A energia nuclear é uma das formas de se obter energia elétrica em larga escala. Com o esgotamento dos recursos hídricos próximos aos principais centros consumidores, com as dificuldades para o licenciamento ambiental dos aproveitamentos hídricos remanescentes e o constante crescimento da demanda de energia, a participação da energia nuclear na produção de energia elétrica é fundamental na medida em que contribui para a melhoria na qualidade de vida da população e para o desenvolvimento econômico do país.
O Brasil possui a 6ª maior reserva mundial de urânio, assegurando uma excelente reserva e a garantia do suprimento de combustível. É um dos maiores mercados de energia elétrica do mundo.
No Brasil, a aplicações das radiações nucleares na indústria, agricultura e meio ambiente inserem-se em vários segmentos e apresentam significativo impacto econômico e social. A energia nuclear indica muitas possibilidades para o futuro como, por exemplo, o uso desta tecnologia no suprimento do calor de processo, da mesma forma que nas alternativas comerciais de propulsão naval. A produção conjunta de água doce por dessalinização da água do mar e energia elétrica reduz o custo de geração da eletricidade, é interessante comercialmente e tem sido considerada como uma das vias para reduzir a escassez futura de água doce, quando for possível garantir um fator de capacidade compatível com os requisitos dessa produção conjunta.
A usina Angra I, tem uma potência de 626 MW, começou a funcionar em 1981, mas em seguida foi paralisada por defeitos técnicos. Apenas no final de 1983 é que começou a funcionar, em formas de testes, e até o presente ainda não entrou em operação permanente com sua capacidade total.Os problemas que cercam essa usina são numerosos, como tecnologia cara e já obsoleta, construção em local inapropriado, problemas térmicos que freqüentemente paralisam o funcionamento da usina e até a ausência de qualquer plano seguro de evacuação da população local no caso de um acidente As usinas de Angra II e Angra III, também localizadas na cidade de Angra dos Reis, foram adiadas e até hoje estão sem previsão de término.
Mesmo com o racionamento iminente, ainda não se computou o potencial hidráulico da bacia Amazônica. Os custos de produção e operação das usinas nucleares são bastante altos, cerca de três vezes mais que os de uma usina hidrelétrica equivalente. Em síntese, o preço por quilowatt gerado por uma fonte atômica sai três vezes mais caro que o gerado por fonte hidráulica. Isto significa que as usinas nucleares tendem a elevar as tarifas para o suprimento de eletricidade. Para instalação de uma usina nuclear, em países democráticos, costuma-se realizar plebiscitos para consultar a população.
O Brasil possui a 6ª maior reserva mundial de urânio, assegurando uma excelente reserva e a garantia do suprimento de combustível. É um dos maiores mercados de energia elétrica do mundo.
No Brasil, a aplicações das radiações nucleares na indústria, agricultura e meio ambiente inserem-se em vários segmentos e apresentam significativo impacto econômico e social. A energia nuclear indica muitas possibilidades para o futuro como, por exemplo, o uso desta tecnologia no suprimento do calor de processo, da mesma forma que nas alternativas comerciais de propulsão naval. A produção conjunta de água doce por dessalinização da água do mar e energia elétrica reduz o custo de geração da eletricidade, é interessante comercialmente e tem sido considerada como uma das vias para reduzir a escassez futura de água doce, quando for possível garantir um fator de capacidade compatível com os requisitos dessa produção conjunta.
Brasil desenvolve técnica avançada de enriquecimento de urânio
Urânio para a China
Os governos do Brasil e da China manifestaram o propósito de estabelecer um acordo de cooperação nuclear. Sexta maior reserva de Urânio do mundo, o Brasil forneceria a substância aos chineses, que a processariam para ser utilizada em usinas nucleares. Os recursos dessa venda seriam investidos no programa nuclear brasileiro.
Para gerar energia de qualquer tipo, o Urânio precisa ser enriquecido, processo pelo qual se aumenta a concentração do elemento, que aparece na natureza de forma impura e rarefeita. O Brasil domina a primeira fase desse processamento e está próximo de alcançar o ciclo completo nas instalações de Resende (RJ), cuja vistoria internacional é alvo de polêmica.
Com pouco enriquecimento, o Urânio é combustível para usinas de produção de energia elétrica. Com enriquecimento médio, funciona como combustível para submarinos. O Brasil só admite seu interesse nessas duas possibilidades, reiterando a todo tempo que abdica do alto enriquecimento, destinado à produção de bombas nucleares.
O avanço brasileiro – e de outros países em desenvolvimento – na área de tecnologia nuclear tem causado alguma A tecnologia de enriquecimento isotópico de urânio com laser, pesquisada desde 1981 pelo Instituto de Estudos Avançados (IEAv) do Centro Tecnológico Aeroespacial (CTA), de São José dos Campos, possui diversas aplicações, desde o desenvolvimento de combustível para reatores de pequeno porte para utilização em submarinos, até para geração de energia elétrica através de Unidades Autônomas Compactas de Produção de Energia. Segundo o pesquisador Nicolau Rodrigues, da Divisão de Fotônica do IEAv, a técnica, que já atingiu resultados somente alcançados em laboratórios instalados em seis países (EUA, Inglaterra, França, Japão, Rússia e China), poderá ser aplicada também na produção de radiofármacos (substâncias radioativas para o uso no diagnóstico e tratamento de doenças, principalmente o câncer) e no desenvolvimento de novos materiais como, por exemplo, ligas metálicas e materiais magnéticos.
O enriquecimento de urânio é o processo pelo qual se aumenta a concentração de um de seus isótopos, o 235U, que é muito pequena no urânio natural (cerca de 0,7%). O isótopo 238U é o mais abundante na natureza (cerca de 99,3%), porém o 235U é mais adequado para produção de energia. Por isso, a maioria dos reatores térmicos atuais opera com urânio ‘enriquecido’.
Azambuja: O Brasil não desenvolve armas nucleares para se impor no cenário internacional, diferentemente de outros países
O embaixador Marcos Azambuja, membro do Conselho Curador do Cebri e ex-secretário-geral do Itamaraty, ressaltou que o Brasil não desenvolve armas nucleares para se impor no cenário internacional, diferentemente de outros países, como China e Alemanha. “O Brasil está em uma posição confortável, é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e não tem interesse em armas nucleares”, explicou Azambuja.
No entanto, a cientista política Renata Dalaqua, coordenadora de projetos do Cebri, chamou a atenção para uma postura crítica brasileira frente ao TNP. Segundo ela, o acordo é visto como um instrumento injusto, já que prevê a interrupção imediata de projetos nucleares nos países signatários, mas permite a manutenção do armamento nuclear já existente em algumas nações. “Quando se desenhou o TNP, mesmo seus maiores defensores sabiam que era uma solução precária. Não há acordo desigual que possa ter uma durabilidade de longo prazo”, completou Azambuja.
Mas, segundo a visão norte-americana, o enriquecimento de urânio no Brasil, ainda que para uso em pesquisas nucleares com fins pacíficos, pode abrir um precedente para países com uma atuação ambígua no campo internacional, como o Irã.
Mesmo assim, o Brasil foi estimulado pelo governo norte-americano a assumir um papel de mediador durante o Acordo de Teerã de 2010, entre Irã e Turquia. Segundo o documento, o Irã – que não domina a tecnologia de enriquecimento de urânio – entregaria à Turquia cerca de 1.200 quilos desse elemento levemente enriquecido e, em troca, receberia 1/10 dessa quantidade 20% enriquecido.
A atuação brasileira nesse caso foi um dos motivos das primeiras tensões entre Brasil e Estados Unidos, pois o governo norte-americano não queria retirar as sanções impostas ao Irã por sua postura em relação ao desenvolvimento de projetos nucleares. O impasse acabou levando os Estados Unidos a afastarem o Brasil das negociações, aumentando as tensões entre os dois países.
(In)segurança em Angra
Seguindo o procedimento internacional, no entanto, o Brasil também reavaliou suas instalações após Fukushima. Localizadas entre a serra e o mar, as maiores ameaças são os deslizamentos e as chuvas da região. “Revimos procedimentos e redimensionamos margens de segurança relacionadas a inundações, desmoronamentos, incêndios, onda se até tornados”, contou Carneiro. No total, o plano de resposta à Fukushima, produzido pela Eletronuclear em 2012, propõe mais de 50 medidas, algumas já implantadas.
Mesmo assim, muitos participantes do evento levantaram uma questão polêmica no plano de segurança: os procedimentos de evacuação da região. “O plano de emergência é uma abstração. Por exemplo, os deslizamentos frequentes de encostas cortam as rotas de fuga, como a BR101”, avaliou o engenheiro agrônomo José Rafael Ribeiro, conselheiro da Sociedade Angrense de Proteção Ecológica.
“Além disso, ele se concentra principalmente numa área de 5km ao redor da usina, boa parte da população não é contemplada. Em síntese, o plano é acreditar que aquilo ali nunca vai vazar.”
Um processo demorado
Um grande entrave para uma possível ampliação do uso da energia atômica no país, no entanto, é a dificuldade na construção de novas usinas. Angra 3, por exemplo, estava prevista para entrar em funcionamento em 2013, mas com menos de 50% da obra concluída, a inauguração foi adiada para 2016 ou até para o ano seguinte. Isso tem impacto nos custos, segundo Guimarães: “Uma usina nuclear demanda uma quantidade muito grande de investimentos; Angra 3 vai custar cerca de R$10 bilhões”, afirmou. “E, como qualquer obra, os seguidos adiamentos dos trabalhos acarretam em custos extras.”
O engenheiro lembrou que a Coreia do Sul construiu seu primeiro reator no mesmo período de Angra 1 e hoje possui mais de 20. Ele também lamentou as muitas condições impostas ao empreendimento no Brasil. “Precisamos de um novo modelo, com regras que garantam a segurança, mas não inviabilizem o projeto”, afirmou. “Devemos avaliar a possibilidade de parcerias público-privadas. Há muitas maneiras de fazer isso e manter o controle público, mas não há marco regulatório que defina essas regras.”
Pesquisas com betume
O rejeito é gerado por desde a mineração do urânio até o reprocessamento de combustível nuclear irradiado. Grande parte permanece radioativo por milhares de anos. No mundo todo, estima-se que dez mil toneladas de resíduos radioativos sejam geradas por ano.
O pequeno corpo de prova é uma amostra de laboratório da mistura de rejeitos nucleares e betume, que em usinas é feito em tambores de 200 litros (foto: Sandro Selles).
Segundo Guzella, a ideia de utilizar o betume para incorporar o rejeito surgiu primeiro na França, e estudos a respeito foram feitos na Bélgica e na Alemanha. Esses países chegaram a uma composição para o uso do betume na incorporação de rejeitos nucleares. “O Brasil não produz o betume com essa especificação, e o meu trabalho foi justamente o de pesquisar um betume nacional para o processo”, explica ela.
A engenheira química testou vários tipos de betume e chegou a uma fórmula para viabilizar o processo. O sistema funciona da seguinte maneira: o rejeito líquido de usinas nucleares é agregado ao betume aquecido em um extrusor evaporador – equipamento que permite a mistura dos dois, resultando num produto homogêneo e com baixas taxas de lixiviação. Solidificada, a mistura é colocada em tambores que podem ser armazenados em depósitos finais com segurança por até 300 anos.
“O projeto pode trazer benefícios econômicos e ambientais para o Brasil”
Pela complexidade dos equipamentos e do processo, o projeto de Guzella só pode ser aplicado em usinas nucleares. Além de Angra 2, a usina de Goesgen, na Suíça, também usa betume para armazenar seus rejeitos desde o início da operação – porém, com o betume com características especificadas por estudos alemães.
“Sabemos que o projeto pode trazer benefícios econômicos e ambientais para o Brasil”, defende a engenheira. “A nossa obrigação é fazer com que a incorporação e o depósito atendam às necessidades regulamentadas, e não haja ameaças à população.”
Participação da Energia Nuclear na Produção de Energia Elétrica
País | Produção % | País | Produção % |
França | 75,00% | Espanha | 31,00% |
Lituânia | 73,10% | Reino Unido | 28,90% |
Bélgica | 57,10% | Taiwan | 25,30% |
Bulgária | 47,10% | Rep. Checa | 20,80% |
Rep. Eslovaca | 47,00% | Estados Unidos | 19,80% |
Suécia | 46,80% | Rússia | 14,40% |
Ucrânia | 43,80% | Canadá | 12,40% |
Rep. Coréia | 42,80% | Romênia | 10,70% |
Hungria | 38,30% | Argentina | 9,00% |
Eslovênia | 37,20% | África do Sul | 7,10% |
Armênia | 36,40% | México | 5,20% |
Suíça | 36,00% | Holanda | 4,00% |
Japão | 34,70% | Índia | 2,70% |
Finlândia | 33,10% | Brasil | 1,30% |
Alemanha | 31,20% | China |
1,20% |
Redação Ambiente Brasil
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