Interpretação Ambiental

O termo interpretação da natureza ou interpretação ambiental refere-se a um conjunto de princípios e técnicas que visam estimular as pessoas para o entendimento do ambiente pela experiência prática direta.

A interpretação caracteriza-se pela informalidade e encantamento, pela provocação de estímulo, curiosidade e reflexão e pelo uso de interações, comparações e analogias com experiências reais, abordando temas relevantes em seus aspectos normalmente despercebidos e, ou aparentemente insignificantes.

O guia/condutor de ecoturismo é, acima de tudo, um educador. A educação para o meio ambiente, implica em um processo de sensibilização, transmissão de conhecimento e busca de um comprometimento do visitante como cidadão planetário, visando sua conscientização para modificação de comportamentos, valores e hábitos sociais.

A Educação Ambiental deve enfocar a relação entre o ser humano, a natureza e o universo de forma multi e interdisciplinar, ajudando a desenvolver uma consciência ética sobre todas as formas de vida com as quais compartilhamos este planeta.

O ecoturismo permite que a Educação Ambiental seja trabalhada de modo que o visitante tenha oportunidade de vivenciar suas próprias experiências, questionar-se sobre as coisas e buscar respostas à estas questões. Neste sentido, o guia / condutor de ecoturismo deve procurar levar o visitante a questionar-se, provocando-o e estimulando-o a reflexões e valorizando os conhecimentos prévios do visitante buscando a sua participação.

Conceitos em Interpretação Ambiental

Seu objetivo básico é revelar os significados, relações ou fenômenos naturais por intermédio de experiências práticas e meios interpretativos, ao invés da simples comunicação de dados e fatos (TILDEN, 1957).

A interpretação ambiental inclui a tradução da linguagem técnica de uma ciência natural em idéias que as pessoas em geral, que não são técnicas, possam facilmente entender. Isto implica em fazê-la de forma que possa ser entendida e interesse aos ouvintes (HAM, 1992).

Objetivos da Interpretação Ambiental

Facilita o conhecimento e a apreciação da natureza; 

Objetivando conservar seus recursos naturais, históricos e culturais; 

Visa aumentar a satisfação dos visitantes; 

Servir de ferramenta para o manejo dos visitantes; 

Estimular a participação do visitante nas questões político- ambientais. 

Acrescentar valor à experiência do visitante, elevando o seu nível de satisfação; 

Realçar a necessidade da conservação do patrimônio visitado.

A satisfação do visitante está relacionada, em grande parte, à experiência de aquisição de novos conhecimentos ou, em outras palavras, quanto mais novidades captura, maior o seu grau de contentamento. Mas para isso o visitante não espera leituras ou exposições cansativas e maçantes, diante das quais tenha que manter uma atitude passiva. Espera participar ativamente num processo real e agradável e que lhe despere o interesse, a disposição.

Por outro lado, ao aumentar o nível de conscientização sobre o patrimônio natural ou cultural, atribui-lhe um maior nível de respeito, facilitando sua conservação e contribuindo por minimizar impactos sobre bens similares em outras localidades.

Além disso, a interpretação colabora com a promoção do patrimônio junto à população e representa um mecanismo de democratização do conhecimento ambiental, muitas vezes acessível apenas a classes sociais privilegiadas de alguma maneira.

Princípios da Intepretação Ambiental

Os principais Princípios da Interpretação da Natureza, estabelecidos por Tilden em 1967, permanecem válidos até hoje:

A interpretação deve se relacionar com algo da experiência do visitante: perceber e conectar a personalidade do visitante é muito importante, lembrando que a interpretação liga o visitante ao ambiente através de seus sentidos e quanto maior o número deles em uso mais eficiente a atividade; não são abordados objetos virtuais, mas sim aqueles que possam presenciar, experienciar, sentir, tocar, etc. 

A interpretação não é informação e sim uma revelação baseada na informação: na interpretação o objeto de interesse se revela em sua forma real pela experiência e não por adjetivos e valores afirmados por terceiros. 

A interpretação é fundamentalmente uma arte de comunicação: isso significa que, embora existam pessoas com maiores ou menores facilidades para tal, ela pode ser aprendida em algum grau; ademais, significa que diferentes formas de comunicação e diferentes profissionais podem ser utilizados, com o uso, por exemplo, da arte visual. 

O objetivo fundamental da interpretação não é a instrução, mas sim a provocação, avivando a curiosidade e o interesse: espera-se que o visitante aprofunde por si mesmo a interpretação do objeto em foco, que ele questione e se sinta o conquistador de seus novos conhecimentos. 

A interpretação deve ser dirigida a audiências específicas: embora nem sempre seja possível, a interpretação mostra-se mais eficiente quando o público-alvo não se apresenta muito diverso em seus interesses e objetivos, como acontece quando a atividade se dirige a um público infantil de mesma faixa etária, por exemplo; ao mesmo tempo deve estar preparada para atender amplamente a todo público. 

A interpretação deve apresentar os fenômenos na sua totalidade: isso significa o compromisso da interpretação com a realidade, que não é fragmentada ou divisível a não ser em nossas mentes; significa assim uma abordagem holística, exbindo as relações existentes entre os diversos fenômenos naturais, históricos e culturais.

Mais recentemente, à medida que vai se desenvolvendo, a interpretação incorpora novos princípios, como:

A interpretação deve ser realizada em parceria com a comunidade local: isso revela a necessidade de respeito àqueles que grande parte das vezes mais dominam o patrimônio abordado e até mesmo se constituem em seus verdadeiros senhores. 

A interpretação não afirma verdades universais: destacando a necessidade da atividade incentivar a tolerância às diferentes formas de expressão cultural. 

Metodologia para o planejamento da Interpretação

As etapas do desenvolvimento de um plano de interpretação em Unidades de Conservação são (SHARP, 1982 e SILVA, 1996):

Determinação de objetivos; 

Promover um inventário interpretativo; 

Selecionar e desenvolver os temas a serem interpretados; 

Identificar e desenvolver as facilidades e os serviços disponíveis para se promover a interpretação; 

Identificar a demanda; 

Analisar as alternativas de u so da área; 

Desenvolver o plano e implementá-lo de forma gradual, seqüencial e contínua;

Revisar e monitorar freqüentemente.

Métodos de Interpretação Ambiental

Segundo (HAM, 1992 e SCHIAVETTI, 1999) qualquer abordagem interpretativa que objetive parecer menos técnica e diferenciada de uma simples transferência de informações deve conter as seguintes qualidades:

A interpretação deve ser amena e promover o entretenimento; 

A interpretação deve ser pertinente, ou seja, deve ter significado e ser pessoal ; 

A interpretação deve ser organizada; 

A interpretação deve ter um tema central ou um objetivo a ser alcançado; 

Incentivar a participação; 

Provocar e questionar o visitante; 

Uso do humor.

Vários são os meios de interpretação e a escolha de quais serão usados, em conjunto ou isoladamente, vai depender das características do local, das características dos visitantes e dos recursos técnicos e materiais disponíveis.

1. Publicações interpretativas: são mapas que trazem roteiros a ser seguidos e, como atividades interpretativas, não podem ser maçantes e devem despertar a curiosidade do visitante com informações especialmente escolhidas que chamem a atenção para o valor do recurso em questão e atraí-lo para uma experiência direta, evitando-se ao máximo a criação de falsas expectativas. Um folheto guia pode estar em trilhas autoguiadas, correlacionando informações textuais interpretativas com cenas ou fenômenos reais.

2. Placas e painéis interpretativos: são objetos que, sob os princípios da interpretação, auxiliam o processo de interpretação do visitante com o ambiente. As placas trazem desde uma simples sinalização de orientação para o transeunte até textos, figuras, mapas, fotografias e documentos. Devem ser atraentes, simples, geralmente com menos de cem palavras, de fácil entendimento e acessíveis às crianças e deficientes físicos. Além disso, devem ser resistentes às intempéries e ao vandalismo e não podem contribuir para a poluição visual do local ou para a obstrução visual da paisagem. Algumas vezes os sinais podem ser destacados no chão do próprio caminho, com pintura por exemplo. Os painéis podem ainda exibir imagens ou mapas em baixo relevo, miniaturas e maquetes compondo, por exemplo, cenas de épocas passadas ou diferentes ecossistemas.

3. Interpretação pessoal: neste caso, a interpretação é orientada por um guia treinado, capaz de provocar, perceber e otimizar as intenções do visitante com o ambiente, tratando-se de uma das formas mais eficientes de interpretação. Há ainda a representação teatral, onde são exibidos períodos históricos ou outros fenômenos com a participação de atores, podendo haver a inserção ativa do próprio visitante ou a exibição de trabalhos artesanais em locais estrategicamente escolhidos para acesso do visitante.

4. Trilhas ou roteiros interpretativos: uma trilha ou roteiro interpretativo é simplesmente um caminho planejado para fins de interpretação, podendo fazer uso dos diversos meios anteriores. É geralmente tratado como trilha quando se refere a caminhos já demarcados e roteiro quando não, podendo ambos ser planejados tanto para o meio natural como urbano. Não se limitam a caminhadas, podendo ser planejadas para atender também a bicicletas, cavalos ou veículos motorizados. Aqui os dois tipos serão chamados apenas de trilha.

Outras considerações sobre as técnicas de interpretação que podem ser executadas em qualquer tipo de trabalho, são (segundo silva, 1996):

A conversa deve ser orientada a não fugir do tema;

A atmosfera das apresentações deve ter um tom pessoal do guia;

O guia deve aproveitar bem o tempo disponível sem esquecer- se que o visitante merece um tempo a sós com a natureza para poder apreciá-la como bem quiser (tomar sol, beber água de minas, tomar banho de cachoeira, fotografar, relaxar etc.). Posicionar-se de forma que o máximo de visitantes possam vê-lo;

Interpretação da Natureza em Unidades de Conservação

A administração dos recursos de uma unidade de conservação exige ainda a disponibilidade de meios adequados, tais como:

a) Centro de visitantes – pequenos edifícios onde se recepciona e conduz o visitante à interpretação, por meios e equipamentos que vão desde simples painéis a apresentações audiovisuais contínuas;

b) Quiosques de informações – pequenos abrigos de onde sairão os guias interpretativos para acompanhar os grupos, respondendo às perguntas formuladas pelos visitantes e despertando-lhes o interesse pela natureza;

c) Museus pequenos ou mostruários – situados em locais regionais estratégicos, que permitam apresentar ao público aqueles objetos de difícil observação no campo, podendo estar anexados ao centro de visitantes e devendo possuir pequenos laboratórios com peças de história natural;

d) Exposições marginais – apresentando pequenos mostruários à beira dos caminhos, com peças autênticas, protegidas contra vandalismo e intempéries;

e) Trilhas interpretativas – são trilhas ou caminhos especialmente construídos, onde, em locais determinados, estabelecem-se postos numerados, com a descrição dos fenômenos locais de destaque (pode-se usar postos numerados sincronizados, com folhetos explicativos ou placas/painéis em cada posto);

f) Painéis descritivos – são painéis com letreiros protegidos que servem para mensagens curtas sobre fenômenos em observação, devendo possuir letreiros que chamem a atenção sem romper a harmonia da paisagem natural; a terminologia utilizada deve considerar as características do visitante e as dimensões das letras devem estar de acordo com a posição do observador;

g) Letreiros ou legendas – são pequenos painéis não protegidos ou placas que destacam detalhes importantes sobre os temas abordados.

Recursos Interpretativos

Os recursos necessários para um trabalho de interpretação dependem de cada caso em particular, sendo necessário um aprofundado e contínuo inventário da situação.

Os recursos existentes merecedores de interpretação são levantados e avalizados, digam respeito aos recursos naturais (fauna, flora, relevo, solos, hidrografia, clima, ecossistemas, fenômenos ecológicos, etc.) ou culturais (história, arqueologia, economia, arquitetura, artesanato, tradições, linguagem, etc.). Igualmente importante é avaliar os recursos técnicos e financeiros disponíveis para um programa de atividades interpretativas (profissionais disponíveis, orçamento governamental, patrocinadores, etc.). Também são levantados e avaliados os visitantes atuais e potenciais, definindo-se o público-alvo (escolaridade, idade, procedência, motivações, tempo disponível, etc.). A partir daí são eleitos os temas mais relevantes a serem interpretados nos diversos locais e escolhidos os diversos meios interpretativos a serem explorados.

Qualidades do Intérprete

Além das características técnicas e profissionais que se exige do guia / condutor de ecoturismo, para o melhor desenvolvimento da interpretação o intérprete deve:

Conhecer a área e seu entorno; 

Conhecer o visitante e adaptar-se ao seu perfil; 

Sabe terminar uma conversa ou palestra de maneira educada; 

Ser animado, criativo e gentil; 

Conhecer e ser seguro de si mesmo; 

Tratar todos com igualdade; 

Manter boas relações.

Avaliação da Afetividade da Interpretação

A avaliação dos resultados atingidos pela interpretação deve se dar como um processo contínuo e são diversas as formas possíveis e muitas vezes complementares. Busca-se basicamente avaliar o quanto as atividades estão contribuindo para a conservação do patrimônio socioambiental, atuando nas mudanças de comportamento dos visitantes, e qual o nível de satisfação destes com a atividade. Para isso podem ser utilizados questionários abertos ou fechados, pré e pós testes, entrevistas, depoimentos, diagnósticos participativos e análise de impactos ambientais.

Texto baseado nos seguintes autores:
Marco Aurélio Leite Fontes e Maria Rachel Vitorino (Ecoturismo – UFLA)
Miguel Serediuk Milano (Unidades de Conservação – Conceitos e princípios de planejamento e gestão)
Sérgio Salazar Salvati