Não é necessário ser um futurista para imaginar uma cidade autossuficiente, construída com materiais orgânicos não poluentes, que tenha somente veículos inteligentes interligados entre si e moldáveis aos pequenos espaços, e embelezada com jardins flutuantes para reduzir o efeito do aquecimento urbano e depurar as águas residuais. O certo é que não estamos muito longe de começar a materializar esta utopia. Na atualidade já há vários especialistas, entre arquitetos, engenheiros, cientistas, urbanistas e ecologistas que se reúnem ao redor do mundo para desenhar projetos urbanísticos ecológicos. A ideia dos trabalhos destes progressistas radica em combinar arquitetura, tecnologia e urbanismo com a ecologia, sustentabilidade e autossuficiência, visando à construção da cidade do amanhã.
A cidade ‘Eco-utopia’ ainda é um sonho, mas pode se realizar nos próximos 150 anos
Urbanista visionário
Um destes gênios que idealiza projetos visionários na área é o líder ecológico do desenho, urbanismo e arquitetura, Mitchell Joachim, catalogado pela revista americana Rolling Stone, em 2009, como um dos cem agentes de mudança dos Estados Unidos e pela publicação Wired uma das 15 pessoas mais inteligentes do país. Ao catalogar seus trabalhos, principalmente os desenvolvidos com o grupo filantrópico Terreform One e Terrefuge, descarta o uso do rótulo “sustentável”. Para ele, o termo “tem uma acepção muito frágil” e ao mesmo tempo “genérica”, pois não passa ideia de “evolução, inteligência e crescimento”. Por essa razão, prefere considerá-los como “parceiro-ecológico”, pois é “a condição que define com precisão o cenário, combinando a parte cultural e social à científica. É uma mistura de tudo isso”.
Cidade futurista
Joachim procura construir uma cidade autossuficiente: transporte inteligente, uso eficiente de recursos, geração energética, produção de alimentos e tratamento de resíduos, o que poderia “levar entre 100 e 150 anos”. As telecomunicações também ajudarão a redesenhar as metrópoles e, segundo Joachim, “não vai demorar muito para que essas tecnologias se tornem de uso público diário”. Com relação às mudanças no modelo de transporte, ele defende que serão necessários 15 anos até veículos elétricos serem vistos nas ruas. Mas para as modificações de fato ocorrerem nas cidades, o especialista imagina que essa mudança demore mais tempo, ao menos 30 ou 40 anos para que uma mudança no paradigma do modelo de construção das edificações.
A cidade “Eco-utopia” ainda é um sonho, mas pode se realizar nos próximos 150 anos.
Mobilidade do futuro
O conceito do automóvel urbano, selecionado pela revista americana Time como uma das melhores invenções de 2007, consiste em construir um veículo em função da cidade e não pensar a cidade em torno dos veículos, como atualmente ocorre.
– Os habitantes da cidade futurista deverão compartilhar os veículos, o que significará uma redução do trânsito, da poluição e da dependência das energias não renováveis, como detalha Zipcar, companhia pioneira em oferecer este tipo de serviços.
– Terreform One propõe a fabricação de veículos com materiais leves, como o neoprene, com a finalidade de que possam ser dobrados e carregados como carrinhos de compra e, além disso, serão menos perigosos ao terem contato com as pessoas nas ruas.
– Os veículos, equipados com software que interliga os motoristas por meio de uma espécie de rede social, permitirão enviar mensagens em tempo real sobre direções, estacionamentos gratuitos, advertências de acidentes e imperfeições nas vias.
– Outro projeto deste grupo consiste em construir um ônibus dirigível, a partir do qual os passageiros poderão subir e descer facilmente, já que alcançaria uma velocidade máxima de 24 km/h e os assentos seriam a poucos centímetros do chão”.
Urbanismo autossuficiente
O desenho de paisagens urbanas visualmente atraentes está incluído nos sonhos de Joachim. No seu Terreform One elabora a construção de parques públicos, espaços verdes com lagos artificiais para tratar resíduos, limpar o ar e a água, produzir energia e controlar o bioclima estacional. Aposta também no desenho de cidades construídas a partir de resíduos (plástico para a fenestração, compostos orgânicos para os andaimes temporários, metais para as estruturas principais) e a construção de casas usando organismos vivos.
Esta ideia consiste em construir uma “casa vegetal” usando uma técnica de jardinagem ancestral: erguer paredes a partir de enredadeiras, arbustos e árvores. Com alguns andaimes e um sistema de controle vegetal, é possível direcionar o crescimento da vegetação com geometrias calculadas. Por outra parte, Joachim entrou para o mundo da biotecnologia ao fundar, com o biólogo Oliver Medvedik, o instituto Bioworks e iniciar o cultivo orgânico de células, fazendo crescer carne in vitro para depois fabricar produtos de uso humano, como couro.
Um sonho bastante antigo
Apesar de todas estas propostas urbanísticas soarem para muitos como uma utopia ou um filme futurista, o certo é que algumas de suas bases estão alicerçadas em princípios ancestrais baseados em relações simbióticas e em ideais ecológicos de Thomas Jefferson. A passagem do tempo ajudou a aumentar a viabilidade destes projetos, pois conta com conhecimentos tecnológicos e científicos cada vez mais avançados para tornar possível uma troca biológica mais sadia entre o ambiente e os habitantes, o que contribuiria positivamente à qualidade de vida de todos.
Mitchell Joachim