Projeto Baleia Franca – 22 anos de atividades, 1982-2004
Sumário de informações
Podendo medir cerca de 18 metros de comprimento e pesar mais de 60 toneladas, as baleias francas austrais (Eubalaena australis) foram uma das espécies de baleia mais abundantes em águas brasileiras; capturadas desde o século XVII em grande número, foram porém dizimadas a ponto de estarem ainda hoje gravemente ameaçadas de extinção.
A partir da captura da última baleia franca em Santa Catarina, em 1973, a espécie mergulhou num absoluto limbo, sendo por muitos considerada extinta em águas brasileiras. Relatos de aparecimento de animais encalhados posteriores a essa data, no final da década de 70, eram considerados eventos isolados e “não confirmados” pela comunidade científica e não se reconhecia, então, que pudesse haver ainda uma população “brasileira” sobrevivente de baleias francas.
Durante o ano de 1981, um grupo de voluntários liderados pelo Vice-Almirante Ibsen Câmara, principiou a investigar relatos de pescadores e freqüentadores da costa catarinense atestando que “baleias pretas” estavam aparecendo esporadicamente no litoral Sul do Brasil. Com a continuidade das buscas, em agosto de 1982 a avistagem de uma fêmea adulta e seu filhote na praia de Ubatuba, Ilha de São Francisco do Sul, SC, e de várias outras observações posteriores de pares de mãe e filhote no mesmo ano vieram a confirmar o status do litoral catarinense como área ativa de reprodução das baleias francas no Brasil.
Ao longo dos anos seguintes, a partir de 1982, o grupo de voluntários, desenvolveu de maneira contínua o trabalho do já então denominado Projeto Baleia Franca, cujo objetivo fundamental, até hoje inalterado, é garantir a sobrevivência e a recuperação populacional da baleia franca em águas brasileiras.
O trabalho desenvolvido pelos integrantes do Projeto seguiu duas vertentes principais: a investigação científica e o monitoramento desta população sobrevivente, e a educação e conscientização públicas visando impedir o molestamento dos animais.
Em 1995, atendendo a solicitação do Projeto, o Governador de Santa Catarina declarou a espécie, através do Decreto 171/95, como Monumento Natural do Estado, passando assim a mesma a gozar de atenção especial para sua proteção. Em setembro de 2000, foi criada por Decreto Federal, com base em proposta técnica do Projeto, a Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca, abrangendo 156.100 hectares da costa centro-sul catarinense e que visa proteger as mais importantes áreas de criação dos filhotes da espécie em águas brasileiras.
O trabalho desenvolvido pelo Projeto Baleia Franca priorizou, ao longo dos últimos anos, a identificação fotográfica individual dos animais avistados em águas brasileiras. A metodologia de trabalho adotada no que se refere à pesquisa e ao monitoramento tem como fundamento buscar informações relevantes para a conservação da espécie com um mínimo de perturbação dos indivíduos, buscando não interferir em suas atividades normais. Atualmente (2004), estão em desenvolvimento atividades de pesquisa atinentes a um maior conhecimento da distribuição espacial das baleias francas na costa catarinense, seus movimentos e comportamento mãe/filhote, bem como de elucidação da identidade genética da população.
O Projeto Baleia Franca, hoje administrado pela diretoria nacional do Brasil da Coalizão Internacional da Vida Silvestre – IWC, vem ainda desenvolvendo intensa campanha no sentido de mobilizar autoridades e empresários do setor turístico para o enorme potencial que a espécie representa para o turismo ecológico no Estado de Santa Catarina. O turismo de observação de baleias, ou whalewatching, pode representar grande benefício econômico direto às comunidades litorâneas da região Sul, e para tanto o Projeto vem se esforçando na capacitação de recursos humanos capazes de prover a necessária interpretação ambiental para os turistas que acorrem à região em crescente número.
Durante a temporada 2003, o Projeto se dedicou à construção do Centro Nacional de Conservação da Baleia Franca, inaugurado a 20 de setembro passado na presença do Presidente do IBAMA, Dr. Marcus Barros, com quem o Projeto mantém um programa de estreita cooperação. É um espaço destinado prioritariamente à educação do público sobre as baleias e o ambiente marinho, bem como suas necessidades de conservação, e à centralização das atividades de pesquisa e monitoramento realizadas pelo Projeto no Brasil. Com cerca de 260 m2 de área
construída inicial, compondo-se de centro de visitantes, deck de observação, laboratório e alojamento de pesquisadores, o Centro foi erguido num terreno de 1200 m2 frente ao mar no Balneário de Itapirubá, Município de Imbituba, doado pela comunidade local.
Em paralelo ao Centro o Projeto concluiu também em 2003 o Museu da Baleia de Imbituba, único no gênero na América do Sul e estabelecido na última estação baleeira do sul do Brasil, reconstruída numa parceria entre o Projeto e a Prefeitura Municipal com apoio de empresários locais e da PETROBRAS, única apoiadora empresarial atual da IWC/BRASIL.
Para 2004, dentre outras atividades, foram efetivadas a extensão dos vôos de monitoramento das baleias para toda a costa sul e sudeste do Brasil e a instalação da bases de apoio no Rio de Janeiro, bem como o estreitamento da cooperação com o Instituto Baleia Jubarte, da Bahia, para a cobertura do litoral Nordeste do Brasil.
Atualmente o Projeto busca parceiros interessados em apoiar esta expansão de sua cobertura geográfica e a necessária campanha de mídia para a educação do público, e a construção da EcoEscola do Mar, seu auditório e centro educativo em Itapirubá, voltado para a educação e capacitação públicas em temas de conservação marinha.
São padrinhos culturais do Projeto Baleia Franca o músico e compositor Ivan Lins e a recordista brasileira de mergulho livre Karoline Meyer.
A Coordenação do Projeto é exercida pelo naturalista e escritor José Truda Palazzo Jr., um dos ambientalistas brasileiros de maior reconhecimento internacional na área da conservação marinha, e que atualmente chefia a delegação científica brasileira junto à Comissão Internacional da Baleia – CIB e atua como Vice-Comissário do Brasil nas reuniões plenárias deste organismo multilateral. Truda Palazzo coordena ainda as ações de integração regional do Projeto, que coopera com o Instituto de Conservación de Ballenas da Argentina, a Organización para la Conservación de Cetáceos do Uruguay, e o Centro de Conservación Cetácea do Chile na formulação de programas e políticas integradas.
A equipe de pesquisa do Projeto Baleia Franca, temporada 2002
Localização (área aterrada) da obra do Centro Baleia Franca – Itapirubá
Ivan Lins e Karoline Meyer dão início às obras do Centro Nacional de Conservação da Baleia Franca
Fonte das fotos: Projeto Baleia Franca
www.baleiafranca.org.br.