Esta bacia com aproximadamente 3.100.000 de km tem uma enorme importância econômica e social para o continente sul americano. É a mais populosa da América do Sul, com cerca de 120 milhões de habitantes, grandes áreas metropolitanas e uma grande concentração na sua porção superior (capital de São Paulo e bacia do rio Tietê). Uma importante característica desta bacia hidrográfica é a sua identidade cultural. A outra é a construção de grandes reservatórios para produção de hidreletricidade, cujos usos múltiplos tem se intensificado nos últimos anos para ampliar atividades de recreação, de turismo, pesca, aquacultura e navegação para transporte de cargas a longa distância.
As hidrovias do Tietê e do Paraná-Paraguay encontram-se nesta bacia hidrográfica. Uma característica fundamental desta bacia hidrográfica é a abundância de água. Isto é principalmente devido ao Rio Paraná que flui no sentido norte-sul e que também foi regulamentado por grandes reservatórios como Jupiá, Ilha Solteirra, Porto Primavera, Itaipu e Yaciretá (Paraguay-Argentina). Reservatórios constituem uma importante alteração ecológica no sistema de rios, e podem ser considerados como focos no processo de planejamento e no gerenciamento da bacia do Prata. Além do aproveitamento múltiplo deve-se considerar a preservação destes ecossistemas como uma base fundamental no desenvolvimento sustentável.
O rio Paraná e o seu maior tributário, o rio Paraguay, é o mais importante da Bacia do Prata. Flui no sentido Norte-Sul, por mais de 4.000 km, determinando ao longo do seu curso um gradiente geológico, hídrico, biótico e de produtividade. Outro rio de importância neste sistema é o Uruguay que também flui no sentido Norte-Sul por mais de 1.000 km desde as suas cabeceiras no Brasil. O rio Paraná, formado pelos rios Parnaíba e Grande, apresenta em muitas regiões em seu curso, extensas planícies de inundações com lagos, canais, ilhas fluviais, principalmente no Médio Paraná, e no baixo Paraná onde estas planícies atingem 56 km de largura. Também vários tributários do rio Paraná, nos Estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso, apresentam planícies de inundações, estas planícies do rio Paraná e de seus tributários, tem considerável importância na biodiversidade regional, nos ciclos biogeoquímicos e no repovoamento dos principais rios e tributários.
O último trecho do rio Paraná, não represado em território brasileiro, com cerca de 230 km de comprimento e 20 km de largura, tem uma grande importância ecológica econômica, pela diversidade biológica e por se constituir em um ecossistema fundamental para a manutenção da biota, principalmente grandes peixes migradores.
Impactos e problemas de gerenciamento da bacia do Prata
Em uma macroescala os seguintes problemas apresentados e discutidos por Cordeiro (1998) ocorrem na Bacia do Prata:
Erosão – a erosão causada pela atividade agrícola, atinge 20 toneladas por ha por ano em regiões com solo basáltico, sendo um dos problemas mais sérios da bacia. Está produzindo uma rápida sedimentação dos reservatórios, destruindo solos adaptados ao reflorestamento, e aumentando os custos da drenagem do rio da Prata na extremidade sul. O aumento da atividade e a expansão da fronteira agrícola, são as causas principais da erosão em larga escala que também produz substanciais alterações no sistema aquático com diminuição da produção primária e prejuízos à biota em geral. Como resultado desta erosão, a sedimentação altera substancialmente o fluxo de água, produzindo grandes ilhas interiores e interferindo com o regime hidrológico e a navegação. Outra causa importante, do ponto de vista qualitativo e quantitativo para o aumento da erosão, é o desmatamento principalmente nas cabeceiras da bacia do Prata. Por exemplo, o estado de São Paulo, tem hoje, menos de 2% da matas primárias que tinha no início do século.
Poluição e contaminação – o aumento rápido das atividades agrícolas e industriais; o uso e o despejo intensivo dos agrotóxicos e substâncias tóxicas em geral nos sistemas aquáticos tem produzido amplas modificações pela alteração da biota e a contaminação dos sedimentos dos rios, represas e lagoas marginais. A intensa urbanização produziu um amplo efeito de eutrofização com grandes conseqüências na qualidade da água e aumento nos custos do tratamento. Há dados muito importantes sobre os efeitos dos florescimentos de algas fitoplanctônicas principalmente cianobactérias e de macrófitas aquáticas. Por outro lado há efeitos adversos na navegação.
Outros impactos – o agravamento de enchentes; a perda de áreas alagadas com a construção de represas; a substituição da biota nativa de peixes por espécies exóticas; a intensificação do turismo e recreação; todas estas atividades produzem impactos de grande significado. As áreas críticas para a expansão de atividades de desenvolvimento sustentado na bacia do Prata.
Fonte: Águas Doces no Brasil – Capital Ecológico, Uso e Conservação. 2.° Edição Revisada e Ampliada. Escrituras. São Paulo – 2002. Organização e Coordenação Científica: Aldo da C. Rebouças; Benedito Braga. Capítulo 05 – Ecossistemas de Águas Interiores. J