Uma história de seu planejamento, implantação e conservação
Administrar um Parque Nacional no Brasil, hoje em dia, é uma tarefa que exige criatividade e grande conhecimento técnico. Nas Unidades de Conservação de Mata Atlântica, onde a visitação é muito grande, é fundamental que o administrador conheça técnicas de manejo de trilhas; via de regra, são estas o principal produto de lazer oferecido ao visitante, seja como fim nelas mesmas, seja como vias de acesso a cachoeiras, grutas, rotas de escalada e outras atrações similares. No geral os administradores de Parques no Brasil procuram gerir as trilhas que já existem em seus Parques há muito tempo, regulando seu acesso, minimizando a erosão e provendo sinalização interpretativa. Raros são os casos em nosso País em que o administrador age de maneira pró-ativa, planejando trilhas como objeto de manejo de uma Unidade de Conservação (UC).
No contexto de um Parque Nacional, uma trilha bem planejada é muito mais do que um equipamento de lazer. Ela é um instrumento de manejo e uma poderosa ferramenta de educação ambiental. Nesse sentido, nos anos 1999 e 2000 foram planejadas e implantadas duas trilhas de longo curso no Parque Nacional da Tijuca (PNT), no Rio de Janeiro. O objetivo dessas trilhas vai muito além do lazer: visa torná-las objetos de manejo e instrumentos de educação ambiental do Parque.
Em tese, o manejo de trilhas deve ser feito de modo a:
1) evitar que o trânsito de pessoas provoque degradação no meio ambiente;
2) proporcionar ao excursionista uma experiência agradável em comunhão com a natureza;
3) dar ao caminhante uma visão geral da UC, ao invés de concentrar a visitação em uma pequena área;
4) ser um instrumento de educação ambiental;
5) prover à UC com uma malha de caminhos bem conservados que permitam o rápido acesso a locais onde a presença institucional é importante, seja por razões ligadas a incêndios, fiscalização, erradicação de espécies exóticas ou outras;
6) onde possível, servir como “corredores verdes”, ainda que tênues, unindo porções de mata que, de outra forma, estariam isoladas .
Em 1999 havia mais de 100 trilhas individuais no PNT, todas sem sinalização ou conservação. Algumas eram centenárias estradas bem planejadas, embora muito degradadas; outras eram grosseiras picadas íngremes e fortemente erodidas. Mesmo as trilhas mais tradicionais, tais como a do “Pico da Tijuca” e a do “Bico do Papagaio”, estavam tão abandonadas que seus traçados originais (em belo ziguezague) encontravam-se obstruídos e em desuso, sendo feito o acesso por atalhos erosivos. A essas duas trilhas somavam-se diversos outros caminhos ligando o asfalto aos demais picos do Parque, bem como a suas cachoeiras, grutas e ruínas de maior interesse.
A falta total de sinalização era a maior causa da degradação existente na Floresta da Tijuca. Seu impacto negativo podia ser observado de diversas formas:
- Uma média de 100 pessoas perdidas nas matas da Tijuca a cada ano, causando pisoteio indevido em áreas sem trilhas, tanto por parte dos excursionistas extraviados quanto por parte das turmas de resgate que chegavam a reunir até 80 pessoas em cada operação de busca e salvamento.
- A criação de uma sinalização “pirata” e altamente impactante, feita por leigos. Essa sinalização se caracterizava por cortes em árvores feitos a facão e setas pintadas sem método, muitas vezes direcionando o excursionista para trechos degradados e impactantes.
- A existência de várias trilhas paralelas partindo de um mesmo ponto “A” e chegando em um mesmo ponto “B”, causando assim impacto desnecessário em mais de um trecho de mata. O caso da “Trilha do Conde”, com três variantes paralelas é representativo.
Analogamente, a falta de manutenção também era responsável por impactos negativos na mata pois acarretava:
- Formação de atalhos erosivos. Só na trilha do “Pico da Tijuca” foram fechados e recuperados mais de 70 deles.
- Formação de variantes, sempre que um obstáculo caído não era removido, causando o alargamento da trilha original.
- Erosão progressiva dos solos pela água pluvial, devido à falta de manutenção dos canais de drenagem e mecanismos de controle de água nas trilhas.
Com colaboração de Luiz Otávio Langlois, Vice-Diretor-Executivo do Parque, procedemos a um sério planejamento de recuperação da malha de trilhas existente. Mais do que isso: optamos por implementar na Floresta da Tijuca uma “Trilha Circular de Longo Curso”, com 60 km de extensão.
Nesse sentido, buscou-se planejar uma trilha que servisse como instrumento de manejo para a a Floresta da Tijuca. Para tanto, foram estudados o planejamento, implantação e manejo de trilhas de longo curso em 22 países. Também foram visitadas trilhas de longo curso nos Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Canadá e África do Sul, onde se verificou seu manejo. Os administradores das Unidades de Conservação onde tais trilhas estavam inseridas foram entrevistados.
De posse desse vasto cabedal teórico, uma equipe de técnicos capacitados foi formada. Essa equipe incluiu, inicialmente, o Pedro da Cunha e Menezes e Luiz Otávio Langlois, Diretor e Vice-Diretor do Parque, respectivamente, e Mônica Bandeira de Mello, Chefe de Gabinete. Em seguida, juntaram-se à equipe, o cartógrafo Denis Gahyva, dos quadros do Instituto Pereira Passos, e Aluísio, agente do IBAMA, treinado para ser chefe de uma turma de funcionários de campo, dedicados à faina de recuperação ambiental, manutenção, drenagem e sinalização da trilha de longo curso.
O planejamento da Trilha tomou em conta as seguintes variáveis:
A Trilha deveria ser de longo curso. A opção por uma trilha de longo curso deveu-se ao fato de o “Pico da Tijuca” e o “Bico do Papagaio” estarem, àquela época, concentrando mais de 90% da visitação às trilhas do Parque, com sérias conseqüências ambientais para ambos os trechos. Uma trilha de longo curso é, por si só, um atrativo. O excursionista sente-se tentado a completá-la, percorrendo em cada dia uma parte de seu trajeto, até tê-la completada por inteiro. Com isso, se reduz a pressão antes existente sobre as trilhas mais curtas e mais famosas do Parque, distribuindo a visitação por um maior número de trilhas, que formam os trechos componentes da trilha de longo curso. Ao final, optou-se por uma “Grande Trilha Circular do Parque Nacional da Tijuca” composta por duas trilhas circulares concêntricas: a externa, “Major Archer” (com cerca de 35 km) e a interna, “Castro Maya” (com cerca de 15 km); esta última a uma altitude inferior à primeira e desenhada de modo a incorporar em seu traçado grutas, prédios históricos, ruínas e restaurantes.
A implantação da Trilha deveria ser feita utilizando-se apenas trilhas ou picadas pré-existentes, que para tanto deveriam ser restauradas e sinalizadas. O traçado da trilha deveria ser planejado de modo a possibilitar o fechamento da maior quilometragem possível de trilhas paralelas e atalhos, proporcionando assim um ganho ambiental ao Parque Nacional da Tijuca.
Durante um ano e meio, uma equipe do Parque visitou os principais atrativos da Floresta da Tijuca, inventariado seus acessos, as trilhas que os interconectavam e a eventual duplicidade de caminhos levando a um mesmo lugar. Também foram feitas diversas consultas aos usuários tradicionais do Parque. No final, a implantação das trilhas “Major Archer” e “Castro Maya” usou apenas trilhas pré-existentes.
A trilha deveria ser dividida em seções, com saídas periódicas para o asfalto, que permitissem ao usuário percorrê-la em diversos dias.
O planejamento de uma trilha de longo curso deve dividi-la em trechos que possam ser percorridos independentemente. O objetivo é que mesmo pessoas que não tenham a disponibilidade de tempo para percorrer toda a trilha de uma vez, possam fazê-lo em dias separados, ao longo de diversos fins de semana.
Os diversos trechos não devem ser longos demais nem curtos demais, demorando cada um, preferencialmente, entre cinco e seis horas de excursão para o caminhante comum. Ademais, ao planejar os trechos, o administrador deve tentar emprestar a cada um deles uma individualidade própria que permita ao excursionista identificá-lo como trilha independente com atrativos próprios. Em outras palavras, uma trilha de longo curso deve ao mesmo tempo prover um cardápio diversificado de prazerosas caminhadas de um dia de duração, para excursionistas de todos os níveis de experiência e preparo físico, bem como uma grande trilha para os iniciados. A separação de uma trilha de longo curso em trechos também deve ter por meta a adoção, de trechos individuais, por ONGs ou empresas que se responsabilizem por sua manutenção. Por fim, dividir uma trilha de longo curso em trechos, facilita a montagem de uma rotina de fiscalização e manutenção. Na Floresta da Tijuca, a Trilha Circular foi dividida em seis trechos de aproximadamente 10 quilômetros cada um (4 trechos na Trilha Circular Externa Major Archer e 2 trechos na Trilha Circular Interna Castro Maya).
De uma forma resumida, eis o que se planejou ao implementar a Grande Trilha Circular da Floresta da Tijuca:
(A) Portão de Entrada – Estrada do Excelsior (Trilha do Estudante): O trecho inicial foi pensado para percorrer área de uso intensivo do Parque. Assim o caminhante sem experiência tem a oportunidade de familiarizar-se com a sinalização e com o conceito da trilha. Tem também tempo suficiente de caminhada em trecho de uso intensivo e de fácil locomoção e orientação. Assim, pode auto-avaliar seu preparo físico e sua habilidade antes de entrar em partes da trilha que exigem maior preparo físico e maior capacidade de orientação. Por ser o trecho inicial, foi pensado para incorporar mais de uma área com banheiros (Cascatinha, Centro de Visitantes e Meu Recanto), uma área onde há oportunidade para o visitante adquirir mantimentos e líquidos (restaurante Cascatinha) e, sobretudo, um local onde o visitante pode se informar com detalhes sobre a trilha (seu estado de conservação, seu grau de dificuldade, tempo de caminhada etc), bem como adquirir os mapas dos trechos a serem percorridos (Centro de Visitantes). Colocar o Centro de Visitantes no primeiro trecho da Trilha também objetiva expor o excursionista, logo no início da empreitada, a informações que interessam ser passadas ao visitante pela administração do Parque, por meio de, contato direto com funcionários do PNT, além de brochuras, painéis e vídeos de educação ambiental. Por fim, o primeiro trecho foi planejado para incorporar atrativos e informações educativas, entre os quais destacam-se: o complexo natural-cultural da Cascatinha, a Capela Mairinque, o Pico do Conde, a plantação de eucaliptos exóticos no topo do Anhangüera e o Mirante do Excelsior. O planejamento levou em consideração a conveniência de chegar-se ao início da Trilha utilizando-se transporte público.
(B) Estrada do Excelsior – Bom Retiro: Este é um trecho de dificuldade alta e incorpora em seu trajeto os principais picos do Parque (Andaraí Maior, Tijuca Mirim e Tijuca). O planejamento visou, sob um ponto de vista de manejo, manter aberto e bem conservado, o acesso ao Vale do Elefante. Ao fim do Trecho, no Bom Retiro, há banheiros e estacionamento para automóveis.
(C) Bom Retiro – Cova da Onça: trata-se do trecho mais difícil da Trilha Circular do PNT. Foi planejado para incorporar os Picos do Archer, Papagaio, Cocanha e Taquara e, sob um ponto de vista de manejo, manter abertos e bem conservados, os acessos ao Quitite e Sertão. Também foi planejado de modo a incorporar em seu trajeto o histórico Caminho Colonial do Sertão, que ainda tem alguns trechos em pé de moleque. No início do trecho há banheiro e local para estacionar automóveis. Ao fim do Trecho, há um restaurante (Esquilos), banheiro e local para estacionar automóveis.
(D) Cova da Onça – Restaurante Floresta: Neste ponto a Grande Trilha Circular da Tijuca foi planejada para oferecer um ponto de contato entre as trilhas Major Archer e Castro Maya. Aqui, o Caminhante interessado em percorrer toda a trilha Grande Trilha Circular da Tijuca, emenda a Trilha Circular Externa com a Interna. O planejamento para a trilha interna, leva em conta um excursionista menos acostumado a caminhar no mato e com menor preparo físico. Analogamente, há maior relevo em atrativos culturais. O trecho leva ao Açude da Solidão, à ruína da antiga fazenda de Café do Almeida, re-visita, por acesso diferente, o Centro de Visitantes, sobe à Caveira e termina no Restaurante A Floresta. No caminho, o visitante passa por áreas populadas com espécies exóticas e nativas, vê as ruínas que marcam a antiga ocupação do Parque, tem acesso ao Centro de Visitantes (é importante que tanto a Trilha Externa quanto a Interna passem pelo centro de Visitantes de modo a contemplar os excursionistas que decidam percorrer apenas uma das duas). O trecho foi pensado para incorporar banheiros em quatro locais diferentes (Esquilos, Centro de Visitantes, Sede do Parque-Barracão e Floresta). Ao fim do Trecho, há um restaurante (Floresta), banheiro e local para estacionar automóveis.
(E) Restaurante Floresta – Cova da Onça (Trilha das Grutas): Esse trecho foi planejado para incorporar em seu trajeto todas as grutas mais conhecidas do Parque. Ele começa e termina em restaurantes, permitindo a aquisição de mantimentos ao longo do caminho. Também foi pensado para incorporar banheiros em três locais diferentes (Floresta, Paulo e Virgínia e Esquilos). Foram incorporados trechos naturais e culturais. Estes últimos incluíram a Fonte Wallace, as Ruínas da Fazenda de Café Humaitá, o próprio restaurante Esquilos e a Ponte do Barcellos, entre outros. Levou-se também, em consideração os planos do Parque de instalar em A Fazenda um museu do 1o Ciclo do Café. Assim, planejou-se a trilha para passar por A Fazenda. Ao fim do Trecho, há um restaurante (Esquilos), banheiro e local para estacionar automóveis.
(F) Cova da Onça – Portão de Entrada (Trilha do Museu do Açude): Neste ponto as trilhas Major Archer e Castro Maya voltam a se encontrar. Aqui, o caminhante interessado em percorrer toda a Grande Trilha Circular da Tijuca emenda novamente a Trilha Circular Externa com a Interna. Trata-se do último trecho da Grande Trilha Circular da Tijuca. O Trecho foi planejado para incorporar atrativos naturais e culturais, incluindo o Museu do Açude e todos os seus atrativos e o magnífico Mirante da Cascatinha, onde se tem uma visão ímpar do Parque Nacional da Tijuca. O trecho foi pensado para incorporar banheiros em três locais diferentes (Esquilos, Museu do Açude e Portão do PNT). Ao fim do Trecho, há um restaurante (Na Praça Afonso Viseu), banheiro, local para estacionar automóveis e transporte público.
4) A Trilha deveria proporcionar ao excursionista uma visão geral do parque, permitindo uma compreensão do seu todo. De modo a servir como instrumento de educação ambiental é importante que uma trilha de longo curso dê ao usuário a visão do Parque como uma Unidade de Conservação, seus atrativos e seus desafios de manejo. Assim, ao tempo em que se evitou nichos de espécies endêmicas ou em perigo de extinção, planejou-se a trilha para incorporar em seu trajeto áreas invadidas por espécies exóticas, áreas de uso intensivo, áreas degradadas por queimadas, áreas modificadas por atividade antrópica, áreas de mata primária ou em avançado estágio de regeneração, áreas em que era possível a visão da ameaça ao Parque por favelas, áreas secas e áreas ricas em recursos hídricos, áreas de patrimônio cultural e arquitetônico e assim por diante. Para cada um dos seis trechos da trilha foi produzido um mapa guia bilíngüe português-inglês, com um texto histórico e de educação ambiental que era distribuído gratuitamente aos visitantes do Parque. Analogamente, em cada intercessão da trilha com o asfalto foram instalados conjuntos de placas com informações de educação ambiental. Nesse sentido, não se hesitou em incluir as trilhas do Museu do Açude no traçado da Grande Trilha Circular do Parque Nacional da Tijuca. Embora o Museu do Açude, administrativamente, não faça parte do Parque Nacional da Tijuca, sua mata é a extensão natural da Floresta da Tijuca e suas edificações estão cultural e historicamente irmanadas à Tijuca. Sua inclusão nas Trilhas Castro Maya e Major Archer visou dar ao excursionista a medida da importância de que Unidades de Conservação contíguas sejam administradas de forma coordenada, garantindo a integridade da fauna e da flora, que não conhecem as fronteiras administrativas traçadas pelo homem. Essa inclusão tem objetivos de manejo e educativo e visa a cumprir o espírito do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, que recomenda a administração de UCs contíguas como mosaicos.
5) A Sinalização da Trilha deveria ser de três tipos: (a) direcional, (c) ambiental (c) interpretativo. Em uma trilha bem pensada e bem manejada, a sinalização é fundamental. Ao contrário do que muitos leigos pensam, a função da sinalização em trilhas vai muito além do objetivo de mostrar a direção do caminho a ser percorrido. Nas Trilhas Major Archer e Castro Maya, sempre que necessário, a sinalização também foi pensada de modo a fazer com que o excursionista optasse pelo caminho mais longo e menos danoso ao meio ambiente. Isso foi feito por meio da fixação ou pintura de diversas setas que captam o olhar do caminhante atraindo sua atenção para o percurso que se quer que ele percorra, em detrimento de opção mais curta e mais degradada. O que pode parecer poluição visual, na verdade tem valor indutivo e faz com que o excursionista vá por onde o melhor manejo exige. A sinalização também é educativa, pois chama a atenção para procedimentos de risco ou danosos à natureza, tais como não se aproximar de precipícios, não jogar lixo e não trafegar em atalhos. Em um ano de projeto, mais de 400 atalhos foram fechados no Parque Nacional da Tijuca. Em muitos deles já são evidentes os sinais de rebrota da vegetação.
6) A Trilha deveria provocar o menor impacto possível, portanto, o acesso a banheiros deveria ser maximizado. O planejamento da trilhas Major Archer e Castro Maya levou em consideração a necessidade de se minimizar o impacto de eventuais dejetos humanos na Floresta da Tijuca e direcionou seus traçados de modo a passar por todos os banheiros existentes no Parque.
7) A trilha deveria contemplar diversos níveis de dificuldade, facultando assim o uso de, pelo menos, partes dela por todos os tipos de usuários. 1O planejamento das trilhas Major Archer e Castro Maya levou em consideração o fato de que, se bem manejadas pelos administradores da Tijuca, acabariam por ser vistas como fragmentos de um todo (ou seja, partes da Grande Trilha Circular do Parque Nacional da Tijuca). Assim turistas e cariocas teriam a vontade de percorrê-la pelo menos uma vez na vida, senão em sua totalidade, pelo menos um de seus trechos. Sendo assim, o planejamento da Trilha incorporou trechos com diferentes níveis de dificuldade e sinalização, variando desde trechos com o solo em estado natural até trechos pavimentados e, desde trechos com pouca ou nenhuma sinalização, até trilhas interpretativas. Dessa forma, a Trilha passa hoje por trechos fáceis de percorrer até com um carrinho de bebê ou uma cadeira de rodas, tais como o Caminho da Saudade; tem em seu trajeto, planejado e orçado um trecho para uma trilha sensorial/braile e, por outro lado, incorpora trechos mais selvagens e de grande dificuldade técnica, como é o caso da descida do Morro da Cocanha para o Platô do Céu.
8) A Trilha deveria servir como instrumento de manejo e fiscalização do Parque. O Planejamento da Trilha levou em consideração as necessidades de manejo do Parque. Assim priorizou-se incorporar, em seu traçado, trechos que dão acesso a áreas prioritárias de fiscalização, como as trilhas que levam às partes altas do Quitite, do Andaraí Menor e do Sertão. Também se levou em consideração a necessidade de manter abertas e limpas vias necessárias ao uso dos bombeiros em caso de incêndios florestais, como é o caso do caminho que leva à bifurcação dos morros Andaraí Maior e Tijuca Mirim, passagem obrigatória para o muitas vezes incendiado Morro do Elefante.
9) A Grande Trilha Circular da Tijuca deveria ser planejada de forma a poder, um dia, ser ampliada incorporando-se a uma eventual trilha de longo curso, ligando os extremos do Parque Nacional da Tijuca (Represa dos Ciganos e Cristo Redentor). O planejamento da Grande Trilha Circular da Tijuca insere-se em um plano maior que prevê a implantação de uma trilha ligando os extremos do Parque, cujo trajeto desde a Represa dos Ciganos até o Cristo Redentor (e Parque Lage) já foi estudado. Era intenção do grupo então à frente do Parque Nacional da Tijuca implementar essa trilha até fins de 2003. Tal trilha, por sua vez, foi pensada para se ligar com uma trilha maior que serviria de Corredor Ecológico entre a Pedra Branca e a Tijuca e cujos pressupostos estão explanados no Livro “Transcarioca-Todos os Passos de um Sonho”.
Considerações finais
A implantação de uma trilha de longo curso visa a proporcionar ao visitante a experiência de caminhar por uma série de trilhas interligadas que podem ser percorridas independentemente, ou em seqüência. Idealmente, seu conjunto fornecerá ao visitante uma visão completa da Unidade de Conservação em que está inserida e servirá como um instrumento de educação ambiental e de manejo. Uma trilha de longo curso deve passar por atrativos naturais e histórico-culturais, bem como por áreas degradadas e em diferentes estágios de regeneração. Seu trajeto deve ter várias saídas para o asfalto, restaurantes e estacionamentos, de modo a permitir ao visitante percorrê-la ao longo de diferentes dias.
O planejamento da Grande Trilha Circular da Tijuca aproveitou os caminhos, as atrações e a infra-estrutura previamente existentes na Floresta da Tijuca. Sua implantação foi muito bem sucedida e resultou em um aumento imediato de visitação, combinado a substancial redução da degradação ambiental, advinda das más práticas de excursionismo de alto impacto outrora em prática. Como exemplo de bons resultados podem ser citados os quase 10 km lineares de trilhas e atalhos erosivos fechados e que se encontram hoje em avançado estado de regeneração e o fato de que, há quatro anos, não há casos de excursionistas perdidos nas matas da Tijuca.
A continuidade das atividades de manutenção e de uma rotina adequada de fiscalização e monitoramento, ambas a cargo da administração do Parque Nacional da Tijuca, são a garantia de que este ganho ambiental se perpetuará por muitos anos, beneficiando tanto os visitantes quanto o próprio meio ambiente.
Pedro da Cunha e Menezes – Diretor-Executivo do Parque Nacional da Tijuca (1999 – 2000)