A produção de mudas se trata de ferramenta essencial para a conservação do meio ambiente e recuperação de áreas degradadas, além do uso em projetos de paisagismo.
Qual a importância da produção de mudas?
A produção de mudas, especialmente as nativas, é um dos principais insumos nos projetos de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas, sendo um importante meio para promover a preservação das florestas.
Como é a produção de mudas?
A produção de mudas depende de alguns fatores e formas de plantio, visando o desenvolvimento da espécie que está sendo trabalhada e o objetivo pensado.
Canteiros
São vários os tipos de canteiros utilizados para a produção de mudas florestais, como por exemplo:
- Canteiro para raiz nua: dentre os tipos de canteiro utilizados para a produção de mudas em raiz nua, os mais utilizados são os diretamente no solo e os canteiros com anteparos laterais. A proteção lateral pode ser feita com vários materiais, dependendo da disponibilidade de recursos e da facilidade de obtenção, podendo vir a ser utilizados: madeira, bambu, tijolos, concreto, etc.
- Canteiros para embalagens: devem apresentar uma largura que permita o manuseio das mudas centrais ( + 1 metro de largura), o comprimento pode variar sendo os mais adotados os de 10 a 20 metros. A instalação deve posicionar-se longitudinalmente no sentido leste-oeste para permitir uma insolação uniforme. O terreno deve ter um rebaixamento para o acomodamento das embalagens. Outra possibilidade é a utilização do solo como bordadura, ou ainda a montagem de molduras com materiais diversos, como tijolo, madeira, arame, taquara e concreto.
Sementeiras
É o local onde as sementes são postas para germinarem e posteriormente serem transplantadas para as embalagens (repicagem). Podem apresentar-se em duas formas:
- Fixas: As fixas são sementeiras instaladas em locais definitivos, geralmente visando produção de um número grande de mudas.
- Móveis: As móveis são sementeiras montadas em recipientes com drenagem e volume compatível com as necessidades; podem ser feitas de madeira, plástico ou metal; e tem a facilidade de serem transportáveis. Devido a esta característica, a sementeira não pode ser muito grande, o que limita o número de mudas a serem produzidas.
A instalação de canteiros e sementeiras é acompanhada da necessidade da instalação de um abrigo para a proteção das mudas recém repicadas ou plântulas. Deve-se deixar um intervalo entre os canteiros ou sementeiras que permita o desenvolvimento das atividades de produção
Recipientes
Após o peneiramento, mistura (adubo, matéria orgânica, etc.) e expurgo (brometo de metila), o substrato está pronto para o enchimento dos recipientes.
1. Funções vitais dos recipientes:
- Biológica: propiciar suporte de nutrição das mudas, proteger as raízes de danos mecânicos e da desidratação, moldá-las em forma favorável para o desenvolvimento das mudas, assim como maximizar a taxa de sobrevivência e o crescimento inicial após o plantio.
- Operacional: facilitar o manuseio no viveiro e no plantio.
2. Classificação dos recipientes
- Tubos: os tubos possuem parede externa, precisam ser preenchidos com substrato e podem ser plantados com as mudas. A rigidez da parede permite fácil manuseio e transporte das mudas e a impermeabilidade da parede pode restringir a dessecação do substrato, dependendo do material com que é confeccionado. Como exemplo, podem ser citados os recipientes de papel, papelão, lâminas de madeira, etc. A exceção fica por conta do saco plástico, que não pode ser plantado com as mudas.
- Moldes: também são preenchidos com substrato, sendo que as mudas permanecem nos moldes por um período suficiente para que sua massa radicial envolva todo substrato das cavidades, facilitando sua extração.
- Blocos: é o próprio recipiente e o substrato. São plantados com as mudas. Usualmente são rígidos e permitem rápido desenvolvimento das raízes. Em conformidade com o período no viveiro, possibilitam a penetração das raízes no espaço das mudas vizinhas. Como exemplo, tem-se o torrão paulista, recipiente não mais utilizado no Brasil.
3. Vantagens do uso dos recipientes
- Proteção das raízes.
- A época do plantio pode ser ampliada;
- Melhor desenvolvimento inicial das mudas;
- Melhor controle sobre a quantidade de sementes.
4. Desvantagens do uso de recipientes
- Maior peso para o transporte.
- São mais difíceis de serem manuseados.
- Exigem trabalho mais intensivo.
- Custos mais elevados de produção.
5. Características físicas do recipiente
- Forma: deve evitar o crescimento das raízes em forma espiral, estrangulada, como também a dobra da raiz.
- Material: não deve desintegrar-se durante a fase de produção de mudas.
- Dimensões: a altura e o diâmetro do recipiente deve variar conforme as características da espécie e respectivo tempo no viveiro.
6. Tipos de recipientes mais usados no Brasil
No passado, o torrão paulista (mistura de solo argiloso, solo arenoso e esterco curtido) foi muito utilizado para espécies de Eucalyptus spp.
Atualmente, são utilizados alguns recipientes de baixo custo, como taquara e outros, como as lâminas de madeira e, em certos viveiros, recipientes de papelão. “Fertil pot” é um tipo de recipiente em forma cônica, com dimensões variáveis para cada espécie. São fabricados na indústria à base de pasta de madeira e turfa hortícola, formando uma mistura levemente fertilizada.
PXCL são recipientes de formato hexagonal, produzidos com fibras vegetais, contendo adubo e fertilizante químico.
Substrato
Substrato é o meio em que as raízes se desenvolvem formando um suporte estrutural, fornecendo água, oxigênio e nutrientes para que a parte aérea das mudas se desenvolva.
1. Tipos de substratos usados no País
- Canteiros em raiz nua: em viveiros de raiz nua, o único substrato é o próprio solo, que constitui o meio de desenvolvimento das raízes.
- Canteiros com mudas em recipientes: o substrato mais utilizado é uma mistura de materiais, devidamente decompostos. Os principais componentes desta mistura são: turfa, cinza de caldeira, vermiculita, cascas de árvores e de arroz. A adubação mineral é introduzida à mistura.
Exemplos de substratos:
- Para Cordia goeldiana (freijó), estudos revelam um bom desenvolvimento utilizando-se latossolo amarelo, textura muito argilosa, areia e matéria orgânica na proporção de 3:1:1.
- Para Eucalyptus grandis, produzidos por enraizamento em estaca, pode ser utilizado o composto orgânico (80%) e a moinha de carvão (20%).
- Para Eucalyptus spp e Pinus spp, pode ser utilizada mistura de turfa e vermiculita na proporção de 2:1.
Importante ressaltar que deve-se proceder uma análise do solo que vai ser utilizado como substrato, para ser constatada a necessidade de adubação e correção, obtendo-se, assim, resultados satisfatórios no viveiro. Considera-se que toda a adubação e correção excessiva, além de anti-econômica, torna-se prejudicial devido ao tempo para o efeito. Quanto à adubação, pode-se considerar que seja efetuada posteriormente, em época oportuna, inclusive com o adicionamento de matéria orgânica.
Atualmente, podem ser encontrados no comércio vários tipos de substratos já preparados e prontos para o uso, facilitando a produção de mudas de espécies florestais.
Micorrizas
Entende-se como micorriza a associação de simbiose entre certos fungos e raízes finas, não lenhosas, de plantas superiores, com ocorrência de benefícios mútuos. Como consequência, ocorrem maiores índices de sobrevivência após o plantio e o desenvolvimento das mudas, especialmente em sítios em que fatores edáficos e climáticos são adversos.
Principalmente no caso de coníferas, há necessidade de presença de micorrizas, na maioria fungos específicos para uma ou mais espécies. Em viveiros novos, há necessidade de se proceder a inoculação no solo previamente, cuidando para não serem introduzidas bactérias, insetos, outros fungos, etc. A inoculação poderá ser realizada utilizando-se solo de locais (reflorestamentos ou florestas naturais) onde ocorra a espécie a ser produzida.
Conforme as características morfológicas e anatômicas, as raízes micorrízicas dividem-se em dois grupos:
- Ectomicorrizas: O fungo coloniza a superfície das raízes curtas, formando um manto espesso ao seu redor. Podem ser vistas a olho nu, pois muitas formações são brancas ou apresentam um colorido brilhante. Os esporos das ectomicorrizas são transportados de formas diversas, sendo o vento o principal meio de propagação. Dentre as espécies que apresentam este tipo de associação, estão Pinus spp. e Eucalyptus spp.
- Endomicorrizas: não provocam diferenciação morfológica nas raízes, não podendo ser identificadas a olho nu. Dentre as espécies que apresentam este tipo de associação, estão: Eucalyptus spp. e muitas espécies de culturas agronômicas, forrageiras, frutíferas, ornamentais. As espécies dos Cerrados, da Floresta Amazônica, da Floresta Atlântica e da Floresta com Araucária apresentam associação essencialmente endomicorrízica.
Vantagens do uso das Micorrizas
- Aumento da área de absorção das raízes.
- Aumento da absorção de nutrientes, especialmente de fósforo.
- Aumento da longevidade de raízes infeccionadas.
- Maior resistência a extremos valores ácidos de pH.
- Maior proteção à infecção patogênica.
- Maior resistência à seca das mudas e às altas temperaturas do substrato.
- Maior poder de absorção de umidade.
Semeadura
1. Quebra de dormência de Sementes:
Este método consiste em restituir às sementes a umidade que elas perderam durante o procedimento de sua retirada de frutos, cones ou secagem com fins de adequação do teor de umidade para o armazenamento em câmara fria.
Para Pinus taeda, a quebra de dormência mais utilizada no País é a estratificação, mantendo as sementes sempre úmidas, à temperatura de 2 a 5o, por cerca de 60 dias.
2. Época de Semeadura
O plantio é realizado principalmente no período das chuvas, para atingir altos índices de sobrevivência. Outros fatores importantes a serem considerados na época do plantio são a rotação das espécies no viveiro e a resistência das espécies.
3. Profundidade de Semeadura
A semeadura não deve ser superficial, pois as sementes recebem intenso calor do sol, não absorvendo umidade em quantidade adequada à germinação. Também não deve ser profunda, pelo fato de que o peso do substrato constitui um fator físico inibidor da emergência de plântulas.
A profundidade ideal deverá variar com as dimensões e o vigor das sementes. Geralmente a profundidade não deverá ultrapassar de duas a três vezes a espessura da semente.
4. Cobertura de Canteiros
Conceitua-se como cobertura uma camada de material que deve ser leve, atóxica, higroscópica e que recubra, em espessura adequada, a superfície dos canteiros. Visa conservar a umidade necessária, proporcionando emergência mais homogênea; proteger as sementes de chuvas, fortes regas e oscilações de temperatura na superfície do canteiro após a semeadura.
A cobertura dos canteiros também protege as raízes novas e mais finas das plântulas logo após a emergência. Os materiais mais utilizados para cobertura de canteiros são: casca de arroz, acícula seca picada, vermiculita, sepilho, areia, serragem, etc. Podem ser utilizados, por períodos curtos e controlados, plásticos e aniagem que aumentam a temperatura na superfície dos canteiros, estimulando a germinação das sementes.
5. Abrigo de Canteiros
Entende-se por abrigo uma proteção colocada a uma altura variável, usualmente até 50 cm, sobre a superfície de canteiros. A finalidade da proteção é estimular a percentagem de emergência, atuando contra baixas temperaturas, no inverno, e também protegendo contra forte insolação e intempéries com granizo e chuvas fortes no verão.
Podem ser utilizados ripados de taquara e folhas de palmeira, sendo mais usual a tela de poliolefina (sombrite), que apresenta diferentes percentagens de sombreamento. Para espécies como o palmito (Euterpe edulis), é muito utilizado o sombrite de 50%; para o jacarandá da Bahia (Dalbergia nigra), é recomendado sombreamento entre 30 ou 50%; para a cupiúba (Goupia glabra), é recomendado o sombreamento de 30%.
Irrigação
Para as sementeiras ou canteiros em germinação, as regas devem ser frequentes até as mudas atingirem uma altura aproximada de cinco centímetros (folhas formadas), sendo os melhores horários pela manhã ou no período final da tarde.
A irrigação no início das manhãs é recomendável em épocas e em locais frios, para desmanchar o gelo formado por geadas. Regas ao final do dia contribuem para que o substrato permaneça úmido por mais tempo, de modo que o potencial hídrico das mudas mantenha-se com valores mais altos durante as noites.
É recomendado que após a emergência ter alcançado seu ápice, o regime de regas deva ser alterado, substituindo-se gradativamente a irrigação freqüente e leve por outro regime de maiores intensidades e duração de rega. Substratos com teores elevados de areia requerem maior freqüência que os de menores teores.
Deve-se tomar cuidado com o excesso da irrigação, pois isto poderá acarretar as seguintes consequências:
- Diminuição da circulação de ar no substrato.
- Lixiviação das substâncias nutritivas.
- Aumento da sensibilidade das mudas ao ataque de fungos.
Os trabalhos de irrigação poderão ser feitos com a utilização de mangueiras, regadores ou aspersores, dependendo das condições de cada viveiro.
Repicagem
A repicagem é o transplante de uma plântula de um local para outro no mesmo viveiro. Comumente, aproveita-se a oportunidade para refugar as plântulas que apresentam algum tipo de deformação ou baixo vigor.
Esta operação é executada manualmente no Brasil, de um recipiente onde há duas plântulas para outro recipiente onde nenhuma semente germinou. Não há tradição no país, do uso desta operação em viveiro de mudas de raiz nua.
A repicagem não deve ser efetuada ao sol e deve seguir os seguintes procedimentos:
- Após o umedecimento da sementeira, retira-se a muda com o auxílio de um lâmina, evitando ocasionar danos ao sistema radicular.
- Enquanto não ocorre o transplante para a embalagem, as mudas devem ficar em recipiente com água e à sombra.
- Com o tarugo cônico, o trabalhador do viveiro realiza movimentos circulares, após introduzi-lo no substrato que preenche a embalagem, formando um orifício para acomodar a muda.
- Se necessário, as raízes devem ser podadas para reduzir o volume radicular, facilitando a acomodação da muda no recipiente. poderá ser utilizada uma lâmina afiada ou uma tesoura.
- Coloca-se a muda no orifício do recipiente com substrato, cuidando-se para evitar a formação de bolsa de ar.
Quais doenças podem ocorrer na produção de mudas em viveiros?
As doenças em viveiros estão associadas principalmente a quatro fatores: água, sombreamento, substrato e material propagativo. Devido às suas características, o viveiro reúne condições de umidade, sombreamento e proximidade das mudas que favorecem a instalação, o desenvolvimento e a disseminação de doenças fúngicas.
Para o controle de doenças, podem ser utilizadas as seguintes medidas:
- Medidas preventivas: São tomadas antes do aparecimento das doenças e estão associadas às técnicas de manejo do viveiro, que têm por finalidade a melhoria das condições ambientais do viveiro.
- Medidas curativas: São tomadas após diagnosticado o aparecimento dos sintomas da doença. A utilização de fungicidas torna-se indispensável.
As práticas adotadas para o controle de doenças são:
- Melhoria das condições ambientais do viveiro: controle da irrigação, semeadura, drenagem, insolação e adubação.
- Desinfestação de substrato e recipiente: geralmente são utilizados produtos que tenham como princípio ativo o brometo de metila.
- Identificação dos agentes patógenos: é muito comum a ocorrência de doenças associadas aos fungos dos genêros: Cylindrocladium spp, Rhizoctonia spp., Pythium spp., Fusarium spp., Phytophtora spp.
- Aplicação de fungicidas de acordo com a indicação e especificação do fabricante.
- Descarte de mudas atacadas: mudas que estejam contaminadas deverão ser descartadas para evitar a contaminação das mudas vizinhas.
Como saber se as mudas produzidas estão saudáveis?
Um viveiro florestal deve sempre visar a produção de mudas sadias e vigorosas para posterior utilização em plantios. Elas devem apresentar:
- Sistema radicular desenvolvido.
- Raiz principal sem defeitos.
- Parte aérea bem formada.
- Caule ereto e não bifurcado.
- Ramos laterais uniformemente distribuídos.
- Folhas com coloração e formação normais.
- Isenção de doenças.
Maria Beatriz Ayello Leite
Redação Ambientebrasil