Salvamento Arqueológico do Sítio Engenho Pacuíba I

Foi iniciado no último dia 08 de abril as escavações arqueológicas do sítio Engenho Pacuíba I, localizado ao norte da Ilha de São Sebastião, município de Ilhabela – SP.

Trata-se das ruínas de uma construção do século XIX, mais precisamente um engenho de cana movido à tração animal.

Este projeto está sendo coordenado pelo arqueólogo Plácido Cali e financiado pela Associação da Praia da Pacuíba. Na área onde está localizado o referido sítio arqueológico pretende-se a implantação de um condomínio. Sendo todo patrimônio arqueológico um Bem da União e protegido por lei federal, qualquer empreendimento imobiliário somente receberá aprovação após os responsáveis promoverem o salvamento arqueológico do sítio e de garantida a preservação das ruínas.

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A área do sítio é composta por duas ruínas e por uma grande área ao redor com material arqueológico no terreno, como louças do século XIX importadas da Europa, cerâmica neobrasileira, cachimbos, moedas, etc. Esse material, embora não tenha valor comercial, constitui-se em importantes elementos para a compreensão da sociedade da época e para o funcionamento do engenho. Esses objetos coletados serão, depois, higienizados, catalogados e estudados em laboratório.

O Projeto de salvamento arqueológico foi aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), através da Portaria n. 56, de 2 de abril de 2002.

Este trabalho somente foi possível graças à identificação e cadastramento do sítio durante a realização do Projeto Arqueológico de Ilhabela, realizado em Parceria com a Prefeitura Municipal de Ilhabela, trabalho este que resultou na identificação de 44 sítios arqueológicos.

Junto com as pesquisas arqueológicas a equipe de arqueólogos estará desenvolvendo um trabalho de divulgação e conscientização com a comunidade e estudantes de Ilhabela. O sítio arqueológico estará aberto à visitação pública todas as terças e quintas-feiras. Escolas e interessados em visitar o local, que contará com monitoria dos técnicos, deverão agendar previamente a visita através do telefone (12) 9765-7435 ou através do e-mail: pcali@uol.com.br

Contribuição científica do projeto

A História de Ilhabela é conhecida apenas através de documentos textuais esparsos e por tradição oral. Com a realização do Projeto Arqueológico de Ilhabela, entre os anos de 1999 e 2000, novos dados surgiram e novas interpretações históricas foram realizadas. Contudo, mesmo as informações arqueológicas até agora disponíveis baseiam-se em observação e registro dos sítios e na cultura material coletada em superfície.

O sítio Engenho Pacuíba I será o primeiro sítio arqueológico a ser escavado no município. Essa pesquisa deve ajudar a entender a história local, a economia ligada à produção de cana no arquipélago, o funcionamento dos engenhos e as outras possíveis atividades presentes na mesma área. Sabe-se que os engenhos coexistiram com outras manufaturas paralelas e anexas. É o caso da existência de olarias para a fabricação de fôrmas e de caixotaria ou tanoaria para a fabricação de caixas ou barricas de embalagem.

A fabricação do açúcar nos engenhos associa-se, no Brasil e nas Américas, à escravidão, ao contrário do processo na Europa, que estava apoiado no trabalho livre, familiar e artesanal. É possível que a pesquisa ajude a entender a escravidão no município.

Considerando a geografia da área onde está localizado o sítio, o engenho deveria ser de tração animal (moenda de almajarra). Este sítio pode elucidar algumas questões referentes ao funcionamento desses engenhos na região.

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Existiram vários engenhos de cana em Ilhabela. Através do Projeto Arqueológico de Ilhabela, foram identificados vinte e um. Feitos quase todos em alvenaria de pedra e cal, em sua maioria encontram-se em ruínas. Quase não existem informações sobre esses engenhos. Os dois únicos mais conhecidos são aqueles tombados. É o caso do Engenho d’Água, tombado em nível estadual pelo Condephaat, e da Fazenda São Mathias, tombado em nível federal pelo Iphan. Mesmo esses dois engenhos, por estarem em propriedade privada, onde não é permitida a entrada para visitação, são desconhecidos pela comunidade local.

Pelas razões acima expostas, esse projeto proporcionará uma significativa contribuição à História local e à Arqueologia, em especial à Arqueologia que trata dos sítios a partir da colonização portuguesa no Brasil e às questões ligadas à preservação e promoção do patrimônio arqueológico local.

Proposta de utilização do material arqueológico

O material arqueológico coletado em campo, ficará sob a guarda da Prefeitura Municipal de Ilhabela, através de seu Instituto Histórico, Geográfico e Arqueológico.

As informações produzidas pelo Projeto, bem como o material arqueológico coletado em campo e o sítio escavado serão utilizados em três diferentes níveis, abaixo descritos:

1. Educação: as informações obtidas nesse estudo serão aproveitadas na formação educacional dos estudantes do município, principalmente por não existir, até hoje, qualquer material de referência para pesquisa escolar sobre a história e a arqueologia de Ilhabela. O trabalho com estudantes será feito através de visitação monitorada ao sítio, durante a escavação e, posteriormente, nas escolas, através de palestras. Após a conclusão do projeto será feita a distribuição de material didático nas escolas.

2. Museologia: o material coletado deve compor o acervo de um Museu Histórico e Arqueológico de Ilhabela que a Prefeitura pretende criar, sendo um espaço destinado a receber o acervo de peças arqueológicas coletadas durante as pesquisas do Projeto Arqueológico de Ilhabela.

3. Turismo: pretende-se permitir a visitação de pessoas ao sítio em determinados dias e horários visando conscientizar a comunidade da importância desse tipo de trabalho. O aproveitamento turístico do patrimônio arqueológico deverá obedecer à legislação federal de proteção ao patrimônio arqueológico, através de propostas de interpretação de sítio, com painéis e outros meios de comunicação visual de forma a permitir, através de visitas monitoradas, o acesso ao conhecimento produzido pelo Projeto.

Proposta de publicação dos trabalhos realizados

A empresa financiadora do Projeto irá custear a publicação de um livro contendo o resultado das pesquisas arqueológicas realizadas durante o salvamento do Sítio Engenho Pacuíba I, contendo as informações arqueológicas, informações históricas, plantas e fotografias a fim de cumprir com o estabelecido na Portaria IPHAN 07/88. Tal publicação será distribuída gratuitamente às escolas do município e à comunidade arqueológica brasileira.

Redação Ambientebrasil