Cânion do Xingó: uma natureza radical

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Paredões rochosos com mais de 60 milhões de anos brotam das águas cristalinas do lago, formado com a construção de barragem no Rio São Francisco. Com apenas 21 mil km2, Sergipe, o menor Estado do País, oferece cenários paradisíacos a um número cada vez maior de turistas do Brasil e do exterior.

O Cânion de Xingó, localizado no município de Canindé do São Francisco, a 213 quilômetros de Aracaju, é um dos destinos mais procurados, principalmente por quem gosta de uma pitada de aventura durante as férias. Essa paisagem impressionante, com formações rochosas de mais de 60 milhões de anos brotando das águas do lago, surgiu a partir da construção da barragem da hidrelétrica de Xingó, no Rio São Francisco.

Em pleno semi-árido nordestino, o Rio Canindé era, na maior parte do tempo, um leito seco com escassa vegetação. Em 1995, a região foi alagada para criar o reservatório da hidrelétrica de Xingó, dando origem a uma vegetação exuberante, que atraiu enorme diversidade de pássaros e outras espécies.

A região é visitada por turistas interessados em praticar esportes radicais, observar a fauna e navegar por entre as rochas que circundam o lago, que em alguns pontos chega a ter 170 metros de profundidade.

“Sem dúvida é um dos lugares mais bonitos do Brasil. A natureza caprichou em Xingó e vale a pena visitar”, diz Paulo Roberto Fonseca, morador de Brasília que vai pelo menos uma vez por ano ao lago.

Em seus 60 km2 de espelho d’água, o lago de Xingó oferece várias surpresas. Os paredões de arenito rochoso se precipitam sobre as águas verdes. No cânion, é possível encontrar vestígios – como pinturas rupestres e fragmentos de cerâmica – dos primeiros habitantes do local, que viveram por lá há mais de oito mil anos. O passado atrai muitos turistas brasileiros interessados na história do lendário cangaceiro Lampião, morto em 1938. O fora-da-lei e seu bando trilharam o caminho que liga Canindé a Angico.

São Francisco

Apesar das paisagens de inegável apelo para os visitantes, a importância do Rio São Francisco vai bem além do seu potencial turístico. A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), que pertence ao Grupo Eletrobrás, possui 14 usinas ao longo do rio. Só a de Xingó representa mais de 25% de toda a capacidade instalada da empresa. A usina tem capacidade instalada de 3,1 mil megawatts (MW). Já o complexo de Paulo Afonso – formado pelas usinas de Paulo Afonso I, II, III e IV e Apolônio Sales (Moxotó) – somam 4,2 mil MW. “O Nordeste se desenvolveu por causa do São Francisco. Sem ele, a população nordestina praticamente não teria condições de sobreviver. O rio é a alma do Nordeste”, diz Edgar Oliveira, superintendente de Projeto e Construção de Geração da CHESF.

Opinião semelhante tem o historiador Anderson Oliva, doutorando da Universidade de Brasília (UnB). “Além da importância econômica, o rio tem a função de ligar diversas localidades da região, contribuindo para a integração do Nordeste brasileiro”, diz. Oliva destaca ainda a identificação cultural da população com o rio: “É incrível como o São Francisco faz parte do imaginário popular e da cultura desses habitantes. Grande parte da produção cultural nordestina se deve ao Velho Chico”.

A maioria dos turistas que visitam o local ainda é de brasileiros, mas alguns grupos de estrangeiros começam a chegar a essa parte do Nordeste brasileiro. “Já fechamos passeios com finlandeses e argentinos”, conta Vera Brasil, dona de um restaurante flutuante e organizadora de passeios no lago de Xingó. As operadoras de turismo estão animadas com o sucesso das excursões para a região. A Nativa Turismo, por exemplo, organiza passeios que duram um dia inteiro. “É uma oportunidade de conhecer rapidamente as belezas da região. Saímos às seis da manhã e só voltamos no fim do dia”, diz Wagner Rouver, dono da empresa.

Os passeios de catamarã e escuna são os preferidos dos turistas, mas a visitação ao mirante, ao museu de Xingó e à usina hidrelétrica também estão entre os mais populares.

Esportes radicais

Os esportes radicais também fazem parte da programação dos turistas que visitam a região das hidrelétricas da CHESF. Em Xingó, por exemplo, o passeio de bote no cânion é quase obrigatório. Já no complexo de Paulo Afonso as atividades são mais variadas. Quem gosta de adrenalina pode fazer escalada, rappel, tirolesa e trekking. “Nós fornecemos alimentação adequada, de acordo com a duração da aventura, que varia. O rappel, por exemplo, dura cinco horas e a segurança é total”, diz Pasur Cavalcante, instrutor da Kalangos, escola especializada em esportes radicais.

O rapel é uma técnica de descida por meio de cordas na qual o aventureiro busca vencer os obstáculos, como paredões, prédios, penhascos, pontes e declives. Já a tirolesa é uma travessia de abismos que exige muita perícia e cuidado. “Esses são alguns exemplos de esportes radicais que praticamos na região. Nossa principal preocupação é com a segurança. Os equipamentos são de primeira e qualquer pessoa pode praticar”, explica Pasur Cavalcante.

“Realmente, esse lugar tem um potencial turístico incrível que não pode ser desperdiçado”, observa Rouver, que na alta temporada leva cerca de mil turistas por mês para conhecer o São Francisco. “A maioria dos visitantes é do Sudeste, mas – com a divulgação do roteiro – gente de todo o Brasil começa a vir a Sergipe”, comemora ele.

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Rapel – Técnica de descida utilizada por aventureiros. Por meio de cordas, se desce de forma controlada, vencendo obstáculos como prédios, paredões, pontes e declives. Inicialmente, o rapel era usado apenas por alpinistas para descer montanhas depois de uma escalada ou por equipes de resgate. Hoje, é praticado como esporte radical, com o auxílio de equipamentos como mosquetões, freios, cadeirinha, luvas etc.

Tirolesa – Técnica de travessia de abismos em que o aventureiro desliza por uma corda que liga dois pontos posicionados em alturas diferentes. Para fazer esse tipo de travessia com segurança total, é preciso algum conhecimento das técnicas e dos equipamentos.

Escalada esportiva – A modalidade é praticada em rochas e se desenvolveu muito nos anos 80. Envolve regras e um vocabulário muito específico. Praticada em pequenas falésias que variam entre 20 e 60 metros de altura.

Trekking – Nada mais é do que uma caminhada em trilhas, em contato permanente com a natureza.

Por Aurore Bubu Ambientalista
Fonte: Revista Eco 21, ano XV, Nº 103 junho/2005.