Guaraná fruta nativa da Amazônia

O Guaraná, arbusto da família das Sapindáceas, muito comum no Amazonas e no Pará é também conhecido como naranazeiro, uaraná, guaranaúva e guaranaína. Foi descoberto em 1821 por Humboldt em contato com tribos indígenas que viviam na Amazônia, município hoje chamado de  Maués. Os índios consideravam o guaraná sagrado e utilizavam a pasta como remédio. Os frutos do guaraná são pequenos e vermelhos, apresentam-se em cachos. A medicina natural considera-os alimento capaz de revigorar as perdas orgânicas.  O guaranazeiro foi estudado pela primeira vez, em 1826, por Von Martius. Nesta época, já se difundiam na Europa informações sobre as qualidades terapêuticas da planta.

Frutos do Guaraná
Frutos do Guaraná.

Maués, maior produtor de guaraná na Amazônia   
A cidade de Maués, no Amazonas, município maior produtor da planta na Amazônia, colhe e vende tudo o que planta – cerca de 180 toneladas anuais, produzidas por pouco mais de 3 mil pequenos agricultores. Até os anos 80, Maués era líder absoluta na produção do guaraná, com 90% da pequena produção brasileira, mas a ampliação do uso comercial da semente, incorporada pela indústria farmacêutica e de beleza, animou milhares de agricultores no baixo sul da Bahia, na antiga zona cacaueira a plantarem o produto. Em menos de dez anos, com plantios mais novos e produtivos, a Bahia se transformou no maior produtor nacional, com 2.500 a 3 mil toneladas de sementes anuais. Maués nunca perdeu a coroa de melhor produtora do Brasil, mas quer voltar a ser o principal pólo de produção.    

Descrição da descoberta do guaraná por um padre europeu   

Em 1664, o Pe. Felipe Bettendorf, descreveu como encontrou no Amazonas o guaraná: “Têm os Andirazes em seus matos uma frutinha a qual secam e depois pisam, fazendo delas umas bolas que estimam como os brancos o seu ouro. Chama-se guaraná. Desfeitas com uma pedrinha em cuia d’água, dão tanta força como bebida que indo à caça um dia até outro não sentem fome, além do que tiram febres, cãibras e dores de cabeça”.

Características da planta e beneficiamento   
O guaranazeiro é um arbusto suberecto ou escandente com copa que varia de 9 a 12 m². Possui duas variedades: PAULLINIA CUPANA H. B. K. típica, encontrada nas bacias fluviais do Alto Orenoco e Alto Rio Negro e a PAULLINIA CUPANA var. sorbilis (Mart.) Duck, encontrada nos municípios de Maués, Parintins, recentemente introduzida em outros Municípios. A colheita, se realiza entre outubro e janeiro quando os frutos estão maduros. Os cachos são colhidos com as mãos e colocados em aturás ou jamaxis e transportados para os barracões.   

Inicia-se então o beneficiamento tradicional, que obedece as seguintes etapas: Fermentação, para amolecer a casca dos frutos.     Despolpamento, para retirada da casca e do arilo. Lavagem, coloca-se o produto despolpado em um paneiro e este dentro d’água, as sementes vão para o fundo enquanto a casca sobe à superfície. Lava-se então o guaraná para libertá-lo da massa branca aderente.
Torrefação, é feita em fornos de barro ou tachos de ferro, cobre ou argila. As sementes são revolvidas com um rodo e, após torradas, são colocadas em paneiros para esfriar.   

Retirada da casquilha da semente conforme a tradição – as sementes são colocadas em sacos e batidas com varas, depois se passa por peneiras. Esse trabalho também pode ser feito em pilões ou em máquinas. Trituração, feita em pilões de madeira ou piladeiras mecânicas. Ao preparar o bastão do guaraná, acrescenta-se água aos poucos até formar uma pasta. Panificação, com o uso das mãos os “padeiros” compactam a massa, expulsando o ar e dando-lhe forma cilíndrica.   

Defumação, os bastões são levados para o “moquiador” onde passam cerca de quarenta e oito horas sobre o fogo, para retirar a água e evitar rachaduras posteriores. Devidamente “assados” são levados ao “fumeiro” onde passam no mínimo quarenta e cinco dias. O “fumeiro” é uma casa de barro, hermeticamente fechada, com várias prateleiras de madeira onde são colocados os bastões, primeiro nas inferiores, próximas ao fogo, e transferidos para as superiores até a última prateleira completamente “curados”. A lenha mais usada é o Murici (Birsonima sp) que produz mais fumaça que calor e possui uma resina cujo odor empresta sabor característico ao pão de guaraná.    

Sateré-Mawé, Os filhos do Guaraná   
Inventores da cultura do Guaraná, os Sateré-Mawé transformaram a Paullinia cupana, uma trepadeira silvestre da família das Sapindáceas, em arbusto cultivado, introduzindo seu plantio e beneficiamento. O guaraná é uma planta nativa da região das terras altas da bacia hidrográfica do rio Maués-Açu, que coincide precisamente com o território tradicional Sateré-Mawé. Os Sateré-Mawé se vêem como inventores da cultura dessa planta, auto-imagem justificada no plano ideológico por meio do mito da origem, segundo o qual seriam os Filhos do Guaraná. O guaraná é o produto por excelência da economia sateré-mawé, sendo, dos seus produtos comerciais, o que obtém maior preço no mercado. É possível ainda pensar que a vocação para o comércio demonstrada pelos Sateré-Mawé se explique pela importância do guaraná na sua organização social e econômica.

A primeira descrição do guaraná e sua importância para os Sateré-Mawé data de 1669, ano que coincide com o primeiro contato do grupo com os brancos. O padre João Felipe Betendorf descrevia, em 1669, que “tem os Andirazes em seus matos uma frutinha que chamam guaraná, a qual secam e depois pisam, fazendo dela umas bolas, que estimam como os brancos o seu ouro, e desfeitas com uma pedrinha, com que as vão roçando, e em uma cuia de água bebida, dá tão grandes forças, que indo os índios à caça, um dia até o outro não têm fome, além do que faz urinar, tira febres e dores de cabeça e cãibras”.

Em 1819, o naturalista Carl von Martius recolheu na região de Maués uma amostra de guaraná, denominado-a Paullinia sorbilis. Martius observou que na época já existia intenso comércio de guaraná, enviado a locais distantes como o Mato Grosso e a Bolívia. Assim, em 1868, Ferreira Pena escreve: ”Cada ano descem pelo Madeira mercadores da Bolívia e Mato-Grosso dirigindo-se à Serpa e Vila Bela Imperatriz, para onde trazem seus gêneros de exportação e donde recebem os de importação. Daí antes de regressarem vão a Maués, donde levam mil arrobas de guaraná, regressando então em ubás, carregadas daqueles e deste último gênero, que eles vão vender nos departamentos de Beni, Santa Cruz de La Sierra e Cochabamba na Bolívia e nas povoações do Guaporé e seus afluentes”.

O comércio do guaraná sempre foi intenso na região de Maués, não só o realizado pelos Sateré-Mawé, mas também pelos civilizados. A procura deste produto deve-se às propriedades de estimulante, regulador intestinal, antiblenorrágico, tônico cardiovascular e afrodisíaco. No entanto, é como estimulante que o guaraná, depois de beneficiado, é mais procurando, pois contém alto teor de cafeína (de 4 a 5%), superior ao chá (2%) e ao café (1%). Existe uma distinção entre o guaraná de excelente qualidade beneficiado pelos Sateré-Mawé, chamado guaraná das terras, guaraná das terras altas e guaraná do Marau e o guaraná beneficiado pelos civilizados na região de Maués, chamado guaraná de Luzéia, antigo nome desta cidade, de qualidade inferior porque produzido sem os conhecimentos e apuro das práticas tradicionais dos índios.

O guaraná das terras sempre foi o mais procurado e, no entanto, os Sateré-Mawé vendem, no máximo, duas toneladas do produto por ano, e apenas nos anos de excelente safra. Já o guaraná de Luzéia, muito inferior, é produzido em larga escala; só uma empresa de comercialização do produto em Maués afirma vender 40 toneladas anuais

Fundação Joaquim Nabuco