O setor industrial, estigmatizado como um dos principais responsáveis pela grave situação ambiental do planeta e também pelas crescentes exigências legais, com relação aos resíduos gerados, tem reagido pró-ativamente, a partir da implantação de estratégias de gestão como: produção limpa, certificação ambiental, redução de resíduos tóxicos, reciclagem e reuso, principalmente. Além disso, as indústrias necessitam tornar-se ecoeficientes e mais competitivas, pois resíduo significa perda de matéria prima, falta de eficiência e aumento de custos de produção. Diante disso, passaram a preocupar-se com a introdução do conceito de prevenção, ou seja, reduzir cada vez mais a geração na origem, abandonando a postura essencialmente reativa.
Os processos de revestimento metálico provocam alto impacto ambiental em função da presença de metais pesados, principalmente o cromo, níquel, zinco e cádmio, além de cianeto, ácidos e álcalis, nos efluentes líquidos e conseqüentemente, no lodo proveniente dos tratamentos. Consomem, ainda, grandes volumes de água nas etapas de lavagens e de recobrimento, e também energia, devido ao aquecimento de diversas soluções durante o processo e no próprio tratamento dos resíduos. Diante da nova ordem que se estabelece, a gestão ambiental passou a ter importante papel no que tange à redução da geração destes resíduos, possibilitando assim conciliar a ampliação dos ganhos econômicos com a conservação do meio ambiente.
Em uma pesquisa, cujo objetivo foi detectar a situação da gestão ambiental nas maiores galvânicas do Rio Grande do Sul, constatou-se uma grande variação de ações, pois encontrou-se desde empresas com total ausência de setor responsável pelas questões ambientais, passando pelas que se preocupam apenas em cumprir os parâmetros estabelecidos pela legislação, até as que interferem no mercado com a introdução de produtos mais limpos ou mais sustentáveis. Como exemplo de boa conduta, cita-se uma indústria de Caxias do Sul que estabeleceu parceria com renomados estilistas, os quais se propõem a usar nas suas criações produtos alternativos, ou seja, produzidos com matéria-prima menos tóxica e conseqüentemente gerando resíduos mais facilmente tratáveis com baixíssima ação impactante.
Outro exemplo, foi uma indústria de Parobé que reveste os próprios detalhes decorativos para os calçados que produz. Para reduzir os impactos do setor de tratamento de superfície, a primeira atitude foi substituir a matéria-prima das peças a serem revestidas, passando de metal para plástico, evitando assim a etapa de decapagem ácida, que é danosa à saúde humana e ao meio ambiente, eliminando também os processos com cianeto que são altamente tóxicos, por processo sem cianeto. Esta empresa encontra-se atualmente em um bom patamar de responsabilidade ambiental, pois além da busca pela certificação ISO 14001, passou a preocupar-se com os resíduos gerados, não só na questão quantitativa, mas também qualitativa. Visa também o desenvolvimento de novos produtos, fabricados totalmente a partir dos seus resíduos, promovendo a redução dos grandes passivos ambientais de resíduos perigosos, característicos das indústrias calçadistas.
Estas experiências demonstram que a introdução da variável ambiental no sistema de gestão de empresas de alto impacto ambiental torna-as mais ecoeficientes, propiciando inúmeras vantagens, tais como: aumento de rendimento das matérias-primas, redução da geração de resíduos perigosos, diminuição dos custos de produção, tratamento e disposição, além de ganhos substanciais quanto à saúde do meio ambiente e da população.
Quem pode requerer
Qualquer pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.
Marta Regina Lopes Tocchetto – Universidade Federal de Santa Maria – RS1 Lauro Charlet Pereira – Embrapa Meio Ambiente-SP 2