Ferrugem asiática ou ferrugem da soja (Phakopsora sp.)

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A ferrugem da soja é causada por duas espécies de fungo do gênero Phakopsora: a Phakopsora meibomiae (Arth.) Arth., causadora da ferrugem “americana”, que ocorre naturalmente em diversas leguminosas desde Porto Rico, no Caribe, ao sul do Estado do Paraná (Ponta Grossa) e a Phakopsora pachyrhizi Sydow & P. Sydow, causadora da ferrugem “asiática”, presente na maioria dos países que cultivam a soja e, a partir da safra 2000/01, também no Brasil e no Paraguai. A distinção das duas espécies é feita através da morfologia de teliósporos e da análise do DNA.

A ferrugem da soja é causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, foi relatada pela primeira vez em 1902 no Japão. No Brasil, foi relatada pela primeira vez em 1947, em Minas Gerais, ficando, no entanto, restrita a pequenas áreas. Em 1998, foi relatada no Zimbábue onde tornou-se epidêmica, causando perdas de 60 % a 80 % na produção de soja. No ano de 2001, foi observada no Paraguai e em Mato Grosso. Presentemente a doença se encontra em diversos estados brasileiros, inclusive no Rio Grande do Sul.

Sintomatologia da doença

Os principais sintomas da ferrugem da soja são observados nas folhas. Normalmente, a doença se inicia pelas folhas localizadas nas partes baixas da planta. Os primeiros sintomas são caracterizados por minúsculos pontos escuros (no máximo 1mm de diâmetro), no tecido sadio da folha, com coloração esverdeada à cinza-esverdeada, observados mais facilmente contra um fundo claro, como o céu, por exemplo. Na face inferior das folhas podem ser observadas saliências que correspondem a estruturas de frutificação do fungo (urédias).

São essas saliências que diferenciam a ferrugem das outras doenças sendo sua observação facilitada com auxílio de uma lupa com capacidade de aumentar de 10 a 20 vezes.

A presença de água na superfície da folha é um fator essencial para o início do processo de infecção pelo fungo. É necessário pelo menos um mínimo de seis horas de molhamento foliar, sendo ideal para o fungo, molhamento acima de 10 horas. Esse “molhamento foliar” pode ser ocasionado tanto pelo orvalho como pela chuva. Regiões mais altas, com temperaturas noturnas mais amenas (20º C), apresentam um maior número de horas de orvalho, favorecendo o processo de infecção. A ocorrência de chuvas bem distribuídas também favorece a infecção.

Monitoramento regional

O monitoramento semanal da lavoura é importante para que se identifique logo no início a ocorrência da ferrugem. Produtores e técnicos devem estar atentos às informações de sua região. Se a ferrugem for identificada em alguma propriedade da região, o ideal é fazer a aplicação antes que o fungo se espalhe pelo vento. Não há uma fase específica para que a doença se manifeste na planta.

Com o desenvolvimento, a lesão de coloração acinzentada torna-se marrom e são delimitada pelas nervuras. As lesões são mais numerosas na face inferior da folha.

Em ataques severos, as lesões podem ser encontradas nas vagens, nas hastes e nos pecíolos. As pústulas de ferrugem são mais visíveis na face inferior da folha que exuda uma massa de esporos (uredósporos), formados em uma urédia. A coloração das pústulas é variável e depende da idade da interação entre o genótipo e a raça do patógeno.

Hospedeiros

O fungo Phakopsora pachyrizi é um parasita obrigatório. A perpetuação do fungo depende de hospedeiros alternativos existentes em grande quantidade na natureza, cerca de 95 espécies em 42 gêneros da família Fabaceae são relatados.

Condições favoráveis

A ocorrência da ferrugem está diretamente associada às condições climáticas. Temperaturas médias menores que 28º C e molhamento foliar de mais de 10 horas favorecem a infecção da planta. É por isso que nas regiões mais quentes é mais difícil aparecer a doença, ou quando aparece, não desenvolve de forma explosiva. As regiões com altitude superior a 700 metros são mais favoráveis à ocorrência da doença devido as temperaturas noturnas mais amenas associadas a um maior número de horas de orvalho. Regiões mais baixas, porém com chuvas bem distribuídas, também são favoráveis para um desenvolvimento mais rápido da doença.

Perdas

Com o aparecimento das lesões, o desfolhamento da planta é rápido resultando em redução do número de vagens, do número de grãos, e do peso dos grão. Na África do Sul, perdas relatadas variam de 10 % a 80 %. Em algumas áreas, houveram perdas de 100 %. No Brasil, por tratar-se de uma doença nova, faltam estudos sobre o impacto da ferrugem no rendimento da soja. Entretanto, a julgar por relatos de perdas em outras regiões onde a doença vem ocorrendo de forma epidêmica é de se imaginar que a ferrugem poderá ter um impacto significante no cultivo da soja no Brasil.

Controle

A única forma de controle é a aplicação de fungicida, mas é preciso saber reconhecer o momento certo de aplicar. Estudos da Embrapa Soja mostram que os fungicidas protegem, em média, por cerca de 25 dias. Se aplicar no momento errado, o agricultor pode ter que fazer várias aplicações, o que aumenta sensivelmente os custos de produção. Por outro lado, se o produtor não estiver monitorando a lavoura, só vai perceber os sintomas quando for tarde demais, comprometendo assim a eficiência dos produtos.

Técnica ajuda a identificar a ferrugem da soja

Uma técnica simples pode facilitar a vida dos produtores e técnicos que estão monitorando a evolução da ferrugem a campo. Segundo o pesquisador José Tadashi Yorinori, utilizando um saco plástico é possível facilitar a visualização das estruturas de frutificação (urédias e urediniosporos) do fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem. Veja como é fácil:

  • Colete as folhas com suspeita de ferrugem, coloque-as em um saco plástico, sopre um pouco de ar e amarre a boca, fazendo um pequeno balão (câmara úmida). Procure coletar folhas dos terços médio e inferior das plantas;
  • Deixar o saco fechado em local fresco, à temperatura ambiente, durante 12 a 24 horas; durante esse período de incubação, o fungo irá produzir os urediniosporos que ficarão acumulados na superfície das urédias (estruturas salientes), tornando-se mais visíveis;
  • Após o período de incubação, retire as folhas do saco plástico e, observando a folha contra um fundo claro (exemplo: contra o céu claro), procure por minúsculos pontos (menos de 0,5mm de diâmetro) de coloração escura a cinza-esverdeada, na parte inferior da folha com o auxílio de uma lupa de 10x a 20x de aumento, ou até a olho-nu. Essas estruturas de frutificação (em relevo na superfície da folha) são as únicas características que permitem diferenciar a ferrugem das outras doenças foliares e lesões de fitotoxidez de herbicidas;
  • Para facilitar a visualização das urédias com a lupa ou microscópio, fazer com que a luz incida com a máxima inclinação sobre a face abaxial (inferior) da folha, de modo a formar sombra de um dos lados das urédias. Esse procedimento permite a observação das urédias, a campo, mesmo sem o auxílio da lupa de bolso.

OBS. A ferrugem da soja pode ser facilmente confundida com as doenças mancha parda (Septoria glycines), crestamento bacteriano (Pseudomonas savastanoi pv. glycinea) e danos por herbicidas pós-emergentes. Em todos os casos, as folhas afetadas amarelam, secam e caem prematuramente, dificultando a distinção. No caso da ferrugem, a presença das urédias e urediniosporos permite diferenciá-la das demais doenças. Portanto, até que se tenha suficiente experiência na identificação da ferrugem, é fundamental o uso da lupa de 10 x a 20x de aumento para assegurar a identificação.

Fonte: Embrapa soja