Embora os dejetos possam ser utilizados como fonte de energia e nutriente para outras espécies animais, considera-se mais adequado utilizá-los como fertilizante, pois melhoram as condições físicas, químicas e biológicas do solo, além de fornecer nutrientes essenciais às plantas. Seu emprego deve ser planejado em função das características do solo, exigências das culturas, declividade, taxa e época de aplicação, formas e equipamentos de aplicação.
Os produtores, de uma forma geral, preferem os “adubos químicos”, face a menor necessidade de investimentos e maior facilidade de manejo quando comparado ao orgânico. Além disso, no caso dos dejetos, o grande volume produzido na granja, o relevo acidentado e a reduzida área para lavouras, dificultam o seu aproveitamento como adubo. Por outro lado, os investimentos para viabilizar a sua utilização, a exemplo de tratores e tanques distribuidores, geralmente estão muito acima da capacidade de endividamento dos pequenos e médios criadores, levando-os ao despejo contínuo na natureza. O lançamento indiscriminado de dejetos não tratados em rios, lagos e no solo, no entanto, podem provocar doenças (verminoses, alergias, hepatites, hipertensão, câncer de estômago e esôfago). Além disso trazem desconforto à população (proliferação de moscas, borrachudos, mau cheiro) e, ainda, a degradação do meio ambiente (morte de peixes e animais, toxicidade em plantas e eutrofização dos recursos de água). Constitui-se, dessa forma, um risco para a sustentabilidade e expansão da suinocultura como atividade econômica.
A utilização de dejetos suínos na alimentação animal é uma questão bastante complexa e demanda maiores conhecimentos para uma discussão mais aprofundada. Entretanto, essa prática vem acontecendo e algumas considerações são pertinentes.
Há referências na literatura internacional, publicadas na década de 70, apresentando desempenhos satisfatórios de suínos alimentados com dejetos da mesma espécie. Entretanto, quando se avaliou, nas condições brasileiras, o valor nutricional de dejetos de suínos processados de diferentes formas, verificou-se que o conteúdo energético e o coeficiente de digestibilidade da matéria seca desses resíduos são muito baixos, inviabilizando um possível uso em rações de suínos. Se dejetos de suínos viessem a ser utilizados na alimentação de outros suínos, mesmo sem considerar as implicações com a saúde humana, haveria sempre o risco de contaminação e disseminação de doenças entre os animais, independente da utilização de dejetos da própria granja ou não.
Com relação aos ruminantes, foram verificados bons desempenhos de bovinos de corte alimentados com dejetos de suínos. Esses resultados são decorrência da capacidade de digestão microbiana dos ruminantes, que os capacita a aproveitar alimentos considerados de baixa qualidade nutricional para os monogástricos. Contudo, não foram realizados estudos sobre a qualidade da carne e das vísceras desses animais do ponto de vista de saúde pública, qualidade nutricional e palatabilidade, o que desautoriza o emprego de dejetos na alimentação animal nos dias de hoje. Mesmo que a questão da qualidade da carne seja contornada, haverá também, indubitavelmente, questionamentos quanto à aceitabilidade de carne desses animais por parte do público consumidor, o que por si só poderá definir o uso ou não dessa prática. Uma preocupação importante é com relação a utilização desses dejetos na alimentação de vacas de leite.
Sabendo-se que a secreção de leite funciona também como veículo excretor de nutrientes, elementos e metabólitos encontrados na dieta, há poucas possibilidades de que o leite desses animais atenda os níveis de qualidade requeridos para o consumo humano. Sem dúvida há necessidade emergente de estudos que esclareçam essas questões e que subsidiem uma ampla discussão do assunto, para que se possa decidir sobre a recomendação técnica dessa prática.
Fontes: SETI – Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
Eng. Agr., D. Sc. Carlos Cláudio Perdomo, Embrapa Suínos e Aves
Eng. Agr., Ph. D. Gustavo J.M.M. de Lima, Embrapa Suínos e Aves
Jornalista Tânia Maria Giacomelli Scolari, Embrapa Suínos e