Patauá: a “oliveira” da Amazônia

No contexto atual em que o mundo está voltado para a conservação das florestas e o consumidor cada vez mais se preocupa com a origem e as implicações sociais que estão por detrás dos produtos de origem florestal, surge um desafio para técnicos e cientistas da região: a necessidade de produzir conhecimento e aproveitar a biodiversidade das florestas acreanas para gerar renda, mantendo a floresta em pé. Entre os produtos florestais potenciais, as palmeiras se destacam por serem usadas na alimentação, como fitoterápicos, em artesanatos e até mesmo na construção de casas. O patauá ou patoá é uma palmeira muito conhecida dos moradores da floresta e de nome cietífico: Oenocarpus bataua Mart . Assim como o açaí, dos frutos se extrai uma bebida conhecida popularmente por “vinho de patauá”.

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Durante alguns meses do ano, o vinho de patauá pode ser encontrado no comércio informal de sucos em vários pontos da cidade de Rio Branco, juntamente com açaí e buriti. Apesar do uso local, o potencial do patauá como gerador de renda e desenvolvimento não está no “vinho” e sim no excelente óleo que é extraído a partir do suco. O óleo possui semelhanças com o azeite de oliva e pode ser usado tanto para tempero de saladas como para frituras. A grande vantagem com relação a outros óleos, como o de soja, está no fato de que o óleo de patauá é rico em aminoácidos e gorduras insaturadas (combate o colesterol – LDL) e, sendo extraído aqui no Acre ou em outras partes da Amazônia, pode representar baixos custos de produção. No Peru, além do uso alimentar, o óleo de patauá tem sido utilizado como tônico capilar e na medicina popular para combater a asma e doenças respiratórias.

No Acre é também usado para a lubrificação de espingardas, como condicionador para cabelos, no tratamento de asma e pequenos ferimentos. No início do século passado, o Brasil exportou toneladas de óleo de patauá. Porém, a coleta dos frutos era feita derrubando-se as palmeiras, o que causou a destruição de grandes patauazais nos arredores de Belém-PA. Apesar do potencial dessa palmeira como produtora de óleo, pouco se sabe sobre seu potencial produtivo com base em uma exploração sustentável do ponto de vista ecológico e econômico.

Um estudo pontual foi feito no Seringal Palmari, em Xapuri, na Resex Chico Mendes, para avaliar o potencial de produção e as condições em que a espécie ocorre naturalmente, principalmente no que diz respeito ao número de indivíduos produtivos por hectare e à regeneração, importante para manter a população. Neste estudo verificou-se que o patauá apresenta boas condições de regeneração e por isso pode ser manejado.

Porém, medidas precisam ser tomadas durante o manejo no sentido de monitorar os impactos, por meio de métodos simples e eficientes que ainda precisam ser desenvolvidos. O número médio de palmeiras produtivas nas florestas de baixio, que são as áreas mais úmidas com solos encharcados, foi em torno de 40 palmeiras/ha, e nas florestas de terra firme, áreas com solos bem drenados, foi encontrada quase metade disso, sugerindo que a coleta pode ser feita nos dois ambientes, baixio e terra firme. A produção média de frutos por cacho foi de 19 kg, extraindo-se de cada cacho cerca de 210 ml de óleo.

Assim, considerando a coleta de dois cachos por palmeira/ano e deixando-se 20% dos frutos sem coletar para assegurar a manutenção da fauna e regeneração, a produtividade de óleo em 1 ha pode ser estimada em 5 e 13 litros para terra firme e baixio, respectivamente. Nessa estimativa de produção foi usado o sistema tradicional para a extração do óleo, no qual ocorre um desperdício de até 80%, significando que esse rendimento pode ser melhorado. Destaca-se ainda a simplicidade do processo de beneficiamento do óleo o qual dispensa operações industriais, sendo necessária apenas uma filtragem para que se encontre em condições de consumo. Desta forma, o patauá e outras palmeiras mais estudadas como açaí, buriti, murumuru e tucumã podem formar um grupo potencial da floresta nativa, atuando como fonte de renda para as comunidades locais e contribuindo com a proposta de desenvolvimento sustentável para as florestas acreanas.

Daisy A.P.Gomes-Silva – Bolsista CNPq/Embrapa Acre. daisy@dris.com.br
Lúcia Helena O. Wadt – Pesquisadora Embrapa Acre. lucia@cpafac.embrapa.br