O Turismo associa-se a praticamente todos os usos dados às cavernas. O planejamento e o estabelecimento de rotas turísticas seguras visando a conservação do ambiente dependem de conhecimento e uso consciente deste sensível ambiente. Os riscos associados à prática da Espeleologia possuem âmbitos diversos, assim como diversas magnitudes de dificuldade e periculosidade. O Espeleoturismo, seja como atividade turística ou como pesquisa científica, carece de normas e planejamento turístico, aliada ao treinamento de guias para que se torne uma atividade relativamente segura.
Atualmente existem no mundo 800 cavernas de uso turístico que são visitadas anualmente por 30 milhões de pessoas. No Brasil o total é de 3.200 cavernas conhecidas, sendo que 100 são de uso turístico e 10% delas se localizam na Bahia. Uma das mais exploradas pelo turismo de aventura é a Gruta da Pratinha que representa um fluxo anual de 35 a 40 mil visitantes. “Há um turismo espeleológico de subsistência na Bahia, com cerca de cinco ou seis famílias explorando as cavernas”, explica o especialista que entregou aos Secretários da Cultura e Turismo, Paulo Gaudenzi, e do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Jorge Koury, um documento contendo sugestões para a exploração do potencial espeleológico do Estado.
Professor aposentado da UNIFEI (Universidade Federal de Itajubá – MG), Labegalini é um dos maiores conhecedores de turismo espeleológico do Brasil. Aproveitando a sua presença na Bahia, deu a série de palestras organizadas pela Bahiatursa para abordar as vantagens e benefícios que este tipo de turismo oferece, especialmente as potencialidades da região de Iraquara. Labegalini fez palestras para exploradores e guias de cavernas da região de Iraquara, prefeitos e vereadores, associações comerciais, donos de pousadas e hotéis, além dos representantes do Sebrae e da própria Bahiatursa.
Segundo Cláudio Pinheiro Taboada, Presidente da Bahiatursa, o espeleoturismo é um segmento em crescimento dentro do ecoturismo.
“A Bahiatursa, apostando nessa tendência mundial, busca organizar, intensificar e qualificar o turismo desenvolvendo um novo produto para turistas de todo mundo que buscam aventura e contemplação em ambientes ímpares”. De acordo com Labegalini, a Chapada Diamantina tem um potencial turístico muito grande. “Por isso se faz necessário um plano de manejo que analise, entre outros fatores, a demanda de pessoas em visitação às cavernas para não degradar o ambiente”, reforça o especialista, acrescentando que o espeleoturismo produz mudanças sócio-econômicas nas regiões que implantam esta iniciativa.
A história da Espeleologia confunde-se com a história da civilização humana, daí o aspecto antropológico e a necessidade de estabelecer, cientificamente, os aspectos da relação entre os seres humanos e as cavernas, pautado principalmente na Arte Rupestre, que, conforme Figueiredo (2011) seria sua primeira forma de expressão, registrando o ambiente externo, suas atividades, dando também os informes iniciais sobre o ambiente cavernícola.
O lema internacional da Espeleologia explicita a importância da conservação deste ambiente: “De uma caverna nada se tira a não ser fotografias, nada se mata a não ser o tempo, nada se deixa a não ser pegadas, nos lugares certos”. A partir deste conceito e, visando manter e ampliar o conhecimento sobre as cavidades naturais, a Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) elaborou um documento com regras para a realização de atividades espeleológicas no Brasil, valendo-se inclusive de um Decreto Federal que rege as expedições científicas (Decreto nº65.057/1969) que está disponível em seu site:
Os riscos do ambiente cavernícola envolvem dois aspectos: os riscos da atividade espeleológica científica ou mesmo turística monitorada e os riscos da curiosidade. No primeiro caso, os praticantes têm conhecimento da fragilidade do ambiente e estão preparados para o resgate no caso de ocorrerem eventuais acidentes; no segundo aspecto, os curiosos aventuram-se despreparados pelas cavernas e, por ignorarem os perigos, expõem-se a riscos por vezes, infelizmente, fatais. A conservação do ambiente cavernícola deve-se principalmente ao fato de que as cavernas escondem maravilhas e também riscos. As maravilhas estão relacionadas ao próprio processo geológico de formação das cavidades e abismos e à vida praticamente exclusiva contida nela, já que as espécies que vivem em seu interior variam entre aquelas que interagem com o ambiente externo, como insetos, morcegos e mamíferos de grande porte; e aquelas que apenas acidentalmente são vistas fora das cavernas, pois seu organismo especializou-se para viver com ausência de luz.
Naquelas onde as peregrinações de fiéis são periódicas, o chamado turismo religioso dificulta o processo de preservação, pois as leis protecionistas e sua efetiva conservação chegaram posteriormente ao uso comum. A gruta de Bom Jesus da Lapa, na cidade homônima no Estado da Bahia, é um bom exemplo. Dentro da caverna encontra-se instalado um templo católico com sistema de energia elétrica comum, sem qualquer preparação para a conservação dos espeleotemas, cujas peregrinações são seculares.
Praticamente toda a extensão da cavidade é destinada à contemplação religiosa. Na Gruta de Terra Ronca em São Domingos – GO, localizada no Parque Estadual de Terra Ronca (PETeR) que também é destino de fiéis e acomoda uma festa no mês de agosto há muitos anos, o uso dado a ela é menos degradante, pois a interferência tendeu a ocorrer naquelas porções que recebem luz naturalmente e restringe-se à uma pequena capela instalada em uma fratura da rocha, ao lado da boca da caverna.
Esta situação permitiu que, com a criação do parque tanto no período da festa quanto fora dele, sua visitação acontecesse acompanhada por guias turísticos treinados. Assim, acredita-se que a preservação é facilitada. Ambos os exemplos refletem situações que ocorrem em diversas localidades do Brasil e que servem como parâmetro.
Nas cavidades ou abismos que se tornaram famosos em decorrência de achados antropológicos/arqueológicos o controle da visitação turística é complicado porque a vigilância é sempre precária e assim, os restos animais ou fósseis encontrados, caso não tenham sido retirados, acabam em risco. Um exemplo é a Gruta da Lapinha, parte integrante do chamado Circuito das Grutas, localiza-se em Lagoa Santa-MG e foi uma das principais cavernas estudadas pelo paleontólogo Peter Lund. Depois de ficar fechada para reformas por um ano e meio, a Gruta da Lapinha, em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi reaberta à visitação pública em julho de 2011. De acordo com o site da Prefeitura Municipal de Lagoa Santa (2012), a caverna “…conta com condutores experientes e infraestrutura pronta para atender ao turista. A atenção com a preservação ambiental foi intensificada e novas regras de visitação foram adotadas, com o objetivo de reduzir o impacto em todo o ambiente cavernícola.”
Características importantes do turismo espeleológico sustentável
Meio abiótico – externo
Toda caverna esta inserida dentro de uma extensão de terreno cuja área esta obrigatoriamente relacionada com os recursos bióticos e abióticos, superficiais e subterrâneos deste específico ecossistema, conhecido como carste. Nenhuma caverna esta isolada. O meio abiótico em volta da ocorrência espeleológica, reuni todos os recursos essenciais para o equilíbrio do ambiente e “colabora” com a proteção da integridade física de um determinado espaço rochoso. O planejamento do turismo deve considerar tal premissa, sob o risco da multiplicação de nocivos ambientais sem proporções, uma vez que uma cavidade natural subterrânea provavelmente estará numa interconexão que permita a drenagem numa movimentação do volume de águas superficiais e de subsolo, de forma a não ser possível reverter o dano causado pela atividade turística. O planejador deve conhecer bem o funcionamento do carste, e das peculiaridades existentes visando atender as demandas ambientais existentes e que permitam o uso turístico deste tipo de ambiente.
Infraestrutura – externa
Atualmente todas as cavernas aptas para o turismo possuem um conjunto de infraestruturas, os quais servem para atender os serviços turísticos necessários. Tais infraestruturas são constituídas de rodoviária, aeroporto, estradas, energia elétrica, hotel, estacionamento, restaurante, banheiros, ambulatório, centro de visitantes, lojas de souvenires, livrarias, bilheterias, etc, todos habitualmente implantadas sobre o carste, o que é desaconselhável e inadequado.
Infraestrutura – interna
Dependendo da categoria e da modalidade do turismo, normalmente as cavernas preparadas dentro desta finalidade, são dotadas de infraestruturas internas, umas mais outras menos, mas sempre atribuídas da instalação de alguns materiais do tipo, ferro, alvenaria, madeira, acrílico, fios, lâmpadas, reatores, cabos, etc, visando preparação, aplicação e montagem do sistema de iluminação, portão, grade, passarelas, elevadores, pontes, corrimão, escadas, lixeiras e anteparos de proteção, os quais são barbaramente visíveis, chegando em muitos casos a dificultar a observação das formações espeleológicas. O extremismo de tal situação deve ser evitado a todo custo, sob o risco de ser necessário refazer uma obra qualquer de infraestrutura interna.
Diversas experiências nos têm mostrado que a melhor maneira de implantar algum tipo de infraestrutura interna como p.ex. escadas, é identificar e aproveitar os materiais existentes no local para a construção desses equipamentos, de forma que os elementos básicos estejam integrados ao meio, evitando que madeira, pedras, tijolos e outros materiais sejam agregados de fora à caverna, para novas construções de alvenaria ou similares. Além de esteticamente desagradável, torna-se mais uma razão para descaracterizar o ambiente com a obra e com o impacto diante do trânsito de pessoas, agravando ainda mais o seu aquecimento interno.
Infraestrutura interna de sinalização
A informação dentro de uma caverna visa instruir os visitantes sobre as características principais do ambiente do tipo, extensão, peculiaridades do ambiente, tipos de espeleotemas, processo de formação, ensinando e procurando sensibilizar sobre a importância e necessidade de preservação. Teoricamente esta informação visa reduzir o grau de incertezas, sobre o estado daquele meio que esta sendo visitado, que por intermédio de mensagens estampadas em placas, plantas, etc., oferecem um sentido educativo, lógico e agradável à visitação. A informação deve obrigatoriamente proporcionar segurança ao visitante, evitando que sua ausência resulte em inquietação ou maiores sobressaltos ao grupo. A linguagem de uma placa deve ser direta, objetiva, explicativa, clara, para no mínimo ser entendida por alunos de 4a série, com palavras chaves grifadas e explicadas. Seu conteúdo deve ser o mínimo possível. Implantada mais próximo ao chão, evitando seu posicionamento no sentido vertical que poderia prejudicar a visibilidade de um espeleotema, ou de uma pintura rupestre. Sua composição deve ser constituída de material para uso prolongado – tipo resistente à umidade – ex: acrílico, plástico durável, seguindo a uma padronização de símbolos, cor e textos.
Ana Huara – Ambientalista Fonte: Revista Eco 21, Ano XIV, Edição 87, Fevereiro 2004. (www.eco21.com.br);
www.revistas.ufg.br;
www.360graus.com.br