A Sustentabilidade dos sistemas de produção tem sido constantemente debatida nas últimas décadas, enfocando a influência dos bovinos sobre o ambiente e a conservação de recursos genéticos animais. A palavra sustentabilidade vem sendo usada amplamente, de acordo com os interesses e sistemas de valores da sociedade, porém, quando não definida precisamente, perde o seu real significado.
Segundo a definição da Organização de Agricultura e Alimentos (FAO), manejo sustentável envolve a “conservação de recursos naturais e o repasse de tecnologias, de modo que assegurem o alcance e a satisfação contínua das necessidades humanas para as gerações presentes e futuras. Tal desenvolvimento sustentável não degrada o ambiente, é tecnicamente apropriado, economicamente viável e socialmente aceitável”. Um agroecossistema sustentável é aquele que mantém a produtividade ao longo do tempo, com introdução mínima de insumos externos (suplementos alimentares, uso de fertilizantes e antibióticos), sem degradar os recursos naturais e a diversidade biológica.
O manejo sustentável de sistemas complexos, como o Pantanal, é extremamente difícil e constitui o principal desafio para cientistas, técnicos e proprietários rurais. O aproveitamento de uma área no Pantanal não deve ser unilateral, sendo necessário entender todo o processo (interações entre componentes bióticos e abióticos) e o papel de cada espécie no seu respectivo ecossistema. Portanto, o manejo sustentável deve se basear nos requerimentos das espécies de flora e fauna integrados com os requerimentos dos animais exóticos introduzidos e as necessidades do homem, levando-se em consideração as limitações do ambiente. A maioria dos estudos efetuados na região tem focado as partes componentes do sistema e resultados de interesse imediato, como o aumento da produção animal, em vez do esclarecimento dos processos que geram tais respostas.
Para que o sistema de produção de gado no Pantanal seja economicamente viável, ele deve otimizar o uso das pastagens nativas, e de práticas sanitárias alternativas para manter os animais saudáveis e com baixo custo. O criador também deve se preocupar em aplicar tecnologias já desenvolvidas e validadas na região.
A Embrapa Pantanal vem há anos desenvolvendo estudos, em busca de conhecimentos para o desenvolvimento de sistemas sustentáveis, de produção de gado de corte para a região. Algumas tecnologias já estão disponíveis, tais como:
- o uso de estação de monta;
- desmama antecipada dos bezerros;
- descarte técnico;
- suplementação mineral estratégica;
- seleção de touros;
- everminação estratégica; e
- controle profilático-sanitário.
Atualmente, a Embrapa Pantanal vem estudando a integração bovino x planta x solos visando desenvolver metodologia de avaliação e monitoramento da sustentabilidade dos diferentes sistemas de produção, técnicas de manejo sustentável das pastagens nativas, como também, definir medidas de manejo adaptativo para sistemas convencionais e orgânicos, com base em indicadores ambientais, econômicos, sociais e de bem-estar animal.
No Pantanal existe uma grande diversidade de ambientes e espécies forrageiras, que constituem a principal fonte de alimentos para os grandes herbívoros silvestres e domésticos. Entretanto, há pouco conhecimento sobre manejo dos recursos forrageiros nativos. Com relação à pastagem, existem muitas espécies forrageiras nativas de grande potencial que precisam de estudos de manejo e melhoramento. Com relação à raça adequada, os produtores deveriam selecionar um tipo de animal que utilizasse melhor os recursos forrageiros nativos e que fosse adaptado às condições bioclimáticas no Pantanal. O melhoramento genético dos bovinos aumenta os requerimentos de nutrientes e nem sempre as espécies forrageiras nativas estão aptas para atender as exigências desses animais. A raça, além de ser produtiva e adaptada à região, deve possuir as características desejadas do mercado.
Nota-se que no mundo há uma tendência dos consumidores pela carne de bovinos criados a pasto (“natural beef” ou “grass fed”), o que tem permitido a alguns produtores desenvolver um nicho de mercado apropriado. Diante deste cenário, o mercado alternativo pode aumentar a viabilidade econômica da criação de gado nas condições naturais do Pantanal. Ou seja, aumento do valor agregado, por ser orgânico, natural e alimentado exclusivamente a pasto, torna-se atraente aos consumidores, que estão dispostos a pagar por esse tipo de produto. O marketing da criação de bovinos a pasto é uma estratégia que a grande maioria dos produtores pantaneiros poderia fazer uso para incentivar este nicho de marcado.
Vários criadores pantaneiros vêm se associando, com o objetivo de beneficiar-se deste sistema natural de criação, procurando opções tecnológicas para aumentar a produtividade animal de forma sustentável. Exemplo disso é o Programa Vitelo orgânico do Pantanal Vitpan (Mato Grosso do Sul, 2000), que visa dar condições aos criadores pantaneiros de agregar valores ao seu produto principal. Enfim, se cada produtor buscar opções e estratégias de manejo, de forma sustentável, para as condições peculiares de sua propriedade, todos têm a ganhar: o produtor, o homem pantaneiro, o meio ambiente e a sociedade como um todo.
Sandra Aparecida Santos (sasantos@cpap.embrapa.br), é pesquisadora da Embrapa Pantanal, da área de Produção Animal (http://www.cpap.embrapa.br)