Alegações de que alimentos que contêm ingredientes de plantas geneticamente modificadas são, por natureza, menos seguros do que suas contrapartes convencionais permanecem sem prova, segundo uma declaração pública da Royal Society, publicada no dia 8 de maio de 2003.
Em duas apresentações à GM Science Review, fórum de debates sobre OGMs patrocinado pelo governo britânico, a Royal Society salienta que o potencial de os ingredientes transgênicos reduzirem o valor nutricional dos alimentos ou de causarem reações alérgicas, em princípio, é igual ao dos ingredientes convencionais. Além disso, não existem provas concretas de que a saúde humana possa ser prejudicada pela ingestão de seqüências de DNA criadas pela modificação genética dos ingredientes dos alimentos.
O Professor Patrick Bateson, Vice-Presidente e Secretário para Assuntos de Biologia da Royal Society, disse: “Ano passado, realizamos uma importante análise das provas referentes às plantas geneticamente modificadas e da saúde humana e não tivemos nenhum indício desde então que alterasse nossas conclusões originais. Se realmente existem provas confiáveis de que os alimentos transgênicos são mais prejudiciais às pessoas do que os alimentos não-transgênicos, gostaríamos de saber o motivo pelo qual isso não foi publicado.”
E acrescentou: “Por muitos anos, foi dito ao público que a ingestão de alimentos transgênicos é, por natureza, insegura. A maioria das pessoas gostaria de saber quais provas existem para sustentar tais alegações. Examinamos os resultados da pesquisa publicada e não encontramos nenhum indicativo de que os alimentos transgênicos são, por natureza, inseguros. Se alguém tem provas conclusivas, tragam-nas à tona para que possam ser avaliadas.”
“O público tem o direito de decidir se quer comprar alimentos transgênicos e de ter acesso às informações confidenciais e àquelas que foram publicadas, com base em resultados científicos consistentes. É decepcionante ver um grupo como o Greenpeace declarar em seu website que ‘os riscos são enormes e as conseqüências potencialmente catastróficas’, sem que apresentem nenhuma razão convincente que sustente tal alegação”, disse.
De acordo com o Professor Bateson, “algumas questões importantes precisam ser solucionadas a respeito do potencial impacto, positivo ou negativo, de culturas transgênicas no meio ambiente. Mas isso deve ser abordado sem uma cortina de fumaça de alegações infundadas sobre sua ameaça à saúde humana.”
E acrescenta: “uma pesquisa pública recente mostrou que a maioria das pessoas é contra alimentos geneticamente modificados. Muitos consumidores ficaram apreensivos com alegações não comprovadas a respeito da segurança dos alimentos transgênicos. Os responsáveis pela criação dos produtos geneticamente modificados também não demonstraram de forma satisfatória aos consumidores quais benefícios são oferecidos em relação aos alimentos convencionais.”
As declarações da Royal Society também chamam a atenção para alguns pontos da regulamentação de alimentos que devem ser abordados para garantir que todos os alimentos, inclusive os que contêm ingredientes transgênicos, sejam avaliados adequadamente. Segundo o Professor Bateson, “o público espera que as regulamentações acompanhem os progressos dos novos desenvolvimentos na forma como os alimentos são produzidos, e que sejam tão eficientes para alimentos transgênicos quanto para alimentos convencionais. Entendemos que a Food Standards Agency (agência oficial britânica de regulamentação de alimentos) acolheu as recomendações feitas por nós em nosso relatório no ano passado e está tomando medidas para abordar as questões que destacamos.”
A Sociedade Real Apresenta seu Parecer à Comissão de Revisão Científica de OGMs do Governo Britânico
Plantas geneticamente modificadas para uso alimentar e saúde humana
A modificação genética das plantas suscita questões relevantes para a ciência e para o público e a Royal Society incentiva o debate, devidamente fundamentado em bases científicas idôneas, sobre os possíveis benefícios e riscos da biotecnologia. Ao longo de todo o curso de desenvolvimento desse ramo da ciência, temos fornecido pareceres para a formulação de políticas sobre plantas geneticamente modificadas e, nos últimos cinco anos, emitimos diversos relatórios sobre o assunto. Maiores detalhes e as últimas informações do trabalho da Royal Society podem ser encontrados no endereço http://www.royalsoc.ac.uk/gmplants/.
O uso de plantas geneticamente modificadas (GM) pode gerar enormes benefícios para as práticas agrícolas, para a qualidade dos alimentos e para a nutrição e saúde humanas. No relatório da Royal Society, intitulado “Plantas geneticamente modificadas para uso alimentar e saúde humana – uma atualização”, publicado em fevereiro de 2002, afirmamos não haver motivos que nos façam duvidar da segurança de alimentos contendo ingredientes GM hoje disponíveis, nem para acreditar que a modificação genética torne o alimento inerentemente menos seguro do que seu correspondente convencional.
Mais especificamente, analisamos nesse relatório os possíveis efeitos dos alimentos GM sobre a nutrição humana, as possíveis respostas alérgicas aos alimentos GM, as possíveis conseqüências que o uso de DNA viral em plantas poderia acarretar para a saúde humana e o destino do DNA da planta GM no sistema digestivo. Depois de reavaliar os dados científicos, concluímos:
• que embora uma aplicação em potencial da tecnologia GM consista em melhorar a qualidade nutricional das culturas agrícolas, é possível que essa tecnologia acabe provocando alterações maléficas imprevisíveis no status nutricional dos alimentos. Tais alterações, contudo, também podem ocorrer nos processos convencionais de melhoramento.
• não existem, até o momento, provas de que os alimentos GM causem reações alérgicas. A princípio, os riscos alergênicos representados pelas plantas GM não são maiores do que os impostos por culturas agrícolas derivadas de técnicas convencionais nem por plantas originárias de outras regiões do mundo.
• que os riscos para a saúde humana associados ao uso em plantas GM de seqüências específicas de DNA viral (caso, por exemplo, do promotor derivado do vírus vegetal do mosaico da couve-flor) são desprezíveis.
• que a longuíssima história de consumo de DNA de ampla variedade de fontes não aponta risco significativo algum para a saúde humana e que a ingestão adicional do DNA geneticamente modificado é absolutamente inócua.
A Comissão de Revisão Científica destacou ainda uma série de questões importantes para os colaboradores responderem, entre elas:
“Estão surgindo novas técnicas (a proteômica, por exemplo) capazes de detectar diferenças extremamente sutis entre as plantas transgênicas e as plantas parentais ou receptoras, que podem vir a assumir importante papel na detecção de interações nocivas não-intencionais. Resta, porém, a dúvida quanto ao modo como esses dados seriam usados numa avaliação de segurança.”
Abordamos essa questão em nosso estudo de 2002 e concluímos que, no futuro, as avaliações de segurança poderão valer-se das novas técnicas de determinação de perfil – como a tecnologia dos micro-arranjos, aplicável ao estudo detalhado da expressão do mRNA, a eletroforese quantitativa bidimensional em gel e a espectrometria de massa, para análise de proteínas, e as análises metabolômicas, permitem detectar alterações em todos os metabólitos e intermediários metabólicos. A aplicação dessas técnicas para caracterizar diferenças entre a cultura geneticamente modificadas e o devido elemento de comparação certamente contribuirão para proporcionar uma base científica rigorosa para a identificação de riscos.
Entretanto, ainda precisa ser empreendido um intenso trabalho de desenvolvimento que vise, principalmente, determinar a utilidade dessa linha de ação em face da enorme variação natural, em termos de composição, das culturas agrícolas cultivadas nos diferentes meios ambientes. São necessárias pesquisas de longo prazo para que essas técnicas possam ser aplicadas a avaliações de segurança de alimentos geneticamente modificados e convencionais, motivo pelo qual recomendamos a realização de pesquisas voltadas para o desenvolvimento dessa tecnologia, que levem a uma definição da composição “normal” das plantas convencionais. Aplaudimos as iniciativas de custeio já colocadas em prática pelo programa “Quadro V” (Framework V) da União Européia e da Agência de Padrões Alimentares (FSA), do Reino Unido e, além disso, recomendamos que o setor de biotecnologia em geral colabore com a academia e com os órgãos reguladores no sentido de desenvolver técnicas e divulgar dados de referência, de modo a garantir a melhor aplicação possível para as novas técnicas e a favorecer um consenso na interpretação de seus resultados.
Referência:
A Royal Society apresentou provas à GM Science Review:Plantas geneticamente modificadas para uso alimentar e saúde humana. O processo regulatório e a saúde humana.
Plantas geneticamente modificadas para uso alimentar e para a saúde humana – uma atualização, Sociedade Real, fevereiro de 2002
Site: http://www.royalsoc.ac.uk/templates/statements/StatementDetails.cfm?statementid=165
Para mais informações, entre em contato com:
Bob Ward ou Rebecca Wynn, Relações Públicas e Imprensa, The Royal Society, Londres.
Tel.: 020 7451 2516/2514 ou 07811-320346
E-mail: press@royalsoc.ac.uk
Professor Patrick Bateson FRS
Biólogo, Secretário e Vice-Presidente da Sociedade Real