O bioma “Mata Atlântica” é considerado uma das grandes prioridades para a conservação da biodiversidade em todo o continente americano. Sua cobertura florestal encontra-se reduzida à cerca de 7,6% da área original, e apesar da devastação acentuada, contém, ainda uma parcela significativa da diversidade biológica do Brasil, com altíssimos níveis de endemismo.
A criação de Unidades de Conservação (UC´s) nos biomas ameaçados torna-se uma medida bastante eficiente, pois quando se estabelece uma área de conservação cria-se um compromisso para a proteção da diversidade biológica do ecossistema. Entretanto a simples criação de uma UC não cumpre seu papel, se ela não for bem conhecida, ou não apresentar bons programas de manejo e conservação da fauna e da flora.
É necessário ainda, após a criação da UC, definirem-se os atores envolvidos para o planejamento das atividades desenvolvidas dentro da unidade, bem como as estratégias de manejo da sua biodiversidade, a fim de se garantir a conservação e proteção das biotas existentes.
Atualmente o balanço entre os recursos naturais utilizados pelo homem e a quantia que a natureza repõe é negativo. O crescimento populacional desordenado, aliado ao aumento do poder econômico de nossa sociedade e ao mau aproveitamento destes recursos, propiciou uma alta taxa de destruição da Mata Atlântica nos últimos séculos, o que reduziu drasticamente a disponibilidade de hábitat para a sua fauna e flora.
Este processo de fragmentação do hábitat natural cria um isolamento geográfico de várias espécies, que incapazes de se locomoverem por campos abertos ou a grandes distâncias, perdem a variabilidade genética da sua população, o que propicia a sua extinção. A introdução de espécies exóticas, por diferentes causas (entre elas falta de manejo correto dos recursos naturais), ocasiona um desequilíbrio nas espécies nativas.
Estas espécies exóticas introduzidas em determinada área, muitas vezes sem seus predadores naturais, e com presas em abundância, proliferam rapidamente, competindo com as espécies nativas de forma “privilegiada”, levando a um desequilíbrio ecológico, e conseqüentemente à extinção das espécies locais. A falta de tratamento de resíduos; a má utilização; a utilização excessiva de fertilizantes e de agrotóxicos; e a imprudência ao gerar ou manusear material poluente; são também outras formas de dominação terrestre, aquática e atmosférica exercidas pelo homem e que destroem os ecossistemas.
Assim, uma contribuição significativa para minimizar tanta destruição em cadeia só poderá acontecer através: da utilização racional dos recursos naturais; da definição de áreas prioritárias para a conservação; da criação de unidades de conservação com Planos de Manejos eficientes e implementados; da educação ambiental e da participação da sociedade nos projetos ambientais.
A proteção da diversidade biológica dentro e fora das UC´s constitui uma estratégia essencial para a conservação de biomas. A proteção apenas das espécies encontradas dentro das UC´s pode criar um “isolacionismo” que ocorre quando as espécies da UC são protegidas, enquanto as encontradas em seu entorno são livremente exploradas.
Ressalta-se que, com a degradação ambiental no entorno das UC´s, a diversidade biológica dentro destas áreas diminui, podendo acontecer a extinção de uma espécie local quando se tratar de uma UC com pequena área territorial. Além disso, o número de indivíduos de qualquer espécie (que vive dentro da UC) pode ser menor que o tamanho mínimo viável de uma população, tornando-se indispensável uma troca de genes com as populações da mesma espécie, que, possivelmente, habitam no entorno da área.
O direcionamento econômico governamental, estadual ou municipal para criação ou manutenção das UC´s não viabiliza itens apresentados no próprio decreto de criação das UC´s como, por exemplo: “Elaboração de plano diretor”; ou “Realização de pesquisas para uso múltiplo e sustentável da área”. Desta forma a viabilização para realização destes pontos passa, ao modo brasileiro, através da concretização de parcerias e convênios institucionais.
São estas parcerias e convênios que viabilizarão o desenvolvimento dos projetos ambientais através da utilização de infra-estrutura, apoio técnico e especializado, materiais permanentes e de consumo disponíveis por cada instituição, que na forma de uma parceria dividem os benefícios e as contrapartidas.
Pela experiência da Fundação Ezequiel Dias (FUNED) – órgão ligado à Secretaria da Saúde de Minas Gerais, a defesa do meio ambiente inicia-se através de um movimento em prol do ideal conservacionista, independente ou não do apoio de agentes financiadores.
Com intuito de compatibilizar a conservação da natureza e a criação de eqüinos soro-produtores, responsáveis por 40% da produção nacional de soros antiofídicos e antipeçonhentos, a FUNED viabilizou a sua contribuição ambiental criando através do decreto estadual nº 41809 de 07 de agosto de 2001, a Floresta Estadual São Judas Tadeu (FESJT) – primeira Unidade de Conservação na categoria Floresta Estadual em Minas Gerais.
A FESJT compreende uma área de, aproximadamente, 140 ha, localizada a 35 Km de Belo Horizonte e 10 Km do centro de Betim. Apresenta uma cobertura vegetal nativa composta por campo e floresta ciliar, duas lagoas artificiais, cinco nascentes e um córrego principal que alimenta a lagoa maior.
Possui matas remanescentes em ótimo estado de conservação, com significativa riqueza biológica. Caracteriza-se pelo uso direto e indireto de recursos naturais, sendo de domínio público estadual; e é uma unidade de conservação considerada de uso sustentável, com objetivo de promover e assegurar a proteção parcial dos atributos naturais; admitida a exploração de parte dos recursos disponíveis, em regime de manejo sustentável, mas sujeita às limitações legais.
Posteriormente à sua criação, torna-se, então necessária a caracterização da fauna e flora desta área, visando a composição do seu Plano de Manejo. Para viabilizar tal projeto, a FUNED firmou parcerias e convênios com diferentes instituições: Instituto Estadual de Florestas, Museu de Ciências Naturais da PUC/MG, e Universidade Federal de Minas Gerais.
Tais parcerias têm em vista a participação dos gerentes públicos da região de Betim, como da Secretaria de Obras e do Meio Ambiente; da Prefeitura de Betim e do Ministério Público, os quais já foram também envolvidos.
Devido à pressão urbana, que inclui caçadores e furtos, a segurança da FESJT foi incrementada com a participação efetiva da Polícia Florestal de Betim. A FUNED tenta, agora, viabilizar a conexão de fragmentos florestais entre a FESJT e a Reserva da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA), uma vez que as mesmas são vizinhas. Áreas com populações pequenas estão mais expostas à perda da variabilidade genética e são mais suscetíveis à extinção.
Dessa forma, os corredores ecológicos contribuem significativamente para a conexão de áreas isoladas; para troca gênica e, conseqüentemente, para a manutenção da biodiversidade. Os corredores conservam a vida dos animais que são obrigados a migrar sazonalmente em busca de alimento. Uma unidade de conservação isolada torna-se uma ilha em meio a uma situação de degradação, e, conforme o tamanho de suas populações ficam ameaçados de extinção.
A missão da Fundação Ezequiel Dias é: “Participar da construção do Sistema Único de Saúde, protegendo e promovendo a saúde”. Com a criação da Floresta Estadual São Judas Tadeu a FUNED demonstra que é possível estabelecer atitudes ambientalmente corretas inseridas no contexto produtivo, incentivando a busca por um caminho sustentável, desde que alicerçadas na tríade: econômica, social e ambiental.
Rogério M. Maurício
Eng. Agrônomo, MSc. Ph.D. – Pesquisador da Fundação Ezequiel Dias.
Cinara A. Clemente.
Estudante de Biologia – Técnica da Fundação Ezequiel Dias
Contato: rmmfuned@funed.mg.gov.br