O Brasil possui um dos maiores remanescentes de florestas nativas no mundo (cerca de 5,1 milhões de quilômetros quadrados), várias representações de zonas climáticas e inúmeros biomas, dentre eles a Amazônia brasileira. Em função disso, detém 20% das espécies do mundo. Há estimativas de que a biodiversidade brasileira, se explorada adequadamente e em sua totalidade, poderia gerar dois trilhões de dólares por ano, cerca de quatro vezes o nosso Produto Interno Bruto – PIB de 2003. Além disso, nossas áreas exploradas com atividades agropecuárias e florestais ainda estão longe de atingirem seu potencial máximo produtivo.
Mesmo assim, as estatísticas econômicas mostram que o agronegócio florestal brasileiro já representa 5% de nosso PIB, 17% das exportações do agronegócio e 8% do total das exportações brasileiras, gerando 1,6 milhão de empregos diretos e 5,6 milhões de indiretos. Isto diz respeito à borracha natural, madeira, celulose, papel e móveis e seria muito mais impactante se fossem incluídas as atividades ligadas aos demais produtos não-madeireiros, erva-mate, cogumelo, plantas medicinais, entre outros, e os serviços ambientais.
Apesar de sua contribuição socioeconômica, tem-se atribuído ao agronegócio florestal brasileiro grande parte da responsabilidade sobre os danos ambientais decorrentes do mau uso agropecuário e florestal nos diferentes biomas brasileiros, em especial no Cerrado, na Mata Atlântica e na Amazônia. Em função disto e da crescente demanda por produtos madeireiros, gerando um déficit equivalente ao plantio anual de cerca de 300 mil hectares de espécies florestais de rápido crescimento (hoje, dados do setor de base florestal apontam para cerca de 390 mil hectares), o governo brasileiro formulou o Programa Nacional de Florestas, onde a Embrapa tem tido importante participação com proposições e pesquisas.
No mundo, com o aumento da população e do consumo per capita, estima-se um consumo de madeira da ordem de 1,6 bilhão de metros cúbicos/ano, havendo projeções para 2050 (FAO) de 2 a 3 bilhões m³/ano, com um aumento aproximado de 60 milhões m³/ano. Atender à demanda futura sem degradar as florestas naturais somente poderá ser conseguido se aumentarmos a eficiência e eficácia da produção, da exploração e da conversão da matéria-prima.
A pesquisa florestal é um dos caminhos para enfrentar esta situação. No Brasil, ela compreende 54 instituições de pesquisa, cerca de 20 empresas privadas, Universidades Federais como as de Lavras, Viçosa, Paraná, Mato Grosso e estaduais como a de São Paulo, através da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, entre outras.
Apesar da adequaçäo e disponibilidade de clima e solos no país para o plantio de espécies florestais, tem sido a pesquisa brasileira a principal responsável pelos excelentes rendimentos das principais plantaçöes florestais que contribuem para o crescimento do agronegócio florestal, em especial do pínus, eucalipto e acácia-negra. Além disso, a pesquisa florestal brasileira também tem desenvolvido expressivos trabalhos com espécies nativas _ publicaçöes recentes organizam o conhecimento sobre cerca de quatrocentas espécies nativas do Brasil. Deve-se ressaltar ainda os trabalhos realizados nas áreas de manejo florestal sustentável para exploração de madeiras na Floresta Amazônica e muitos estudos feitos com espécies de usos múltiplos e com sistemas agroflorestais.
A Embrapa tem contribuído sobremaneira para a melhoria da competitividade do setor florestal com seus projetos sobre conservação e uso de recursos genéticos florestais, controle biológico de pragas e doenças, manejo sustentável de florestas plantadas ou naturais, desenvolvimento de modelos de predição de crescimento e avaliação econômica de plantações florestais, aproveitamento de resíduos, dentre outros. Duas de suas tecnologias, pesquisadas pela unidade Embrapa Florestas, o controle biológico da vespa da madeira (lançada em 1995 e adotada no mesmo ano) e o uso do sistema computacional para gestão florestal – SISPLAN (lançada em 1995 e adotada em 1996) resultaram em um impacto positivo da ordem de R$ 138 milhões de reais, até 2003.
Neste século, a pesquisa florestal certamente será mais exigida, pois desenha-se um cenário em que as técnicas moleculares complementarão as de melhoramento genético convencional; haverá uma integração interdisciplinar da engenharia genética, técnicas in vitro, cruzamentos convencionais e bioinformática; e o mapeamento e análise da biodiversidade se constituirão no ponto central para a manutenção do germoplasma, para o controle biológico e para os processos simbióticos. Tudo isto associado ao estabelecimento de um sistema de informação florestal que democratize os conhecimentos disponíveis e pelo investimento dos setores públicos e privados na pesquisa.
Para atender a esse novo perfil, os institutos de pesquisa públicos e privados, especialmente a Embrapa, investirão na profissionalização de seus gestores em ciência e tecnologia, na melhoria de sua infraestrutura de pesquisa, na incorporação de competências em modernas áreas de pesquisa e na atualização constante de seu já experiente quadro de profissionais.
Clayton Campanhola é pesquisador e diretor-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa.