1. Terraços: os terraços são sulcos ou valas construídas transversalmente à direção do maior declive, sendo construídos basicamente para controlar a erosão e aumentar a umidade do solo. Os objetivos dos terraços são:
- Diminuir a velocidade e volume da enxurrada.
- Diminuir as perdas de solo, sementes e adubos.
- Aumentar o conteúdo de umidade no solo, uma vez que há maior infiltração de água.
- Reduzir o pico de descarga dos cursos d’água.
- Amenizar a topografia e melhorar as condições de mecanização das áreas agrícolas.
Por ser uma prática que necessita de investimentos, o terraceamento deve ser usado apenas quando não é possível controlar a erosão, em níveis satisfatórios, com a adoção de outras práticas mais simples de conservação do solo. No entanto, o terraceamento é útil em locais onde é comum a ocorrência de chuvas cuja intensidade e volume superam a capacidade de armazenamento de água do solo e onde outras práticas conservacionistas são insuficientes para controlar a enxurrada.
Segundo RUFINO (1989), os terraços são indicados para terrenos com declividade entre 4 e 50%. Em declividade inferior a 4%, devem ser substituídos por faixas de retenção, plantio em nível, rotação de culturas, culturas em faixas, quando os lançantes forem curtos. Em lançantes longos, as áreas devem ser terraceadas a partir de 0,5% de declive.
2. Classificação dos Terraços
São diversos os critérios usados para a classificação dos terraços. Dentre os comumente usados estão:
a) Quanto à funcionalidade (com relação ao destino das águas interceptadas):
Terraços de Absorção:
- são terraços construídos em nível com o objetivo de reter e acumular a enxurrada no canal para posterior infiltração da água e acúmulo de sedimentos;
- são recomendados para regiões de baixa precipitação pluviométrica;
- solos permeáveis;
- em terrenos com declividade menor que 8%; normalmente são terraços de base larga.
Terraços de Drenagem:
- são terraços construídos em desnível, cujo objetivo é interceptar a enxurrada e conduzir o excesso de água que não foi infiltrada até locais devidamente protegidos (escoadouros).
- são recomendados para regiões de alta precipitação pluviométrica;
- solos com permeabilidade moderada ou lenta;
- recomendados para áreas com mais de 8% e até 20% de declividade;
- normalmente são terraços de base estreita média.
b) Quanto ao processo de construção:
Tipo canal ou terraço de NICHOLS:
- são terraços que apresentam canais de forma (secção) mais ou menos triangular, construídos cortando e jogando a terra para baixo;
- são recomendados para declives de até 20%;
- geralmente são construídos com implementos reversíveis de tração animal ou manuais;
- utilizados em regiões com altas precipitações pluviométricas e com solos de permeabilidade média a baixa.
Tipo camalhão ou terraço de MAGNUM:
- são terraços construídos cortando e jogando a leiva para ambos os lados da linha demarcatória, formando ondulações sobre o terreno;
- recomendados para áreas com até 10% de declive;
- construídos com implementos fixos e reversíveis;
- recomendados para regiões de baixa precipitação pluviométrica e solos permeáveis.
A disponibilidade de maquinaria agrícola e a declividade do terreno são os fatores que determinam a opção do processo de construção de um terraço.
c) Quanto ao tamanho da base ou largura do movimento de terra:
Terraço de base estreita: quando o movimento de terra é de até 3 metros de largura; incluem-se neste grupo os cordões de contorno.
Terraço de base média: quando a largura do movimento de terra varia de 3 a 6m.
Terraço de base larga: quando a largura do movimento de terra é maior que 6m (geralmente até 12m). A declividade do terreno, a intensidade de mecanização (culturas x sistemas de cultivo), as máquinas e implementos disponíveis, assim como a condição financeira do agricultor são os fatores que condicionam a escolha do tipo de terraço quanto à movimentação de terra.
d) Quanto à forma
Neste caso, a declividade do terreno é o determinante na definição do tipo de terraço a ser construído.
Terraço comum: é uma construção de terra, em nível ou desnível, composta de um canal e um camalhão ou dique. Este tipo de terraço é usado normalmente em áreas com declividade inferior a 20%. Incluem-se nesta classificação os terraços de base estreita, média, larga e algumas variações, tais como terraço embutido, murundum ou leirão, etc.
Terraço patamar: estes são os verdadeiros terraços, sendo que deles se originaram os outros tipos. São utilizados em terrenos com declives superiores a 20% e construídos transversalmente à linha de maior declive.
Caracterização dos tipos de terraços
a) Terraço de base estreita
É um terraço de dimensões reduzidas, ainda muito utilizado devido ao baixo custo, rapidez de construção e pelo uso de implementos agrícolas leves ou até rudimentares. No entanto, proporciona uma perda de até 8% de área cultivada; pode tornar-se foco de ervas daninhas, pragas e doenças quando não tiver constante manutenção; apresenta maior probabilidade de ruptura que outros tipos e, normalmente, é restrito às áreas pequenas e muito inclinadas.
É indicado para utilização em áreas com declive de até 20%. Para declives superiores a 15%, recomenda-se a proteção com vegetação densa (gramíneas rasteiras, cana-de-açúcar, capim elefante). Pode ser construído pelo processo de NICHOLS como também pelo de MAGNUM. A construção pode ser realizada com implementos de tração mecanizada (arados e plainas), tração animal (plainas e dragas em V) ou muitas vezes até com o emprego de pá ou enxadão.
Dimensões para Construção de Terraços de Base Estreita
Largura do canal (m) | Largura do camalhão (m) | Profundidade do canal (m) | Secção mínima (m2) | Movimento de terra (m) | Autor |
1,5 | 2,0 | 0,50 | 0,50 | 3,0 | ZENKER,1977 |
1,2 – 1,8 | – | 0,4 – 0,7 | 0,7 | 2,0 – 3,0 | AMARAL, 1978 |
Manutenção do terraço de base estreita
Deve ter um intenso acompanhamento, devendo-se fazer uma constante manutenção, principalmente após as chuvas. Há necessidade de percorrer toda a área para desobstrução dos locais onde há acúmulo de terra e recomposição das partes danificadas do camalhão.
b) Terraço de base média
É um terraço de dimensões maiores que o de base estreita, mas que ainda pode ser construído por maquinaria de pequeno porte (arado e draga em V). Em função de sua conformação, permite o cultivo total na pequena propriedade, desde que utilizados implementos de tração animal ou manuais. No caso de mecanização, permite o cultivo parcial em um dos lados do camalhão, reduzindo deste modo o foco de inços, pragas e doenças.
Mesmo com o cultivo parcial, o terraço de base média ainda promove a perda de 2,5 a 3,5% de área cultivável. É indicado para declives entre 8 e 15% e pode ser construído pelo processo de NICHOLS, como também pelo de MAGNUM. O processo de construção mais utilizado é o de camalhão (MAGNUM).
Dimensões para Construção de terraços de base média
Largura do canal (m) | Largura do camalhão (m) | Profundidade do canal (m) | Secção mínima (m2) | Movimento de terra (m) | Autor |
0,2 – 0,3 | – | 0,4-0,8 | 0,0-0,75 | 3,0-6,0 | AMARAL, 1978 |
Manutenção de terraço de base média
A manutenção é realizada pelo uso ordenado de lavrações, com o objetivo de abrir o canal e aumentar a altura do camalhão.
c) Terraço de base larga
O terraço de base larga é uma estrutura especial de conservação do solo que envolve um movimento de terra significativo para formação do canal e camalhão. Sua grande vantagem é proporcionar o cultivo total da área, eliminando os possíveis focos de inços, doenças e pragas. Outra vantagem marcante é sua segurança em relação a possíveis rompimentos provocados pelo acúmulo de enxurrada.
A limitação de seu uso se dá por dois motivos principais: é utilizável somente em áreas de relevo ondulado, com desníveis não superiores a 12%; e é uma obra de construção mais demorada e custo mais alto que os demais terraços.
Os terraços de base larga são essencialmente terraços de camalhão, construídos com arados, motoniveladoras ou tratores com lâminas, cujas dimensões são apresentadas a seguir:
Dimensões para Construção de Terraços de Base Larga
Largura do canal (m) | Largura do camalhão (m) | Profundidade do canal (m) | Secção mínima (m2) | Movimento de terra (m) | Autor |
3,0 – 4,0 | – | 0,5-0,6 | 0,75-1,20 | 6 – 12 | RIO GRANDE DO SUL, 1977 |
2,0-3,0 | – | 0,5-0,9 | – | 6,0 – 12,0 | AMARAL, 1978 |
Manutenção do Terraço de Base Larga
Recomenda-se que todas as operações agrícolas que envolvam o uso de maquinaria, tais como lavração, subsolagem, gradagem, semeadura, colheita e principalmente a manutenção dos terraços, sejam iniciadas pelos terraços, de modo a preservar sua estrutura e disciplinar o trabalho.
Para a manutenção dos terraços, pode-se optar por duas sistemáticas básicas no preparo do solo: iniciar a lavração em posições iniciais e finais sempre diferentes, em cada período de preparo do solo, de modo a permitir o deslocamento ou soterramento dos sulcos de lavração, mas que também pode alterar a forma dos terraços; e alterar o uso de diferentes sistemas de lavração, com formas distintas de arremates, com o objetivo de mudar a posição dos sulcos de lavra.
d) Terraço patamar
Também conhecido pelo nome de terraço tipo banqueta, constitui-se em um dos mais antigos métodos mecânicos de controle à erosão usados em países densamente povoados, onde os fatores econômicos exigiram o cultivo de áreas demasiadamente íngremes. Na verdade, o patamar não só controla a erosão, mas também facilita as operações.
É indicado para áreas com declives entre 20 e 55% e compreende um degrau ou plataforma para a implantação das culturas e um talude revestido de grama. Os patamares são construídos cortando a linha de maior declive, ficando sua superfície interna inclinada em direção à base ou pé. A largura do patamar pode variar de 1 a 3m, dependendo principalmente do declive, da profundidade do solo e da maquinaria (RIO GRANDE DO SUL/Secr. da Agric., 1985).
A inclinação do talude varia de 1:4 a 1:2, podendo ser modificada conforme o tipo de solo e da vegetação de revestimento. Para promover o escoamento da água ao longo do patamar, sugere-se uma declividade de 0,25 a 1% para o canal.
A construção do patamar é relativamente onerosa, sendo seu uso vantajoso em áreas valorizadas, ou então em locais onde a mão-de-obra é abundante ou de baixo custo. Sua utilização é econômica somente quando as terras são exploradas com culturas perenes, como frutíferas e café.
O patamar pode apresentar algumas variações de seu modelo tradicional, em função do tipo de solo, das culturas e sistemas de produção de uma determinada região. São duas as variações principais do patamar:
e) Terraço de irrigação
Difere do patamar por apresentar o degrau ou plataforma de nível limitado por um pequeno cordão de terra, onde é cultivada a cultura com irrigação por inundação.
f) Terraço embutido
O terraço embutido caracteriza-se por ser construído de modo que o canal tenha a forma triangular, ficando o talude que separa o canal do camalhão praticamente na vertical. Este tipo de terraço tem boa aceitação entre os agricultores de São Paulo, tendo em vista a sua estabilidade e a pequena área inutilizada no plantio. Normalmente é construído com motoniveladora ou trator com lâmina.
g) Terraço murundum ou leirão
São terraços que se caracterizam pela movimentação de um grande volume de terra. Em função disso, é construído somente por máquinas pesadas e tem um custo elevado em relação a outros tipos de terraços. O murundum é constituído por um camalhão alto, em média com 2 metros de altura, e um canal em forma triangular. Em função da raspagem do solo para formar o camalhão, é necessário fazer a recuperação da área raspada para que não haja redução da produtividade das culturas.
Por ocasião de períodos chuvosos mais ou menos longos, em áreas mal manejadas ou com solos de drenagem lenta, o murundum pode provocar problemas de encharcamento em áreas consideráveis, uma vez que é locado totalmente em nível. O murundum pode ser considerado uma medida de impacto para o controle da erosão que traz consigo a necessidade de adoção de outras práticas de manejo e conservação do solo que, devidamente utilizadas, podem promover, em um curto espaço de tempo, a transformação dos mesmos murunduns em terraços de base larga.
h) Terraço meia-cara invertido
Tendo como nome técnico terraço com talude posterior do dique íngreme, é um terraço que se caracteriza pelo cultivo de culturas no canal e talude anterior do camalhão, permanecendo íngreme o talude posterior. Sugere-se que este talude seja gramado para proporcionar maior estabilidade à estrutura. Este tipo de terraço proporciona um mínimo de perda de área agricultável e pode ser utilizado em áreas de declive médio (10 – 15%).
i) Cordões vegetados
São utilizados em áreas com acentuada inclinação, profundidade rasa e impossibilidade de usar motomecanização pela existência de pedras na superfície do solo. Estes cordões consistem em um pequeno terraço de base estreita, demarcado em nível ou desnível, com capim plantado sobre o camalhão, o que permite diminuir em até 80% as perdas de terra e adubo. Dentre algumas plantas utilizadas neste cordão estão a cana de açúcar e o capim elefante.
j) Patamar de pedra e patamar vegetado
O patamar de pedra ou vegetado é uma prática conservacionista que, à semelhança do terraço, baseia-se no princípio do seccionamento do comprimento da rampa com a finalidade de atenuar a velocidade e o volume do escoamento superficial. Esta prática é recomendada para áreas com declives de 26 a 35% com espaçamento entre patamares de acordo com recomendações da Tabela. Entre as principais vantagens desta prática, destacam-se: controle da erosão, facilidade para as operações de remoção de pedras, aumento da eficiência das atividades de preparo, semeadura e capina, possibilidade de adoção da tecnologia preconizada para a cultura (insumos, espaçamento, “stand”).
Espaçamento Recomendado para Locação de Patamares
Declividade (do terreno %) | Distância entre patamares | |
Textura argilosa | Textura média | |
entre 26 e 27 | 11 | 10 |
entre 28 e 29 | 10 | 9 |
entre 30 e 31 | 9 | 8 |
entre 32 e 33 | 8 | 7 |
entre 34 e 35 | 7 | 6 |
3. Locação dos Terraços
- Determinar, por meio de um nível, o ponto mais alto da área a ser terraceada (lavoura, propriedade ou da microbacia).
- Identificar a linha de maior inclinação para, a partir daí, começar a locação dos terraços.
- Caso o declive da linha de maior inclinação seja desuniforme, dividir a linha em secções uniformes de declive.
- Determinar a declividade da linha de maior inclinação com auxílio de um nível ótico, clinômetro ou pé-de-galinha.
- Sendo a linha de inclinação desuniforme, proceder à determinação da declividade da próxima secção uniforme, sempre a partir do terraço já demarcado.
- Após calculada a declividade e verificada a textura do solo, determinar o espaçamento vertical (EV) ou espaçamento horizontal (EH) a ser adotado para a demarcação do terraço.
- Como medida de segurança, locar o primeiro terraço na parte mais alta do terreno, na metade da distância recomendada pela tabela.
- Baseando-se na estaca cravada na linha de maior inclinação, locar a linha do terraço cravando estacas a cada 20 metros ou a cada três passos do pé-de-galinha.
- Em áreas pouco uniformes, a distância entre as estacas pode ser diminuída para 15 ou 10m.
- Para terraços de absorção ou em nível, todas as estacas serão travadas na mesma cota da estaca da linha de declividade.
- Para terraços de drenagem ou em desnível, as estacas serão cravadas nas cotas calculadas de acordo com o desnível desejado.
Redação Ambiente Brasil