Agrotóxicos

Os agrotóxicos começaram a ser usados em escala mundial após a segunda grande Guerra Mundial. Vários serviram de arma química nas guerras da Coréia e do Vietnã, como Agente Laranja, desfolhante que dizimou milhares de soldados e civis.

Os países que tinham a agricultura como principal base de sustentação econômica – na África, na Ásia e na América Latina – sofreram fortes pressões de organismos financiadores internacionais para adquirir essas substâncias químicas. A alegação era de que os agrotóxicos garantiriam a produção de alimentos para combater a fome. Com o inofensivo nome de “defensivos agrícolas”, eles eram incluídos compulsoriamente, junto com adubos e fertilizantes químicos, nos financiamentos agrícolas. Sua utilização na agricultura nacional em larga escala ocorreu a partir da década de 70.

Anualmente são usados no mundo aproximadamente 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos. O consumo anual de agrotóxicos no Brasil tem sido superior a 300 mil toneladas de produtos comerciais. Expresso em quantidade de ingrediente-ativo (i.a.), são consumidas anualmente cerca de 130 mil toneladas no país; representando um aumento no consumo de agrotóxicos de 700% nos últimos quarenta anos, enquanto a área agrícola aumentou 78% nesse período.

O Brasil responde por mais de 11% das vendas de agrotóxicos a nível mundial, com mais de R$ 11 bilhões por ano, sobre um total de US$ 48 bilhões, dominados por seis multinacionais imperialistas: Syngenta, Bayer, Basf, Monsanto, Dow e Dupont.

O DDT (inseticida organoclorado) foi banido em vários países, a partir da década de 70, quando estudos revelaram que os resíduos clorados persistiam ao longo de toda a cadeia alimentar, contaminando inclusive o leite materno. No Brasil, somente em 1992, após intensas pressões sociais, foram banidas todas as fórmulas à base de cloro (como BHC, Aldrin, Lindano, etc).

Várias outras substâncias, como o Amitraz, foram proibidas. A lei de agrotóxicos nº 7802, aprovada em 1989, proíbe o registro de produtos que possam provocar câncer, defeitos na criança em gestação (teratogênese) e nas células (mutagênese). Mas produtos como o Amitraz, e outros que já haviam sido proibidos, continuam sendo comercializados ilegalmente.

Já os perigosos fungicidas – Maneb, Zineb e Dithane – embora proibidos em vários países, são muito usados, no Brasil, em culturas de tomate e pimentão. Os dois primeiros podem provocar doença de Parkinson. O Dithane pode causar câncer, mutações e teratogenias.

O Graxomone (mata-mato), cujo princípio ativo é o Paraquat, é proibido em diversos países. No Brasil, é largamente usado no combate a ervas daninhas. A contaminação pode provocar fibrose pulmonar, lesões no fígado e intoxicação em crianças.

Vários estudos feitos com trabalhadores demonstraram que há relação entre a exposição crônica a agrotóxicos e doenças, principalmente do sistema nervoso (central e periférico). Além disso, também ocorrem episódios de intoxicação aguda, colocando em risco a vida dos trabalhadores rurais.

A fiscalização no campo só se preocupa com a comercialização dos agrotóxicos. Não existe vigilância nem orientação para a sua correta aplicação. Acontece até do trabalhador utilizar um coquetel de produtos semanalmente, de forma “preventiva”. Ou usar o mesmo princípio ativo de marcas distintas na mesma aplicação. Para o cultivo de batata, tomate e berinjela (p.ex.), que são muito susceptíveis às pragas, são utilizadas grandes quantidades de agrotóxicos. Na cultura do tomate e do morango são usados diferentes tipos de agrotóxicos, em intervalos muito curtos, alguns deles com princípios ativos já banidos em muitos países.

Os riscos não se limitam ao homem do campo. Os resíduos das aplicações atingem os mananciais de água e o solo. Além disso, os alimentos comercializados nas cidades podem apresentar resíduos tóxicos.

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Trabalho com Agrotóxicos

Existem cerca de mil princípios ativos de agrotóxicos comercializados em mais de 10 mil formulações. É importante observar o grupo químico a que pertencem o produto e o grau de toxicidade para o ser humano. É indispensável a leitura atenta das recomendações sobre como manipular, misturar, aplicar, armazenar e descartar as embalagens.

Os trabalhadores que aplicam agrotóxicos precisam ter cuidados especiais, como o uso de luvas para proteção das mãos e braços, máscaras respiratórias e roupas (uniforme) apropriadas, incluindo calçados.

 Classe  Faixa Classificação do produto
I  Vermelha  Extremamente tóxico
II Amarela Altamente tóxico
III Azul Medianamente tóxico
IV Verde  Pouco tóxico (mas é tóxico) 

Cultivo sem Agrotóxicos

Núcleos de agricultura natural ou orgânica (sem o uso de agrotóxicos) surgem como alternativa ao modelo das monoculturas, que privilegiam a produtividade a custa da saúde dos lavradores e dos consumidores. Assim, os produtores orgânicos estão ganhando cada vez mais espaço junto aos consumidores, disponibilizando seus produtos em feiras livres, supermercados e outros locais. Os produtos orgânicos, em geral, são de menor tamanho e levam mais tempo para serem produzidos e colhidos. O fato é que quanto mais bonita a fruta ou hortaliça, mais se deve desconfiar do uso abusivo de agrotóxicos.

A agricultura orgânica, após muitos anos de luta, obteve uma importante conquista ao ser aprovada em 28/11/2003 pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente Lula, a Lei N° 10.831 que trata sobre a organização da produção, certificação e comercialização da produção agrícola sem agrotóxicos.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) divulgou uma lista dos alimentos que contêm os maiores níveis de contaminação por agrotóxicos. As amostras foram analisadas sob três aspectos: a primeira análise verificou alimentos que estavam com agrotóxicos proibidos; a segunda, os alimentos com nível de agrotóxicos superior ao permitido pela Anvisa e a terceira considerou os alimentos que apresentaram as duas irregularidades.

A Anvisa monitorou em 2010 18 culturas: abacaxi, alface, arroz, batata, beterraba, cebola, cenoura, couve, feijão, laranja, maçã, mamão, manga, morango, pepino, pimentão, repolho e tomate. As amostras foram coletadas em 25 estados do País e no Distrito Federal.

Os três primeiros alimentos que lideram a lista são o pimentão com 91,4% das amostras contaminadas, o morango com 63,4% e o pepino com 57,4%.

Outras culturas que também apresentaram níveis alarmantes de contaminação foram a alface com 55% das amostras contendo irregularidades e a cenoura com 50%. Já na beterraba, abacaxi, couve e no mamão essa taxa foi de 30% das amostras. No balanço geral, das 2.488 amostras avaliadas, 28% estavam insatisfatórias. Desse total, 24,3% eram relacionadas ao uso de agrotóxicos não autorizados e o restante estava acima do nível permitido.

Fonte: CUT – RJ Comissão de Meio Ambiente
www.fundacentro.gov.br
www.agencia.cnptia.embrapa.br
www.mma.gov.br
www.pco.org.br