O surf teve origem na Polinésia e relatos do Capitão Cook em 1770 já citavam que homens nobres de diversas tribos disputavam a coroa descendo em vagalhões com pranchas gigantes de troncos de árvores, que mediam cerca de 6 metros e pesavam mais de 100 Kg. Os Polinésios eram um povo do Oceano. Mesmo sem quaisquer instrumentos de navegação foram capazes de se espalhar pelo chamado triângulo polinésio – Hawaii ao norte, Ilha de Páscoa ao sudeste e Aotearoa (Nova Zelândia) localizada ao sudoeste. Com isso de alguma forma o surf chegou às ilhas havaianas e daí se expandiu pelo globo terrestre. Nesta época os materiais construtivos eram puramente orgânicos e a própria natureza se incumbia de degradá-los, sem a necessidade de uma ação específica de saneamento ambiental.
Os tempos mudaram junto com os materiais construtivos. Da madeira de balsa para a espuma de Poliuretano rígido expandido, revestida com resina de poliéster, fibra de vidro e outras substâncias químicas como: o peróxido de metil-etila (catalisador); cobalto (acelerador); monômero de estireno, parafina bruta e pigmentos (muitos deles com metais pesados incorporados). Os resíduos desses insumos são comprovadamente classificados como perigosos (Classe I), por possuírem propriedades de inflamabilidade e toxicidade. Estes dejetos são potenciais agentes de contaminação do solo e dos corpos aquáticos e sua destinação final, quando mal gerenciada, gera malefícios ao meio ambiente e à saúde pública. No Brasil são produzidas anualmente cerca de 50.000 pranchas de surf e de 50 a 70% do material consumido no processo produtivo é descartado. Este montante corresponde a um prejuízo financeiro superior a US$ 7.000.000 e mais de 380 toneladas de substâncias tóxicas e inflamáveis depostas nos “lixões”, ou aterros simples, sem qualquer tratamento ambiental. O maior problema é que estes rejeitos possuem baixa densidade que ocupam grande volume em áreas de destinação final de resíduos e com características pérfurocortantes.
A necessidade de se recuperar estes rejeitos gerou uma investigação científica, com o propósito de tornar a prancha de surf um produto sustentável e ecologicamente correto. Este projeto, denominado de Marbras et Mundi (Movimento Associativo de Reciclagem Brasileira no Surf e no Mundo), foi idealizado e vem sendo implementado pelo surfista e Mestre em Engenharia Ambiental, pela Universidade Federal de Santa Catarina (Florianópolis) – Paulo Eduardo Antunes Grijó, que sistematizou uma metodologia para minimizar o consumo de água, energia elétrica e geração de resíduos no processo fabril das pranchas de surf, além de pesquisar e criar métodos para a recuperação dos resíduos gerados. Um método de captação dos particulados em suspensão e controle dos efluentes é necessário visando um sistema produtivo que potencialize a Medicina e a Segurança dos trabalhadores envolvidos. Outra prerrogativa deste estudo é maximizar recursos naturais não renováveis, transformando o lixo industrial não eliminável, em matéria-prima de segunda geração econômica, com o objetivo de valorizar estes materiais, gerar renda e oportunidade de trabalho, para jovens carentes, com a implantação e operação desta atividade. É possível utilizar estes resíduos como substituto parcial de agregados, na fabricação de artefatos de concreto (com propriedades de isolamento termo-acústico) para a construção civil, incorporá-los com resinas virgens de poliuretano, após pulverização dos rejeitos, para produção de uma blenda de poliuretano recuperado, que poderá ser empregado na produção de pranchas de surf recicladas. Também é possível incinerar os resíduos, com efetivo controle ambiental, para recuperar sua energia, em função do alto poder calorífico desses dejetos. Finalmente é viável aquecer os resíduos a uma determinada temperatura e em seguida realizar termo-prensagem, para a produção de painéis para isolamento termo-acústico amplamente utilizados em edificações. Outras formas de recuperação desses materiais residuais estão sendo pesquisadas, experimentadas e esta pesquisa foi validada recentemente através de apresentação e defesa de uma dissertação de Mestrado, junto ao Programa de Pós Graduação em Engenharia Ambiental da UFSC.
Esta iniciativa inédita, ao nível mundial, visa promover um processo de educação ambiental e práticas ecológicas na indústria do surf aspirando transformar a prancha de surf e seu processo produtivo numa atividade sustentável e saudável, pois toda indústria que gera poluição ou toxicidade pode e deverá ser redimensionada, a fim de se evitar prejuízos à saúde pública e ao meio ambiente. Este produto, após processo de gestão ambiental será certificado com um selo ecológico criando, portanto, um produto diferenciado no mercado consumidor.
Valorizar resíduos de materiais provenientes de recursos naturais não renováveis é um emergente desafio para a humanidade neste início de milênio, considerando-se a escassez de áreas para aterramento de dejetos e a necessidade inadiável de preservação dos Ecossistemas e dos recursos naturais não renováveis, através do estabelecimento de uma ecoeficiência nos processos industriais. O surf depende das ondas marinhas para sobreviver e a região litorânea necessita dos surfistas para ser devidamente conservada. RECICLAR PARA PERPETUAR! Este é o conceito chave desta iniciativa.
Produção de Poliuretano Reciclado com Alunos da CEFET-SC (2001) e do Design Industrial da UDESC em 2004.
Paulo Eduardo Antunes Grijó Surfista e Mestre em Engenharia Ambiental – Coordenador Consórcio Marbras et Mundi
e-mails: pauloeduantunes@hotmail,com ou paulosurfrecycle@yahoo.com.br
fones (48) 9114-0986