Redes, teias, pensamento ecológico

Comunicação é o ato de transmitir e receber mensagens por meio de linguagem falada, escrita, de signos ou símbolos. Quando alguém se comunica, emite uma mensagem que outro alguém recebe. Isto cria uma conexão entre os dois, cria uma relação, que pode até ter mão dupla: ora um emite, ora outro recebe, e vice-versa.

A comunicação pressupõe uma relação. Falamos para sermos escutados; o que dizemos adquire sentido ao ser escutado. Escutar não é, pois, um ato passivo. Segundo o biólogo chileno Humberto Maturana, “o dizer não assegura o escutar. O fenômeno da comunicação entre seres humanos não depende daquilo que é transmitido, mas daquilo que acontece com a pessoa que recebe o que está sendo transmitido”.

O ato de escutar se fundamenta no ato de ouvir. Mas, além de ouvir, no ato de escutar está presente um mundo de interpretações que dão sentido ao que é ouvido. Não existe escutar sem interpretar e é isto que faz do escutar um fenômeno ativo.

E há uma relação entre tudo isto e a Teoria de Gaia, desenvolvida por James Lovelock e Lynn Margulis na década de 70, que afirma, entre outras coisas, que o Universo é todo feito de interconexões, que todos os fenômenos estão ligados e pertencemos a uma grande rede de conexões que forma a Terra, a Grande Mãe.

A Terra é um ser orgânico, um organismo vivo, onde tudo depende de tudo, tudo está em constante ligação e troca. O moderno pensamento ecológico afirma a interdependência fundamental de todos os fenômenos. Quando você destrói uma forma de vida, está acabando com as conexões entre esta forma e outras formas, está empobrecendo o Universo. A Ecologia Profunda reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos e concebe os seres humanos não como os senhores do Universo, mas apenas como um fio muito particular na Grande Teia da Vida.

A rede – a teia tecida pelas aranhas, para dar um exemplo da natureza, ou a rede de pescar que os seres humanos inventaram – é, pois, a metáfora central da ecologia. A organização em redes seria assim a estrutura básica de cada sistema do Universo. Desde uma simples célula até as complexas estruturas sociais, todas as redes obedecem à mesma lógica. 

Na grande rede universal não há uma hierarquia, pois nada é superior a nada. Na natureza não há “acima” ou “abaixo”, na “frente” ou “atrás”.

Há somente redes aninhadas dentro de outras redes menores. Tudo está ao mesmo tempo e se liga, ao mesmo tempo, com tudo. Isto é chamado também de Pensamento Ecológico, ou Pensamento Holístico.

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Não há mais uma dicotomia entre “substância” e “forma”, entre “forma” e “fundo”. Tudo é integrado, tudo é ao mesmo tempo.Tudo se relaciona com tudo. Tudo está organizado em sistemas cujas propriedades surgem das relações entre as partes. E o todo é mais do que a mera soma das partes, por causa das relações organizadoras que existem entre todas as coisas.

Para sobreviver, cada sistema vivo está em constante aprendizado, exposto a constantes fluxos de energia e matéria que afetam sua estrutura e seu ponto de estabilidade. Às vezes acontecem mudanças de tal ordem nos sistemas que causam rupturas, uma rearrumação geral, e em seguida se instaura espontaneamente uma nova ordem. Esta capacidade de se rearrumar que os sistemas possuem é que faz com que eles estejam vivos.

Weiner Heinsenberg, um dos fundadores da teoria quântica, afirma: “O mundo aparece como um complicado tecido de eventos no qual conexões de diferentes tipos se alternam ou se sobrepõem ou se combinam e, por meio disso, determinam a textura do todo.”

Heisenberg dizia também que esta mudança de enfoque que deixa de lado as partes para se preocupar com o todo é o aspecto central de uma revolução conceitual em toda a ciência moderna.

Nós também somos parte da grande rede, do grande sistema do Universo. Segundo Norbert Wiener, o matemático do MIT que inventou o termo cibernética, “somos apenas redemoinhos num rio de águas em fluxo incessante”.

Sobre comunicação já falamos um pouco. Agora vamos ao conhecimento.

O conhecimento é mais do que informação, vai além dela. Em filosofia, o conhecimento acontece quando o pensamento se “apropria” do objeto, não no sentido de se apossar, mas no sentido de ter dele uma percepção clara, uma apreensão mais profunda. Quando alguém conhece um objeto pode não só identificá-lo mas também refletir sobre ele.

Segundo Ruben Bauer, o conhecimento é um recurso ilimitado que aumenta com o uso. Se expuser a alguém o meu conhecimento, não o perco; e esse alguém, ao combinar seu conhecimento prévio com aquilo que apreende a partir do que eu digo, chega a novas descobertas, o conhecimento se expande.

Buckminster Fuller, o grande propagador do conceito de sinergia, diz que o atual problema do esgotamento dos recursos naturais do Planeta encontra uma resposta na inesgotabilidade da criatividade e da inteligência humana. Pode-se contrabalançar o esgotamento dos recursos naturais através de formas criativas de uso do próprio conhecimento, que façam com que se consuma o mínimo de recursos e se obtenha disto o máximo de resultados.

Ainda segundo Humberto Maturana, o verdadeiro conhecimento não leva ao controle ou à tentativa de controle, mas leva ao entendimento, à compreensão, a uma ação harmônica e ajustada aos outros e ao meio.

Para Maturama, conhecer é viver, viver é conhecer. Ele afirma: “todo conhecer é uma ação efetiva que permite a um ser vivo continuar sua existência no mundo que ele mesmo traz à tona ao conhecê-lo.”

por Elias Fajardo – Jornalista, escritor, artista plástico, chefe de reportagem do Globo Ecologia.

Artigo publicado na Revista Eco 21 – www.eco21.com.br