Recuperação Ecológica de Pastagens

Atualmente, o maior problema enfrentado pela pecuária do Acre é a degradação das pastagens formadas com a gramínea Brachiaria brizantha cv. Marandu, o capim brizantão, por causa da pouca adaptação a solos de baixa permeabilidade. Cerca de 50% dessas pastagens (550 mil hectares) encontram-se degradadas ou em vias de degradação, e sua recuperação pelos métodos tradicionais, utilizando mecanização e a semeadura de novas espécies forrageiras, demandaria recursos superiores a 350 milhões de reais.

Os produtores, cientes dos custos elevados desses métodos e das dificuldades de mecanização dessas áreas, usaram sua experiência, criatividade e iniciativa para, em parceria com a Embrapa Acre, desenvolver um processo de menor custo, menor risco, menor dano ambiental e grande impacto social.

Durante o verão (maio a outubro), dezenas de trabalhadores, enxadas à mão, avançam por áreas degradadas arrancando touceiras do capim navalha, principal invasor nestas pastagens. No período das chuvas (novembro a abril), as mesmas equipes de trabalhadores plantam mudas do capim estrela-roxa ou do capim humidícola e da leguminosa amendoim forrageiro, nos locais onde foram arrancadas as touceiras do capim navalha. As pastagens ficam vedadas ao pastejo por cerca de 30 a 35 dias, voltando a ser utilizadas normalmente em seguida. Esse mesmo processo de recuperação de pastagens degradadas vem sendo repetido em dezenas de propriedades, gerando milhares de empregos no Acre.

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O processo de retirada de plantas daninhas e plantio de novas espécies de gramíneas e leguminosas consome de 10 a 20 dias/homem por hectare.

Com uma jornada de trabalho de seis dias por semana, esses trabalhadores conseguem uma renda mensal de até R$ 390,00, ou seja, 95% acima do salário mínimo atual, o que representa renda anual de R$ 4.680,00. Se, a cada ano, 10% (55 mil hectares) das pastagens degradadas forem recuperadas utilizando esse método ecológico, os produtores estarão gerando entre 1.506 e 3.012 empregos, com investimentos de 8,25 a 16,5 milhões de reais, durante todo o ano. O processo também é acessível aos pequenos produtores, pois o custo total decorre, exclusivamente, do uso de mão-de-obra.

Além da geração de empregos, os produtores estão aumentando a produtividade e a rentabilidade da pecuária nas áreas recuperadas onde foram estabelecidas pastagens melhoradas. Divididas em pastos de até 20 hectares, usando cercas eletrificadas com energia solar e manejadas de forma rotacionada, essas pastagens estão permitindo engordar até três bois por hectare. Além disso, o melhoramento genético via inseminação artificial está permitindo abater os bois com menos de 2 anos de idade. Nos sistemas tradicionais, cria-se um boi por hectare e o abate só é possível aos 3 e 4 anos de idade.

Agora o desafio é fazer chegar essas tecnologias aos mais de 15.900 pequenos e médios produtores do Acre que, segundo dados do cadastro de propriedades do Instituto de Defesa Agropecuária do Acre – Idaf –, têm em suas propriedades mais de 50% do rebanho bovino do Estado, que atualmente é de 1.790.000 cabeças.

A Secretaria de Agropecuária do Estado do Acre e o Idaf, com apoio da Embrapa Acre, estão finalizando o planejamento estratégico e definindo metas para, entre outras coisas, tornar a pecuária do Estado mais competitiva e sustentável. O objetivo é agregar valor às matérias-primas, garantir o abastecimento do mercado interno com produtos de qualidade e assegurar espaço no mercado nacional e internacional. E tudo isso conciliando o crescimento da economia com a geração de empregos e melhoria da renda da população com o uso racional dos recursos naturais e respeito ao meio ambiente.

Eng. agrôn., Ph.D., pesquisador da Embrapa Acre. judson@cpafac.embrapa.br
Eng. agrôn., M.Sc., pesquisador da Embrapa Acre. mauricio@cpafac.embrapa.br