A raiva, diagnosticos e sintomas

Mês dos Cachorros Loucos

Agosto é popularmente conhecido como o mês do cachorro louco, provavelmente porque, nesse mês, ocorre maior concentração de cadelas no cio, em decorrência das condições climáticas. Por causa dessa situação, há maior aproximação e promiscuidade entre os animais, daí a ocorrência de mais contágio. Mas o contágio da raiva pode acontecer durante todo o ano.

O que é raiva?

A raiva é uma doença infecciosa, aguda e mortal, transmitida aos mamíferos, inclusive o homem, através da mordida, arranhão ou lambedura de cães, gatos ou morcegos contaminados pelo vírus rábico. A doença pode também acometer os animais herbívoros, como o boi, o cavalo, a ovelha, a cabra, sendo que nos ruminantes como os bovinos, os sintomas são predominantemente paralíticos, e o transmissor para esses animais quase sempre é o morcego hematófago, da espécie Desmodus rotundus, no Brasil.

O cão é o principal transmissor da raiva em regiões urbanas. A raiva acontece mais em agosto e pode se manifestar de duas formas: a furiosa e a muda ou paralítica. Na primeira, ocorrem manifestações de inquietação e excitação, na segunda incidem mais os atos depressivos do sistema nervoso. As duas, entretanto, são horríveis e devem ser evitadas a qualquer custo.

O morcego (hematófago) sugador de sangue, funciona também como reservatório do vírus, ou seja, contamina-se com o vírus porém, sobrevive ao mal, passando então a funcionar como transmissor para outros animais que venha a sugar, devido ao fato de contaminar o ferimento que produz para aspirar sangue com sua saliva, que tem alta concentração do vírus.

Para rebanhos bovinos, eqüinos, caprinos ou ovinos, criados onde existam morcegos hematófagos, requer-se vacinação apropriada para essas espécies animais, é a principal medida para a profilaxia do mal, além do combate e extermínio das colônias de morcegos em suas cavernas.

No caso do homem, somente é indicada a vacinação como medida terapêutica, em caso do mesmo haver sido exposto à mordedura ou contato com animais suspeitos de raiva, ou tenha se contaminado acidentalmente, e nestes casos, a urgência da vacinação é de suma importância, assim como número de doses da vacina proporcional à gravidade do caso, o que o médico assistente deve julgar e prescrever, segundo o caso em si.

A raiva é uma enfermidade das mais antigas que se tem notícia, cuja causa permaneceu desconhecida, até que por volta do ano de 1882, portanto há mais de 100 anos, o químico francês LUIZ PASTEUR, já com 60 anos, começou a estudá-la, pois conforme deixou escrito em seus apontamentos científicos: “não conseguia esquecer-se dos gritos daquelas vítimas do lobo danado que passou pelas ruas de ARBOIS, sua terra natal, quando ainda menino, mordendo várias pessoas, que vieram a adoecer e morrer da doença”.

Diagnóstico da Doença

O animal, durante a indisposição que antecede à doença, dá vários sinais relativos à sua mudança de comportamento. De alegre e festeiro, ele se torna triste e retraído. Muitas vezes, no entanto, o animal se apresenta mais carinhoso e alegre que o habitual. Isto representa grande perigo, pois 14 dias mais ou menos antes de se manifestar, a raiva, já é virulenta e pode transmitir a doença. À medida que a doença avança novos sinais podem ser observados. O animal não se apresenta agressivo ainda. Procura, instintivamente, o seu dono, como a pedir alívio aos seus sofrimentos, mas seu apetite degenera e ele passa a comer tudo o que encontra pela frente como pedras, trapos e a própria cama. E um detalhe que é facilmente notado: o cão raivoso não late, uiva, terminando por uma nota aguda e agoniada, esse uivar. Também fato digno de observação é que quase todos os cães contaminados fogem ou procuram fugir da casa de seus donos, quando sentem a aproximação do acesso de furor, obedecendo ao seu instinto para não morder as pessoas da casa. É só nessa fase, de intensa excitação, que o olhar do cão é tomado por um brilho aterrorizante e ele demonstra total indiferença a pancadas ou qualquer outro meio menos violento para tentar controlá-lo. Se o cão estiver na rua, ele avança contra tudo e contra todos, preferencialmente outros cães, permanecendo com a cauda caída e a babar abundantemente, num caminhar contínuo e triste até que, esgotado ou atacado pela paralisia, cai exausto, apresentando fenômenos tetânicos ou convulsivos, até que lhe sobrevenha a morte em três ou quatro dias.

Sintomas Humanos

O homem recebe o vírus da raiva através do contato com a saliva do animal enfermo. Isto quer dizer que, para ser inoculado, não precisa necessariamente ser mordido – basta que um corte, ferida, arranhão profundo ou queimadura em sua pele entrem em contato com a saliva do raivoso. Independente da forma de penetração, o vírus se dirige sempre para o sistema nervoso central. O tempo de incubação, porém, varia com a natureza do vírus, o local da inoculação e a quantidade inoculada. Se o ponto de contágio tiver sido a cabeça, o pescoço ou os membros superiores, o período de incubação será mais breve, porque o vírus atingirá a região predileta com maior rigidez. A partir daí, o vírus migra para os tecidos, mas sobretudo para as glândulas salivares, de onde é excretado juntamente com a saliva.

Tanto no homem como nos animais, quando os sintomas da moléstia se manifestam, já não há mais cura possível – a morte é certa. Assim, todo tratamento tem que ser feito durante o período de incubação, quando o paciente não apresenta sintomas e não manifesta queixas. No homem, o primeiro sintoma é uma febre pouco intensa (38 graus centígrados) acompanhada de dor de cabeça e depressão nervosa. Em seguida, a temperatura torna-se mais elevada, atingindo 40 a 42 graus. Logo a vítima começa a ficar inquieta e agitada, sofre espasmos dolorosos na laringe e faringe e passa a respirar e engolir com dificuldade. Os espasmos estendem-se depois aos músculos do tronco e das extremidades dos membros, de forma intermitente e acompanhados de tremores generalizados, taquicardia e parada respiratória.

Qualquer tipo de excitação pode provocá-los (luminosa, sonora, aérea, etc.). O homem, ao contrário do cão, torna-se hidrófobo (sofre espasmos violentos quando vê ou tenta beber água). Freqüentemente experimenta ataques de terror e depressão nervosa, apresentando tendência à vociferação, à gritaria e à agressividade, com acessos de fúria, alucinações visuais e auditivas, baba e delírio.

Esse período de extrema excitação dura cerca de três dias, vindo, a seguir, a fase de paralisia, mais rápida e menos comum nos homens do que nos animais. É então que se nota paralisia flácida da face, da língua, dos músculos da deglutição, dos oculares e das extremidades dos membros. Mais tarde, a condição pode atingir todo o corpo.

Às vezes, a moléstia pode manifestar evolução diferente: surge com a paralisia progressiva das extremidades e logo se generaliza. Mas, seja qual for o tipo, a raiva sempre apresenta uma evolução fatal para o paciente.

Agente Etiológico

O vírus da Raiva pertence à família Rhabdoviridae, gênero Lyssavirus. O vírus da Raiva possui um genoma constituído por um único filamento RNA, e cinco polipeptídeos identificados. Um envelope lipoprotéico, com determinantes antigênicos específicos, é responsável pela indução da formação de anticorpos neutralizantes. Embora seja genericamente considerado como um sorotipo único, estudos recentes utilizando anticorpos monoclonais revelaram uma pequena variação antigênica.

Detecção do Vírus

O vírus da Raiva já foi propagado em uma ampla variedade de animais de laboratório. Os camundongos jovens são freqüentemente utilizados, e o período de incubação nestes é de apenas 7 a 10 dias. Vários meios de cultivo celular são suscetíveis, onde podemos incluir as linhagens de células de rim de hamster, rim de rato, fibroblastos de embrião de galinha, rim de hamster lactente (BHK-21), rim de cão (CK), e células amnióticas humanas (WI-38).

Várias cepas podem se multiplicar em ovos embrionados de galinha ou pata onde as cepas FIury de alta passagem em ovos (HEP) são mais atenuadas do que as cepas de baixa passagem em ovos (LEP). Ambas já foram utilizadas em vacinas, fabricadas a partir de ovos embrionados de patas.

A denominação “vírus de rua” (“street virus”) se refere ao vírus selvagem, patogênico, existente em natureza; o “vírus fixado” (“fixed vírus”) é o vírus replicado em laboratório, não patogênico. Através da microscopia eletrônica observou-se que o vírus possui um formato de bala de revólver (alongado, com uma das extremidades arredondadas e a outra obtusa), e mede de 130 a 300 nm x 70 nm.

Vírus da raiva

O vírus rábico determina sempre nos animais em que se instala, uma inclusão cerebral denomina da CORPÚSCULOS DE NEGRI, por haver sido descrita pelo pesquisador com esse nome, no ano de 1903. Tais inclusões citoplasmáticas, quase sempre encontradas no cérebro dos animais, e principalmente na região denominada Corno de Amon, situada na base do cérebro, são tidas como patognomônicas da doença, tal seja, só ocorrem quando o animal sucumbiu por Raiva e por nenhuma outra causa que não a Raiva. Para serem visualizados, é necessário ser o cérebro do animal fixado e corado por método específico, e observados seus cortes histológicos mediante técnica microscópica chamada de imersão (grande aumento). 

O vírus encontrado quando isolado de um animal doente, é denominado de vírus de rua, e é altamente infectante (virulento). Já aquele cultivado em laboratório, e inativado em sua patogenicidade e virulência, por sucessivas passagens em meios de cultura próprios, e por repiques diretos no meio em que é cultivado, é denominado vírus fixo. É este último o utilizado no preparo de vacinas, pelo fato de perder sua virulência e patogenicidade, conservando não obstante sua capacidade antigênica, qualidade esta última que é avisada na vacina, por ser a responsável pelo estímulo formador de anticorpos pelo organismo no qual for inoculada.

Dependentemente da técnica empregada no preparo dessa vacina anti-rábica, poderá a mesma dar imunidade por um ou dois anos, aos animais em que venha a ser inoculada. Existem vacinas para serem aplicadas em cães, assim como em gatos, bovinos ou eqüinos e outros animais suscetíveis, devendo por essa circunstância serem procuradas e selecionadas de acordo com a espécie animal a ser imunizada. Mesmo o homem quando mordido por um cão suspeito de estar com raiva, essa vacinação subsequente deve ser efetuada o mais rapidamente possível, a fim de possibilitar que o organismo humano fabrique sob o estímulo da vacina os anticorpos necessários a deterem a propagação do vírus em sentido ao cérebro, e antes que isto tenha tempo de ocorrer, já que essa propagação do vírus é em sentido centrípeto para o cérebro e lenta porque efetuada pelos nervos da região que se deu a mordida, ou foi lesada por esse traumatismo.

Sobrevivência do Vírus no Meio Ambiente

O vírus da Raiva é inativado pelo éter e pela fervura. O glicerol é um excelente preservativo. O vírus é rapidamente inativado pela radiação ultravioleta. Também é destruído pela pasteurização, e na saliva ressecada o vírus perde sua virulência em poucas horas, à temperatura ambiente.

Vacina anti-rábica

A vacinação anti-rábica é o melhor caminho para prevenir o sofrimento do dono e a horrível morte de seu melhor amigo imunizando-o no terceiro mês de vida e mantendo-o vacinado nos intervalos recomendados. Como responsável, o dono deve agir assim pelo seu próprio bem, pelo bem dos que o cercam, pela saúde do animal, por uma convivência feliz com a família e paz com a comunidade.

Existem vacinas anti-rábicas apropriadas para cada espécie animal, e das mais variadas técnicas de fabricação, desde a antiga vacina Pasteuriana, preparada pela dessecação de medulas de animais inoculados com o vírus, até as mais modernas obtidas por técnicas especiais, quando o vírus é cultivado em meios vivos, como ovos embrionados de galinha, neste caso denominadas vacinas avinizadas, e até em cultivos de células de rim de porco ou de hamster.

Alguns Cuidados

  • A partir dos 3 meses de idade, cães e gatos sem exceção devem ser vacinados todos os anos, incluindo lactantes, cadela prenhe ou no cio.
  • Não deixe seus animais soltos na rua.
  • Ao sair com o animal mantenha-o sob controle, utilizando coleira e guia.
  • Nunca provoque um animal.
  • Não toque em animais estranhos, feridos ou que estiverem se alimentando.
  • Sempre observar seu animal, qualquer alteração no comportamento (euforia, tristeza, etc.) deve ser considerado, pois o vírus ataca o sistema nervoso central de um modo geral.
  • Evitar entrar em cavernas e locais comprovados a presença morcegos hematófagos.

Ocorrendo acidentes por mordedura ou arranhadura de cães e gatos:

  • Deixar o ferimento sangrar um pouco.
  • Lavar o ferimento com água e sabão amarelo.
  • Procurar imediatamente o serviço de saúde mais próximo.
  • Identificar o animal agressor e seu proprietário.
  • Observar se o animal permanece sadio por 10 dias.
  • Caso o animal não tenha dono, desapareça, adoeça ou morra, procure imediatamente orientação através do CCZ – Centro de Controle de Zoonozes de seu estado.

Manejo de Animais Suspeitos que Morderam Pessoas

Cães ou gatos sadios que morderam pessoas deverão ser confinados e observados por um período de 10 dias, e avaliados por um veterinário, diariamente. Qualquer sintoma que o animal apresente deverá ser comunicado imediatamente ao departamento de vigilância sanitária local. Se houver o desenvolvimento de sinais sugestivos de Raiva, o animal poderá, a critério da autoridade sanitária, ser sacrificado, anteriormente a sua morte natural, e sua cabeça removida e mantida sob refrigeração, para exame a ser realizado posteriormente num laboratório credenciado junto aos órgãos de vigilância sanitária. Qualquer animal vadio que morda uma pessoa poderá ser mantido em observação por 10 dias, ou ser sacrificado imediatamente e sua cabeça ser submetida aos procedimentos acima descritos para diagnóstico de Raiva.

Fonte: Instituto Pasteur
Coordenação Estadual do Programa de Controle da Raiva – SP
CRMV – SP
Contribuição: Laura Calábria (lauracalabria@uol.com.br)