Os Números Atuais da Cobertura Florestal do Paraná

Nos dias de hoje, em que se discute intensamente as questões ambientais, um dos pontos de maior interesse é, sem sombra de dúvidas, a real cobertura florestal de nosso Estado. Nunca se demonstrou tanto interesse pelos números das florestas paranaenses como na atualidade, fato que advém da valorização das mesmas no tocante à sua função ambiental, mas também porque se trata de um patrimônio ou um ativo valioso, que pode ou não (mas deve) ser utilizado de forma racional e sustentável.

Durante mais de duas décadas os números da cobertura florestal do Paraná ficaram ocultos, por falta de levantamentos e, pode-se dizer, até mesmo por descaso. As últimas informações oficiais datavam do início da década de oitenta, por ocasião da divulgação dos resultados do Inventário Floresta Nacional, levado a cabo pelo finado IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. Obviamente aqueles números não serviam mais, à medida que muita coisa aconteceu nessas duas décadas e a realidade de hoje é outra.

Levantamentos Atuiais sobre a Cobertura Florestal do Paraná

Por isso, mais do que oportunamente, levantamentos recentes foram realizados, visando apontar, de maneira fidedigna e atual, os números da cobertura florestal paranaense. Nesse contexto, três estudos, realizados de maneira independente, mas de certa forma associados, foram conduzidos. Os três levantamentos trataram em separado a Floresta Ombrófila Mista (Floresta de Araucária), a Floresta Ombrófila Densa (Floresta Atlântica) e a Floresta Estacional Semidecidual. Todos esses três estudos envolveram o uso de imagens de satélite Landsat para mapeamento dos remanescentes florestais, porém os critérios adotados em cada caso foram diferentes.

Em todos os três trabalhos houve o envolvimento dos órgãos ambientais estaduais, de consultores e especialistas contratados e a forte participação da Universidade Federal do Paraná – UFPR, através da Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná – FUPEF. Pela seriedade e pelo respaldo que essas instituições possuem, deve-se dar crédito total aos números gerados por essas instituições. Porém, cabe a ressalva que os números da cobertura florestal paranaense vêm, por vezes, sendo interpretados de maneira errônea ou sendo distorcidos para atender interesses estranhos. Por isso, esta matéria tentará dar clareza ao assunto, procurando esclarecer a realidade dos números da cobertura florestal em nosso Estado.

Os levantamentos citados foram concluídos nos últimos dois anos, sendo, portanto, bastante atuais. Apesar de serem números atuais, o Laboratório de Inventário Florestal da UFPR, vem constantemente atualizando os números, à medida que imagens de satélite novas vão sendo obtidas e novas informações vão sendo geradas. Recentemente, dois mapas florestais do Paraná unificados e atualizados foram produzidos, utilizando algumas imagens mais recentes que aquelas usadas nos três estudos previamente citados. Os dois mapas, de florestas naturais e de reflorestamentos, são ilustrados nas Figuras apresentadas a seguir.

Figura 1 – Cobertura florestal natural do Estado do Paraná (maio/2003)
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Figura 2 – Reflorestamentos do Estado do Paraná (maio/2003)
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Os mapas produzidos revelam a distribuição espacial dos maciços florestais nativos e plantados existentes no Paraná. No caso das florestas naturais, vê-se claramente uma ampla dispersão dos remanescentes florestais, mas pode-se observar certas concentrações em algumas regiões do Estado, notadamente na porção leste (Serra do Mar e Litoral), no Parque Nacional do Iguaçu (extremo oeste) e no Centro-Sul. A primeira congrega basicamente elementos Floresta Atlântica, a segunda o maior remanescente da Floresta Estacional Semidecidual, enquanto a terceira envolve os sobejos da Floresta de Araucária. Já no caso dos reflorestamentos, percebe-se uma dispersão bem menor que no caso das florestas naturais, com grande concentração na porção Centro-Nordeste do Estado.

A Figura 1 também aponta três classes distintas de florestas naturais, a saber: as em estágio inicial, médio e avançado de regeneração. Explicar com precisão essas classes não é algo fácil, mas essencial para que haja um entendimento correto e inequívoco da realidade da cobertura florestal do Paraná nos dias de hoje.

A Cobertura Florestal Natural do Paraná em Números

Como dito previamente, para que os números da cobertura florestal paranaense não venham a ser interpretados erroneamente ou distorcidos para atender interesses estranhos, é mister que se faça um esclarecimento sobre os estágios de desenvolvimento das florestas existentes no Estado.

Em primeiro lugar, vale dizer que todas as três tipologias florestais são importantes e devem ser focadas com atenção pelo poder público e por seus detentores. Essas três classes de florestas podem e devem ser consideradas literalmente como tipologias florestais, pelo fato de abrigarem essencialmente espécies arbóreas, ou seja, espécies florestais (árvores). Por conseguinte, deve tratá-las como florestas de verdade e não com outra designação que venha a ocultar seu real significado.

Dentro desse conceito, as florestas paranaenses somam hoje uma área de cerca de 3,4 milhões de hectares, o que equivale dizer que a cobertura florestal do Estado é de aproximadamente 17%. Considerando que a área florestal original do Paraná era menor, porque sempre existiram outras formações vegetais não arbóreas (campos naturais, principalmente), esse percentual eleva-se para quase 18%. Efetivamente esse percentual é muito superior ao que vem sendo divulgado, incorreta e precipitadamente, por algumas entidades. É fundamental que isso seja colocado às claras para que a discussão sobre o tema se dê dentro de critérios técnico-científicos e não calcada no sensacionalismo e no interesse, seja de que lado esteja.

Sistematicamente vem sendo difundido que não restam mais do que 0,8% de florestas no Paraná. Isso é uma mentira! Obviamente que seria desejável que o percentual de cobertura florestal no Estado fosse muito maior do que os 18% existentes. Tal aumento somente seria possível se medidas sérias de restauração ambiental fossem efetivamente adotadas e se a legislação atinente à Reserva Legal e às Áreas de Preservação Permanente fossem cumpridas por todos os proprietários de florestas. Nunca é demais reafirmar que aqueles que conservaram suas florestas não gozam de nenhum bônus por tal atitude, pelo contrário; enquanto isso, os verdadeiros culpados estão rindo à toa, mesmo que com dor na consciência.

Se a cobertura florestal representa 18% daquela originalmente existente, o que faz alguém pensar que resta apenas 0,8%? É uma mera questão de erro de aritmética. Mas isso pode ser clarificado à medida que se compreenda o significado das três classes tipológicas de florestas anunciadas em parágrafos precedentes. Agora é tempo de explicar o que significam os três estágios de regeneração de florestas.

As três classes tipológicas tiveram sua gênese na Resolução CONAMA 02/94, que tem sido empregada como documento normativo para as definições tipológicas para fins de licenciamento ambiental na chamada Mata Atlântica. Segundo aquele instrumento normativo, as classes tipológicas florestais podem ser categorizadas em três estágios de regeneração (a rigor deveriam ser chamados de estágios sucessionais), quais sejam:

As Classes Topológicas Florestais

1 – Floresta em Estágio Inicial de Regeneração: formação originada após cortes na floresta, cuja composição consiste eminentemente de espécies heliófitas pioneiras colonizadoras. Trata-se de uma formação florestal jovem, também chamada vulgarmente de capoeira ou capoeira baixa.

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2 – Floresta em Estágio Médio de Regeneração: formação que se constitui numa transição entre as florestas em Estágio Inicial e em Estágio Avançado, que possui uma mistura de floras de ambos estágios, em franco processo de substituição uma pela outra. Trata-se de uma formação florestal intermediária no curso da sucessão, já apresentando algumas características estruturais das florestas mais avançadas Chamada vulgarmente de capoeirão ou capoeira alta.

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3 – Floresta em Estágio Avançado de Regeneração: formação original e autóctone, em estágio avançado de sucessão ecológica, advinda de processo natural de regeneração, composta por espécies clímax e sucessionais longevas. Chamada vulgarmente de mata ou simplesmente floresta.

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Traduzindo em miúdos, as três classes tipológicas indicam, na prática, florestas mais ou menos desenvolvidas no curso da sucessão, uma ainda jovem e em formação, uma intermediária e em transição e outra próxima do nível máximo de desenvolvimento.

Os percentuais de ocorrência dessas três classes de florestas para o Paraná na atualidade são as seguintes: Estágio Inicial – 6,4%; Estágio Médio – 7,9%; Estágio Avançado – 2,9%. Totalizando, obtém-se pouco mais de 17% de cobertura florestal, como dito anteriormente.

Dado que as florestas em Estágio Médio e Avançado apresentam uma diversidade de espécies considerável e uma estrutura que se aproxima das florestas no maior nível hierárquico na sucessão, pode-se afirmar que 10,1% da superfície paranaense são revestidas por florestas em bom grau de conservação. Essa visão coincide com a aquela dos órgãos ambientais estaduais, haja vista que nessas duas classes tipológicas são vedadas legalmente quaisquer iniciativas de supressão da vegetação, isto é, essas são florestas que estão impedidas de serem desmatadas dada por sua expressão ecológica.

Os números da Floresta de Araucária

Os números da Floresta Ombrófila Mista mostram uma realidade semelhante, mas que denotam algumas especificidades. A área total revestida por florestas nesse ecossistema é de cercas de 2,7 milhões de hectares, o que significa aproximadamente 24% em termos relativos. Isto que dizer que cerca de ¼ da área da Floresta de Araucária remanesce nos dias de hoje. Percebe-se, por conseguinte, que tal cifra é muito superior àquelas que vêm sendo divulgadas a esmo por algumas instituições desinformadas.

Na Floresta de Araucária as classes tipológicas se configuram atualmente da seguinte forma: Estágio Inicial – 11,0%; Estágio Médio – 11,4%; Estágio Avançado – 1,3%. Portanto, cerca de 12,7% da superfície desse ecossistema referem-se a florestas relativamente bem conservadas e que estão impedidas legalmente de desmatamento devido aos seus atributos ecológicos relevantes.

Portanto, onde estão os 0,8%? Conforme foi dito em momento prévio, é apenas uma questão de má aritmética. Possivelmente, o 0,8% deve advir da expansão errônea dos 1,3% para a área total do Estado, o que não faz qualquer sentido!

Em resumo

A cobertura florestal natural do Paraná é de 18%, sendo cerca de 10% com florestas bem conservadas. Na Floresta de Araucária, especificamente, o percentual de cobertura florestal eleva-se para 24%, sendo quase 13% de florestas em bom grau de conservação. Esses são os números atuais sobre a cobertura florestal no Estado, obtidos por levantamentos realizados com fundamentação técnico-científica e desprovidos de distorções e interesses estranhos. Divulguemos a verdade!

Fonte:Universidade Federal do Paraná
Carlos R. Sanquetta
email: sanqueta@floresta.ufpr.br