O pinheiro-do-Paraná fornece madeira de excelente qualidade, mas também fornece uma fonte de alimento muito importante, a sua semente, conhecida como pinhão. O pinhão, que garante a alimentação de muitas espécies animais, principalmente roedores e pássaros, também é item obrigatório no cardápio de outono e inverno em milhares de residências do Paraná. O apetite humano por esse fruto pode, inclusive, funcionar como o principal aval para a perpetuação da araucária, que, derrubada sem piedade para a extração de madeira, figura entre as espécies mais ameaçadas da flora paranaense. A questão não é meramente preservacionista, mas prioritariamente de ordem sócio-econômica.
A semente da araucária, o pinhão, é muito nutritiva. Pesquisas históricas e arqueológicas sobre as populações indígenas que viveram no planalto sul-brasileiro, de 6000 anos até os nossos dias, registram a importância do pinhão no cotidiano desses grupos. Restos de cascas de pinhões aparecem em meio aos carvões das fogueiras acesas pelos antigos habitantes das florestas de araucária. Um depósito de restos de pinhões em meio a uma espessa camada de argila evidencia não apenas a existência do pinhão na dieta diária dos grupos, mas também uma engenhosa solução para conservá-lo durante longos períodos, evitando o risco de deterioração pelas ações do clima ou do ataque de animais. Sabe-se também que o pinhão servia de alimento para inúmeras espécies animais, inclusive caititus selvagens (espécie de porco), atraindo-os durante a época de amadurecimento das pinhas. Assim, ao lado da coleta anual do pinhão, os indígenas igualmente caçavam esses animais.
Nos dias de hoje, o pinhão vem sendo produzido, comercializado e consumido em todo o Estado, mas alguns municípios são grandes centros de sua sócio-economia. As regiões típicas de produção são Guarapuava, no Centro-Oeste e União da Vitória, no Sul do estado. Seguramente, Curitiba é o ponto de maior convergência da comercialização e do consumo no Estado.
Lamentavelmente pouco se conhece sobre as implicações sociais, econômicas e ambientais da atividade de coleta e venda de pinhão no Estado do Paraná. Quase nada foi publicado sobre a cadeia produtiva do pinhão, embora seja possível encontrar esta iguaria em qualquer feira ou supermercado do Paraná e, certamente quase todo paranaense consuma uma quantidade expressiva desta durante o período de safra. Ainda, os riscos ambientais para a regeneração natural da espécie (Araucaria angustifolia), para a fauna, para a diversidade biológica e genética, entre outros, nunca foram efetivamente encarados com profundidade.
A importância sócio-econômica do pinhão para o interior do Paraná, sobretudo naquelas regiões de maior pobreza, reveste este projeto de um grande apelo, pois representa uma fatia bastante expressiva do emprego e renda, com fortes impactos na qualidade de vida de um grande contingente de pessoas, tanto na produção como na comercialização deste produto.
Além de denotar um forte apelo sócio-econômico, este estudo também pressupõe a existência de impactos ambientais igualmente relevantes. A coleta de pinhão provoca impactos ambientais, notadamente à diversidade biológica e genética, bem como a toda a cadeia alimentar no ecossistema. A magnitude destes impactos é muito pouco conhecida e merece especial atenção da comunidade científica, das autoridades ambientais e de toda a sociedade.
Redação Ambiente Brasil