O Brasil entrou pela porta da frente na pesquisa espacial ao participar do Projeto Aqua, realizado conjuntamente com os EUA e o Japão, para coletar dados sobre o ciclo da água e monitorar a sua influência no equilíbrio dos ecossistemas terrestres.
O Satélite Aqua da NASA, levando a bordo o sensor HSB (Humidity Sounder for Brazil), de responsabilidade brasileira, foi lançado, no último dia 4 de Maio, por um foguete Delta II, da Base Vandenberg da Força Aérea Estadunidense, localizada na Califórnia, EUA.
O satélite Aqua integra o Sistema de Observação da Terra (EOS-Earth Observing System), um programa da NASA que tem como principal preocupação entender os processos de mudança global no clima, muitos deles provocados sob a interferência do homem.
Três satélites foram idealizados para este programa que reúne diversas instituições de pesquisa e agências espaciais de países da América do Sul e do Norte, Europa, Ásia e Austrália. O primeiro deles, o Terra, já se encontra em órbita desde Dezembro de 1999. O Aqua é o segundo satélite a ser lançado e o terceiro será o Aura que analisará os dados da atmosfera. O Aqua que encontra-se orbitando a 705 km de altitude efetua uma volta em torno da Terra a cada 99 minutos.
Com um custo que atingiu os 952 milhões de dólares, o Aqua é um projeto conjunto entre os Estados Unidos, o Japão e o Brasil. Os EUA forneceram o foguete e quatro dos principais instrumentos científicos. O Brasil, através do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), participa com o Sensor de Umidade e o Japão contribuiu com o medidor de microondas para estudar o vapor da água e os níveis de precipitação. As análises totais são disponibilizadas em tempo real durante as 24 horas do di
O Projeto Aqua tem como foco central o estudo multidisciplinar de processos inter-relacionados – atmosfera, oceano e superfície terrestre – e suas relações com o sistema de mudanças globais no clima. Uma grande quantidade de informações será coletada sobre o ciclo da água, incluindo a vaporização dos oceanos, vapor d’água na atmosfera, nuvens, precipitações, umidade, gelo no oceano e na superfície, e cobertura de neve na superfície e no gelo.
Também serão medidas variáveis como fluxos de energia, aerossóis, cobertura vegetal, fictoplânctons e matéria orgânica nos oceanos, ar, superfície, além da temperatura da água. Seis instrumentos estão a bordo do satélite. Um deles, o HSB, de US$ 11 milhões, sob a responsabilidade do INPE foi construído conjuntamente pela empresa inglesa Astrium e pela brasileira Equatorial Sistemas. O processo de integração e testes do sensor brasileiro ficou sob a responsabilidade do INPE.
O acordo de cooperação para desenvolver o HSB foi assinado entre a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a NASA em 1996. O interesse brasileiro pelos dados do HSB, com a obtenção de perfis de umidade, tem como perspectiva o aprimoramento das previsões do tempo e o acompanhamento de variáveis das tendências do clima. Os dados deverão ajudar ainda a compreender melhor a dinâmica da floresta amazônica, atualmente monitorada pelos pesquisadores do INPE através de imagens de satélite.
O período de vida útil do Aqua está previsto para seis anos. Durante esse tempo, Aqua observará os oceanos, a atmosfera, as terras, as extensões de gelo e os cristais de neve e a vegetação do nosso Planeta. Equipado com seis tipos de instrumentos específicos, o satélite coletará informações sobre as precipitações pluviométricas, a evaporação e os ciclos da água. Ele medirá, simultaneamente, as mudanças das correntes marítimas e a maneira em que as nuvens e os reservatórios de água afetam o clima global.
Segundo o Diretor dos Programas Científicos sobre a Terra da NASA, Ghassem Asrar, o satélite Aqua fornecerá informações inéditas sobre a influência da água – nos seus diversos estados – sobre a Terra, chegando a melhorar sensivelmente as previsões meteorológicas, entre outros temas.
Os cientistas se interessam não somente pelas relações entre a água e as mudanças climáticas, eles também querem aprofundar, particularmente, a evolução dessas relações. É evidente que, mesmo que as variações sejam mínimas, o Planeta depende numa grande medida delas; e muito mais ainda em razão de que 70% da superfície da Terra são constituídos por água.
Os cientistas reconhecem que o ciclo da água é muito pouco conhecido ainda e um dos objetivos do Projeto Aqua é exatamente esse: descobrir, por exemplo, como os pequenos cristais de gelo que flutuam na atmosfera podem alterar radicalmente o equilíbrio do clima e, com isso, a estabilidade dos ecossistemas e da vida na Terra.
Participação Brasileira
O Sensor de Umidade – HSB, de responsabilidade do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, irá compor um avançado sistema operacional de sondagem, juntamente com outros cinco instrumentos, quatro estadunidenses e um japonês.
É um sensor que opera na faixa do microondas, que inclui dois outros instrumentos estadunidenses, também a bordo do Aqua: o AIRS (Atmospheric Infrared Sounder ou Sensor Atmosférico no Infravermelho) e o AMSU-A (Advanced Microwave Sounding Unit ou Unidade Avançada de Sondagem em Microondas).
O HSB irá gerar perfis de umidade atmosférica. Os dados do HSB e do AMSU-A irão também gerar dados de calibração para o AIRS e ajudar a filtrar os efeitos das nuvens provocados nos dados obtidos por este sensor. A expectativa é de que a operação conjunta dos sensores obtenha perfis da temperatura e umidade de colunas de ar com grande precisão.
Ronaldo Mourão – Astrônomo e escritor
Fonte: Revista ECO 21