Políticas Ambientais e as Organizações Não Governamentais

Organização Não Governamental (ONG) é o corpo ativo da sociedade civil organizada. Somente através da força da sociedade é que podemos garantir mudanças concretas e cobrar o papel regulador do estado. A iniciativa privada é o agente que possibilita a atuação das organizações não governamentais, através de apoio aos projetos. Sem o apoio do setor privado, torna-se muito difícil para a organização não governamental sobreviver.

No seu papel regulador do estado, ela não pode depender somente de recursos públicos, portanto é principalmente junto à iniciativa privada que a ONG deve buscar os recursos para sua sobrevivência. Por mais importante que seja sua missão e por mais expressiva que seja a sua atuação, a longo prazo, a ONG precisa de um corpo de conselheiros com real compromisso com a entidade e sua causa, e sólidas parcerias junto ao setor privado, que possibilitem um apoio efetivo aos seus projetos e programas. Temos trabalhado junto às organizações não governamentais há 16 anos, especificamente na área de captação de recursos e promovendo campanhas de marketing.

Nessa trajetória, conhecemos tanto aqui no Brasil como nos Estados Unidos, pessoas muito bem intencionadas e com muita vontade de promover mudanças concretas para uma melhoria na qualidade de vida do planeta. O que pudemos observar, contudo, foi a frustração de muitos grupos e de indivíduos, que sem o apoio da iniciativa privada, tiveram que alterar sua linha de trabalho ou mesmo fechar sua ONG. Analisamos também a SOS nos dias de hoje, 10 anos depois de nossas atividades como coordenadora da entidade, com o objetivo de comprovar seu fortalecimento e sua expressiva participação junto à iniciativa privada e sua importância no cenário das organizações não governamentais ambientalistas no Brasil, como resultado do sucesso de suas parcerias e ações técnicas, científicas, políticas e principalmente, junto à sociedade.

A SOS Mata Atlântica destaca-se no cenário nacional das ONGs pelas suas sólidas parcerias com o setor privado e pelo seu expressivo número de afiliados.

O objetivo deste projeto é estudar o papel das ONGs, avaliando a eficácia das estratégias na abordagem e fortalecimento das parcerias visando a obtenção de recursos. Tentaremos demonstrar que a eficiência dessas organizações se deve ao seu envolvimento com o setor privado. Para tanto, foram selecionadas algumas ONGs como exemplos e objetos deste estudo.

O trabalho realizado para elaborar esta dissertação utilizou as mais diversas fontes de informação, as quais foram avaliadas pela autora em função do interesse principal de sua linha de pesquisa: o papel das organizações não governamentais ambientalistas no campo da gestão do meio ambiente em seus aspectos políticos, sociais e econômicos, bem como sua orientação estratégica para o alcance de seus objetivos.

Como atrair o capital privado para uma ONG? Este é o desafio de toda pessoa que trabalha na captação de recursos junto às organizações não governamentais. O capital privado foge da ignorância, do analfabetismo e doença, mas por outro lado, ele é atraído pelo sucesso e pela excelência. Sucesso atrai sucesso. E nesse sentido, sendo a Fundação SOS Mata Atlântica um marco no movimento ambientalista brasileiro, torna-se factível e viável, atrair-se o capital privado para a entidade. A SOS conta, atualmente, com 100 mil sócios, criou uma geração de lideranças na área ambiental e viabilizou a criação de ONGs, sediando o Fórum Global, na Rio-92.

Ainda hoje, é a entidade coordenadora da Rede de ONGs da Mata Atlântica, sendo importante articuladora da Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais e do Fórum Social Mundial. Ao longo de seus 15 anos de atividades, a entidade criou sólidas parcerias com o setor privado, desenvolveu projetos técnicos e científicos respeitados no Brasil e no exterior, fortaleceu-se e se profissionalizou. Vale destacar que a entidade vem cumprindo a sua missão de conservar a mata atlântica e, principalmente, trazendo a conscientização da existência e importância deste bioma, para o povo brasileiro.

Sendo o capital privado um covarde, fugindo das políticas e das regiões onde não há incentivo e nem apoio governamental, o nosso trabalho de captação de recursos junto à SOS, há uma década atrás, teve muitos desafios. Num país com pouca ou quase nenhuma cultura de filantropia, era difícil de se implementar campanhas de captação e de se obter efetivo apoio do empresariado. Podemos garantir que o sucesso de qualquer ONG depende das parcerias feitas, em especial, baseado no seu Plano Geral de Trabalho, Ferramentas a serem utilizadas e muito, muito trabalho, em torno dos doadores. Selecionar os possíveis doadores, estimulá-los ao máximo, a fim de se engajarem no trabalho que deve se envolver, todos os participantes, desde o boy ao presidente da empresa. Sem esta iniciativa só pode surgir o fracasso de experiências de curto prazo ou mal sucedidas.

No caso da SOS, nosso principal estudo de caso, a entidade se fortaleceu ao longo dos anos e provou que com um trabalho sério e fiel à sua missão, conseguiu agregar valor à sua marca, firmando sólidas parcerias com a iniciativa privada, governo e com a sociedade civil organizada e é hoje, um expoente no cenário das Organizações Não Governamentais brasileiras. A SOS, segundo nosso ponto de vista, é a organização brasileira que possui o maior potencial para seguir as recomendações que sugerimos.

As conclusões e recomendações foram o produto desta pesquisa, o que é oferecido à comunidade acadêmica e aos setores governamentais, comunitários e empresariais empenhados na proteção e melhoria do nosso meio ambiente.

Jeane Capelli Pen – São Paulo, 2003 (Tese de Mestrado – Faculdade de Saúde Pública da USP).