1 – Introdução
Estamos diante de um novo modelo estratégico, um modelo que tende a se fortificar nas próximas décadas. Nesse novo ambiente, os interesses dos acionistas dividem espaços com as demandas da comunidade e dos clientes, funcionários e fornecedores. É para esse grupo, os chamados stakeholders, que a empresa do futuro terá de gerar valor.
Hoje, há uma enorme pressão pela qualidade nas relações. Atingi-la ou não será um fator determinante para o sucesso nos negócios. Essa pressão é devida, em parte, ao poder que as corporações conquistaram nas últimas décadas. São as empresas, sobretudo as ligadas à iniciativa privada, que geram empregos e conhecimentos, dominam técnicas de gestão, dispõem de capital e concentram um número extraordinário de talento e de pessoas inovadoras que fazem as coisas acontecerem.
O mundo corporativo tem, portanto, um papel fundamental na garantia de preservação do meio ambiente e na definição da qualidade de vida das comunidades de seus funcionários. Empresas socialmente responsáveis geram, sim, valor para quem está próximo. E, acima de tudo, conquistam resultados melhores para si próprias. A responsabilidade social deixou de ser uma opção para as empresas. É uma questão de visão, de estratégia e, muitas vezes, de sobrevivência.
Os assuntos ambientais estão crescendo em importância para a comunidade de negócios em termos de responsabilidade social, do consumidor, desenvolvimento de produtos, passivos legais e considerações contábeis. A inclusão da proteção do ambiente entre os objetivos da administração amplia substancialmente todo o conceito de administração. Os administradores cada vez mais têm que lidar com situações em que parte do patrimônio das empresas é simplesmente ceifada pelos processos que envolvem o ressarcimento de danos causados ao meio ambiente, independentemente desses danos poderem ser remediados ou não.
Nesse cenário, é cada vez mais árdua a tarefa do administrador no tratamento desses assuntos na Contabilidade e sua divulgação. A complexidade da atividade de certas empresas muitas vezes é fator que dificulta o tratamento a ser dado no registro e na divulgação de, principalmente, os chamados passivos ambientais. Este assunto envolve julgamento e conhecimento específico, daí a necessidade de envolver não somente a alta administração e a classe contábil, mas também engenheiros, advogados, juristas, etc.
Portanto, a participação da Contabilidade é de extrema importância, pois vai despertar o interesse para as questões ambientais, ajudando a classe empresarial a implementar, em sua gestão empresarial, a variável ambiental, não apenas para constar na legislação, mas por uma verdadeira conscientização ecológica.
Neste sentido, não podemos ficar para trás, não podemos perder mais esta oportunidade de nos inserirmos no seio da sociedade, assumindo uma nova postura como cidadãos e como profissionais perante a sociedade. Porém, está aí o desafio para nós, contadores: fazer uma Contabilidade adequada a um modelo ambiental, integrado e competitivo, que compreenda movimentos econômicos, movimentos operativos e movimentos ambientais.
2 – O despertar da consciência ecológica na Contabilidade
A Contabilidade, objetivando evidenciar a situação econômico-financeira das empresas e o desempenho periódico destas, constitui um adequado sistema de informações quanto à postura ambiental das entidades.
A 7ª Reunião da ONU evidenciou as normas contábeis sobre a contabilização dos elementos de proteção e recuperação ambientais e sobre o nível de divulgação adequado. IPECAFI apud Ribeiro (1992, p. 67) faz a seguinte observação sobre a evolução da normatização contábil: “É interessante verificar a evolução das exigências com relação à divulgação de informações sobre o que a empresa esteja gastando ou sendo obrigada a gastar, quer na forma de investimentos ou de despesas com relação ao controle do meio ambiente. Mais do que uma contabilidade de gastos ambientais, é a idéia do ‘environmental accountability’. Essa ‘tomada de contas’ dos gastos com o meio ambiente parece estar tomando corpo nas sociedades de inúmeros países de várias regiões do mundo”.
Portanto, propostas e recomendações existem no sentido de que as companhias tornem públicos os efeitos de sua interação com o meio ambiente. Os efeitos da interação da empresa com o meio ambiente, de acordo com Ribeiro & Lisboa (1999), podem ser identificados mediante:
- Os estoques de insumos antipoluentes para inserção no processo operacional;
- Os investimentos realizados em tecnologias antipoluentes (máquinas, equipamentos, instalações, etc);
- O montante de obrigações assumidas pela empresa para recuperação de áreas degradadas ou águas contaminadas e para pagamento de penalidades ou multas decorrentes de infrações à legislação ambiental;
- As reservas para contingências constituídas com base na forte probabilidade de ocorrência de perdas patrimoniais provocadas por eventos de natureza ambiental;
- O montante de custos e despesas incorridos com vistas à contenção dos níveis de poluição e/ou por penalidades recebidas por procedimentos inadequados.
Essas informações traduzem o empenho prático da organização em melhorar a qualidade ambiental do planeta e, por conseguinte, em demonstrar sua responsabilidade social, além de servir de parâmetro para a melhoria de suas congêneres.
O passivo, que representa as obrigações para com terceiros, devem ser reconhecidos a partir do momento em que são verificados, mesmo que ainda não haja uma cobrança formal ou legal. Esta identificação e a divulgação do Passivo Ambiental são de grande relevância para avaliação das condições de continuidade das empresas, além de serem úteis na evidenciação da responsabilidade social.
Dentre outras forma de identificação do passivo ambiental temos o EIA (Estudo de Impactos Ambiental) e o RIMA (Relatório de Impacto ao Meio Ambiente), sendo que o EIA é elaborado na época de constituição da empresa e o RIMA elaborado periodicamente, para acompanhamento, dos impactos dos procedimentos operacionais das empresas.
O passivo ambiental tornou-se um quesito elementar nas negociações de empresa, ou seja, na compra e venda, pois poderá ser atribuído aos novos proprietários a responsabilidade pelos efeitos nocivos ao meio ambiente provocados pelo processo operacional da companhia ou pela forma como os resíduos poluentes foram tratados. Isto é corroborado por Ribeiro & Lisboa (1999), ao dizerem que pode gerar significativos impactos no fluxo financeiro e econômico da organização.
A identificação do passivo ambiental também tem grande relevância nos processos de privatização e de compra. Nas negociações de valores das transações e nos processos de incorporação de empresas com características altamente poluentes, nos quais este item foi ignorado, houve grandes prejuízos para a incorporação.
O desempenho das empresas, apurado pela demonstração de resultado, pode mostrar com clareza o montante de recursos consumidos naquele período específico para a proteção, controle, preservação e restauração ambiental, identificando o montante de gastos com penalidade e multas.
A evidenciação dos fatores que refletem a interação da empresa com o meio ambiente é fundamental. Qualquer que seja o usuário dessa informação, poderá estar interessado na identificação dos riscos de eventual descontinuidade e das perspectivas de continuidade, tendo em meta as ações e pressões governamentais, da comunidade financeira, de crédito e da sociedade em geral.
Outro enfoque importante que essas informações poderão trazer são as instalações e manutenção de empresas, pois, por intermédio dessas informações, pode-se analisar o custo-benefício dessas organizações.
Portanto, a Contabilidade poderá dar essas informações pois é responsável pela identificação e apuração dos resultados econômico-financeiros. Essas informações contábeis, conjugadas com dados físicos sobre os poluentes produzidos comparativamente à quantidade e tipos produzidos no período imediatamente anterior, bem como sobre os níveis permitidos pela legislação ambiental, podem ser de grande valia no que tange à avaliação da responsabilidade social de uma empresa.
2.1 – Contabilidade Ambiental com responsabilidade social
Sendo a Contabilidade um excelente instrumento de identificação, registro, acumulação, análise, interpretação e informação das operações empresariais aos sócios, acionistas e investidores em geral, além dos administradores, obviamente, ela se configura, conforme Queiroz (2000), como o melhor mecanismo de gestão disponível ao empresariado, cujos resultados apurados podem ser tornados visíveis à sociedade, com relativa facilidade, mediante a apresentação de balanços mais complexos, que incluam, em seu corpo, as respostas aos questionamentos sociais.
Kroetz (2000, p. 24) assinala que, entendendo a Contabilidade como uma ciência social, é vital compreendê-la como um sistema aberto, sendo importante verificar a caracterização e a evolução da teoria Geral dos Sistemas, que nasceu da necessidade de se ter uma teoria maior, a da totalidade, que pudesse não só aglomerar, de forma organizada, pequenas células, mas também procurando situá-la num sistema maior, objetivando a resolução de problemas.
A Contabilidade, esta enorme fonte de registro, interpretação e informação de dados empresariais e governamentais, deve também passar a preocupar-se com o retorno a ser dirigido a toda a sociedade, conforme disse o presidente da França, Jacques Chirac, em seu discurso na sessão plenária de encerramento do XV Congresso Mundial de Contadores, em 1997:
A profissão contábil desempenha um papel fundamental na modernização e internacionalização de nossa economia. Isso porque vocês não se restringem a cuidar de contas. Vocês são conselheiros e, às vezes, confidentes das administrações de companhias, para que têm um importante papel a desempenhar, especialmente em assuntos sociais e tributários. Vocês orientam pequenas e médias empresas em sua administração, simplificando as alternativas, que ainda são demasiado complexas. Vocês desempenham, portanto, um papel no desenvolvimento das possibilidades de emprego, o que merece um especial registro de reconhecimento[…]”
O propósito de toda ciência é produzir conhecimento e evidenciar sua utilidade. Não obstante isso, Kroetz (2000) enfatiza que, nas ciências sociais, a teorização do saber deve necessariamente transcender seu objetivo, buscando o bem-estar social, isto é, agindo como uma mediadora para que a sociedade se desenvolva, possibilitando a igualdade entre os homens. Por sua vez, a Contabilidade traz essa preocupação por meio de suas leis, princípios, teorias, métodos, instrumentos, buscando a demonstração da realidade patrimonial e, principalmente, a relação dela com o ambiente social.
A Contabilidade Ambiental surgiu em 1970, quando as empresas passaram a dar um pouco mais de atenção aos problemas do meio ambiente. Contabilidade Ambiental é a contabilização dos benefícios e prejuízos que o desenvolvimento de um produto ou serviço pode trazer ao meio ambiente. É um conjunto de ações planejadas para desenvolver um projeto, levando em conta a preocupação com o meio ambiente.
Para Maior (2003), a idéia de fazer uma Contabilidade Ambiental dentro das empresas, ou seja, medir gastos e recursos para a produção de bens de consumo, veio com a crise do petróleo, em 1974, quando o produto chegou a um altíssimo custo e estava em escassez. Diz ainda que parece que, na época, as pessoas entenderam que não é porque uma matéria-prima é um recurso natural que ela vai durar para sempre. A conscientização foi ainda mais reforçada quando o Clube de Roma, um grupo formado por cientistas de todos os países, preocupados em estudar o futuro do mundo, divulgou um relatório chamado “Limites de crescimento”, que mostrava que se continuasse não existindo uma preocupação com a natureza por parte das pessoas e das empresas, o mundo entraria em estado de emergência mais rápido do que se esperava.
A Contabilidade Financeira Ambiental passou a ter status de um novo ramo da ciência contábil em fevereiro de 1998, com a finalização do “Relatório Financeiro e Contábil sobre Passivo e Custos Ambientais” pelo Grupo de Trabalho Intergovernamental das Nações Unidas de Especialistas em Padrões Internacionais de Contabilidade e Relatórios (ISAR – United Nations Intergovernanmental Working Group of Experts on International Standards of Accounting and Reporting).
Junior (2000) diz que, paralelo a este trabalho, o ISAR vem coordenando esforços com o Comitê de Práticas de Auditoria Internacional (IAPC – International Auditing Practices Committee) , no sentido de formalizar um conjunto de padrões de auditoria voltado para a verificação do desempenho ambiental relatado nas demonstrações contábeis.
A Contabilidade Financeira Ambiental tem o objetivo de registrar as transações da empresa que impactam o meio ambiente e os seus efeitos na posição econômica e financeira da empresa que reporta tais transações, devendo assegurar, conforme o autor acima, que: a) os custos, ativos e passivos ambientais estejam contabilizados de acordo com os princípios fundamentais da Contabilidade, e b) o desempenho ambiental tenha ampla transparência de que os usuários da informação contábil necessitam.
Continuamente, estão sendo feitos progressos no sentido de se proteger o meio ambiente e reduzir, prevenir ou mitigar os efeitos da poluição e, em conseqüência, há uma tendência das empresas em abrir para a comunidade uma grande quantidade de dados sobre uma política ambiental, seus programas de gerenciamento ambiental e o impacto de seu desempenho ambiental em seu desempenho econômico e financeiro.
Uma empresa que reconhece suas responsabilidades ambientais deverá diminuir seu risco financeiro futuro resultante de incidentes ambientais. Ao mesmo tempo, esta empresa deverá pagar menores prêmios de seguro em conseqüência do menor risco. Uma taxa de risco ambiental baixa também pode assegurar à empresa menores taxas de juros na captação de recursos.
Portanto, a empresa que demonstrar que está avançada em termos de uso de tecnologias ambientalmente amigáveis ou em relação à utilização de processos produtivos sustentáveis poderá angariar benefícios adicionais, tais como um aumento no comprometimento dos funcionários, menos taxas e multas por danos ambientais, menores custos de produção e de disposição de resíduos, além de ter acesso a melhores oportunidades de negócios. Poderá inclusive explorar a vantagem competitiva de estar fornecendo bens e serviços ambientalmente adequados.
Várias empresas já têm um profissional trabalhando com Contabilidade Ambiental, como indústrias de cimento, usinas de asfalto e muitas outras. É uma tendência com grandes previsões de crescimento. As empresas querem economizar e, a partir do momento que tiverem um responsável para contabilizar custos e benefícios de matéria-prima, ela estará economizando. O consumidor, por sua vez, está cada vez mais inteligente e hoje chega a fazer boicote, quando acha que está sendo lesado ou quando reconhece que determinada empresa está prejudicando a natureza.
Agora, o desafio para a Contabilidade está na mudança de paradigma, para um modelo contábil ambiental, uma Contabilidade integrada e competitiva que compreenda movimentos econômicos, movimentos operativos e movimentos ambientais.
3 – Contabilidade Ambiental – relatório para um futuro sustentável, responsável e transparente
A preocupação mundial em torno do meio ambiente caminha para um consenso em torno da adesão a um novo estilo de desenvolvimento que deve combinar eficiência econômica com justiça social e prudência ecológica. A combinação desses elementos somente será possível se houver um esforço conjunto de todos com objetivo de atingir o bem-estar geral no futuro.
Os contadores têm um papel fundamental nesta perspectiva, uma vez que depende desses profissionais elaborar um modelo adequado para esta entidade, incentivar as empresas a implementarem gestões ambientais que possam gerar dados apresentáveis contabilmente, nos balanços sociais, além de criar sistemas e métodos de mensuração dos elementos e de mostrar ao empresário as vantagens dessas ações.
Para Sá (2001), as exigências sociais e ambientais, aquelas do mercado, a luta imperialista, a velocidade extrema das comunicações, o progresso espantoso no processo da informação, as aplicações científicas cada vez mais ousadas em quase todos os ramos do saber humano, foram os fatores que inspiraram as modificações conceituais, também em Contabilidade.
As inovações trazidas pela Contabilidade Ambiental estão associadas a pelo menos três temas:
- A definição do custo ambiental;
- A forma de mensuração do passivo ambiental, com destaque para o decorrente de ativos de vida longa, e;
- A utilização intensiva de notas explicativas abrangentes e o uso de indicadores de desempenho ambiental, padronizados no processo de fornecimento de informações ao público.
Junto a essas variáveis, encontra-se ainda o respeito ao meio ambiente, cuja incidência econômica, sócio-jurídica e cultural está fora de toda dúvida e cujo impacto deve ser reconhecido na Contabilidade.
A Contabilidade não vai resolver os problemas ambientais, mas face à sua capacidade de fornecer informações, pode alertar os vários atores sociais para a gravidade do problema vivenciado, ajudando, desta forma, na procura de soluções.
4 – Finalidade e destinatário da Contabilidade Ambiental
Existem três motivos básicos para a empresa adotar uma Contabilidade Ambiental:
Razão de gestão interna – Está relacionada com uma ativa gestão ambiental e seu controle.
Exigências legais – A crescente exigência legal e normativa pode obrigar os diretores a controlar mais seus riscos ambientais, sob pena de multas.
Demanda dos partícipes – A empresa está submetida cada vez mais a pressões internas e externas. Essas demandas podem ser dos empregados, acionistas, administração pública, clientes, bancos, investidores, organizações ecológicas, seguradoras e comunidade local.
Convém especificamente saber por que a empresa quer um sistema de Contabilidade Ambiental. Em outras palavras, que resultados espera obter com isto. É importante conhecer quais são os objetivos.
- Saber se a empresa cumpre ou não com a legislação ambiental vigente.
- Ajudar a direção em seu processo de tomada de decisões e na fixação de uma política e nos objetivos de gestão ambiental.
- Comprovar a evolução da atuação ambiental da empresa através do tempo e identificar as tendências que se observam.
- Detectar as áreas da empresa que necessitam especial atenção (áreas críticas) e os aspectos ambientais significativos.
- No caso de empresas com uma política ambiental já estabelecida, conhecer se tem cumprido com os objetivos ambientais fixados pela companhia.
- Identificar oportunidades para uma melhor gestão dos aspectos ambientais.
- Identificar oportunidades estratégicas: como a empresa pode obter vantagens competitivas graças a melhoras concretas na gestão ambiental e quais são as melhoras que dão valor à companhia.
- Obter informação específica para fazer frente à solicitação dos partícipes concretos.
Os partícipes (conforme figura 1) podem ser: diretores, empregados, acionistas, comunidade local, administração pública, clientes, fornecedores, investidores, bancos e entidades financeiras, seguradoras, organizações ecológicas, universidades e centros de pesquisas e seus interesses estão descritos no quadro 1.
Figura 1 – Partícipes envolvidos na responsabilidade social e ambiental
Fonte: Fenech (2002)
Quadro 1 – Interesses específicos de cada partícipe
PARTÍCIPE | PRINCIPAIS INTERESSES |
Trabalhadores |
|
Comunidade local |
|
Clientes e fornecedores |
|
Administração pública |
|
Entidades financeiras, investidores e acionistas |
|
Organizações ecológicas |
|
Fonte: Fundació Fórum Ambiental (1999).
5 – Áreas da Contabilidade Ambiental
As três grandes áreas que classificam os instrumentos da Contabilidade Ambiental são produção (aspectos), direção (decisões) e meio ambiente (impactos).
5.1 – Aspectos ambientais – são os elementos específicos das atividades, produtos ou serviços da empresa que podem interagir positivamente ou negativamente com o meio ambiente.
5.2 – Decisões ambientais – incluem todas as políticas, estratégias, planos de ação e instrumentos de trabalho que a direção da empresa adota para desenvolver uma gestão ambiental determinada da companhia.
5.3 – Impactos ambientais – definem-se como toda troca do meio ambiente, seja adversa ou benéfica ao seu resultado, total ou parcialmente, das atividades, produtos ou serviços da empresa.
6 – Momentos da Contabilidade Ambiental
Existem três momentos no processo definido de Contabilidade Ambiental, de acordo com a Fundació Fórum Ambiental (2001).
6.1 – Medida – consiste na obtenção de dados relevantes. Para isto é preciso ter definidas, antes, as áreas de influência ambiental e de criação de valor que devem ser estudadas e os indicadores a utilizar para obter a informação adequada de cada aspecto relevante dentro de cada área.
Uma vez estabelecidas a finalidade, os destinatários e os critérios da Contabilidade Ambiental, podemos entrar no detalhe de suas três etapas principais: a medida, a avaliação e a comunicação.
O que é feito, neste estado, é transformar informações dispersas e heterogêneas em dados úteis, comparáveis e analisáveis.
O principal instrumento de medida são os indicadores ambientais que expressam informação útil e relevante sobre a atuação ambiental da empresa e sobre seus esforços por influenciar em tal atuação.
6.2 – Avaliação – consiste na análise e conversão dos dados em informação útil para tomada de decisão, assim como na valoração e ponderação desta informação.
Uma vez medida a atuação ambiental da empresa, com a ajuda dos indicadores, transformamos uma informação dispersa em um sistema de dados. É o momento de avaliar e analisar estes dados, comparando a realidade com os objetivos, políticas e recursos da empresa.
Nesta fase, há duas atividades importantes a realizar:
- Analisar, depurar e explorar os dados para obter informação requerida, de modo que se possam tomar decisões na empresa;
- Avaliar tal informação através da comparação, da ponderação e a análises da carteira ambiental.
6.3 – Comunicação – da atuação ambiental da companhia, tanto faz dentro como fora da empresa. Tal processo de comunicação consiste na transmissão de informação sobre a atuação ambiental da empresa e dos partícipes ( stakeholders ) externos ou internos, sobre a base da valoração que a direção realiza sobre as necessidades e interesses, tanto da empresa como dos diferentes partícipes.
6.3.1 – Destinatário e motivos (para quem?) – A comunicação pode interessar a um grande número e partícipes, com interesses e prioridades distintos. A partir daí, deve-se estabelecer o conteúdo e a forma da comunicação que mais convém aos interesses da empresa e das demandas dos distintos partícipes. O quadro 2 discorre sobre os motivos pelos quais os partícipes necessitam de informação ambiental.
Quadro 2 – Necessidade de informação ambiental
PARTÍCIPE | POR QUE QUEREM INFORMAÇÃO AMBIENTAL |
Trabalhadores |
|
Comunidade local |
|
Clientes |
|
Fornecedores |
|
Administração pública |
|
Entidades financeiras, investidores e acionistas |
|
Entidades de promoção ambiental |
|
Organizações ecológicas |
|
Fonte: Fundació Fórum Ambiental (2001).
6.3.2 – Objetivos e tipologia da comunicação (para quê?) – A partir daí, a empresa pode e deve estabelecer seus objetivos da comunicação ambiental em cada caso, assim como a tipologia ou forma de comunicação mais adequada.
Abaixo, resumimos alguns objetivos estabelecidos por cada partícipe, assim como a mensagem a lançar por parte da empresa como instrumentos de comunicação mais adequados (quadro 3).
Quadro 3 – Objetivos estabelecidos por partícipe, mensagem da empresa e instrumento de comunicação.
PARTÍCIPES | OBJETIVOS | MENSAGENS | MEIOS DE COMUNICAÇÃO |
Trabalhadores |
|
|
|
Comunidade local |
|
|
|
Clientes e fornecedores |
|
|
|
Administração pública |
|
|
|
Entidades financeiras e investidores |
|
|
|
Acionistas |
|
|
|
Organizações ecológicas |
|
|
|
Fonte: Fundació Fórum Ambiental (2001).
7 – Classificação da Contabilidade Ambiental
A EPA – Environmental Protection Agency (2002) classifica os tipos de Contabilidade Ambiental conforme o quadro 4.
Quadro 4 – Classificação da Contabilidade Ambiental
Tipos de Contabilidade Ambiental | Enfoque | Dirigido a usuário |
a) Contabilidade Nacional | Macroeconômico, Economia Nacional | Externo |
b) Contabilidade Financeira | A empresa | Externo |
c) Contabilidade Gerencial ou de Custos | A empresa, Departamentos, Linha de Produção, etc | Interno |
Fonte: http://es.inel.gov/partners/acctg/acctg.htm
7.1 – Contabilidade Nacional – é uma medida macroeconômica. O termo Contabilidade Ambiental está referido na Economia Nacional. Por exemplo: o termo Contabilidade Ambiental pode ser usado em unidades físicas ou monetárias de acordo com o consumo de Recursos Naturais da Nação, sejam renováveis ou não renováveis. Neste contexto, a Contabilidade Ambiental tem sido denominada “Contabilidade de Recursos Naturais”.
7.2 – Contabilidade Financeira – relacionada com a preparação dos estados financeiros que estão baseados de acordo com os Financial Accounting Standards Board (FASB) y a los Gener ally Accepted Accounting Principles ( GAAP). A Contabilidade Ambiental, neste contexto, está referida à estimação e informação das responsabilidades ambientais e os custos do ponto de vista financeiro.
7.3 – Contabilidade Gerencial – é o processo de identificação, compilação e análise de informação, principalmente para propósitos internos. Está dirigida à administração dos custos, em especial para tomada de decisões administrativas no âmbito da produção e outro.
Neste sentido, podemos determinar que existem três possíveis contextos onde se aplica o termo Contabilidade Ambiental, um aplicado na Contabilidade Nacional, englobando aspectos macroeconômicos, e os outros dois relacionados mais à realidade microeconômica, com uma unidade empresarial, que é a que nos interessa.
Posto isto, pode-se definir a Contabilidade de Gestão Ambiental como a identificação, estimação, a análise, o relatório interno, e o uso dos materiais e da informação do fluxo da energia, da informação ambiental do custo, e de outras informações dos custos para a tomada de decisão convencional e ambiental dentro de uma organização.
A aplicação da Contabilidade de Gestão Ambiental pode potenciar grandes poupanças de custos na gestão de resíduos, dado que os custos de manuseio e de deposição de resíduos são relativamente fáceis de definir e de imputar a produtos específicos. Outros custos ambientais, incluindo os custos da conformidade ambiental, custos legais, deterioração da imagem da empresa e riscos e responsabilidade ambiental são mais difíceis de avaliar.
A Contabilidade de Gestão Ambiental, segundo a EPA (2002):
- focaliza nos custos internos à companhia;
- não inclui custos externos à sociedade;
- dá ênfase particular na contabilidade para custos ambientais;
- abrange não somente a informação ambiental e outra do custo, mas também informação explícita em fluxos do exame e os fatos dos materiais e da energia;
- a sua informação pode ser usada para a maioria de tipos de atividade ou de tomada de decisão da gerência dentro de uma organização, mas é particularmente útil para atividades ambientais proativas da gerência.
Neste contexto, a Contabilidade de Gestão Ambiental incorpora e integra dois dos três blocos de edifício do desenvolvimento sustentável: ambiente e economia .
A informação da Contabilidade de Gestão Ambiental serve essencialmente para ser utilizada internamente pela empresa nas suas tomadas de decisão. A nível interno, os procedimentos incluem: medições físicas do consumo de materiais e energia, fluxos de deposição e deposição final, avaliação monetária de custos, poupanças e receitas relacionadas com atividades que apresentam potenciais impactos ambientais.
8 – Benefícios da Contabilidade de Gestão Ambiental
8.1 – Benefícios potenciais à indústria
- identifica, estima, aloca, administra e reduz os custos, particularmente os tipos ambientais de custos;
- controla o uso e os fluxos da energia e dos materiais;
- dá informação mais exata e detalhada para suportar o estabelecimento e a participação em programas voluntários, custos efetivos para melhorar o desempenho ambiental;
- informação mais exata e mais detalhada para a medida e o relatório de desempenho ambiental, assim melhorando a imagem de companhia com os stakeholders, tais como clientes, comunidades locais, empregados, governo e fornecedores.
8.2 – Benefícios potenciais à sociedade
- permite o uso mais eficiente de recursos naturais, incluindo a energia e a água;
- reduz os custos externos relacionados à poluição da indústria, tal como os custos da monitoração ambiental;
- fornece informações para a tomada de decisão, melhorando a política pública;
- fornece a informação ambiental industrial do desempenho que pode ser usada no contexto mais extenso das avaliações do desempenho e de condições ambientais nas economias e em regiões geográficas.
Os exemplos de muitas iniciativas ambientais que se beneficiam da Contabilidade de Gestão Ambiental incluem:
- prevenção da poluição
- design e implementação do sistema de gestão ambiental
- projeto para o ambiente
- cálculo dos custos, poupanças e benefícios de projetos
- estabelecimento de metas quantificadas de desempenho
- divulgação ao exterior de despesas, investimentos e responsabilidades em ambiente
- compra ambiental preferível
- avaliação anual dos custos/despesas em ambientes
- relatório externo na área do ambiente ou da sustentabilidade
- produção mais limpa, prevenção de poluição, gestão da cadeia de fornecedores e projetos de eco-design
- avaliação de investimentos, cálculo das opções de investimento
- preço dos produtos
- elaboração de orçamentos
- avaliação do desempenho ambiental dos indicadores e benchmarking
- relatório ambiental do desempenho.
9 – Conclusão
Os objetivos da administração, tradicionalmente, eram quase exclusivamente econômicos. No entanto, conforme Callenbach (19933), desde a segunda guerra, com a crescente integração da dimensão social na economia, o conceito de administração foi sendo gradualmente ampliado até incluir a dimensão ecológica. O mercado não mais aceita o descaso no tratamento dos recursos naturais. Os consumidores estão interessados em produtos limpos. A legislação torna-se mais rígida, imputando sanções aos infratores, obrigando as empresas a encarar com seriedade e responsabilidade a variável ambiental em sua estratégia operacional.
A empresa cidadã se desenvolve imersa na sociedade, na qual busca seus clientes, funcionários e outros insumos necessários para sua operação. Ela não se atém apenas aos resultados financeiros expressos em seu balanço, mas inova a formulação de um balanço social, em que avalia sua contribuição à sociedade.
Portanto, verifica-se que a sociedade é que dá permissão para a continuidade da empresa, conforme Kraemer (2000), e que os detentores de recursos não querem arriscar indefinidamente seus patrimônios em companhias que se recusem a tomar medidas preventivas na área social e ambiental. Posição semelhante assumem os consumidores. Profissionais competentes não podem comprometer a saúde em função da permanência em locais inadequados.
Logo, a empresa precisa se adaptar aos parâmetros exigidos para não agredir ao meio ambiente e, por meio do reconhecimento e divulgação do seu passivo ambiental e da evidenciação dos ativos ambientais e dos custos e despesas com a preservação, proteção e controle ambiental, ela torna claro para a sociedade o nível dos esforços que vem desenvolvendo com vistas ao atingimento de tais objetivos.
O contador, como menciona Sá (2000), precisa comparecer nesse novo cenário, com a disposição e competências necessárias para cooperar com a preservação do planeta, prosperidade das sociedades e valorização do homem. Deverá ser o agente capaz de disseminar a responsabilidade social na sua organização e nas empresas a quem presta serviços. É ele o detentor de informações ricas e privilegiadas, e capaz de influenciar positivamente as organizações e contribuir para a tomada de decisão.
Partindo dessa premissa, a Contabilidade não pode ficar fechada à escrituração e mensurações quantitativas do patrimônio da empresa. Ela deve estar aberta à evolução tecnológica e às mudanças rápidas do mundo moderno, estar presente na luta pela preservação ambiental natural, criando modelos contábeis eficazes e orientando o empresário na aplicação destes modelos para satisfazer as necessidades da riqueza da empresa com eficácia e também satisfazer com eficácia as necessidades do meio ambiente natural.
10– Referências
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CAMPANHOLA, C. Gestão ambiental e crescimento econômico . In : I Simpósio ambientalista brasileiro no cerrado. Contribuições para um novo modelo de desenvolvimento. Anais do I Simpósio Ambientalista Brasileiro no Cerrado . Goiânia: GO, 1995.
EPA. Environmental Protection Agency. Disponível em: www.epa.gov . Acesso em: 12 nov. 2002.
FENECH, F. C. Presentación y evaluación de la contabilidade social y medioambiental . Curso de verano de la Universidade de Bur go. 2002. www.ubu.es . Acesso em 19 de janeiro de 2003.
FUNDACIÓ Fórum Ambiental. Agencia Europea Del Médio Ambiente. Barcelona, abril de 2001. Perfil profesional del responsable de medio ambiente en las organizaciones . www.forumambiental.com . Acesso em 27 de novembro de 2002.
JUNIOR, S. B. Custos emergentes na contabilidade ambiental. Revista Pensar Contábil do Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro . Rio de Janeiro – RJ: ano 3, nº 09, p.03-11, ago/out.2000/
KRAEMER, M. E. P. Contabilidade ambiental como sistema de informações. Revista Pensar Contábil do Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro. . Rio de Janeiro – RJ: ano 3, n. 09, p.19-26, ago/out.2000.
KRAEMER, M. E. P. TINOCO, J. E. P. Contabilidade e gestão ambiental . São Paulo: Atlas, 2004.
KROETZ, C. E. S. Balanço Social. Teoria e Prática . São Paulo: Atlas, 2000.
MAIOR, G. S. Contabilidade ambiental . http://www.suspiros.com.ecologia . Acesso em 18 nov. 2003.
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http://es.inel.gov/partners/acctg/acctg.htm. Textos desenvolvidos por E.P.A ., Enviromental Protection Agency de Estados Unidos. Acesso em 12 de nov. de 2003.
Fonte: Maria Elisabeth Pereira Kraemer
Contadora, CRC/SC nº 11.170, Professora e Integrante da Equipe de Ensino e Avaliação na Pró-Reitoria de Ensino da UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí. Mestre em Relações Econômicas Sociais e Internacionais pela