Integração 21, construção da Agenda 21 temática

A agenda 21 é um plano de desenvolvimento sustentável a ser implementado a curto, médio e longo prazos. Foi criada na Rio 92, durante a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Seguindo as recomendações da Agenda, o programa de educação ambiental Integração 21 apresenta como foco a questão do lixo. O trabalho foi viabilizado pela parceria entre Pau-Brasil Educação e Gestão Ambiental e Petroquímica União S/A.

O objetivo principal do programa é construir um plano de ação baseado em processos de planejamento participativo, que envolva os vários segmentos da sociedade, incentivando-os a expor suas opiniões a partir de suas vivências com os problemas locais. A análise dos pontos de vista facilita a busca de soluções possibilitando atender as demandas e criando um processo fundamental de ensino e aprendizagem em torno do plano de ação. De acordo com Weid (1997), programas desta natureza precisam estar apoiados numa metodologia de planejamento que segue princípios essenciais como: participação, co-responsabilidade e compartilhamento.

Esta forma de trabalhar a educação ambiental de acordo com Sorrentino (1998) tende a:

  • Instigar o indivíduo a analisar e participar na resolução dos problemas ambientais da coletividade;
  • Estimular uma visão global (abrangente/holística) e crítica das questões ambientais;
  • Promover um enfoque interdisciplinar que resgate e construa saberes;
  • Possibilitar um conhecimento interativo através de intercâmbio / debate de pontos de vista;
  • Propiciar um auto-conhecimento que contribua para o desenvolvimento de valores (espirituais e materias), atitudes, comportamentos e habilidades.

Público

O grande desconhecimento por parte da população sobre a Agenda 21 Pelicioni & Cabral (2000); Weid (1997), foi um fator condicionante que veio a definir como público do programa duas escolas públicas estaduais de ensino fundamental e médio do município de Santo André-SP.: E.E Nelson Cardim de Brito e E.E Ivone Palma T. Rugieri. Outro fator importante para a escolha deste público se justifica pelo fato da educação exercer um papel de destaque no processo de elaboração de valores de solidariedade, cooperação, respeito, compromisso com o coletivo, participação e de responsabilidade social (Castro 1999).

Metodologia

Para se estabelecer às bases de diálogo entre os atores envolvidos no processo de desenvolvimento do Integração 21, foram seguidas as recomendações de Reigota (1998) que considera fundamental as interações comunicativas, onde para se estabelecer um objetivo comum todos são ouvidos e se posicionam de acordo para definir os seus planos de estudo e de ação.

Dentre as formas de participação citadas por Pimbert & Pretty (2000), nada menos abrangente que a participação funcional1 é suficiente para alcançar a sustentabilidade. A participação passiva, por consulta ou por incentivos materiais é menos indicada, por gerar resultados superficiais e fragmentados além de não demonstrar impacto duradouro.

No processo de trabalho do Integração 21, foi utilizado a participação interativa, na qual as pessoas participam em análises conjuntas que conduzem a planos de ação e à formação de novos grupos locais ou no fortalecimento dos existentes.

1) Na participação funcional as pessoas formam grupos para coincidir objetivos predeterminados relacionados ao projeto, o que pode envolver o desenvolvimento ou que promovam organizações sociais externamente iniciadas. Tal envolvimento não tende a acontecer nos estágios iniciais de planejamento e ciclos do projeto, e sim depois que grandes decisões foram feitas. Essas instituições tendem a ser dependentes dos incentivadores externos, mas podem tornar-se independentes.

Essa participação faz uso de um sistemático e estruturado processo de aprendizado que tende a envolver uma metodologia interdisciplinar, pois trabalha com diferentes graus de conhecimento e suas múltiplas perspectivas, assim os grupos assumem o controle sobre decisões locais e as pessoas adquirem interesse em manter as estruturas e práticas.

O trabalho começou com reuniões com as escolas e com a Diretoria de Ensino de Santo André com a finalidade de apresentar o programa e de convida-las para dele participar. Em seguida, para aquelas escolas que aderiram o programa, desenvolveu-se uma série de atividades com os professores para discutir os fundamentos da questão ambiental, a situação dos resíduos sólidos na Região Metropolitana de São Paulo – RMSP – e Agenda 21.

Após a conclusão desta etapa, começou a prática aplicada, onde, por meio de oficinas ”Ambiente Participativo” foram envolvidos todos os segmentos da escola; sendo eles: professores e coordenadores, direção e funcionários da secretaria, inspetores, merendeiras, frente de trabalho e os alunos. Para cada segmento foram utilizadas as técnicas propostas por Geilfus (1997).

Em cada escola, um desses segmentos elegeu um representante que passou a fazer parte da Comissão da Integração 21, criada com a finalidade de repassar para a escola o andamento do trabalho e discutir as ações propostas, tendo a possibilidade de modificá-las de acordo com o consenso do grupo.

Para que cada uma das escolas seguisse a mesma base de trabalho foram criados os princípios diretivos do programa.

Princípios Diretivos do Integração 21

  • Promover em todos os segmentos da escola o senso de responsabilidade individual em relação ao uso dos recursos naturais.
  • Estabelecer processos de participação para a elaboração de projetos e tomada de decisões sobre problemas ambientais locais.
  • Buscar continuamente a redução do consumo dos recursos naturais.
  • Trabalhar de maneira integrada os projetos desenvolvidos na comunidade escolar para envolver a todos os atores do processo.
  • Promover permanentes processos de sensibilização e conscientização de todos os segmentos da escola e comunidade de entorno para melhorar a saúde ambiental local. Integrar a comunidade escolar com outros segmentos da sociedade para viabilizar a troca de experiências e a implementação de ações.
  • Valorizar o conhecimento de vida das pessoas, respeitando as diferenças culturais entre indivíduos.
  • Orientar todos os segmentos da comunidade escolar sobre a administração dos resíduos sólidos e outros materiais potencialmente danosos ao meio ambiente.
  • Seguir os princípios e recomendações de ação da Agenda 21 Global, estipulados na Rio-92.

Firmado em 16/05/2002

Abertura para a sociedade

Para agregar outros segmentos da sociedade no programa, foi realizado em dezembro de 2001, o “I Seminário Integração 21”, que discutiu os temas resíduos sólidos, escola e Agenda 21. O objetivo foi de apresentar a experiência em andamento e criar um espaço para reflexões construtivas ao andamento do programa.

Funcionalidade

As atividades desenvolvidas com cada fragmento das duas Unidades de Ensino – UEs – onde o integração foi implantado distribuíram-se da seguinte forma:

  • Professores

Seminários, oficinas, reuniões e discussão de grupo.

  • Alunos

Discussão de grupo, oficinas.

  • Direção escolar e secretaria

Discussão de grupo e reuniões

  • Inspetores, merendeiras e frente de trabalho

Entrevistas e conversas informais.

Para a troca de experiências e de informações entre as escolas, realizaram-se várias reuniões. Todas foram importantes, ao passo que cada escola possui sua peculiaridade. A E.E. Nelson Cardim de Brito trabalha alunos de primeira a quarta série do ensino fundamental. A E.E. Ivone Palma T. Rugieri, com alunos de quinta a oitava série do ensino fundamental e do primeiro ao terceiro ano do ensino médio.

Para divulgar as ações do trabalho foi criado o informativo ”Integração 21”, fixado em pontos estratégicos dessas escolas este material passou a divulgar bimestralmente os avanços do programa.

Acompanhamento técnico-pedagógico

Para construir um plano de ação participativo e organizado, o acompanhamento técnico-pedagógico teve como objetivo:

  • Disponibilizar materiais didáticos e orientar a busca de conteúdos específicos para o trabalho;
  • Orientar e contribuir com o planejamento do plano de ação nas UEs;
  • Fomentar discussões inter e intra-segmentos escolares das UEs;
  • Viabilizar recursos para implementação das ações propostas no plano.

A atuação do técnico (elemento facilitador) ocorreu por meio de visitas semanais as UEs. Nelas, foram promovidas reuniões, grupos de discussão, seminários e utilizados vídeos temáticos.

Resultados

As análises por segmentos constatou que o desconhecimento a respeito da Agenda 21 era generalizada nas UEs. Isso gerou demanda de discussão e de pesquisa sobre o tema, proporcionando melhor entendimento do que seria a proposta do trabalho.

Por se tratar de uma proposta de trabalho complexa e de longo prazo, a construção do plano de ação constitui-se num resultado. Cabe ressaltar que uma análise do processo de construção coletiva do plano deve ser relevada, pois gera mudanças de valores e de posturas individuais e coletivas.

Neste contexto, é necessário relatar as tímidas, porém importantes, mudanças na rotina das pessoas envolvidas, considerando-as resultados do trabalho.

Devo ressaltar que a divisão das UEs em segmentos distintos de trabalho foi fundamental para todo o processo por dois motivos:

1) Muitos indivíduos nunca haviam sido envolvidos em projetos na EU. Para eles a oportunidade de discutir uma proposta de trabalho conjunto foi muito satisfatória, pois pela primeira vez puderam expor suas opiniões;

2) De imediato, todos se sentiram parte do projeto e se dispuseram a contribuir com o trabalho.

Ficou evidente que a relação pessoal com cada participante diretamente envolvido, estabeleceu um vínculo de cumplicidade entre o agente transformador (comunidade escolar), o trabalho e o agente facilitador, que se tornou uma referência do programa na escola. Entretanto, mesmo dentro das UEs notou-se uma diferença no grau de envolvimento e aceitação do trabalho por parte de cada um dos envolvidos.

Professores

Este grupo num primeiro momento rotulou o programa como sendo ”mais um trabalho que irá terminar no final do ano. Depois disso o pessoal – técnicos – não irão mais aparecer na escola”. Essa é uma posição que reflete o grande número de propostas de trabalho de educação ambiental inacabados ou que acontecem somente durante um ano na UE. Programas de educação ambiental a longo prazo são poucos ou quase inexistentes, este fato gerou uma certa dificuldade logo no início do programa, principalmente por se tratar da implantação estrutural, que é a elaboração do plano de ação.

As discussões que subsidiaram a construção do plano de ação se estenderam por quase um ano por envolver um grande número de pessoas e por ter um espaço de tempo para discussão muito limitado. Isso gerou desconforto, pois, a ansiedade para iniciar as ações era muito grande. Muitos professores passaram a entender a importância doplanejamento no processo educativo. Pela flexibilidade e dinamismo do plano, as discussões ocorrem até hoje.

Outro fator gerador de muitas discussões refere-se a disponibilidade de recursos para implementar as ações. Tomemos por exemplo a própria Agenda 21. Se ela encontrou entraves de implementação por atingir altas cifras orçamentárias, é natural que o Projeto Integração 21, em escala muito menor, sofresse do mesmo mal. A parceria com a iniciativa privada está sendo a alternativa mais plausível para resolver esta questão, não apenas pela disponibilidade de orçamento, mas também por demonstrar interesse para discutir a viabilidade do plano de ações.

Muitos professores, talvez por nunca terem trabalhado de forma participativa a elaboração de propostas de trabalho, vieram a entender somente algum tempo depois toda a abrangência e envolvimento do Integração 21. Apenas uma pequena parcela se mostrou muito participativa desde o princípio, e por conseqüência trouxeram muitas contribuições para o trabalho.

A participação observadora foi aos poucos cedendo espaço para a observação participante, mas os níveis ainda são insatisfatórios.

Direção escolar e funcionários da secretaria

A atuação deste segmento vem sendo fundamental tanto pela adesão ao programa que em primeira estância foi aprovado e pela cooperação e envolvimento efetivo em todo o processo de elaboração do plano.

Inspetores, merendeiras e frente de trabalho.

O envolvimento deste segmento esta sendo um grande diferencial no programa, principalmente pelo entusiasmo e disposição para contribuir com as ações propostas. A participação destes grupos na comissão demonstrou a importância da valorização do saber popular e a necessidade de espaços de discussão que ouçam todos que estejam direto ou indiretamente envolvidos em propostas de trabalho de interesse coletivo.

Alunos

A participação ocorreu com maior efetividade na comissão. Cada série possuía um representante, assim, os alunos informavam suas salas sobre o andamento do trabalho.

Algumas atividades propostas no plano estão sendo implementadas por estes alunos, que além disso, manifestaram interesse em participar nas discussões públicas do grupo de trabalho de qualidade ambiental do projeto Santo André Cidade Futuro – Agenda 21 local do município de Santo André.

A participação dos alunos será potencializada com a implementação das ações do plano conforme são iniciadas.

Site: www.paubrasil.srv.br

Email: integracao21@paubrasil.srv.br

Referências:

Cabral CFB, Pelicione MCF. Agenda 21 em casa e na escola: da teoria á prática. In: Philippi Jr, Pelicione MCF., editores. Educação Ambiental: desenvolvimento de cursos e projetos. São Paulo: USP. Facudade de Saúde Pública. NISAM: Signus Editora: 2000. p. 68-76.

Castro EM. Diálogo com a vida: uma educação consciente. In: Filho LEM., org. Meio ambiente e educação. Rio de Janeiro:Gryphus; 1999. p. 113 – 140.

Reigota M. Meio Ambiente e representação social. 3ed. São Paulo: Cortez, 1998.

Sorrentino M. De Tibilisi a Thessalonik, a educação ambiental no Brasil. In: SMA Coord. de Educação Ambiental, Jacobi P, Cascini F, Oliveira JF orgs. Educação Meio Ambiente e Ciddania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA/CEAM; 1998. p. 27-32.

PIMBERT M.P., PRETTY J.N. Parques, Comunidades e profissionais: Incluindo “Participação” no Manejo de Áreas Protegidas.In: Diegues AC, org. Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos trópicos. São Paulo: Hucitec; 2000. p. 183-224.

Weid NV. A formação de professores em educação ambiental à luz da Agenda 21. In: Pádua SM, Tabanez MF. Orgs. Educação Ambiental: caminhos trilhados no Brasil. Brasília: MMA; 1997. p. 73-87.

Site: www.paubrasil.srv.br
Email: integracao21@paubrasil.srv.br