Tratamento dos Dejetos de Suinocultura

É desejável que todo suinocultor tenha um programa racional de controle dos dejetos, visando a sua correta utilização, evitando problemas de poluição. O programa deve atender às exigências e as características específicas de cada criador. Deve-se levar em conta, no planejamento, cinco etapas quais sejam: a produção; coleta; armazenagem; tratamento; distribuição e utilização dos dejetos na forma sólida, pastosa ou líquida. O conhecimento de cada etapa é fundamental para o sucesso e a sustentabilidade do sistema.

a) Produção

O primeiro passo é determinar o volume e o grau de diluição dos dejetos, pois diferentes consistências exigem técnicas específicas de manejo, tratamento e de distribuição. Uma caracterização completa inclui a determinação do tipo de dejeto, volume e consistência, local de produção e tempo de operação. Essa fase é fundamental para o dimensionamento correto das demais etapas do sistema.

O volume pode ser determinado em função do tamanho do rebanho e das práticas de manejo ou pela observação na própria granja, enquanto a consistência é dada pela quantidade de matéria sólida (MS) dos dejetos. Os desperdícios de bebedouros e a quantidade de água para a limpeza de baías e animais têm enorme influência sobre o volume e a consistência dos dejetos.

b) Coleta

Consiste em coletar os dejetos produzidos nas diferentes fontes e conduzí-los através de uma rede de ductos ou calhas para um local de captação central, visando facilitar o fluxo operacional (manejo e distribuição), reduzir os custos e a necessidade de equipamentos, uniformizar a consistência e equalizar a vazão horária dos dejetos. É importante evitar a entrada de água da chuva no sistema.

A capacidade do tanque de captação deve ser suficiente para armazenar o volume máximo de dejetos produzidos num dia. A presença de registros para o controle da vazão horária de descarga é necessária.

c) Armazenagem

Convém lembrar que a armazenagem é temporária e visa facilitar o uso dos dejetos em lavouras, pastagens e outros na época adequada, sendo preciso estabelecer um plano de utilização, determinar o período e local de estocagem; o fluxo de operação; o impacto da estocagem sobre a consistência e as características dos dejetos. Não se deve armazenar dejetos para uso agrícola além do limite máximo de adubação que a propriedade pode suportar. O excedente deve ser tratado adequadamente.

d) Tratamento

Esta fase se destina a reduzir o potencial poluente dos dejetos. Um pré tratamento, com uso de separadores de fase (decantador), além de valorizar os dejetos para a adubação, reduz os custos de tratamento, armazenamento e distribuição. A combinação do decantador com lagoas naturais ligadas em série, permite a remoção de 98% da carga orgânica poluente e 99,9 % dos coliformes fecais. O decantador deve ser dimensionado pela vazão de dejetos hora da granja, mas o número, tipo e tamanho das lagoas, devem ser calculados pelo volume diário e carga orgânica (kg de DBO5/dia).

  • Separador de fases

A escolha de um decantador de palhetas para realizar a separação das fases sólida e líquida dos dejetos deve-se a sua boa eficiência, baixo custo e fácil operacionalidade. Sua função é importante, não só para redução do volume, remoção da carga orgânica e de nutrientes, diminuição do mau cheiro mas, também, para evitar o assoreamento das lagoas.

A parte sólida (lodo) representa mais ou menos 15% do volume total de dejetos e será destinada ao uso como fertilizante. O decantador retira dos dejetos brutos cerca 48% dos sólidos totais, 40% da carga orgânica, 16% do nitrogênio e 39% do fósforo total, mantendo a mesma concentração de potássio e uma eficiência de remoção de coliformes fecais de 27%. O volume de lodo produzido é cerca de 0,45 m3/dia. Isso significa que a carga orgânica e de nutrientes que sai do decantador ainda continua elevada (8.029 mg/l de DBO5, 10.006 mg/l de sólidos totais, 1.954 mg/l de nitrogênio e 402 mg/l de fósforo total) e precisa de tratamento.

A concentração média de NPK por m3 de lodo é de 4,98 Kg de fósforo, 1,1 de potássio e 3,2 de nitrogênio, ou seja, 9,2 Kg de N-P2O5-K2O por m3 de lodo. Isso representa um aumento de concentração de nutrientes 30% superior ao dos dejetos brutos.

  • Lagoas anaeróbias

A principal função das lagoas anaeróbias é reduzir a carga orgânica e facilitar os tratamentos subseqüentes. Sua vantagem é a de exigir menor área superficial, mas exige uma profundidade adequada para obter boa eficiência.

Lagoa anaeróbia 1: com base na vazão diária dejetos e num tempo de detenção hidráulico de 35 dias, estimou-se ser necessário uma lagoa com volume de 106 m3. A lagoa anaeróbia 1 remove dos dejetos oriundos do decantador, cerca de 51% dos sólidos totais, 80% da carga orgânica, 28% do nitrogênio e 70% do fósforo total e 97,7% de coliformes fecais. A carga orgânica e de nutrientes que sai da lagoa, ainda que atenda às exigências da legislação ambiental, continua elevada (1.541 mg/l de DBO5, 4.888 mg/l de sólidos totais, 1.411 mg/l de nitrogênio e 120 mg/l de fósforo total) e precisa de tratamento. Sugere-se uma segunda lagoa anaeróbia, uma vez que a carga orgânica ainda é elevada.

A eficiência combinada do decantador e da primeira lagoa anaeróbia é de remoção de 75% dos sólidos totais, 89% da matéria orgânica (MO), 40% de nitrogênio e 82% do fósforo total.

Lagoa anaeróbia 2: com base na vazão diária de dejetos (3 m3) e num tempo de detenção hidráulico de 46 dias, estimou-se ser necessário uma lagoa com volume de 137 m3.

A lagoa anaeróbia 2 remove dos dejetos oriundos da primeira lagoa, cerca de 27% dos sólidos totais, 64% da carga orgânica, 29% do nitrogênio e 44% do fósforo total e 97,5% de coliformes fecais. A carga orgânica e de nutrientes que sai da lagoa, ainda que atenda às exigências da legislação ambiental, continua elevada (674 mg/l de MO, 3.436 mg/l de sólidos totais, 982 mg/l de nitrogênio e 60 mg/l de fósforo total) e precisa ainda de tratamento.

Como a carga orgânica é mais leve, sugere-se uma lagoa facultativa. A eficiência combinada do decantador e das duas lagoas anaeróbias é de remoção de 82% dos sólidos totais, 95% da carga orgânica, 58% de nitrogênio e 91% do fósforo total.

  • Lagoa facultativa

As lagoas facultativas são indicadas para águas residuárias brutas que já tenham recebido algum tratamento anterior. Com base na vazão diária de dejetos e num tempo de detenção hidráulico de 24 dias, estimou-se ser necessário uma lagoa com volume de 73 m3.

Efluente líquido: a lagoa facultativa remove dos dejetos oriundos da lagoa anaeróbia 2, cerca de 42% dos sólidos totais, 42% da carga orgânica, 57% do nitrogênio e 29% do fósforo total e 97,3% de coliformes fecais. A carga orgânica e de nutrientes que sai da lagoa, ainda que atenda às exigências da legislação ambiental, continua elevada (442 mg/l de M.O., 2 097 mg/l de sólidos totais, 446 mg/l de nitrogênio e 44 mg/l de fósforo total) e precisa ainda de tratamento. Sugere-se uma lagoa de aguapé para a depuração final. A eficiência combinada do decantador, das duas lagoas anaeróbias e da facultativa é de remoção de 89% dos sólidos totais, 97% da carga orgânica, 81% de nitrogênio e 93% do fósforo total.

  • Lagoa de aguapé

As lagoas com aguapés constituem uma excelente alternativa de tratamento terciário para a remoção de nitrogênio e de dejetos, dada a sua grande capacidade de produção de biomassa e da ramificação de suas raízes. Com base na vazão diária de dejetos (3 m3) e num tempo de detenção hidráulico de 20 dias, estimou-se ser necessário uma lagoa com volume de 58 m3.

A eficiência combinada do decantador, lagoas anaeróbias e aguapé é de remoção de 98% dos sólidos totais, 99% da carga orgânica (DBO5), 94% de nitrogênio e 98% do fósforo total e 99,999% de coliformes fecais.

e) Distribuição e utilização

É a fase de movimentação, de reciclagem e reintrodução dos dejetos gerados na propriedade, de forma a melhorar a eficiência produtiva do sistema, reduzir custos e minimizar os riscos de degradação ambiental.

A transferência dos dejetos envolve desde o transporte do ponto de captação, armazenamento e tratamento até o seu destino final. Isso exige uma análise da consistência dos dejetos, do meio de transporte e da distância a percorrer, da frequência de aplicação e do tipo de equipamento utilizado. No caso de dejetos muito diluídos, o uso de tanques de distribuição (3 a 6 m3) pode não ser tão eficiente e econômico quanto o sistema de aspersão.

Fontes: SETI – Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
Eng. Agr., D. Sc. Carlos Cláudio Perdomo, Embrapa Suínos e Aves
Eng. Agr., Ph. D. Gustavo J.M.M. de Lima, Embrapa Suínos e Aves
Jornalista Tânia Maria Giacomelli Scolari, Embrapa Suínos e