O Brasil tem 2.700 cavernas catalogadas, concentradas no Distrito Federal, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Paraná. Estima-se, porém, que isso corresponda a menos de 10% do número total de cavernas existentes no país, já que, desde 1985, cerca de 100 novas cavidades são descobertas a cada ano.
Diversas organizações não-governamentais – a maioria afiliada à Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) – suprem esta carência, como parceiras fundamentais dos órgãos de governo, seja na descoberta e estudo das cavernas, seja na formação de guias especializados para atender os visitantes e na elaboração de normas de uso adequadas a cada tipo de cavidade.
A mais alta entrada de cavernas está no Brasil, na Gruta Casa de Pedra, em São Paulo, com 215 metros de altura. Em Minas Gerais está o mais profundo abismo (caverna vertical) em quartzito do planeta, a Caverna do Centenário, com 481 metros de profundidade. O Brasil possui, ainda, a maior caverna conhecida em micaxisto, a Gruta dos Ecos, no Distrito Federal, com 1.380 metros de desenvolvimento e um magnífico lago subterrâneo que chega a atingir 300 metros de comprimento.
A presença de gigantescos salões subterrâneos, cachoeiras com mais de 20 metros de queda, lagos com mais de 120 metros de profundidade e enormes espeleotemas, como a estalactite de 28 metros da Gruta de Janelão, em Minas Gerais, considerada a maior do mundo, aliada ao grande potencial de descoberta de novas cavidades, também contribuíram para transformar o Brasil em um dos países mais procurados por expedições espeleológicas internacionais.
Para cuidar do licenciamento das cavernas e da educação ambiental de seus visitantes, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) também criou um Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas (Cecav), com nova sede, em Brasília, desde fevereiro deste ano. O Cecav vem trabalhando principalmente com a proteção das cavernas brasileiras contra a depredação, o turismo mal planejado, minerações e desmatamentos no entorno (que afetam, sobretudo, os cursos d’água, formadores das cavernas).
Como são ambientes muito específicos, com uma fauna única e condições de temperatura e umidade muito constantes, as cavernas precisam de regras especiais de uso e proteção. Problemas aparentemente menores, como o excesso de visitantes podem ser muito destrutivos, seja pelo pisoteio ou depredação de espeleotemas (formações calcárias ou cristalinas típicas) seja pelo excesso de gás carbônico, proveniente da respiração dos turistas.
O turismo em cavernas é uma opção de desenvolvimento sustentável que atrai muitas comunidades. Mas a regulamentação desse turismo ainda tem muitas arestas a serem aparadas entre espeleólogos, agentes de viagens e os diversos tipos de turistas: os aventureiros, dispostos a fazer rapel, canyoning, mergulho ou escaladas radicais; os religiosos, que realizam cerimônias dentro das cavernas e os turistas tradicionais, que muitas vezes deixam um rastro de lixo e depredações ao longo dos caminhos que percorrem.
Não existe visita a caverna, que não interfira em seu ambiente interno. Mas podem existir planos de manejo do turismo em cavernas, com as melhores alternativas para minimizar esta interferência. As soluções são diferentes para cada caverna e até para cada galeria de uma mesma caverna, por isso os planos de manejo dependem de avaliações técnicas de espeleólogos, especialistas que, no Brasil, não tem profissão regulamentada, nem formação acadêmica específica e, via de regra, trabalham voluntariamente, por amor às cavernas.
As cavernas também tem uma função ambiental, freqüentemente esquecida, que é a recarga de aqüiferos – elas são galerias cavadas pela água e de sua preservação dependem muitos mananciais. Abrigam, ainda, importantes sítios paleontológicos e arqueológicos, com pinturas rupestres, fósseis e vestígios de ocupação humana, em ótimas condições de conservação, justamente devido à estabilidade do ambiente.
O turismo afeta o ambiente das cavernas – o risco do aumento do turismo para a fauna das cavernas brasileiras vai depender da freqüência e do tipo de turismo – demarcado e não-demarcado. Em termos gerais, os principais impactos são a compactação dos solos (não permitindo que organismos que vivam no local consigam sobreviver), poluição do ar, solos e águas (incluindo eutrofização), introdução de animais e plantas (que podem competir com os presentes, ameaçando especialmente os troglóbios – animais que só vivem nas cavernas).
No Brasil existem leis para proteção do patrimônio espeleológico (geológico e biológico). Mas ainda é necessário demarcar áreas de proteção, assim como restringir a visitação a algumas cavernas, que contenham formações geológicas e animais especiais. O mais urgente, porém, é controlar essas áreas. Não adianta restringir se não existe controle.
Os primeiros planos de manejo estão saindo do papel, graças ao trabalho de espeleólogos e dos esforços do Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Cecav-Ibama). A prioridade, no momento, são as áreas com maior concentração de cavernas e mais visitação, na Bahia (Chapada Diamantina), Mato Grosso do Sul (Bonito) e Minas Gerais (circuito de cavernas em torno de Belo Horizonte). Os planos de manejo indicam como usar e como proteger as cavernas, para que a visitação seja permanente.
O turismo provoca impactos negativos nos ambientes naturais:
- descaracterização da paisagem pela construção de equipamentos cuja arquitetura, material e estilo contrastam com o meio natural
- desmatamento para a construção dos lodges e de equipamentos de apoio
- poluição sonora e ambiental provocadas pelos motores dos barcos e pelos geradores, que provêm energia elétrica para os lodges
- contaminação das fontes e mananciais de água doce e do mar, perto dos alojamentos, provocada pelo lançamento de esgoto e lixo in natura nos rios, lagos, lagoas e oceano
- coleta e destruição da vegetaçao nas margens das trilhas e nos caminhos das florestas
- erosão de encostas devido ao descuido e falta de drenagem nas trilhas
- alargamento e pisoteio da vegetação das trilhas e caminhos
- o lixo e abandono de restos de alimentos ao ar livre, que atraem insetos e provocam mau cheiro
- ruídos que assustam e provocam a fuga dos animais dos seus ninhos e refúgios; por exemplo, músicas, assobios, palmas, apitos, tiros
- os visitantes alimentam os animais mais dóceis com produtos com conservantes que, constituindo uma dieta estranha à habitual, provocam doenças e até a sua morte
- caça e pesca em épocas e locais proibidos
- incêndio nas áreas mais secas, provocados por fogueiras ou faíscas de isqueiros, fósforos, ou cigarros
- acúmulo de lixo nas margens dos caminhos e das trilhas, nas praias, montanhas, nos rios e lagos
- uso de sabonetes e de detergentes pelos turistas contaminam águas dos rios e lagos, comprometendo sua pureza e a vida dos peixes e da vegetação aquática
- coleta e quebra de corais no mar e das estalactites estalagmites das grutas e cavernas para serem utilizados como souvenirs
- alteração da temperatura das grutas e cavernas e o aparecimento de fungos nas rochas, causados pelos sistemas de iluminação
- nas cavernas não retire absolutamente nada, nem mesmo pedras soltas e não toque nos espeleotemas (estalactites e estalagmites) para não alterar sua formação e não sujá-los
- não fume no interior da caverna, pois a fumaça é prejudicial a este delicado ambiente.
- pintura e rasura nas rochas ao ar livre e dentro das grutas e cavernas, onde os turistas querem registrar a sua passagem
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