O montanhismo muitas vezes é confundido com o Alpinismo, que leva este nome do lugar onde surgiu este esporte – os Alpes, o lugar onde foram feitas as primeiras escaladas. Porém o nome depende muito do lugar, na Argentina é chamado de Andinismo, pois é praticado nos Andes, já no Himalaia de himalaísmo.
O montanhismo é um esporte difícil que, seja praticado por lazer ou como “filosofia de vida”, exige um grande preparo físico, além de técnico-motor, tático e psicológico. Geralmente o amador, em qualquer esporte, ao iniciar uma atividade física, chega despreparado e com o tempo vai adquirindo o condicionamento físico necessário. No montanhismo não é possível começar sem qualquer preparo, pois é preciso ter força e coordenação motora para levantar o corpo escalando paredes e montanhas. Não é aconselhável que as pessoas sem experiência comecem a praticar o montanhismo sem acompanhamento de uma pessoa com mais experiência.
O montanhismo é uma grande solução para esquecer-se dos problemas das grandes cidades, apesar de ser uma prática que exige muito planejamento, pois tem grande grau de dificuldade. Essa é uma das formas de relaxamento para as pessoas que praticam, pois ela atinge uma grande convivência com a natureza, e sem de forma alguma prejudicar nenhum dos dois, nem a Natureza e nem o montanhista.
As primeiras técnicas de montanhismo são muito antigas, surgiram em 1760 na França, em escaladas feitas por Horace Bénédicte de Saussure, considerado o pai do Alpinismo. Em 1786 as técnicas começaram a melhorar, pois as pessoas praticantes também cresceram em número. Mas foi só em 1953 que o homem conseguiu pela primeira vez chegar ao topo de uma montanha. Foi o Edmund Hilary e seu companheiro Tensing Norgay que chegaram ao topo do Monte Everest – a montanha mais alta do mundo e está situada na cordilheira do Himalaia.
Já os europeus diriam que foi em 1786, com a conquista do Mont Blanc (4.808m), ponto culminante dos Alpes, na fronteira França – Itália. Mas, dependendo do que se considera montanhismo, pode até ter sido antes. Aliás, boa pergunta: o que se define por montanhismo? É quando se escala apenas por puro prazer e realização pessoal, ou também quando se é movido por razões religiosas, científicas, econômicas ou até militares?
Alguns historiadores consideram a ascensão do poeta italiano Francesco Petrarca ao Mont Ventoux (1.912m), na França, em 24 de abril de 1336, como a primeira ascensão documentada de uma montanha com fins puramentes pessoais – no caso, para fazer reflexões filosóficas -, sem desejo de conquista ou exploração. Petrarca descreveu1 com tanta riqueza de detalhes a beleza e os mistérios de sua jornada, que acabou sendo chamado de Pai do Alpinismo. Dois anos antes dele, em 1334, o filósofo Jean Buridan já havia feito o cume do Ventoux, a fim de buscar argumentos cosmológicos para seus escritos. Pouco depois, em 1358, Boniface Rostario d’Asti fez o cume do Rochemelon (3.557m), na região do Piemonte, Itália, que acabou se tornando local de peregrinação.
Esta foi a primeira ascensão conhecida de um cume com mais de 3.000m nos Alpes. Mas, para outros estudiosos, foi Antoine de Ville quem fez o primeiro cume que de fato envolveu escalada, indo além de uma simples caminhada de altitude, ao chegar ao cume do Mont Aiguille (2.087m), no maciço do Vercors, também na França, em 26 de junho de 1492. De Ville, no entanto, não escalou por motivação estritamente pessoal, já que o fez a mando do rei de França, Charles VIII.
O que faz esta primeira escalada ao Mont Blanc ser considerada como o marco zero do montanhismo é que, antes dela, nada mudara no mundo em função das ascensões conhecidas, já que elas não geraram nenhum movimento. Até então, só o vento, os dragões e os deuses reinavam nas alturas. Após o Mont Blanc, as montanhas deixaram de ser reinos terríveis, onde ninguém sobrevivia, nem mesmo por uma só noite, e passaram a ser exploradas e conhecidas de fato.
A revista espanhola Desnível, em seu editorial da edição de número 1422, define bem este movimento: “A partir de 1786, nada mais parou a busca da beleza que existe nas montanhas. A primeira ascensão ao Mont Blanc foi um grito no cume, cujo eco se estendeu por todo o mundo e que trouxe em seguida novas ascensões. Calou-se ali onde estavam preparados para entendê-lo”. E continua: “As repetições ao Mont Blanc e primeiras ascensões a cumes alpinos mais acessíveis, deram passo a objetivos mais desafiantes. Mas, acima de tudo, veio algo muito mais importante. Então, e não antes, se desencadeou um movimento que trouxe consigo um universo cultural próprio. Graças a ele, o alpinismo mundial se encheu de grandes obras pictóricas, literárias, fotográficas e cinematográficas”.
O Mont Blanc não é a montanha mais alta da Europa, pois perde em altura para o Elbrus (5.642m), nos Cáucasos ocidentais, na Rússia, mas é a mais alta de todos os cumes vizinhos, que formam o epicentro do movimento alpinístico mundial.
O século XIX
Ao longo do século XIX, o Mont Blanc passou a dividir as atenções com outras montanhas dos Alpes, mas mesmo assim continuou sendo palco de realizações históricas. A primeira ascensão feminina ao Mont Blanc, por exemplo, aconteceu em 1808.
O alpinismo, na primeira metade do século XIX, teve forte motivação científica. A alta montanha era um universo absolutamente novo, que despertava a curiosidade de pesquisadores dos mais diversos campos do saber. Depois, a partir de 1850, o alpinismo deixou a aura científica e passou a ser visto e praticado como um jogo, um esporte. Foi aí que ele viveu o que ficou conhecido como os anos dourados do alpinismo. Tomados de uma verdadeira febre ascensionista, alpinistas europeus, mas especialmente ingleses, passaram a conquistar todo e qualquer cume virgem. Para se ter uma idéia, somente nos Alpes, entre 1863 e 1865, foram registradas primeiras ascensões de mais de 100 cumes principais.
Também nesta época dourada e de grande efervescência surgiu entre os alpinistas o interesse em se reunir e organizar, o que levou à criação de inúmeros clubes e associações. Em 1857, foi fundado em Londres o primeiro clube de montanha da história, o The Alpine Club. Logo depois surgiram os clubes alpinos austríaco, suíço, italiano e alemão. Em 1874, foi fundado o Club Alpin Français, que apenas um ano depois já contava com mil sócios.
As Primeiras Manifestações de montanhismo no Brasil
Não podemos fixar uma data para o começo do montanhismo no Brasil, muito menos achar a paternidade, porque nada disso aconteceu. O montanhismo brasileiro simplesmente apareceu de forma natural entre os séculos XVIII e XIX e evoluiu por conta dos próprios brasileiros e também dos imigrantes.
As primeiras atividades nas montanhas brasileiras foram realizadas por garimpeiros e caçadores, e ainda não sabemos nada com relação aos nossos índios. Os jesuítas, muitos deles imigrantes, também já se aventuravam pelos topos das nossas montanhas em 1.700. Por exemplo, o Pico do Papagaio (2.293 m), situado Aiuruoca (MG), já era visitado por jesuítas e pelos escravos em 1726. Os picos da Serra do Caraça (MG), como Inficionado (2.068m), Sol (2.072 m) e Carapuça (1.909m), provavelmente foram subidos pelos jesuítas entre 1770 e 1780. E os topos de outras montanhas mineiras, entre eleas o Itambé (2.044 m) e Itacolomi (1.620 m), provavelmente já foram visitadas ao longo do século XVIIII pelos jesuítas, garimpeiros o caçadores.
Em 1763, as pessoas já iam pelo menos até a base das Agulhas Negras (áreas próxima onde fica hoje o abrigo Massenas), porque o primeiros registro de neve no Brasile veio de lá e foi naquele ano. Aliás, ninguém sabe ao certo quem e quando o Pico das Agulhas Negras (2.791 m) foi subido pela primeira vez, sabe-se apenas que as primeiras tentativas conhecidas foram feitas em 1856, por José Franklin da Silva (Massena) e colaboradores. Porém, o crédito é dado a Horácio de Carvalho e José Borba que, segundo relatos, chegaram ao topo em 1898”. Todavia, o ponto culminante das Agulhas Negras só seria alcançado em 1919, por Carlos Spierling, Oswaldo leal e João Freitas.
Neste mesmo século (XIX), o Pão de Açúcar entra em destaque na história do montanhismo nacional. A primeira ascensão conhecida, em 1817, foi atribuída à inglesa Henrietta Carsteirs. Em 1851, 1877 e 1899, várias pessoas, estrangeiras e brasileiras escalaram o Pão de Açúcar e posteriormente as subidas se tornaram freqüentes. As primeiras ascensões tiveram uma certa conotação nacionalista, mas posteriormente passaram a ser manifestações puramente esportivas. Poderia ter nascido aí o montanhismo brasileiro, porque depois de várias outras montanhas foram subidas pelo mesmo propósito, o de aventura esportiva.
A Pedra da Gávea (842m), também na Cidade do Rio de Janeiro, foi subida antes de 1828 e na década de 1920, a via de acesso era considerada uma escalada técnica, como relata a Ata da primeira excursão oficial do Centro Excursionista Brasileiro, fundado em 1919. (…) O problema é que não há registro histórico das primeiras ascensões de algumas de nossas montanhas. De qualquer forma, varias outras de dificuldade técnica igual ou inferior à Pedra da Gávea e o Pão de Açúcar foram subidas em alguns estados brasileiros, por exemplo:
A Pedra do Sino (2.263m), em Teresópilos (RJ), foi subida pela primeira vez pelo escocês George Gardner e dois mateiros de Teresópolis, em 1841;
O Pico da Bandeira (2.891m), Minas Gerais, foi subido em 1859 a mando de Dom Pedro II (mas é possível que tenha sido subido antes);
O Pico Olimpo (1.539 m), na Serra do Marumbi (PR), foi escalado em 1879 pelo Joaquim Olimpio de Miranda e colaboradores;
O Monte Roraima (2.723 m) em 1884, pelo inglês Everar Im Thurm;
O Pico Forno Grande (2.039 m), situado no Estado do Espírito Santo, foi subido em 1908 pelos irmãos Agostinho e colaboradores.
O Dedo de Deus é o símbolo do montanhismo brasileiro, não só pela sua beleza e imponência, como por sua história que, de acordo com a maioria dos montanhistas, marca o início da escalada técnica (alpinismo) no Brasil, fato que aconteceu em grande estilo e foi realmente um marco importante e de repercussão internacional. Um evento que bastante divulgado à época e com enorme apelo popular. E tudo aconteceu em 1912.
Veja algumas imagens e inspire-se:
Pão de Açucar.
Serra dos Órgãos.
Dedo de Deus.
Locais para a prática:
São Paulo
– Pico dos Marins
– Pedra da Mina
– Pedra do Baú
– Corcovado de Ubatuba
– Serra do Mar
Rio de Janeiro
– Pico das Agulhas Negras
– Serra dos Órgãos
– Ilha Grande
Minas Gerais
– Pico do Marinzinho
– Pico da Bandeira
– Pico do Cristal
– Morro do Calçado
– Pedra Redonda
– Pico do Itaguaré
– Pico dos Três Estados
– Pico do Garrafão
– Ouro Preto-Caraça
– Serra da Canastra
Paraná
– Parque Estadual do Marumbi
– Pico Paraná
Ambiente Brasil
Montanhismo Brasileiro, Paixão e Aventura de Antonio Paulo Faria, 2006, p. 64 a 67.
www.semanademontanhismo.com.br
www.infoescola.com