Um em cada três primatas que povoam o planeta corre o risco de ser extinto em poucas décadas. É o que constata a segunda edição do relatório Os 25 Primatas mais Ameaçados do Mundo, divulgado esta semana pela organização não-governamental Conservation International (CI) e pelo Grupo de Especialistas em Primatas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). O número de espécies consideradas ameaçadas ou criticamente ameaçadas aumentou de 120 para 195, ou seja, 63% em relação à primeira versão do estudo, realizado em janeiro de 2000.
O Brasil é o terceiro da lista dos 10 países com maior número de macacos ameaçados (19 espécies), atrás da Indonésia e de Madagascar. O mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara), o macaco-prego-de-peito-amarelo (Cebus xanthosternos) e o muriqui (Brachyteles hypoxanthus) são os que têm suas populações mais afetadas, restando apenas poucas centenas de indivíduos. A Mata Atlântica é o hábitat das três espécies, algumas delas vivendo bem perto de grandes centros urbanos, como São Paulo, Belo Horizonte ou Salvador.
Vinte e três dos 25 primatas ameaçados são encontrados em hotspots. O conceito de hotspots foi desenvolvido pela CI para designar uma área que contém 1.500 espécies de plantas endêmicas e que perdeu mais de 3/4 de sua vegetação original. São 25 as regiões identificadas com hotspots. Essas regiões cobrem somente 1,4% da superfície da Terra, mas abrigam mais de 60% de toda a diversidade animal e vegetal terrestre. A Mata Atlântica assim como o Cerrado são hotspots brasileiros.
Seis hotspots são considerados prioridade máxima na sobrevivência dos primatas mais ameaçados. Conforme mostra a tabela ao lado, 137, ou 70% das espécies, vivem em 500.000 km2 de florestas tropicais.
“É importante dizer que a Lista dos 25 Primatas Mais Ameaçados é a ponta do iceberg, um documento que pede urgência nas ações de conservação”, diz Bill Konstant, pesquisador da CI e co-autor do relatório. “Qualquer mudança de condições nos países representados pode levar ao rápido desaparecimento das 195 espécies ameaçadas de extinção”.
A atividade humana é, de fato, a principal causa do declínio de nossos parentes mais próximos. O desmatamento descontrolado, por conta da agricultura ou da extração de madeira, e a captura de animais para fins de estimação, alimentação, pesquisas biomédicas, ou caça comercial são apontados como os principais fatores a serem monitorados, de acordo com o relatório.
Na condição de espécies-bandeira, os primatas são fundamentais para a saúde dos ecossistemas onde vivem. Ao dispersarem sementes de frutas e outros alimentos por eles consumidos, atuam na reprodução de uma série de plantas e animais que compõem as florestas. O declínio dos primatas está diretamente ligado à crise de extinção global.
Foram removidas algumas espécies que figuravam na Lista dos 25 Primatas Mais Ameaçados, publicada dois anos atrás. É o caso do mico-leão-dourado e do mico-leão-preto, que se beneficiaram de grandes esforços de proteção por parte do Governo Brasileiro. Ainda que essas espécies continuem sob forte ameaça, estão implementados programas de monitoramento e conservação gerenciados pelo IPÊ-Instituto de Pesquisas Ecológicas, em colaboração com o Wildlife Preservation Trust, da Filadélfia, para o mico-leão-preto; e pela Associação mico-leão-dourado (AMLD), em parceria com o National Zoological Park, e a Smithsonian Institution, para o Mico-leão-dourado.
Revista Eco 21, Ano XII, No 71, Outubro de 2002 (www.eco21.com.br).