Distribuição de Plantas Transgênicas, por Cultura
A distribuição da área global de plantas transgênicas para os quatro cultivos principais no período 1996 a 2002 está ilustrada na Figura 4. Ela demonstra claramente a predominância da soja GM, que ocupa 62% da área global de cultivos transgênicos em 2002. Toda a área com soja transgênica é tolerante a herbicida. A soja transgênica manteve em 2002 sua posição de espécie
transgênica com maior área de cultivo no mundo. Globalmente, a soja transgênica ocupou 36,5 milhões de hectares em 2002. O milho transgênico aparece em segundo lugar com 12,4 milhões de hectares, o algodão transgênico em terceiro, com 6,8 milhões de hectares e a canola com 3 milhões de hectares (Tabela 4).
Em 2002, o aumento estimado da área plantada com soja tolerante a herbicida é de 3,2 milhões de hectares, o que equivale a uma expansão de 10%. Ganhos de aproximadamente 1,2 milhão de hectares de soja transgênica foram observados nos EUA em 2002, com 75% a 79% da área total plantada com soja RR®. A Argentina informou um ganho de 1,7 milhão de hectares
de soja GM, com índices de adoção estimados em 99% entre os 12,8 milhões de hectares de soja plantados em 2002. Trata-se de um resultado espetacular, dado o estado da economia na Argentina.
Figura 4. Área Global de Lavouras Transgênicas, de 1996 a 2002: por Cultura
(Milhões de Hectares)
Tabela 4 – Área Global de Lavouras Transgênicas em 2001 e 2002: por Cultura (milhões de hectares) | ||||||
Lavoura | 2001 | % | 2002 | % | +/- | % |
Soja | 33,3 | 63 | 36,5 | 62 | +3,2 | +10 |
Milho | 9,8 | 19 | 12,4 | 21 | +2,6 | +27 |
Algodão | 6,8 | 13 | 6,8 | 12 | 0,0 | x |
Canola | 2,7 | 5 | 3,0 | 5 | +0,3 | +11 |
Abobrinha | <0,1 | <1 | <0,1 | <1 | x | x |
Mamão | <0,1 | <1 | <0,1 | <1 | x | x |
Total | 52,6 | 100 | 58,7 | 100 | +6,1 | +1 |
Fonte: Clive James, 2002
Enquanto a área com milho transgênico diminuiu em torno de 500 mil hectares em 2001, ela aumentou substancialmente em 2,6 milhões de hectares globalmente em 2002, com a maior parte do aumento ocorrendo nos EUA (Tabela 4). Aumentos em milho transgênico também foram observados para a Argentina, África do Sul e Espanha. Na África do Sul, o milho amarelo Bt empregado como ração aumentou de 160 mil hectares (14%) da área em 2001 para 175 mil hectares, equivalente a 20% do milho amarelo em 2002. O milho branco Bt, usado como alimento humano, introduzido pela primeira vez em 2001 em 6 mil hectares, equivalentes a 0,3% da área total com milho branco, aumentou dez vezes para 58 mil hectares em 2002, equivalentes a 3% da área de milho branco – 2,1 milhões de hectares.
A área plantada com algodão nos EUA sofreu retração de aproximadamente 10% em 2002, em comparação com o ano anterior, e a área com algodão GM também foi reduzida aproximadamente na mesma proporção. A redução combinada de algodão GM nos EUA e Austrália, pouco superior a 0,6 milhão de hectares, foi compensada por um aumento igual de algodão Bt na China e outros países, resultando na mesma área de algodão GM em 2001 e 2002.
A área global de canola GM em 2002 aponta crescimento estimado de 0,3 milhão de hectares, de 2,7 milhões de hectares em 2001 para os estimados 3 milhões de hectares em 2002 – aumento igualmente dividido entre o Canadá e EUA. No Canadá, 2,59 milhões de hectares, do total de 4 milhões de hectares de canola em 2002, foram cultivado com GM tolerante a herbicidas, com um adicional de 20% de canola mutagênica tolerante a herbicida, sobrando apenas 16% de canola convencional.
Distribuição de Lavouras Transgênicas, por Característica
Durante o período de sete anos, de 1996 a 2002, a tolerância a herbicida tem sido consistentemente a característica dominante, com a resistência a insetos em segundo (Figura 5). Em 2002, a tolerância a herbicida, desenvolvida em soja, milho e algodão, ocupou 75% dos 58,7 milhões de hectares (Tabela 5), com 10,1 milhões de hectares plantados com cultivos Bt, equivalentes a 17%, e genes acumulados para tolerância a herbicida e resistência a insetos, desenvolvidos tanto em algodão quanto em milho, ocupando 8% da área mundial.
Tabela 5 – Área Global de Lavouras Transgênicas em 2001 e 2002: por Caracteristica (milhões de hectares) | ||||||
Característica | 2001 | % | 2002 | % | +/- | % |
Toler. a Herbicida | 40,6 | 77 | 44,2 | 75 | +3,6 | +9 |
Resist. a Insetos (Bt) | 7,8 | 15 | 10, | 17 | +2,3 | +29 |
Bt/Toler. a Herbicida | 4,2 | 8 | 4,4 | 8 | +0,2 | +5 |
Resist. Vírus/Outros | ,0,1 | <1 | <0,1 | <1 | <0,1 | x |
Total Global | 52,6 | 100 | 58,7 | 100 | +6,1 | +12 |
Figura 5. Área Global de Lavouras Transgênicas em 2001 e 2002: por Característica
(Milhões de Hectares)
Fonte: Clive James, 2002
Merece atenção o fato de que a área de cultivo de plantas tolerantes a herbicida aumentou significativamente em 9% (3,6 milhões de hectares), enquanto que os cultivos Bt aumentaram em um índice muito maior, de 29% (2,3 milhões de hectares) entre 2001 e 2002. Esse aumento de lavouras Bt reflete o crescimento significativo da produção de milho Bt em 2002, a maior parte do qual ocorreu nos EUA, seguido de maiores níveis de infestação da broca européia do milho em 2001, comparado com 2000. No entanto, aumentos de área com milho Bt também ocorreram na Argentina e na África do Sul. O maior aumento de milho GM em 2002 foi o do gene simples Bt. Os genes agregados Bt/tolerância a herbicida, tanto em milho como algodão, com 4,4 milhões de hectares em 2002, aumentaram 0,2 milhão de hectares, o que equivale a um crescimento de 5% sobre 2001.
Lavouras Transgênicas Dominantes em 2002
A soja tolerante a herbicida continuou a ser o cultivo transgênico dominante plantado comercialmente em sete países em 2002 – EUA, Argentina, Canadá, México, Romênia, Uruguai e África do Sul (Tabela 6). Globalmente, a soja tolerante a herbicida ocupou 36,5 milhões de hectares, representando 62% da área global de cultivos transgênicos, que é de 58,7 milhões de hectares para todas as lavouras. A segunda lavoura em área de cultivo foi o milho Bt, que ocupou 7,7 milhões de hectares, equivalentes a 13% da área global de transgênicos plantada em sete países – EUA, Canadá, Argentina, África do Sul, Espanha, Honduras e Alemanha. O terceiro cultivo mais importante foi a canola tolerante a herbicida, que ocupou 3 milhões de
hectares, equivalentes a 5% da área transgênica global e plantada em dois países – Canadá e EUA. Os outros cinco cultivos listados na Tabela 6 incluem em ordem decrescente de área: milho tolerante a herbicida, em 2,5 milhões de hectares; algodão Bt, em 2,4 milhões de hectares; algodão tolerante a herbicida, em 2,2 milhões de hectares; algodão Bt/tolerante a herbicida
em 2,2 milhões de hectares; e milho Bt/tolerante a herbicida, em 2,2 milhões de hectares. Todos representam porcentual de 4% em relação à área transgênica global.
Adoção Global de Soja, Milho, Algodão e Canola Transgênicos
Uma maneira eficiente de mostrar a perspectiva global dos cultivos transgênicos é caracterizando os índices de adoção mundial dos quatro cultivos principais – soja, algodão, canola e milho – nos quais a tecnologia transgênica é utilizada (Tabela 7 e Figura 6). Os dados indicam que, em 2002, 51% dos 72 milhões de hectares de soja plantados com soja no mundo era da variedade
transgênica. Dos 34 milhões de hectares plantados com algodão transgênico no mundo, 20% – ou 6,8 milhões de hectares – foram plantados com algodão transgênico em 2002. A área plantada com canola transgênica, expressada em porcentagem, aumentou de 11% em 2001 para 12% – ou 3 milhões de hectares dos 25 milhões de hectares de canola plantados globalmente
em 2002. Similarmente, dos 140 milhões de hectares de milho plantados em 2002, 9% foram de milho GM, porcentual significativamente maior do que os 7% em 2001. Se as áreas globais (convencionais e transgênicas) dessas quatro espécies forem agregadas, a área total é de 271 milhões de hectares. Desse total, quase 22% era formada por espécies GM em 2002,
bem acima dos 19% em 2001. Vale notar que dois terços desses 271 milhões de hectares estão em países em desenvolvimento, onde a produtividade é menor, limitações são maiores e a necessidade de melhoria na produção de alimento, ração e fibras é maior do que nos países desenvolvidos.
Tabela 6 – Lavouras TransgÊnicas Dominantes, 2002 | ||
Lavoura | Milhões de Hectares | % Transênicos |
Soja tolerante a herbicida | 36,5 | 62 |
Milho Bt | 7,7 | 13 |
Canola tolerante a herbicida | 3,0 | 5 |
Milho tolerante a herbicida | 2,5 | 4 |
Algodão | 2,4 | 4 |
Algodão tolerante a herbicida | 2,2 | 4 |
Algodão Bt/tolerante a herbicida | 2,2 | 4 |
Milho Br/tolerante a herbicida | 2,2 | 4 |
Total | 58,7 | 100 |
Fonte: Clive James, 2002
Tabela 7 – Área de Lavouras Transgênicas em % da Área Global das Lavouras Principais, 2002 (Milhões de Hectares) | |||
Lavoura | Área Global | Área de Cultivo Transgênicos | Área com Transgênicos como % da Área Global |
Soja | 72 | 36,5 | 51 |
Algodão | 34 | 6,8 | 20 |
Canola | 25 | 3,0 | 12 |
Milho | 140 | 12,4 | 9 |
Total | 271 | 58,7 |
Fonte: Clive James, 2002
Figura 6. Índices (%) de Adoção Global para as Principais Lavouras Transgênicas
(Milhões de Hectares)
O Futuro
A experiência do passado é freqüentemente o melhor indicador do futuro. A experiência dos primeiros sete anos a partir de 1996, durante os quais uma área total acumulada de mais de 235 milhões de hectares de cultivos transgênicos foi plantada em 19 países, confirmam que as primeiras promessas da biotecnologia foram cumpridas. Cultivos GM trazem substanciais benefícios agronômicos, ambientais, econômicos e sociais para os agricultores e, cada vez mais, para a sociedade. Cultivos GM atingiram as expectativas de grandes e pequenos agricultores, tanto em países industrializados como em desenvolvimento.
O caso mais positivo para a biotecnologia e, mais especificamente, para cultivos GM, é sua capacidade de contribuir para:
• Aumentar a produtividade agrícola e, portanto, contribuir para a garantia mundial de alimentos, rações e fibras;
• Conservar a biodiversidade, graças a uma tecnologia que economiza área de plantio, trazendo maior produtividade;
• Uso mais eficiente de insumos externos, o que significa uma agricultura mais sustentável e menos prejudicial ao meio ambiente;
• Aumento da estabilidade da produção, reduzindo o sofrimento durante penúrias extremas devido a estresses bióticos e abióticos;
• Melhoramento dos benefícios econômicos e sociais e alívio da pobreza em países em desenvolvimento.
É imperativo que uma combinação de aplicações convencionais e biotecnológicas sejam adotadas como componente de estratégias para assegurar a produção de alimentos, rações e fibras, para que a sociedade continue a se beneficiar da contribuição vital que o melhoramento de plantas oferece. Cultivos GM oferecem as seguintes contribuições importantes:
* Aumento da produtividade agrícola e maior garantia para a produção de alimentos, rações e fibras.
Cultivos GM podem contribuir para aumentos anuais contínuos na produtividade obtida por ganhos genéticos, que podem também gerar alimentos e rações mais saudáveis e nutritivos. Em 2001, por exemplo, os oito cultivos GM nos EUA aumentaram a produtividade agrícola em 1,7 bilhão de kg. Outro destaque foi a soja tolerante a herbicida na Argentina, que produziu 10% a mais que a convencional. A adoção do algodão Bt na China aumentou a produção de algodão com
caroço em 514 mil toneladas métricas.
* Conservação da biodiversidade, pelo uso de cultivos GM como tecnologia que economiza área plantada.
A capacidade de aumento da produtividade agrícola por unidade de terra torna os cultivos GM uma tecnologia que economiza área, a qual, combinada com tecnologia convencional, aumentará a probabilidade de que a produção agrícola
possa ser confinada ao atual 1,5 bilhão de hectares de área cultivável mundial, onde a agricultura sustentável é praticada. Isto deverá ajudar a assegurar a conservação de frágeis ecossistemas e ambientes, os centros de biodiversidade e a
vida selvagem e florestas para as gerações futuras. Treze milhões de hectares de florestas, que são os céus da biodiversidade e garantem o controle das águas, são perdidos todos os anos em países em desenvolvimento, para a expansão da agricultura e da indústria.
* Uso mais eficiente dos insumos externos e um ambiente mais sustentável.
Cultivos GM permitem o uso mais eficiente de insumos externos. O uso atual de aplicações de proteção de plantas como alternativas para algumas aplicações de pesticidas convencionais, usando tolerância a herbicida e/ou genes Bt em soja,
milho, algodão e canola, resultaram em economia substancial no uso de pesticidas convencionais. Nos EUA, cultivos tolerantes a herbicida e Bt em 2001 reduziram o uso de pesticidas convencionais em 20,7 milhões de kg. de ingredientes
ativos (i.a.), com resultados positivos para o ambiente. Situação similar ocorreu na China, em 2001, onde a aplicação de inseticidas em algodão foi reduzida em 78 mil toneladas de produto formulado devido ao uso de 1,5 milhão de hectares
de algodão Bt. A economia potencial de inseticidas pela otimização do uso de algodão Bt é estimada em 33 mil toneladas métricas (i.a.) das 81 200 toneladas (i.a.) aplicadas globalmente em algodão em 2001. Aplicações da biotecnologia
ainda em desenvolvimento podem oferecer reduções significativas no uso de adubos, pelo incremento da eficiência. Isso deverá reduzir as necessidades adicionais de fertilizantes e modular o acúmulo de adubos em rios, aqüíferos e águas costeiras.
* Aumento da estabilidade da produção agrícola.
Os anais da história confirmam que faltas extremas de alimentos muitas vezes resultam de instabilidade de produtividade devido à seca, padrões de clima desfavoráveis, infestações de pragas e epidemias de doenças. A biotecnologia oferece a melhor promessa para reduzir a variabilidade da produção devido a estresses bióticos e abióticos, especialmente um atributo tão complexo como a tolerância à seca. O fenômeno da seca é uma limitação constante e que ocorre em pelo menos um terço dos 1,5 bilhões de hectares da área arável mundial.
•Benefícios econômicos e sociais e alívio da pobreza.
Os benefícios econômicos de cultivos GM são substanciais e se aplicam tanto a pequenos agricultores em países em desenvolvimento como a grandes produtores de países industrializados. Agricultores, e não os criadores da tecnologia, so os maiores beneficiados dos cultivos GM. Nos EUA, em 2001, o ganho líquido econômico dos produtores de plantas GM foi estimado em US$ 1,5 bilhão. Na China, o ganho econômico para os plantadores de algodão de parcos recursos
foi de 500 dólares por hectare, o equivalente a um benefício nacional de 750 milhões de dólares em 2001. Dos 5 milhões de agricultores de plantios GM em 2001 no mundo, mais de 75% eram pequenos e com poucos recursos, especialmente
na China, bem como vários milhares na região de Makhathini Flats, na África do Sul. Esses agricultores de poucos recursos obtiveram benefícios econômicos significativos com o algodão Bt, dando suporte ao relatório 2001 de
Desenvolvimento Humano da UNDP, cuja tese afirma que a biotecnologia pode contribuir para o alívio da pobreza. Em termos de benefícios sociais, os cultivos GM aumentam significativamente a renda e poupam tempo, o que é particularmente valoroso para pequenos agricultores em países em desenvolvimento. Na China, a maior renda permite que pobres famílias de agricultores gastem mais em alimentos e melhorem seus padrões nutricionais. Na África do Sul, onde 50% dos plantadores de algodão são mulheres, o plantio de algodão Bt permite que elas tenham mais tempo para o cuidado com as crianças, doentes e/ou gerar renda adicional em outras atividades.
As oportunidades e limitações associadas à aceitação pública de cultivos transgênicos continuam sendo desafios importantes para a comunidade global. Devido a nossa dependência diária de comida, a agricultura atinge a vida de cada indivíduo da comunidade global de maisde 6 bilhões de pessoas. Ao contrário dos países industrializados, como os EUA e países da
União Européia, com poucas exceções todos os países em desenvolvimento são em maior escala importadores de alimentos do que exportadores, e empregam altas parcelas da população na agricultura. São pequenos agricultores pobres em recursos praticando uma agricultura de subsistência ou agricultores sem-terra que são dependentes da agricultura para a sobrevivência;
70% do total de 1,3 bilhões das pessoas mais pobres do mundo vivem em áreas rurais, sendo que a maioria é de agricultores com poucos recursos. O emprego na agricultura, como percentagem de emprego total, era de 80% nos países em desenvolvimento em 1950, e as projeções indicam que o percentual deve continuar em torno de 50% em 2010, quando a população dos países em desenvolvimento deverá ser de aproximadamente 6 bilhões, o equivalente à população global atual.
Cultivos que originarão alimentos, rações e fibras melhorados por derivação de tecnologias convencionais e biotecnológicas para pequenos agricultores são vitais para o aumento da produtividade e a melhor receita para permitir o acesso aos alimentos nas áreas onde existe pobreza, fome e má nutrição. A agricultura não é somente a principal fonte de alimentos como também é o modo de vida de agricultores e trabalhadores rurais. Aumento da produtividade agrícola resulta em maior renda e oferta de empregos, funcionando como uma máquina de crescimento econômico em comunidades rurais. Maior produção de comida, ração e fibras em pequenas propriedades de subsistência, onde a maior parte da produção será
consumida, significa maior facilidade para superar limitações inevitáveis na infra-estrutura e no transporte.
A sociedade global deverá buscar soluções eqüitativas que atinjam as diferentes necessidades de pessoas e nações e respeitem as diferentes opiniões em relação aos cultivos GM. Implementar uma política eqüitativa é um desafio, em um mundo onde a globalização, uma teia de protocolos e comércio internacionais estão colidindo com a habilidade de nações soberanas no mundo em desenvolvimento de acessar e utilizar a biotecnologia e cultivos GM nas suas estratégias nacionais de produção agrícola, seja para atender às necessidades domésticas ou para exportação. Isso não implica que biotecnologia e lavouras GM sejam uma panacéia. Biotecnologia, como qualquer outra tecnologia, tem pontos fortes e fracos e requer um gerenciamento responsável e eficiente, como uma ferramenta em um leque de opções. A biotecnologia representa um elo essencial em uma corrente longa e complexa que deve existir para o desenvolvimento de cultivos mais produtivos, urgentemente necessários para pequenos agricultores em países em desenvolvimento. Isso exigirá desejo político, boa vontade e suporte sem limites dos setores público e privado dos países industrializados e dos em desenvolvimento, trabalhando em harmonia, conforme o compromisso assumido durante a recente reunião mundial sobre desenvolvimento sustentável ocorrida em Johannesburgo, em agosto de 2002.
Do ponto de vista tecnológico, o investimento anual de US$ 4,4 bilhões em pesquisa e desenvolvimento na área de biotecnologia agrícola, US$ 4,22 bilhões dos quais investidos em países industrializados, representa um investimento substancial que garantiu uma nova geração de produtos seguros e efetivos que já tiveram um impacto substancial na agricultura. Os crescentes investimentos em biotecnologia em países como a China e a Índia são iniciativas pioneiras que merecem ser observadas cuidadosamente por outras nações em desenvolvimento. Grupos de interesse especial que estão apoiando moratórias e requerendo regulamentação mais forte estão atrasando o registro de produtos, que por sua vez provavelmente atrasarão a introdução de atributos de qualidade que poderiam levar benefícios diretos aos consumidores. No entanto,
o foco atual da indústria em desenvolvimento de produtos continuará a gerar um fluxo de novos produtos, enquanto trabalha para manter investimentos de pesquisa em prazos mais longos. Alimentos nutricialmente melhorados, tal como arroz e canola com aumento de betacaroteno, e rações animais, tais como o milho com melhores teores de lisina, continuam a avançar, bem como outros incrementos nutricionais em teores de óleo, aumentos em proteína e outras propriedades nutricionais.
Novos atributos e produtos da indústria incluem o duplo gene Bt, algodão Bollgard® II, aprovado na Austrália em 2002 e que deve estar disponível nos EUA em 2003, com outro duplo gene Bt em algodão tornando-se disponível em 2004, bem como um algodão resistente a insetos com um novo gene Bt. Uma nova característica para milho do mercado norte-americano, para controle da larva alfinete em milho (praga de raiz), provavelmente estará disponível nos EUA em 2003. Durante os próximos anos, a possibilidade de controle da larva alfinete deve contribuir para um aumento significativo do milho GM nos EUA, onde aproximadamente 18% da área de milho de 31 milhões de hectares, atualmente tratada com inseticidas para a larva alfinete,
provavelmente se beneficiarão rapidamente da tecnologia. Há significativa sobreposição entre áreas infestadas com a broca européia do milho e da larva-alfinete e, portanto, alguns dos novos produtos terão mais genes acumulados para controle das duas pragas e ainda outras de interesse secundário. A área global de milho GM com resistência a insetos e tolerância a herbicida, bem como de genes agregados, deverá aumentar significativamente no curto prazo. Essa expansão de milho GM na área global de 140 milhões de hectares ocorrerá especialmente em países com mercados GM estabelecidos, como os EUA, Canadá, África do Sul e Argentina. O milho GM também será plantado em países como as Filipinas, que planejam introduzir
o milho amarelo Bt pela primeira vez em 2003, para o controle da broca asiática de milho, e Honduras, que plantou milho Bt pré-comercial em 2002.
O algodão Bt também deverá aumentar significativamente de 2003 em diante, pois grandes mercados estabelecidos em países como a China e Austrália continuam a expandir modestamente, e o novo mercado da Índia apresenta significativo crescimento. Resultados preliminares das primeiras colheitas na Índia para o Kharif 2002 sugerem que o algodão Bt está produzindo
entre 20% e 30% a mais que o convencional, com uma economia de pelo menos metade das pulverizações com inseticidas (uma economia de 3 a 6 pulverizações). Os ganhos econômicos estão de acordo com as expectativas. Um crescimento modesto em algodão Bt também é esperado em novos países como a Colômbia, que plantou algodão Bt pré-comercial em
2002. Nos próximos anos, provavelmente aparecerão novos países em desenvolvimento adotando a tecnologia.
Apesar do alto índice de adoção nos EUA e da saturação de mercado na Argentina, a área de soja tolerante a herbicida provavelmente continuará a crescer em base absoluta em ambos os países. Também é provável que haja um aumento modesto em alguns mercados novos. Se o Brasil aprovar a soja RR, isso resultaria em um significativo salto no mais novo e potencial
grande mercado para soja GM no mundo.
A canola provavelmente entrará em novos mercados, como a Austrália. O aumento da canola GM será modesto, pois a percentagem da canola GM no Canadá, que é de longe o maior mercado, atingiu patamar superior a 65% com uma área significativa (20%) em canola tolerante a herbicida, restando apenas 16% de canola convencional no Canadá.
No futuro próximo, provavelmente ocorrerá um crescimento mais equilibrado na área de cultivos GM entre países industrializados e os em desenvolvimento, com os últimos continuando a aumentar a participação mundial em comparação com os países industrializados. Países do Leste Europeu também deverão participar, reintegrando batatas GM que tiveram uma performance extremamente boa na América do Norte. Tomando todos os fatores em consideração, a previsão para o médio prazo indica crescimento continuado na área global de cultivos GM e no número de agricultores envolvidos. A proporção de pequenos agricultores plantando GM em países em desenvolvimento deverá aumentar, enquanto países como a Índia aumentam
sua área de algodão Bt e aprovam outros produtos avançados, tais como mostarda GM, já em análise. O aumento do número e da participação global de pequenos agricultores plantando e sendo beneficiados com os GM tem implicações importantes, devido aos resultados econômicos, ambientais e sociais.
Em 2000, o valor de mercado dos cultivos GM foi de US$ 3 bilhões, aumentando para US$ 3,8 em 2001, quando representou mais de 12% dos US$ 31 bilhões do mercado global em proteção de plantas e 13% do mercado mundial de sementes. Em 2002, o valor do mercado global de cultivos GM é estimado em aproximadamente US$ 4,25 bilhões. O valor de mercado mundial de cultivos transgênicos é baseado no valor de venda de sementes transgênicas mais as taxas tecnológicas aplicadas. O valor global do mercado de cultivos GM está projetado em aproximadamente US$ 5 bilhões para 2005.
Há motivos para um otimismo cauteloso que indica a expansão da área global de cultivo GM e aumento do número de agricultores envolvidos com essas culturas em 2003. Isso deve acontecer particularmente nos seis principais países produtores – EUA, Argentina, Canadá, China, África do Sul e Austrália. Entre os outros dez países que cultivam transgênicos, a Índia deverá aumentar significativamente a sua área de algodão Bt, e um ou mais países também deverão plantar cultivos GM pela primeira vez em 2003. As Filipinas aprovaram o milho Bt como seu primeiro cultivo GM comercial no início de dezembro de 2002, com os primeiros plantios esperados para o início de 2003.
Com a Índia iniciando o cultivo GM pela primeira vez em 2002, os três países mais populosos da Ásia – China, Índia e Indonésia, com 2,5 bilhões de pessoas –, estão todos agora comercializando produtos GM. Duas das três maiores economias da América Latina – Argentina e México – estão oficialmente plantando lavouras GM, além da África do Sul, no continente africano. Em 2002, foram plantadas espécies GM em 16 países com uma população total de 3,2 bilhões de habitantes, residindo em seis continentes: Ásia, África, América Latina, América do Norte, Europa e Oceania. Portanto, apesar da contínua controvérsia sobre organismos GM, a área e o número de agricultores envolvidos com essas espécies continuam a crescer a cada ano que passa desde sua introdução, em 1996. E pela primeira vez, em 2002, pouco mais da metade da população mundial vive em países onde plantas GM foram aprovadas e plantadas oficialmente.
por Clive James – Presidente do Conselho Diretor do ISAAA