As invasões biológicas ainda não constam dos currículos escolares do Brasil, embora já constituam a segunda grande causa de perda de biodiversidade em todo o mundo. Nos Estados Unidos, a área tomada pelas espécies exóticas invasoras aumenta em cerca de 2 mil hectares por dia (cada hectare equivale a uma quadra urbana de 100m x 100m). As invasões e seus custos aumentam em progressão geométrica ao longo do tempo. Por exemplo, uma árvore invasora isolada que produza em 5 anos 100 novas plantas terá como descendência, em outros 5 anos, 100 x 100 novas plantas, ou seja, 10.000 plantas; e assim sucessivamente.
As espécies são chamadas de exóticas quando introduzidas em ecossistemas do qual não fazem parte. Podem ser de plantas, de animais ou de microorganismos. Muitas dessas espécies não conseguem se adaptar e desaparecem. Outras se adaptam, se reproduzem e invadem o ambiente, expulsando espécies nativas e alterando seu funcionamento. Nesses casos, são denominadas espécies exóticas invasoras. Muitas espécies invasoras passam desapercebidas, apesar de estarem estabelecidas em nosso meio. A dificuldade é que em muitos casos é necessário um certo conhecimento botânico para identificá-las, o que se torna mais fácil quando destoam da paisagem natural.
Um exemplo brasileiro com impactos negativos tanto no meio quanto na capacidade de produção é a invasão de capim-annoni (Eragrostis plana) no Rio Grande do Sul. Originária da África do Sul, a espécie foi introduzida em mistura com sementes de outra forrageira e então selecionada e comercializada por um fazendeiro chamado Annoni. Anos depois, percebeu-se que o gado não se alimentava da planta, extremamente fibrosa, mas já era tarde demais para conter a invasão. Em 1989, quando o Ministério da Agricultura proibiu o comércio da espécie, já havia 30 mil hectares de campos naturais invadidos e dominados. Atualmente, a unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Pelotas-RS estima que já estão ocupados mais de 500.000 hectares no estado, com elevados prejuízos para a produção pecuária. O capim annoni já está em Santa Catarina e no Paraná, onde é comum ao longo de rodovias e de estradas rurais. Sem ações de controle, o aumento da invasão é apenas uma questão de tempo.
Essa é outra característica das invasões biológicas: ao contrário de grande parte dos impactos ambientais, que são lentamente absorvidos pelo meio, as invasões se agravam com o tempo e, na maior parte dos casos, o processo só é reversível com interferência humana. Nos Estados Unidos, estima-se em 137 bilhões de dólares anuais as despesas do país com o controle dessas espécies nas áreas da agricultura, da saúde e do ambiente.
Outros exemplos de espécies em processo invasor no Brasil são cinamomo, do Paquistão; uva-do-japão, da China e Japão; cedrinho, de Portugal; acácia-negra, da Austrália; nêspera, do Japão; tojo, da Europa; eucalipto, da Austrália; braquiária e capim-gordura, da África; maria-sem-vergonha, da Ásia; lírio-do-brejo, da Ásia; pinus, da América do Norte; amarelinho, do México; e leucena, da África, entre muitas outras. Entre os animais, destacam-se o javali, que vem causando prejuízos ao cultivo de arroz no Rio Grande do Sul; peixes exóticos como a carpa, a tilápia e o bagre africano, que escapam ao cultivo e depredam as populações de peixes nativos; o lagarto Tupinambis, em Fernando de Noronha, que se alimenta dos ovos de aves nativas; búfalos, cachorros e gatos asselvajados. Na área da saúde, também não faltam exemplos de invasões biológicas: a febre aftosa, o vírus ebóla, o vírus da Aids, a dengue, transmitida por um inseto de origem egípcia, e a própria peste negra que assolou a Europa na Idade Média.
Todos os exemplos acima ilustram um mesmo problema, que tem conseqüências sociais, ambientais e econômicas. É tarefa de cada um ajudar, não cultivando nem transportando espécies consagradas como invasoras. O setor produtivo tem o papel de implantar medidas de prevenção e controle e de buscar alternativas de espécies não invasoras para produção, preferencialmente nativas.
As espécies dos gêneros Pinus e Eucalyptus são a base da produção florestal em todo o mundo e apresentam elevada importância econômica. O plantio comercial não constitui um problema em si, mas ainda carece de manejo adequado para controle da dispersão de sementes e mudas. A dispersão de plantas a partir dos núcleos de reflorestamento é que constitui hoje um problema, não apenas nos campos do Sul do Brasil, mas também na Argentina, África do Sul, Nova Zelândia, Austrália e certamente em outros países para os quais ainda não há registros oficiais. Esses núcleos de dispersão não estão, porém, limitados a plantios comerciais. Existem inúmeros pequenos plantios de árvores ao longo de estradas ou para fins ornamentais em fazendas que contribuem em muito para o processo de invasão. Por isso, o engajamento da sociedade na contenção das invasões biológicas é crucial, para que não se cultivem espécies invasoras e para eliminar as que se encontram estabelecidas.
A melhor garantia de sucesso para conter uma invasão é a sua detecção precoce e a adoção imediata de medidas de controle. Para tanto, é preciso investir em conhecimento científico e no esclarecimento do público, pois a tomada de responsabilidade de cada indivíduo, proprietário rural, empresário ou amante de plantas ornamentais, é a chave para a solução do problema.
Redação Ambiente Brasil