Histórico da Agricultura Brasileira

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O crescimento da produção agrícola no Brasil se dava, basicamente, até a década de 50, por conta da expansão da área cultivada. A partir da década de 60, o uso de máquinas, adubos e defensivos químicos, passaram a ter, também, importância no aumento da produção agrícola. De acordo com os parâmetros da “Revolução Verde”, incorporou-se um pacote tecnológico à agricultura, tendo a mudança da base técnica resultante passado a ser conhecida como modernização da agricultura brasileira (Santos,1986).

O processo de modernização intensificou-se a partir dos anos 70, quando houve, de acordo com dados da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, um aumento de mais de 1.000% no número de tratores utilizados, em relação à década de 50, chegando este incremento a 6.512% na década de 80, e um aumento de 254% e 165%, respectivamente, no uso de arados a tração animal e nas colheitadeiras, nos anos 80, também em relação à década de 50. A utilização de adubos químicos também se intensificou no Brasil, na década de 70, atingindo um incremento de 1.380%, entre 1965 e 1980, o mesmo ocorrendo com o uso de defensivos, que aumentou 377% neste mesmo período, com destaque para a utilização de herbicidas, que cresceu mais de 8.000%, segundo informações colhidas no Sindicato das Indústrias de Adubos e Corretivos de Estado de São Paulo.

Além da mudança na base técnica no campo surgem, nos anos 70, como produto da modernização agrícola, os complexos agroindustriais representando a integração técnica entre a indústria que produz para a agricultura, a agricultura e a agroindústria.

Entender, portanto, a modernização da agricultura brasileira como uma simples mudança da base técnica é simplificar, em muito, o seu significado. É importante levar em consideração que a agricultura brasileira sempre se apresentou, ao longo da sua história, subordinada à lógica do capital, sendo um setor de transferência de riquezas. Assim sendo, dentro do seu processo de modernização deve-se dar significado maior à sua transnacionalização e à sua inserção na divisão internacional do trabalho ou, ainda, à penetração do modo de produção capitalista no campo brasileiro (Aguiar, 1986).

Diante do exposto e tendo em vista as leis excludentes do capitalismo, não se pode pensar em um processo homogêneo de modernização da agricultura. O capital, ao ser introduzido no campo, reproduziu suas diferenças, gerando um processo de modernização heterogêneo, excludente e parcial.

A modernização agrícola concentrou-se nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil e na monocultura de produtos exportáveis, como soja e cana-de-açúcar, deixando à margem regiões mais pobres, Norte e Nordeste, onde predominam os pequenos produtores e a policultura alimentar.

No bojo da desigualdade da modernização da agricultura brasileira encontra-se o Estado, utilizado como principal agente indutor desse processo que, através do Sistema Nacional de Crédito Rural – SNCR, dos subsídios e das políticas de maxidesvalorização cambial, atuou em benefício dos grandes proprietários e das multinacionais, assumindo seus custos e riscos de produção e repassando-os à sociedade. Pode-se, então, afirmar que a eficiência econômica dos grandes produtores nada mais é que a expressão do seu poder em obter auxílio do Estado. É muito mais uma eficiência política do que econômica, deixando claro que a modernização só foi possível mediante a intervenção do Estado, sendo um processo totalmente induzido pelas políticas públicas concentradoras (Martine, 1990).

Ao se utilizar o Estado para promover a modernização agrícola desigual, não se usou, em contrapartida, mecanismos que atenuassem os impactos negativos da política gerando, assim, o que Cordeiro (1996) denomina de um modelo agrícola bimodal, isto é, convivência de sistemas produtivos intensivos e extensivos, modernos e tradicionais, de ricos e de pobres.

No período de 1970 a 1980, foi reduzida a participação dos estabelecimentos com até 10 há no total da área do país, de 52,2% para 50,4%, enquanto foi aumentada a dos estabelecimentos com mais de 1.000 ha, de 0,7 para 0.9%. Além da redução de quantidade, ocorreu redução de área dos pequenos estabelecimentos em relação aos grandes. Terras antes ocupadas por pequenos produtores familiares foram incorporadas por grandes proprietários.

Esses pequenos produtores e suas famílias perderam o lugar que tinham para morar e para trabalhar, perderam suas lavouras de autoconsumo e, principalmente, foram deslocados do seu principal meio de produção – a terra (Martine, 1990).

Com a mecanização promoveu-se uma verdadeira expulsão do homem do campo. No período de auge do processo, entre 1970 e 1980, foram 30 milhões de pequenos produtores expulsos de suas terras. Sem terra e sem emprego suficiente para todo o contingente que perdia suas terras, vender a força-de-trabalho nas áreas metropolitanas era a única saída, aumentando consideravelmente o êxodo rural (Martine, 1990).

Já na década de 70, período áureo da modernização, as taxas de crescimento das principais culturas que compõem a cesta básica dos brasileiros foram inferiores à do crescimento populacional. O arroz cresceu 1,5%, o milho 1,7%, a mandioca 2,1% e o feijão teve crescimento negativo de –1,9%, enquanto a população cresceu 2,5%; já as lavouras de exportação apresentaram significativas taxas de crescimento: soja 22,5%; laranja 12,6%; cana-de-açúcar 6,3%. Em decorrência, verificou-se aumento do preço dos alimentos nas cidades, redução do consumo alimentar, agravamento dos índices de subnutrição crônica e de doenças causadas pela fome. “Gasta-se mais para comer menos e pior” (Aguiar, 1986).

O setor agrícola brasileiro foi marcado, nos anos 90, a exemplo de toda a economia, pelo processo de globalização, tido aqui como mais uma saída do capital frente às diversas crises enfrentadas ao longo da sua história, que consolidou a transnacionalização da agricultura e sua inserção definitiva da divisão internacional do trabalho. Nesse sentido, se nos anos 60 e 70, durante a fase áurea da modernização, ocorreu a formação dos complexos agroindustriais, em tempos de economia globalizada tem-se o fortalecimento e a internacionalização dos complexos, especialmente os de carne e grãos.

No atual contexto surgem novos agentes ligados à produção e ao consumo, o “consumidorsaúde” e o “produtor-verde”. O primeiro, aquele que rejeita as tecnologias oriundas na Revolução Verde, como o uso de agrotóxicos e de fertilizantes, optando por uma dieta mais natural e disposto a pagar mais por isso; o segundo, atendendo às exigências do primeiro, produz produtos ecológicos e começa a trabalhar com modelos alternativos de agricultura, fora dos padrões estabelecidos na Revolução Verde.

Na atual situação, destaca-se ainda o que vem sendo chamado de “novo rural brasileiro”. O mundo rural brasileiro não é mais caracterizado apenas como o local das atividades agrícolas; ao contrário, a agricultura vem perdendo participação relativa no valor final dos produtos, no PIB setorial e, o que é mais alarmante, na População Economicamente Ativa – PEA – do país.

Esta situação pode ser demonstrada através da evolução do PEA agrícola e não-agrícola. O PEA rural vem crescendo mais que o PEA agrícola: em 1990, o PEA agrícola apresenta uma taxa de crescimento de 0,7%, tomando como base o ano de 1981, enquanto o PEA rural cresce três vezes mais, 2,1% (Silva, 1996:80).

O Brasil é o quinto maior país do mundo em termos de extensão territorial. Isso significa potencialidades gigantescas para agricultura, pecuária e ecologia. O território nacional conta com uma área de 851,1 milhões de hectares, sendo 64,7 milhões de hectares, ou 7,60%, ocupados por lavouras perenes e temporárias.

Anexo: 1852.pdf

Fontes:
Nadine Gualberto Agra; Robério Ferreira dos Santo. AGRICULTURA RASILEIRA: SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO.;
Redação Ambiente Brasil