Situação Global das Lavouras Transgênicas Comercializadas em 2002 – Parte 1

Sumário

Durante 2002, a área global de lavouras transgênicas manteve-se em crescimento pelo sexto ano consecutivo, com taxa de crescimento contínua superior a 10%. A área total estimada de lavouras transgênicas ou geneticamente modificadas (GM) para 2002 é de 58,7 milhões de hectares ou 145 milhões de acres plantados, por cerca de 5,5 a 6 milhões de agricultores em 16 países. Em 2001, os produtores eram aproximadamente 5 milhões em 13 países. A expansão da área de cultivo entre 2001 e 2002 foi de 12%, o equivalente a 6,1 milhões de hectares ou 15 milhões de acres. Durante o período de sete anos, entre 1996 e 2002, a área global de lavouras transgênicas aumentou 35 vezes – saltou de 1,7 milhão de hectares em 1996 para 58,7 milhões de hectares em 2002. Mais de um quarto (27%) da área global de lavoura transgênica – equivalente a 16 milhões de hectares – foi plantado em países em desenvolvimento, onde o crescimento se manteve alto. Enquanto o crescimento absoluto em área de cultivos GM entre 2001 e 2002 foi maior em países industrializados – 3,6 milhões de hectares – a percentagem de crescimento foi mais que o dobro em países em desenvolvimento do Sul (19%), comparado aos países industrializados do Norte (9%).

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Em 2002, os quatro principais países produtores cultivaram 99% da área global de lavouras transgênicas. Os EUA cultivaram 39 milhões de hectares (66% da área total), seguidos da Argentina, com 13,5 milhões de hectares (23%), Canadá, com 3,5 milhões de hectares (6%) e China, com 2,1 milhões de hectares (4%). Entre os quatro líderes de cultivos (GM), a China teve o maior crescimento anual, com 40% de aumento em sua área de algodão Bt – de 1,5 milhão de hectares em 2001 para 2,1 milhões de hectares em 2002, equivalente a 51% da área total de algodão, que é de 4,1 milhões de hectares. Trata-se da primeira vez que a área de algodão Bt na China excede mais que a metade da área total de algodão. Mesmo com a crise econômica na Argentina, a área de lavoura GM cresceu 14%, de 11,8 milhões de hectares em 2001 para 13,5 milhões de hectares em 2002. Tanto nos EUA, com 3,3 milhões de hectares cultivados, como no Canadá, com 0,3 milhão de hectares, a área plantada registrou crescimento de 9%. A área de cultivo de transgênicos na África do Sul cresceu mais de 20%, alcançando 0,3 milhão de hectares. A área de algodão GM na Austrália foi reduzida pela metade. A retração decorre da pior seca das últimas décadas, que reduziu pela metade a área total de plantio de algodão no país. Três países – Índia, Colômbia e Honduras – cultivaram lavouras transgênicas pela primeira vez em 2002. A Índia, país com a maior área de cultivo de algodão no mundo, com 8,7 milhões de hectares – equivalente a 25% da área mundial de algodão – plantou 45 mil hectares de algodão Bt comercial pela primeira vez no ano de 2002. A Colômbia também plantou uma quantidade introdutória, pré comercial, de 2 mil hectares de algodão Bt.

Honduras tornou-se, em 2002, o primeiro país na América Central a aderir às culturas GM. A área de cultivo na fase introdutória foi de aproximadamente 350 hectares de milho Bt. Com o ingresso desses três novos produtores, o número de países que cultivam GM aumentou de 13 em 2001 para 16 em 2002, incluindo 9 países em desenvolvimento, 5 países industrializados e 2 países do Leste Europeu.

Globalmente, os principais cultivos GM no ano de 2002 foram:

 • Soja GM, ocupando 36,5 milhões de hectares (62% da área global de GM), contra 33,3 milhões de hectares em 2001;

 • Milho GM, com 12,4 milhões de hectares (21% da área global de GM), contra 9,8 milhões de hectares em 2001;

 • Algodão transgênico em área estável de 6,8 milhões de hectares (12% da área global de GM);

 • Canola GM, com 3 milhões de hectares (5% da área global com organismos GM), contra 2,7 milhões de hectares em 2001.

Durante o período de sete anos, entre 1996 e 2002, o principal atributo dessas culturas tem sido, consistentemente, a tolerância a herbicidas, com a resistência a insetos em segundo lugar. Durante 2002, a tolerância a herbicidas desenvolvida em soja, milho e algodão ocupou 75% da área global cultivada com organismos GM – 44,2 milhões de hectares. As espécies Bt ocuparam 10,1 milhões de hectares, ou 17% da área global.

Genes agregados para tolerância a herbicidas e resistência a insetos, desenvolvidos tanto para o milho como para o algodão, ocuparam 8% da área mundial total plantada com transgênicos em 2002, ou 4,4 milhões de hectares. As duas combinações GM de atributos e espécies dominantes em 2002 foram:

 • Soja tolerante a herbicida, ocupando 36,5 milhões de hectares ou 62% da área mundial total, cultivada em sete países;

 • Milho Bt, ocupando 7,7 milhões de hectares, o equivalente a 13% da área mundial de transgênicos, também em sete países.

A África do Sul plantou 58 mil hectares com milho branco Bt destinado à alimentação humana, o que significou aumento de 10 vezes sobre 2001. A canola tolerante a herbicida plantada no Canadá e nos EUA ocupou 3 milhões de hectares, equivalentes a 5% da área global de transgênicos.

As outras cinco lavouras GM – milho e algodão tolerantes a herbicida, algodão Bt e algodão e milho Bt tolerantes a herbicidas – ocuparam cada uma o equivalente a 4% da área mundial de cultivos transgênicos. Uma outra maneira de destacar a expansão das áreas de lavouras GM é revelar os índices de adoção mundial para os quatro cultivos principais – soja, algodão, canola e milho. Os dados indicam que, pela primeira vez, a área com soja GM ultrapassou 50% da área total plantada com soja. Durante 2002, 51% dos 72 milhões de hectares de soja plantados mundialmente foram de variedades transgênicas – em 2001 o porcentual foi de 46%. Vinte por cento dos 34 milhões de hectares de algodão foram GM, índice igual ao do ano anterior.

Reduções no plantio total de algodão nos EUA (retração de aproximadamente 10%) e na Austrália (queda de aproximadamente 50% devido à seca) foram compensadas por aumentos significativos com algodão GM na China e pelo primeiro plantio de algodão Bt na Índia. As áreas plantadas com canola e milho transgênicos aumentaram em 2002. Dos 25 milhões de hectares mundiais de canola, a porcentagem de espécies GM aumentou de 11% em 2001 para 12% em 2002. Similarmente, dos 140 milhões de hectares plantados com milho no mundo, 9% eram GM em 2002, um aumento significativo em relação ao índice de 7% no ano anterior. Se as áreas globais (convencionais e trangênicas) dessas quatro culturas GM principais forem somadas, o total chega a 271 milhões de hectares dos quais 21% (mais que os 19% de 2001) foram ocupados por transgênicos. O maior destaque em 2002 é o acréscimo de 3,2 milhões de hectares de soja GM, o equivalente a 10% de crescimento anual. Em segundo lugar, aparece a expansão de 2,6 milhões de hectares de milho GM, o que significa um crescimento de 27% no ano.

Os fatores mais positivos para a biotecnologia e especificamente para os cultivos GM são sua capacidade de contribuir para:

 • O aumento da produtividade da cultura, o que contribui para a garantia mundial de alimento humano e animal e produção de fibras;

 • A conservação da biodiversidade, pela redução da área cultivada graças à tecnologia que possibilita maior produtividade;

 • O uso mais eficiente de insumos, o que significa uma agricultura mais sustentável e, conseqüentemente, a preservação do meio ambiente;

 • O aumento da estabilidade da produção, reduzindo a penúria decorrente de fatores como o estresse biótico e abiótico;

 • A melhoria dos benefícios sociais e econômicos e o alívio da extrema pobreza de países em desenvolvimento.

 
A experiência dos primeiros sete anos da produção de transgênicos a partir de 1996, período no qual a área acumulada total ultrapassou os 235 milhões de hectares (580 milhões de acres) cultivados em 19 países, atingiu plenamente as expectativas de milhões de grandes e pequenos agricultores, tanto em países desenvolvidos como nos em desenvolvimento.

Em 2002, a área global com cultivos transgênicos continuou a crescer com um índice anual contínuo superior a 10%. O número de agricultores beneficiados pelas culturas GM manteve a expansão e atingiu de 5,5 a 6 milhões em 2002. Mais de três quartos dos agricultores beneficiados pelos cultivos GM em 2002 foram aqueles com poucos recursos, plantando algodão Bt, principalmente em nove províncias da China e também na região de Makhathini Flats, na província KwaZulu Natal, na África do Sul. Em 2002, o valor global de mercado das safras GM é estimado em aproximadamente US$ 4,25 bilhões, tendo crescido de US$ 3,8 bilhões em 2001, quando representou mais de 12% dos US$ 31 bilhões do mercado mundial de proteção de plantas, e 13% dos US$ 30 bilhões do mercado mundial de sementes.

O valor de mercado dos cultivos transgênicos é baseado no preço de venda de sementes transgênicas adicionado das taxas tecnológicas aplicadas. O valor global do mercado de lavouras GM está projetado em aproximadamente US$ 5 bilhões para 2005.

Há motivos de otimismo moderado, pois as projeções indicam que a área global e o número de agricultores cultivando lavouras GM continuarão a aumentar em 2003. Isso deve acontecer particularmente nos seis principais países produtores – EUA, Argentina, Canadá, China, África do Sul e Austrália. Entre as outras dez nações líderes do plantio transgênicos em 2002, a Índia deverá aumentar sua produção de algodão Bt significativamente e um ou mais novos países também deverão plantar sementes GM pela primeira vez em 2003. As Filipinas aprovaram o milho Bt como a primeira cultura GM no início de dezembro de 2002, e os primeiros plantios são esperados para 2003. Considerando todos os fatores envolvidos, a expectativa para a curto prazo indica a tendência de crescimento contínuo na área total com lavouras GM, bem como no número de agricultores envolvidos.

A proporção de pequenos agricultores plantando transgênicos em países em desenvolvimento tende a aumentar se nações como a Índia expandirem a área de cultivo de algodão Bt e aprovarem a introdução de outros produtos avançados, como a mostarda GM, já em avaliação. Novas características de plantas originárias da indústria incluem o duplo gene Bt Bollgard® II, em algodão, aprovado na Austrália em 2002 e previsto para estar disponível nos EUA em 2003. Uma nova característica para o mercado norte-americano, resistente à larva alfinete da raiz do milho, provavelmente também estará disponível nos EUA em 2003. A área global com milho GM resistente a insetos e tolerante a herbicida, bem como com as duas características combinadas, provavelmente deverá aumentar a curto prazo. O algodão Bt também deverá conquistar mais espaço se os mercados estabelecidos mantiverem o modesto crescimento e se novos países que cultivam GM, como a Índia, aumentarem a área de cultivo com maior rapidez. Apesar do fato de que soja GM atualmente ocupa 75% ou mais da área de soja dos EUA e 99% da área de soja na Argentina, seu cultivo deverá aumentar, especialmente devido ao aumento da área de plantio mundial de soja. Se o Brasil aprovar a soja RR®, o resultado será um aumento súbito de área no mais significativo novo mercado para a soja GM global – importante pelo enorme potencial de crescimento que possui.

Com a Índia plantando uma lavoura GM pela primeira vez em 2002, os três países mais populosos da Ásia – China, Índia e Indonésia, com população total de 2,5 bilhões de pessoas – estão agora comercializando cultivos GM. Duas das três maiores economias da América Latina – Argentina e México – estão oficialmente plantando GM, além da África do Sul, no continente africano. Em 2002, plantas GM foram cultivadas em 16 países, com uma população de 3,2 bilhões de habitantes, em seis continentes, Ásia, África, Américas Latina e do Norte, Europa e Oceania. Portanto, apesar da contínua controvérsia sobre lavouras GM, a área e o número de agricultores cultivando tais lavouras continuaram a aumentar ano a ano, desde sua introdução em 1996. Em 2002, pela primeira vez, mais da metade da população mundial vive em países onde as lavouras GM foram oficialmente aprovadas e plantadas.

Situação Global das Lavouras Transgênicas Comercializadas

Introdução

A rápida adoção das lavouras transgênicas durante o período inicial de seis anos – 1996 a 2001 – reflete os múltiplos e substanciais benefícios obtidos com essas culturas, tanto por grandes como por pequenos agricultores em países industrializados e em desenvolvimento. Nesse período, um total de 16 países – 10 industrializados e 6 em desenvolvimento – contribuiu para um aumento superior a trinta vezes da área global de cultivos transgênicos. A área expandiu-se dos 1,7 milhão de hectares iniciais em 1996 para 52,6 milhões de hectares em 2001. A área acumulada com plantio de culturas transgênicas nesses anos atingiu a casa dos 175 milhões de hectares, equivalente a mais de 430 milhões de acres.

Os índices de adoção de lavouras transgênicas não têm precedentes e são os maiores obtidos com novas tecnologias de aplicação na indústria agrícola. Altos índices de adoção refletem satisfação do agricultor com os produtos, que oferecem benefícios substanciais. As vantagens são muitas: gerenciamento agrícola mais conveniente e flexível; maior produtividade e/ou retorno líquido por hectare; benefícios sociais; e um ambiente mais limpo, devido ao menor emprego de pesticidas convencionais. Todos esses fatores contribuem para uma agricultura mais sustentável. Há fortes evidências que demonstram a melhoria no controle de insetos e doenças graças ao cultivo de transgênicos. Empregando menores quantidades de insumos e apresentando reduzidos custos de produção, os cultivos geneticamente modificados oferecem vantagens econômicas substanciais a agricultores, quando comparados aos cultivos convencionais correspondentes. A severidade da presença das plantas daninhas e do ataque de insetos varia de ano para ano e, portanto, terá impacto direto nos custos de controle de pragas e na vantagem econômica das lavouras trangênicas.

Apesar do constante debate sobre o tema, particularmente em países da União Européia, milhões de pequenos e grandes agricultores, tanto em países industrializados como em desenvolvimento, continuam a aumentar seus plantios com plantas GM devido aos significativos e múltiplos benefícios que oferecem. Esse alto índice de adoção é um forte voto de confiança nos cultivos transgênicos, que reflete a satisfação dos agricultores. Vários estudos recentes, em diversos países, reafirmam que agricultores que cultivam lavouras tolerantes a herbicida e Bt (resistentes a insetos) são mais eficientes no controle das plantas daninhas e insetos. Em torno de 5 milhões de agricultores cultivaram plantas transgênicas em 2001 e tiveram benefícios que incluíram aumento significativo nas vantagens agronômicas, ambientais, sociais e econômicas. A Revisão Global do ISAAA 2001 previa que o número de agricultores cultivando lavouras GM continuaria a crescer em 2002, contribuindo para a produção global de alimentos, rações e fibras de forma mais sustentável. A população mundial excedeu os 6 milhões de habitantes em 2000 e as estimativas indicam que o número deverá atingir aproximadamente 9 bilhões em 2050, quando aproximadamente 90% da população mundial residirá na Ásia, África e América Latina. Atualmente, cerca de 815 milhões de pessoas sofrem de má nutrição nos países em desenvolvimento e 1,3 bilhão é afetado por miséria. Culturas transgênicas, freqüentemente referidas como geneticamente modificadas, representam tecnologias promissoras que podem dar contribuição vital para a consolidação da produção mundial de alimentos, rações e fibras e permitir significativos avanços no combate à fome e à miséria.

Revisões globais de cultivos transgênicos têm sido publicados pelo autor como ISAAA Briefs, anualmente, desde 1996. Esta publicação, uma prévia da Revisão Anual 2002, a ser publicada posteriormente, dá as últimas informações na situação global dos cultivos transgênicos comercializados. Um detalhado conjunto de dados globais sobre a adoção de cultivos transgênicos comercializados é apresentado para o ano de 2002, com destaque para as mudanças que ocorreram entre os anos 2001 e 2002. As tendências de adoção global durante os últimos sete anos, de 1996 a 2002, também estão ilustradas. Dada a continuidade do debate sobre os cultivos transgênicos na Europa, a situação da economia global e particularmente na Argentina, um dos líderes mundiais em cultivos GM, alguns duvidaram que a área global de lavouras transgênicas continuaria a crescer em 2002. Esta prévia documenta informações globais que registram o crescimento na adoção e distribuição de cultivos GM durante 2002.

Dados globais e hectares plantados comercialmente com cultivos transgênicos foram arredondados para os 100 mil hectares mais próximos e isto, em alguns casos, resulta em aproximações pouco significativas, podendo ocorrer variações mínimas em alguns valores, totais e estimativas de percentuais. Também é importante notar que países situados no Hemisfério Sul plantam suas lavouras durante o último trimestre do ano. As áreas com transgênicos relatadas nesta publicação são as plantadas, não as colhidas, durante o ano reportado. Portanto, a informação referente a 2002 para Argentina, Austrália, África do Sul e Uruguai são hectares plantados durante o último trimestre do ano de 2002, e colhidos durante o primeiro trimestre do ano de 2003.

Área Global de Lavouras Transgênicas em 2002

Em 2002, a área global de lavouras transgênicas continuou a crescer pelo sexto ano consecutivo, com um índice de crescimento constante de mais de 10% ao ano. A área global estimada para cultivos transgênicos em 2002 é de 58,7 milhões de hectares ou 145 milhões de acres (Tabela 1).

Tabela 1 – Área Global de Lavouras Transgênicas, 1996 a 2002
Ano Hectares (milhões) Acre (milhões)
1996 1,7 4,3
1997 11,0 27,5
1998 27,8 69,5
1999 39,9 98,6
2000 44,2 109,2
2001 52,6 130,0
2002 58,7 145,0

Aumento de 12%, 6,1 milhões de hectares ou 15 milhões de acres entre 2001 e 2002.
Fonte: Clive James, 2002

É importante notar que 2002 é o primeiro ano em que a área global com transgênicos quase atingiu a marca de 150 milhões de acres, equivalentes a quase 60 milhões de hectares. Colocando esta área global de cultivos transgênicos no contexto, 58,7 milhões de hectares equivalem a mais de 5% da área total de terra da China (956 milhões de hectares) ou dos EUA (981 milhões de hectares) e quase duas vezes e meia a área de terra do Reino Unido (24,4 milhões de hectares). O aumento na área de cultivos transgênicos entre 2001 e 2002 é de 12%, equivalentes a 6,1 milhões de hectares ou 15 milhões de acres.

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Figura 1. Área Global de Lavouras Transgênicas, de 1996 a 2002 (Milhões de Hectares)
Fonte: Clive James, 2002

Durante o período de sete anos, entre 1996 e 2002, a área global de lavouras transgênicas aumentou 35 vezes, de 1,7 milhões de hectares em 1996 para 58,7 milhões de hectares em 2002 (Figura 1). Esse alto índice de adoção reflete a crescente aceitação dos cultivos transgênicos pelos agricultores, que passaram a empregar a nova tecnologia tanto em países
industrializados como nos em desenvolvimento. Durante o período, o número de países com plantios de transgênicos mais que dobrou, aumentando de 6 em 1996 para 16 em 2002.

Distribuição de Lavouras Transgênicas em Países Industrializados e em Desenvolvimento

A Figura 2 mostra a área relativa de cultivos transgênicos em países industrializados e em desenvolvimento durante o período de 1996 a 2002. Ela claramente ilustra que, enquanto uma quantidade substancial de lavoura GM tem sido plantada em países industrializados, a proporção dessas lavouras em países em desenvolvimento tem crescido consistentemente: de 14% em 1997, saltou para 16% em 1998, 18% em 1999, 24% em 2000, 26% em 2001 e 27% em 2002. Em 2002, portanto, mais de um quarto (27%) da área de cultivo transgênico mundial de 58,7 milhões de hectares – equivalentes a 16 milhões de hectares – foi plantada em países em desenvolvimento, onde o incremento continuou sendo alto entre 2001 e 2002, principalmente na Argentina, China e África do Sul, com a Índia plantando 45 mil hectares de algodão Bt pela primeira vez. Enquanto o crescimento absoluto em área com plantas GM entre 2001 e 2002 foi maior em países industrializados (3,6 milhões de hectares), do que em países em desenvolvimento (2,5 milhões de hectares), o percentual de crescimento foi maior que o dobro em países em desenvolvimento do Sul (19%), em comparação com os países industrializados do Norte (9%).

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Figura 2. Área Global de Lavouras Transgênicas, de 1996 a 2002:
Países Industrializados e em Desenvolvimento (Milhões de Hectares)
Fonte: Clive James, 2002

Tabela 2 – Área Global de Lavouras Transgênicas em 2001 e 2002:Países Industrializado e em Desenvolvimento (milhões de hectares)

  2001 % 2002 % +/- %
Países Industrializados 39,1 74 42,7 73 +3,6 +9
Países em Desenvolvimento 13,5 26 16,0 27 +2,5 +19
Total 56,2 100 58,7 100 +6,1 +1

Fonte: Clive James, 2002

 

Distribuição de Lavouras Transgênicas, por País

Em 2002, quatro países plantaram 99% da área total mundial de cultivos transgênicos (Tabela 3), e todos os quatro apresentaram aumento de cultivos GM entre 2001 e 2002 (Figura 3). É importante notar que os quatro líderes incluem dois países industrializados – EUA e Canadá – e dois em desenvolvimento – Argentina e China. Consistente com o padrão desde 1996, os EUA cultivaram a maior área com transgênicos (66%) em 2002. Os EUA plantaram 39 milhões de hectares, seguidos da Argentina com 13,5 milhões de hectares (23%), Canadá com 3,5 milhões de hectares (6%) e China, com 2,1 milhões de hectares (4%). A China mostrou a maior porcentagem de crescimento anual, com aumento de 40% em sua área de algodão Bt
entre 2001 e 2002. A área de algodão Bt, de 2,1 milhões de hectares em 2002, da China, equivalente a 51% da área total de algodão – 4,1 milhões de hectares –, superou pela primeira vez mais da metade da área total de algodão do país.

Apesar da crise econômica na Argentina, o índice de crescimento de plantas GM continuou elevado: 14% em 2002, equivalente a 1,7 milhões de hectares. O crescimento anual foi o mesmo (9%) para os EUA e Canadá. Em 2002, a área com cultivos transgênicos também cresceu em mais de 20% na África do Sul, saltando de 0,22 milhão de hectares em 2001 para 0,27 milhão de hectares em 2002. Uma seca muito severa, a pior em décadas, reduziu em 50% todo o plantio de algodão na Austrália. Conseqüentemente, a área de algodão GM também foi reduzida em 50%, caindo de 0,2 milhão de hectares em 2001 para 0,1 milhão de hectares em 2002. Devido aos historicamente baixos preços internacionais para algodão, o plantio total
foram menores em aproximadamente 10% nos EUA, levando a um decréscimo na área com algodão GM.

Tabela 3 – Área Global de Lavouras Transgênicas em 2001 e 2002: por País (milhões de hectares)
  2001 % 2002 % +/- %
EUA 35,7 68 39,0 66 +3,3 +9
Argentina 11,8 22 13,5 23 +1,7 +14
Canadá 3,2 6 3,5 6 +0,3 +9
China 1,5 3 2,1 4 +0,6 +40
África do Sul 0,2 <1 0,3 1 +0,1 +50
Austrália 0,2 <1 0,1 <1 -0,1 x
Índia x x ,0,1 <1 <0,1 x
Romênia <0,1 <1 <0,1 <1 <0,1 x
Espanha <0,1 <1 <0,1 <1 <0,1 x
Uruguai <0,1 <1 <0,1 <1 <0,1 x
México <0,1 <1 <0,1 <1 <0,1 x
Bulgária <0,1 <1 <0,1 <1 <0,1 x
Indonésia <0,1 <1 <0,1 <1 <0,1 x
Colômbia x x <0,1 <1 <0,1 x
Honduras x x <0,1 <1 x x
Alemanha <0,1 <1 <0,1 <1 <0,1 x
Total 52,6 100 58,7 100 +6,1 +12%

Fonte: Clive James, 2002

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Figura 3. Área Global de Lavouras Transgênicas, de 1996 a 2002: por País
(Milhões de Hectares)
Fonte: Clive James, 2002

Os 16 países que plantaram transgênicos em 2002 estão listados em ordem decrescente de suas áreas com plantas GM (Tabela 3). Há 9 países em desenvolvimento, 5 países industrializados e dois do Leste Europeu. Em 2002, as lavouras transgênicas foram plantadas comercialmente em todos os seis continentes do mundo – América do Norte, América Latina, Ásia,
Oceania, Europa (Leste e Oeste) e África. Entre os quatro líderes, com 99% dos cultivos transgênicos do mundo, os EUA plantaram 66%, a Argentina 23%, Canadá 6% e China 4%. O restante 1% foi plantado nos 12 países remanescentes, com África do Sul e Austrália sendo os dois países que plantaram mais que 100 mil hectares ou um quarto de milhão de acres com
espécies transgênicas.

Nos EUA houve um ganho líquido estimado de 3,3 milhões de hectares de lavouras transgênicas em 2002. Isso resulta dos aumentos significativos na área de milho e soja transgênicos, um aumento modesto em canola e um decréscimo na área de algodão transgênico, a qual foi associada ao decréscimo geral de aproximadamente 500 mil hectares na área nacionalmente plantada com algodão em 2002. O decréscimo do cultivo de algodão nos EUA foi atribuído aos baixos preços internacionais do produto, tornando a cultura menos rentável que a soja e o milho, ambas com área total expandida à custa do algodão. Na Argentina, apesar da severa crise econômica, um ganho de 1,7 milhão de hectares foi observado em 2002, conseqüência de um significativo aumento em soja transgênica e um aumento modesto em milho.

Para o Canadá, um ganho líquido de 0,3 milhão de hectares foi estimado, com acréscimos em soja e canola e manutenção da área de milho GM. Para China, a área plantada com algodão Bt aumentou em significativos 0,6 milhão de hectares – expansão de 1,5 milhão em 2001 para 2,1 milhões de hectares em 2002.

Um aumento significativo foi observado na África do Sul, onde as áreas combinadas de soja, milho e algodão transgênicos devem chegar a 275 mil hectares. Na Austrália, uma seca severa em 2002 provocou a redução da área de cultivo: de 200 mil hectares de algodão transgênico plantados em 2001 para 125 mil hectares em 2002. A Romênia triplicou sua área com soja GM para 45 mil hectares em 2002, e a Espanha dobrou sua área de milho Bt, que chegou a 25 mil hectares. Em outros locais na Europa, a Alemanha continua plantando uma pequena área de milho Bt e a Bulgária planta uma pequena área de milho tolerante a herbicida. O México tem uma pequena área com soja GM e algodão Bt. O Uruguai planta em torno de 20 mil hectares de soja tolerante a herbicida e em torno de 2 700 agricultores continuam plantando algodão Bt em South Sulawesi, na Indonésia. Em 2002, houve um aumento significativo no número total de países plantando lavoura GM, com três novos países juntando-se ao grupo. Notadamente a Índia, país com a maior área de algodão no mundo (8,7 milhões de hectares), aprovou o algodão Bt em maio de 2002. Em torno de 54 mil agricultores indianos plantaram 45 mil hectares de algodão Bt durante a estação Kharif, em 2002.

A Colômbia, na América Latina, também aprovou o plantio, pela primeira vez, de 2 mil hectares de algodão Bt pré-comercial em 2002, em antecipação à aprovação comercial completa para 2003. Também pela primeira vez, Honduras tornou-se, em 2002, o primeiro país na América Central a plantar uma lavoura GM, com uma área introdutória pré-comercial de aproximadamente 500 hectares de milho Bt, pendentes de comercialização esperada em 2003.

Os tipos de lavouras GM aprovadas continuaram a se diversificar em 2002. De particularinteresse foi a aprovação de Bollgard® II para uso na Austrália em setembro de 2002. É esperado o plantio de 3 mil a 5 mil hectares em 2002/2003, com intenção de que substitua a estrutura genética, INGARD®, completamente em 2004/2005. Ao contrário do gene simples INGARD®, o qual estava limitado a 30% da área, o Bollgard® II não está sujeito a essa restrição, e eventualmente ocupará 70% ou mais de área de algodão na Austrália. A aprovação do Bollgard® II ainda não está decidida nos EUA, o que poderá ocorrer em 2003. É provável que o Bollgard® I não seja mais produzido comercialmente nos EUA depois que Bollgard® II estiver disponível. O Bollgard® II é um novo elemento importante na estratégia de gerenciamento da resistência a insetos e pragas do algodão. Ele representa uma ferramenta importante para facilitar a implementação de manejo integrado de pragas e para otimizar a durabilidade de genes Bt e dos benefícios múltiplos e significativos que ele oferece.

por Clive James – Presidente do Conselho Diretor do ISAAA