 50 espécies e promover a profissionalização da identificação no setor florestal.

O setor também não leva em conta as características das espécies em seu manejo, como todas se comportassem igualmente. O projeto disponibiliza as características especificas em uma base de dados (Dendrobase), desenvolve um modelo de simulação para avaliar os possíveis impactos em cada espécie e desenvolve um software para facilitar a aplicação desses conhecimentos às decisões de manejo.

Espera-se também que as informações geradas pelo Dendrogene possam contribuir no direcionamento de políticas públicas para manejo florestal na Amazônia.

Devido à dimensão do projeto, ele conta com parcerias de diversas instituições de pesquisa nacionais e internacionais, além do envolvimento de outros grupos de interesse ligados ao setor florestal, incluindo comunidades, empresas madeireiras e universidades.

Projeto Dendrogene

O projeto Dendrogene faz parte do programa de cooperação ambiental dos governos brasileiro e britânico. Uma equipe multidisciplinar da Embrapa Amazônia Oriental é responsável pelo projeto e conta com a colaboração de cientistas interessados de outras instituições regionais, nacionais e internacionais. O professor Gene Namkoong atua como Conselheiro Cientifico do projeto.

O projeto, Conservação Genética em Florestas Manejadas da Amazônia, nasceu por causa da preocupação com a sustentabilidade de uso das florestas nativas da região amazônica. O desmatamento e a exploração predatória da madeira provocaram o mais novo ciclo de altos e baixos. O público, a sociedade civil, o governo e mesmo parte do setor privado buscam uma alternativa. Neste sentido, a introdução de princípios básicos de manejo e um enfoque na redução de danos (exploração de baixo impacto), são passos importantes e prioritários, mas não suficientes.

Os avanços em genética alertam para a importância de considerar a biodiversidade em seus elementos básicos para garantir o seu futuro e os avanços em informática permitem trabalhar com sistemas complexos como a floresta tropical. Sem dúvida, a grande parte da floresta será utilizada para o benefício da sociedade e especialmente para melhorar a qualidade de vida dos mais marginalizados, mas não podemos ter o preço da perda da própria floresta. Precisamos nos esforçar para entender o funcionamento da floresta e assim buscar conservá-la para futuras gerações.

O caráter do projeto é inovador na utilização dos conhecimentos e novas tecnologias na busca da sustentabilidade do manejo florestal e, desde o início, o mesmo foi concebido como um projeto que necessitaria de colaboração multi-institucional. Houve um workshop para a apreciação da comunidade nacional e internacional interessada no tema e o projeto foi formalmente aprovado em novembro de 1999 para um período de cinco anos.

O projeto efetivamente começou no início do ano 2000 com um workshop de implementação (workshop00.pdf) reunindo especialistas para planejamento e lançando o projeto ao público geral.

A meta global do projeto é o uso sustentável e a conservação dos recursos genéticos das florestas tropicais úmidas da região da Amazônia Brasileira. Especificamente, o objetivo é desenvolver mecanismos para usar o conhecimento cientifico (botânica, ecologia reprodutiva, e genética), em promover o manejo florestal sustentável. A premissa é que existe muita pesquisa, mas em geral está desconectada e não efetivamente disponibilizada, portanto ela não tem tido o devido impacto para os gerentes de floresta.

O projeto contribuirá ao desenvolvimento de critérios e indicadores práticos de sustentabilidade genética do manejo florestal. Serão indicados também aprimoramentos a curto prazo para assegurar a sustentabilidade do manejo florestal, e assim manter os meios de vida das pessoas que dependem deste importante recurso da região e ao mesmo tempo, conservar a diversidade biológica e assegurar os benefícios ambientais da floresta.

Foram identificados quatro elementos importantes para alcançar os objetivos do projeto:

1 .Identificação correta de espécies: um problema para a indústria, o mercado e a pesquisa. O projeto pretende capacitar atores chaves ligados ao setor.

Por que é importante para o setor madeireiro?

A incrível diversidade das florestas amazônicas é de conhecimento público. Isto torna a tarefa de identificar as plantas, bastante complexa. O setor madeireiro atualmente depende de conhecimento local, o que resulta em agrupamento de espécies diferentes, em enfoque nas espécies mais conhecidas, e em dificuldade de relacionar a informação do local (nome comum) à informação científica e do mercado que é acessado através do nome científico. Mesmo para a pesquisa associada à flora, a identificação correta é um dos grandes desafios. Os madeireiros que se preocupam com a identificação correta das plantas exploradas só têm a ganhar tempo e dinheiro.

Por que tempo?

Porque é importante retirar da mata apenas a madeira que foi solicitada pelo cliente. Saber a quantidade disponível e onde se encontra e, conseqüentemente, o quanto pode oferecer e quando.

Por que dinheiro?

Porque economiza os salários dos empregados e todo o investimento desperdiçado se a madeira não é aquela que o cliente solicitou.

A importância do herbário na identificação.

O herbário é um instrumento de pesquisa para muitos ramos da biologia. Fitoquímicos e farmacêuticos utilizam-se dele para identificar a espécie da qual extraem substâncias, matéria-prima para medicamentos. A identificação correta é igualmente importante para o setor madeireiro. Através de comparações de amostras de campo com amostras de folhas, flores, frutos e madeiras depositadas nas coleções do herbário, é possível alcançar a identificação correta da espécie, assegurando a exploração da madeira com as características desejadas pelo mercado.

2. Criação de uma base de dados, Dendrobase: armazenamento de dados sobre as espécies. Essencial para a integração de dados.

O que é Dendrobase?

Dendrobase é uma base de dados de sistemas genéticos para espécies arbóreas tropicais, que deverá servir, numa primeira instância, para organizar e sistematizar as informações existentes sobre; fenologia de florescimento e frutificação, sistemas sexuais, polinizadores, informações genéticas e dispersores de sementes e que podem ser utilizados para definir importantes faixas de parâmetros para futuros trabalhos de modelagem genética.

Em situações onde, para a maioria das espécies, dados “brutos” para inicialização e parametrização do modelos são raros, como é o caso para espécies tropicais, a organização de uma base de dados é essencial, para servir como apoio para geração de dados, que possam ser utilizados como valores iniciais ou parâmetros para a simulação.

Por que a modelagem genética?

Embora os estudos individuais de ecologia reprodutiva, genética e ecologia de plântulas, possam ser executados com sucesso, devem-se buscar mecanismos que possibilitem a aplicação integrada dessas informações para orientar as atividades operacionais do manejo florestal. Neste sentido, a modelagem pode representar uma importante “ferramenta” para a aplicação dessas informações na operacionalização dessas atividades, e através da integração e coordenação desses estudos isolados, identificar lacunas ou mesmo prioridades a serem pesquisadas.

Qual é a estrutura da base de dados?

A base de dados consiste de 10 tabelas principais. As informações dessas tabelas estão “ligadas” aos diferentes campos chave. A tabela de ESPÉCIES, por exemplo, contém uma lista de espécies que é vinculada à lista de famílias (tabela FAMÍLIAS). Informações sobre Fluxo Gênico, Sistemas de Acasalamento, Dados Genéticos, Fenologia e Dados De Parcelas, ficam armazenadas em tabelas individuais. As tabelas, Literatura e Parcelas, indicam a fonte das informações

Que tipo de informações podem ser geradas?

A partir de um Programa de Análise de Parcelas (PAP), desde que algumas informações básicas sejam fornecidas, podem ser gerados vários índices para diferentes espécies a nível de parcelas tais como: Diversidade de Espécies (D=Simpson-Index), Equidade (E), Índice de Agregação (R), Diferenciação de Diâmetro (SD), Índice de Segregação (S), e Índices para o Estoque Mínimo das Espécies (EM). A obtenção de índices para o estoque mínimo que podem ser aplicados através do software de planejamento de exploração florestal (Trema), é um dos importantes objetivos desta base de dados. Valores baixos para Índices de Avaliação, significariam riscos relativamente altos para a sustentabilidade genética da respectiva espécie. Portanto, para essas espécies, um maior número de árvores parentais deveria permanecer após a exploração florestal.

Situação Atual e Perspectivas Futuras.

A eficiência da base de dados e a significância da análise dos dados e da avaliação das espécies, aumentarão com o aumento do nível de conhecimento armazenado nas diversas tabelas. Portanto, um uso transparente desta base em rede (network), seria a melhor forma de “alimentar” este sistema. Agrupar os conhecimentos gerados por diferentes grupos institucionais será um grande passo a ser dado. A operação desta base de dados, via internet com uma organização sistemática, resguardando os devidos direitos de uso, se constitui num grande desafio para o futuro. Mesmo se a modelagem tiver restrições no futuro, esta base de dados por si só, poderá ser de grande importância, tanto pela geração de indicadores e níveis críticos de sustentabilidade genética no manejo florestal, quanto pela possibilidade de reunir o conhecimento existente sobre sistemas genéticos das espécies arbóreas tropicais. Adicionalmente, contribuirá à melhoria do planejamento das pesquisas, coordenação, priorização e inclusive a disponibilidade dos dados existentes.

3. Adaptação de um modelo de simulação, Ecogene, para as florestas tropicais: Este modelo, desenvolvido para floresta temperada, tem de ser adaptado à floresta tropical. É uma poderosa ferramenta de análise para simular impactos de manejo na estrutura genética de uma população de árvores ao longo do tempo.

O modelo de simulação, Ecogene, foi desenvolvido para analisar os impactos antrópicos ao sistema genético de espécies arbóreas florestais. A dinâmica de estruturas genéticas pode ser simulada em espaço e tempo a partir de dados iniciais da estrutura genética da população e parâmetros relacionados aos processos genéticos chave e de crescimento florestal.

Foi desenvolvido inicialmente para florestas temperadas da Europa e atualmente está sendo adaptado à floresta tropical. Modelagem de simulação é uma ferramenta poderosa para investigar sistemas complexos como os sistemas reprodutivos que atuam, e produzem as estruturas genéticas populacionais. Uma vez ajustado, o modelo pode ser utilizado para investigar os possíveis efeitos de diferentes cenários hipotéticos buscando identificar limites críticos, além dos quais ocorreriam impactos negativos significativos.

A vantagem principal da modelagem é que força a integração dos diferentes processos envolvidos e possibilita a comparação com os eventos reais. Por exemplo, a contribuição que uma árvore mãe faz à próxima geração depende de uma série de fatores como a sua localização em respeito a outras árvores da espécie, quando e quanto elas florescem, e como as mesmas são visitadas pelos polinizadores. Além disso, depende ainda de sua variação genética inerente, suas características de dispersão de sementes e de mais fatores. Estudos de apenas um fator não permitem prever a sua contribuição. É necessário integrar os diversos fatores para fazer a previsão. Da mesma forma, se queremos julgar se uma opção que explora quinze de vinte árvores adultas de uma espécie numa determinada área perturbaria o processo regenerativo, precisamos integrar os possíveis impactos sobre esses diversos fatores.

No Dendrogene, existem três principais programas relacionados ao Ecogene: primeiro, gerar dados para o desenvolvimento e validação do modelo para as espécies selecionadas; segundo, desenvolver mecanismos para aplicar o modelo às espécies com poucos dados; e terceiro, incorporar esses resultados no software de planejamento da exploração florestal.

4. Aprimoramento de ferramentas de manejo florestal: o software Trema foi desenvolvido para viabilizar um planejamento de uma exploração mais criteriosa. Será importante aprimorar o uso de características das espécies para orientar a seleção de árvores a serem derrubadas.

A exploração de madeira na floresta Amazônica é constituída em: buscar indivíduos do tipo de árvore que se quer vender, derrubá-los, arrastá-los usando tratores grandes (chamado skidders), transportando-os em caminhões. A floresta é bem manejada quando isto é realizado sem reduzir a produtividade de madeira ou o suprimento dos outros bens e serviços da floresta como habitat para fauna ou proteção de solo. O sistema usado é escolher apenas poucas árvores dentre as muitas que poderiam ser derrubadas, e deixar a floresta recuperar para períodos de trinta anos ou mais, entre sucessivas explorações. Se estas árvores são retiradas com cuidado, os danos podem ser limitados ao grau não muito diferente da dinâmica natural da floresta (quedas de grandes árvores).

Trema é um programa de computador que pode ser utilizado para gerenciar informações importantes neste processo. O programa contém informação sobre as espécies florestais e oferece opções de melhores práticas atuais (best practice) para apoiar a tomada de decisão pelo gerente florestal em cada floresta específica.

Os componentes importantes são: a identificação correta das árvores, a seleção das árvores a serem exploradas da maneira que assegura a sua recomposição aolongo do tempo, e a produção de tabelas e mapas usados na elaboração, aprovação e controle dos planos de manejo.

Naturalmente a exploração de madeira concentra-se nas espécies mais valorizadas pelo mercado. A tolerância dessas espécies e do ecossistema, em face desta pressão seletiva é o aspecto menos conhecido da exploração de madeira.

O projeto Dendrogene visa aprimorar as melhores práticas atuais (best practice) de seleção de árvores a serem exploradas. Isto inicia com a identificação correta das árvores (apoiado pelo BRAHMS). Em seguida, é possível orientar a seleção usando valores conservativos para o estoque mínimo que permanece após a exploração. Um aprimoramento adicional é ajustar esses valores usando índices de diferentes pesos desenvolvidos segundo as características das espécies (uma função da Dendrobase). Idealmente, o processo de seleção incluiria um modelo de simulação que alertaria o tomador de decisão sobre os significativos impactos negativos e as suas alternativas (uso potencial do Ecogene).

Endereço: Projeto Dendrogene

Embrapa Amazônia Oriental

Trav. Dr. Enéas Pinheiro, s/n

CEP: 66095-100 Belém-PA

Tel./Fax: (91) 276-6852 / 277-3514

E-mail: d_gene@cpatu.embrapa.br

Fonte: www.cpatu.embrapa.br/dendro/index.htm