RESUMO
O MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) é um dos mecanismos propostos pelo o Protocolo de Quioto de forma a auxiliar os países do Anexo I a atingirem suas metas de redução de gases de efeito estufa. Este trabalho propõe a realização de diagnóstico de sustentabilidade socioambiental por meio da ferramenta MADSA®, cujo objetivo é estabelecer e mensurar indicadores sociais e ambientais para avaliar os projetos de MDL. Segundo critérios do Protocolo de Quioto, os projetos de MDL têm que atender às necessidades dos países em desenvolvimento e não apenas as metas de redução dos países desenvolvidos. A metodologia da MADSA® permite definir uma linha de base social e ambiental para os projetos, e ainda, disponibiliza informações para qualquer público interessado, desde acionistas até comunidade local; gera maior confiabilidade dos investidores, acionistas e clientes, pois pontua o desempenho, possibilitando o diagnóstico e a comparação entre as diversas etapas do projeto; contribui para o processo de melhoria contínua por meio da participação dos grupos de interesse no diagnóstico. Esta proposta tem como desafio, além de constituir um método de avaliação e um instrumento de gestão, ser referência como modelo de avaliação de desempenho socioambiental sustentável aplicado a projetos candidatos ao MDL.
ABSTRACT
The Clean Development Mechanism (CDM) contributes to sustainability and to sustainable development in those countries where CDM projects are developed and helps the countries from Annex I to achieve their reduction targets to Greenhouse Gases. This paper presents a proposal of a social and environmental sustainability diagnosis making use of a tool called Social and Environmental Evaluation Matrix – MADSA®. Its purpose is to establish and measure appropriate sustainable indicators to evaluate projects to ensure development benefits of CDM projects in host countries in consistency with Annex I countries developmental goals. MADSA® methodology allows a definition of a social and environmental baseline to MDL projects, and provides information to any interested group of people, from stockholders to local community; showing its results. It allows a greater clients’, stockholders’ and investor’s trust as it measures the development so it makes possible the diagnosis and the comparison between all phases of the project. It also contributes to a continuous improvement through the participation of benefit groups in the diagnosis. Besides being an evaluation method and a management tool, this proposal looks for being a reference as an indicator pattern that evaluates the sustainable social and environmental development of CDM projects.
INTRODUÇÃO
Em junho de 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como “Cúpula da Terra” e realizada no Rio de Janeiro, foi negociada e assinada por 175 países mais a União Européia a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, desde então denominada Convenção do Clima. Reconhecendo a mudança do clima como “uma preocupação comum da humanidade”, os governos que a assinaram tornaram-se partes da Convenção, propondo-se a elaborar uma estratégia global “para proteger o sistema climático para gerações presentes e futuras” (BNDES, 1999).
Na Conferência das Partes de 1997, a Convenção decidiu introduzir metas para a redução das emissões de gases de efeito estufa e/ou CO2 aos países industrializados, por meio do Protocolo de Quioto. Além de medidas internas, o Protocolo oferece medidas adicionais para atingir as metas de redução, por meio de mecanismos de flexibilização: Execução Conjunta (Joint Implementation – JI), Comércio de Emissões (Emissions Trade – ET) e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL (Clean Development Mechanism – CDM) (Re-Focus, 2003).
O Brasil teve uma importante contribuição na definição e estabelecimento do MDL, que consiste no único mecanismo de flexibilização que permite um país no Anexo I financiar projetos em países em desenvolvimento como forma de cumprir parte de seus compromissos. O MDL tem por objetivo a mitigação de gases de efeito estufa em países em desenvolvimento, na forma de sumidouros, investimentos em tecnologias mais limpas, eficiência energética e fontes alternativas de energia (BNDES,1999).
Os projetos desenvolvidos a partir do MDL são capazes de gerar Reduções Certificadas de Emissões (Certified Emission Reductions – CERs). Os CERs resultantes de projetos nos países em desenvolvimento, como o Brasil, podem ser adquiridos pelos países industrializados ou empresas desses países de forma a atingirem suas metas de redução. O protocolo de Quioto define dois papéis para o MDL: além de auxiliar os países do Anexo I a atingirem suas metas de redução, contribui para o desenvolvimento sustentável nos países em desenvolvimento onde são realizados os projetos (FGV, 2002; Re-focus, 2003).
Um dos requisitos para os projetos candidatos ao MDL é que eles “atinjam os objetivos de desenvolvimento sustentável definidos pelo país no qual as atividades de projeto forem implementadas” (Lopes, 2002). Uma medida adequada de desenvolvimento sustentável e/ou sustentabilidade deve ser holística, de modo a abranger um largo espectro de valores agregados aos projetos, incluindo fatores econômicos, ambientais, biológicos e físicos (Mendoza & Prabhub, 2003).
Para a elaboração de um Diagnóstico Socioambiental e Econômico propõe-se a aplicação da ferramenta MADSA® – Matriz para Avaliação de Desempenho Socioambiental, de forma a estabelecer indicadores sociais e ambientais para avaliar as atividades dos projetos de MDL, segundo critérios que atendam aos objetivos de sustentabilidade socioambiental. Esta ferramenta será aplicada tanto para estabelecer a linha de base socioambiental dos projetos de MDL como para avaliar o desempenho socioambiental antes, durante e após a sua execução.
Considerando importante avaliar, além da efetividade das ações representadas pelos “Fatores Críticos” para o sucesso, o reflexo dessas ações na comunidade onde é desenvolvido um projeto candidato ao MDL, a MADSA® contempla em sua metodologia o Índice de Desempenho Socioambiental e Econômico – IDSA, que considera variáveis qualitativas como a percepção em sua formulação.
Indicadores de Sustentabilidade Socioambiental
Os indicadores podem ser vistos como variáveis utilizadas para medir a situação ou condição de um sistema ou processo. Neste contexto, os indicadores serão utilizados como medidas para avaliar a sustentabilidade socioambiental de projetos candidatos ao MDL, pois são capazes de descrever a situação de um ecossistema ou mesmo atuarem como variáveis de controle que possam por sua vez influenciar a situação do sistema (Mendoza & Prabhub, 2003).
Segundo o estudo desenvolvido por Ziliotto (2003), existe uma lacuna de métodos de aplicação de indicadores sustentáveis que incluam as esferas ambiental e social, não sendo identificado um método que estabeleça, ao mesmo tempo, indicadores e um conceito numérico para visualização ou definição de um ranking de sustentabilidade, que permita a geração de ações mitigatórias com a mensuração de ganhos ao longo do tempo e até o estabelecimento de correlação com investimentos em cada área verificável de atuação.
O Departamento de Desenvolvimento Internacional (DIFD, 2000) afirma que os pilares do desenvolvimento sustentável são três: crescimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental. Como cada pilar é ligado integralmente aos demais, pretende-se neste trabalho utilizar uma abordagem equilibrada que integre todos os três componentes, de forma a permitir a busca eficaz do desenvolvimento socioambiental sustentável.
A avaliação proposta consiste em uma análise multi-critério para avaliar situações complexas, com interferências de múltiplas dimensões sendo muitas delas de conteúdo qualitativo. A metodologia da MADSA® baseia-se em um processo de avaliação que considera a percepção dos grupos envolvidos, aqui “Grupos Avaliados”, a ser agregada em um índice denominado IDSA.
Outras metodologias consideram a percepção dos atores envolvidos com a realidade, como a do Carbono Social, que considera “fundamental conhecer as aspirações locais, avaliar o nível de interferência das políticas, instituições e processos, verificar a estratégia de sobrevivência usada pela comunidade, definir os resultados a serem alcançados e contextualizar as vulnerabilidades às quais essa comunidade está sujeita, para que se possam identificar as contribuições específicas do Projeto CDM naquelas comunidades, sejam elas de cunho positivo ou negativo” (Rezende, 2003).
As percepções dos grupos avaliados são coletadas de acordo com um método de pesquisa consistente e passam pela avaliação dos pesquisadores treinados para filtrar as percepções dentro de um contexto, de forma a minimizar o problema de se tomar uma percepção enviesada de um ator envolvido como sendo a própria realidade. Isso é feito com base nas “Identidades” de cada F.C. e nas observações e justificativas dos conceitos atribuídos nas entrevistas individuais.
As avaliações dos atores envolvidos no projeto podem ser muitas vezes diferentes e até conflitantes; desta forma, a avaliação é realizada por grupo avaliado, permitindo a comparação dos diferentes ideais, expectativas e percepções dentro de um projeto de forma transparente e participativa.
MATRIZ DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO SOCIOAMBIENTAL
A MADSA® – Matriz para Avaliação de Desempenho Socioambiental é oriunda da adaptação do conceito do BSC – Balanced Scorecard e busca a integração de questões ambientais, sociais e estratégicas. Foi concebida para fornecer indicadores sustentáveis para gestão de projetos, buscando resultados que possibilitem a melhoria contínua na gestão com responsabilidade social.
A partir do modelo apresentado na Oil Spill Conference (Haynes, 2001), que revelou critérios de avaliação em face de emergências ambientais aplicando o modelo para a Marinha Norte Americana, foram realizadas adaptações em sua forma, buscando atender a critérios de avaliação dos projetos de MDL.
A Matriz é subdividida em 09 (nove) colunas, ilustrada esquematicamente na Figura 1. A primeira refere-se ao Grupo Avaliado – G.A. e tem como objetivo identificar com maior rapidez, dentro de um cenário específico, as partes interessadas, definindo o foco inicial do diagnóstico em conformidade com os critérios ou indicadores adotados na avaliação.
FIGURA 1 – ESTRUTURA ESQUEMÁTICA DA MADSA®
A segunda coluna refere-se à Área Verificada – A.V. e tem como objetivo identificar a área exata a ser verificada dentro de cada Grupo Avaliado definido na fase de customização da MADSA® e a partir de critérios individuais do projeto candidato ao MDL.
A terceira coluna refere-se aos “Fatores Críticos – F.C.” para o sucesso, atribuídos a cada uma das Áreas Verificadas e Grupos Avaliados. Os F.C.s são indicadores vinculados aos critérios previstos pelo projeto de MDL ou outro referencial teórico. São considerados de extrema importância e até vitais para mensurar o desempenho socioambiental do projeto, porque é por meio destes que serão avaliados e pontuados todas as ações e processos relevantes para o sucesso da atividade. Cada Fator Crítico é definido com sua “Identidade”, que especifica o foco deste indicador, justifica a sua escolha e indica as variáveis a serem consideradas no cálculo de investimentos.
A quarta coluna corresponde à “Ação” proposta pelo projeto. A ação relacionada a um Fator Crítico deverá estar prevista no planejamento do projeto, assim como políticas socioambientais, planos de sustentabilidade, normas e legislação em vigor.
A quinta coluna indica o “Peso”, que é o grau de importância de cada Fator Crítico dentro da Área Verificada. O Peso é definido durante a customização da MADSA® para o projeto candidato ao MDL, e é utilizado no cálculo da Síntese Ponderada que atribui os Conceitos às Áreas Verificadas e aos Grupos Avaliados.
A sexta coluna corresponde ao “Conceito” atribuído a cada F.C. por meio de um método estatístico denominado “MODA”, que corresponde a medida das respostas mais freqüentes. Por se tratar de conceitos discretos, categóricos (excelente, bom, regular…), não é possível a utilização da média aritmética como medida de posição central.
Os Conceitos variam em uma escala de zero a cinco, incluindo o conceito N.A. (Não Avaliado), e são diferenciados por cores, como mostra a Figura 2. Cada nota refere-se a um desempenho, partindo do nulo (cor cinza, conceito = 0), péssimo (cor vermelha, conceito = 1), ruim (cor laranja, conceito = 2), regular (cor amarela, conceito = 3), bom (cor verde, conceito = 4) e excelente (cor violeta, conceito = 5). No caso de ausência ou insuficiência de informações que possibilitem avaliar um ou mais fatores críticos, adota-se o critério Não Avaliado – N.A., utilizando a cor azul para identificá-lo, não sendo computados na pontuação os Fatores Críticos entendidos e definidos como não avaliados ou não aplicáveis.
A sétima coluna traz o “Histograma de Percepção” para cada F.C., que permite visualizar a distribuição dos conceitos atribuídos a partir da percepção dos Grupos Avaliados quanto aos Fatores Críticos, obtida em entrevistas individuais.
A oitava coluna representa os “Investimentos” ou inversões, em Reais ou outra unidade monetária, aplicados a cada Fator Crítico e determinados de acordo com a identidade do F.C..
A nona coluna traz o “IDSAfc – Índice de Desempenho Socioambiental e Econômico por F.C.”. O IDSA fc varia entre 0,00 e 1,00 e mede o desempenho dos Grupos Avaliados para um determinado Fator Crítico, com base na Percepção e Investimentos. O IDSAfc foi originado a partir do IDSA – Índice de Desempenho Socioambiental e Econômico, utilizado para mensurar o desempenho de um G.A. por completo, utilizando como variáveis Conceito (Percepção), Investimentos e Número de Beneficiários atribuídos a todos os F.C.s em todas as A.V.s, além de informações de duas outras variáveis de importância estratégica dentro do projeto
Metodologia de Pontuação da MADSA®
O método de pontuação adota uma escala para valoração de cada Fator Crítico, conforme ilustra a Figura 2. Os Conceitos variam em uma escala de zero a cinco, incluindo o conceito N.A. (Não Avaliado), e são diferenciados por cores. Cada nota refere-se a um desempenho, partindo do nulo (cor cinza, conceito = 0), péssimo (cor vermelha, conceito = 1), ruim (cor laranja, conceito = 2), regular (cor amarela, conceito = 3), bom (cor verde, conceito = 4) e excelente (cor violeta, conceito = 5). No caso de ausência ou insuficiência de informações que possibilitem avaliar um ou mais fatores críticos, adota-se o critério Não Avaliado – N.A., utilizando a cor azul para identificá-lo, não sendo computados na pontuação os Fatores Críticos entendidos e definidos como não avaliados ou não aplicáveis.
A atribuição dos conceitos é feita com base em entrevistas individuais nos diferentes Grupos Avaliados, considerando duas abordagens distintas: a primeira para os grupos que detêm as informações sobre o planejamento, execução e resultado das ações, e a segunda para os grupos que possuem apenas o conhecimento dos resultados das ações e não de seu planejamento.
FIGURA 2 – QUADRO DE REFERÊNCIA DE PONTUAÇÃO
A primeira abordagem utiliza um método de avaliação traduzido por elementos-chave. Os elementos-chave são compostos por quatro questões básicas que devem ser formuladas para cada um dos F.C.s que está sendo avaliado. Estas questões foram determinadas a partir de critérios originais da MADSA® e recomendações da norma ISO 9001 (ABNT, 2000). Os elementos-chave e suas respectivas perguntas são apresentados na Tabela 1.
A segunda abordagem utiliza questionários compostos por questões dicotômicas (sim/não), do tipo ordinal (5-Excelente; 4-Bom; 3-Regular, 2-Ruim, 1-Péssimo, 0-Nulo, NA-Não Avaliado) e abertas (informais).
TABELA 1 – CRITÉRIOS POR ELEMENTO-CHAVE – E.C.
Elementos-chave | Perguntas |
Objetivo | O processo está claramente identificado e apropriadamente definido? |
Organizacional | As responsabilidades estão formalmente atribuídas? |
Recursos | Existem recursos (materiais e humanos) suficientes para atender aos objetivos? |
Mobilização | Os procedimentos estão implementados e mantidos? O processo é eficaz em alcançar os resultados esperados? |
Por tratar-se de análises envolvendo dados de tipo ordinal, é necessária a utilização de testes estatísticos não-paramétricos. Apenas visando esclarecer alguns conceitos utilizados na presente descrição resumida da metodologia empregada, a escala ordinal representa dados do tipo categórico ou representando categorias, postos ou classes diferentes, onde a relação entre as categorias tem um significado importante. Por exemplo, a relação 1-Péssimo; 2-Ruim; 3-Regular; 4-Bom; 5-Excelente é uma escala ordinal. Entretanto, quaisquer operações como cálculo da média aritmética, desvio padrão, variância etc. não podem ser utilizadas, uma vez que os intervalos existentes entre estas categorias nada dizem com respeito à informação desejada. Como exemplo, a média entre 5-Excelente e 1-Péssimo seria, se fosse equivocadamente utilizada a média aritmética, o valor obtido seria 3-Regular. Este valor pode induzir ao erro de pensar que está tudo razoavelmente bem acomodado na pesquisa em questão, o que não é verdade.
A moda é definida como sendo o(s) valor(es) da(s) classe(s) que apresenta(m) a(s) máxima(s) freqüência(s) em um conjunto de valores. É uma medida de posição, pois indica a região de máxima freqüência. Segundo KOEHLER (1999), a moda é o valor mais freqüente de um conjunto de valores ou o ponto médio do intervalo de classe mais freqüente quando esses valores estiverem agrupados em uma tabela de freqüências.
A moda em síntese reflete a opção mais freqüente, ou seja, a escolha mais comum entre os atores avaliados. As eventuais situações de empate de duas ou mais modas, ou seja, duas ou mais classes com notas diferentes e idênticas freqüências de respostas observadas, são tratadas, seguindo o critério conservador, considerando como valor para a moda a menor das notas empatadas.
Quando as questões obtêm por resposta o valor N.A. (Não Avaliado), as mesmas são desconsideradas. Isto é, se o entrevistado não teve oportunidade de avaliar determinado item do questionário, qualquer resposta dele seria suspeita de estar, por exemplo, “falando por boca de outros”. Este critério de excluir as respostas não avaliadas é comumente empregado na análise de questionários da área das ciências sociais e do comportamento humano, envolvendo pessoas, as quais geralmente não gostam de deixar nada sem resposta.
Na apresentação dos resultados, após cada uma das matrizes encontram-se as observações (percepções positivas) e as justificativas (percepções negativas) obtidas durante as entrevistas individuais, ou seja, as notas atribuídas são condizentes com estas observações e/ou justificativas.
Índice de Desempenho Socioambiental e Econômico
O Índice de Desempenho Socioambiental e Econômico – IDSA foi criado com o objetivo de relacionar os ganhos obtidos aos investimentos empregados nas ações representadas pelos Fatores Críticos na avaliação. O IDSA é customizado de acordo com o estudo de caso, baseado em conceitos de economia e gestão para excelência do desempenho.
O índice oscila entre 0,00 e 1,00, onde quanto maior o índice melhor o desempenho socioambiental do grupo avaliado, e é categorizado conforme ilustrado na Figura 3.
FIGURA 3 – ESCALA DO IDSA
Sua variável principal é a Percepção, ou Efetividade do desempenho mensurado por Fator Crítico (Indicador), expressa pelas notas das percepções atribuídas. As percepções são obtidas a partir de entrevistas individuais, conforme metodologia de pontuação, definidas a partir de um procedimento de amostragem. O resultado das entrevistas pode ser visualizado no Histograma de Percepção, e sintetizado pelo IDSA.
O índice 1,0 absoluto significa que todas as percepções foram 100% positivas e houve racionalidade na aplicação dos investimentos. Já o índice 0,0 absoluto significa exatamente o contrário, ou seja, as percepções foram todas 0 e os investimentos foram mal aplicados. O IDSA igual a 0,7 é um limiar da satisfação, ou seja, se ele estiver abaixo desse valor o grupo avaliado tem seu desempenho comprometido de alguma forma. Esse é o nível mínimo desejável do IDSA a ser atingido.
AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DE PROJETOS CANDIDATOS AO MDL
A customização da MADSA® e escolha dos fatores críticos para este estudo foram baseadas no trabalho: Critérios de Elegibilidade e Indicadores de Sustentabilidade para Avaliação de Projetos que Contribuam para a Mitigação das Mudanças Climáticas e para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável” (Novaes et al, 2002). As matrizes resultantes serão apresentadas na seqüência sob a forma das Figuras 4, 5 e 6, onde G.A. é o Grupo Avaliado e A.V. é a Área Verificada.
FIGURA 4 – EXEMPLO DE MATRIZ PARA A ÁREA VERIFICADA ECONOMIA
FIGURA 5 – EXEMPLO DE MATRIZ PARA A ÁREA VERIFICADA MEIO AMBIENTE
FIGURA 6 – EXEMPLO DE MATRIZ PARA A ÁREA VERIFICADA SOCIAL
A cada um dos Fatores Críticos de cada Área Verificada e respectivo Grupo Avaliado são atribuídos conceitos segundo a metodologia de pontuação da MADSA® apresentada anteriormente. Caso algum fator crítico não tenha alcançado um bom conceito, este será justificado, servindo como subsídio para ações de melhoria (plano de ação).
A compilação de um índice de desempenho socioambiental, o IDSA, permite comparar os resultados percebidos ou internalizados na comunidade alvo e correlacionado com os investimentos (inversões) realizados em cada ação, tornando-se um importante parâmetro métrico regulando e orientando os projetos candidatos ao MDL antes, durante e após a sua implementação, e servindo também de modelo para novos projetos a serem implementados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além de auxiliar os países desenvolvidos a atingirem suas metas de redução dos Gases Causadores do Efeito Estufa, o MDL prevê que os projetos contemplem o desenvolvimento sustentável do país hospedeiro. Porém, o mercado de carbono dá indício que o MDL, em longo prazo, deverá ser financiado por demandas comerciais, na medida em que os governos repassem os compromissos de redução às indústrias, que deverão procurar formas mais baratas de atingir sua meta. Nessa perspectiva, a maior parte dos recursos do MDL deve ser direcionada a projetos industriais de grande escala nos países em desenvolvimento que não deverão beneficiar as populações menos favorecidas. Por este motivo, é fundamental que exista uma linha de base socioambiental nos projetos candidatos ao MDL, evitando assim, que o mecanismo se torne um mero negócio lucrativo.
Por isso, o objetivo geral do Diagnóstico Socioambiental e Econômico é estabelecer a linha de base socioambiental para os projetos candidatos ao MDL no País, além de avaliar a sustentabilidade socioambiental e econômica destes projetos antes, durante e após a sua execução. Isso é possível a partir da mensuração dos ganhos e resultados obtidos por meio das ações e investimentos realizados, com uma metodologia de avaliação consistente que possibilita a comparação dos resultados obtidos nas diferentes etapas de um projeto. A metodologia permite, ainda, mensurar os erros e acertos dos projetos, garantindo a replicabilidade dos trabalhos bem-sucedidos e o aperfeiçoamento dos projetos que não atingiram seus objetos de promoção do desenvolvimento sustentável.
A aplicação da MADSA® na realização de diagnósticos de sustentabilidade tem sido muito satisfatória, pois além de mensurar ações a partir de padrões pré-estabelecidos (legislação, normas, políticas, etc.), permite conceituar o desempenho a partir da percepção das pessoas envolvidas direta ou indiretamente nas ações avaliadas. Esta conceituação é possível, por meio do IDSA, um índice inovador que introduz variáveis qualitativas na avaliação de sustentabilidade socioambiental e econômica. O IDSA poderá ter sua aplicação ampliada servindo de referência para o GRI, DOW Jones, IBASE e Balanço Social.
Com a utilização da ferramenta MADSA® é possível trazer a subjetividade e intangibilidade da questão de sustentabilidade de forma simples e prática para a objetividade e tangibilidade e ainda:
Disponibiliza informações para qualquer público interessado, desde acionistas até comunidade local, com a disponibilização dos resultados;
Gera maior confiabilidade dos investidores, acionistas e clientes, pois pontua o desempenho do projeto, possibilitando o diagnóstico e a comparação entre as diversas etapas do projeto;
Contribui para o processo de melhoria contínua, identificando os pontos fortes e sugerindo os pontos a serem melhorados, por meio da participação dos grupos de interesse no diagnóstico de projetos;
O envolvimento da comunidade e dos demais grupos avaliados é a única maneira de se obter sucesso em um projeto de longo prazo, analisando a realidade e orientando iniciativas de desenvolvimento sustentável associado às questões de mudanças climáticas.
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Marco Aurélio Busch Ziliotto
Alessandra Tathiana Villa
Géssica Elen
Carlos Roberto Sanquetta