Apicultura: Uma alternativa Econômica para o Pantanal

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O Pantanal é considerado patrimônio nacional pela Constituição Federal do Brasil de 1988 e, mais recentemente, foi denominado patrimônio da humanidade ou reserva da biosfera pelas Nações Unidas. É a maior área contínua inundável do planeta sendo formado por uma extensa planície de aproximadamente 140.000 km2, localizada na região Centro-Oeste, entre os paralelos de 16º e 22º de latitude sul e dos meridianos de 55º e 58º de longitude oeste. É constituído de campos inundáveis cortados por galerias de florestas semi-caducifólias chamadas de “cordilheiras” ou manchas de “capões”. Os recursos naturais apresentam vasto potencial para exploração, destacando-se a flora com uma cobertura natural abundante e rica que é composta de espécies pertencentes a quatro biomas: Amazônia, Cerrado, Chaco e Mata Atlântica. No entanto, o seu potencial apícola ainda é pouco explorado. A biodiversidade da flora local é bem conhecida, onde exemplares encontram-se cadastrados e armazenados em forma de exsicatas (partes de plantas desidratadas que contém informações sobre o local de coleta, época do ano, etc. e que são utilizadas em estudos botânicos) no herbário da Embrapa Pantanal, para facilitar futuras identificações e possíveis utilizações.

No Brasil há cerca de 300.000 apicultores que obtém uma produção anual estimada de 30.000 a 40.000 toneladas de mel, com produtividade média anual de 15 Kg/colméia. Já em Mato Grosso do Sul há aproximadamente 1.000 apicultores, os quais possuem cerca de 15.000 colméias e obtém uma produção anual estimada em 250 toneladas de mel. A quase totalidade (98%) é de pequenos produtores, mas que respondem por 80% do total obtido na atividade e que realizam a exploração fixa, com média anual de 15 Kg/colméia. Os apicultores com boas técnicas de manejo conseguem obter de 30 a 50 Kg/colméia/ano. A apicultura migratória é explorada por poucos apicultores que utilizam as florestas de eucaliptos e floradas silvestres, com produção média de 80 Kg/colméia/ano. No Pantanal há de 30 a 40 apicultores, com 1.500 colméias, produção anual estimada em 20 a 25 toneladas de mel e produtividade média anual de 20 Kg/colméia.

A produção de mel oriundo de floradas silvestres está se tornando cada vez mais escassa no Brasil e no mundo. Por esse motivo atualmente, a exploração da apicultura está cada vez mais dependente das culturas agrícolas que, na maioria dos sistemas produtivos, utilizam de maneira inadequada os agroquímicos. Essa situação prejudica a qualidade do mel e dos demais produtos apícolas, pois ocasiona a contaminação da produção com resíduos que podem ser tóxicos para o homem. Porém, essa não é a situação que encontramos no Pantanal onde a principal atividade econômica é a criação extensiva de bovinos e a agricultura é restrita a pequenas áreas, geralmente para atender as necessidades dos próprios agricultores.

A apicultura apresenta um grande potencial econômico para o Pantanal em função de características da atividade, tais como: necessidade de pequenas áreas, ciclo curto, exigência de pequenos valores de capital inicial e de recursos para o custeio de manutenção, fatos estes que são vantagens competitivas em relação a outras criações de animais de maior porte. Dessa forma, pode contribuir para a geração de emprego, melhoria na renda das famílias e na condição de vida dos pequenos proprietários e se tornar mais uma atividade econômica a ser desenvolvida pelos pescadores principalmente na época do defeso (legalmente estão proibidos de exercerem a pesca comercial neste período). No entanto, para que essa situação se torne uma realidade é necessário que as técnicas de manejo utilizadas pelos apicultores tradicionais da região sejam avaliadas, pois muitas de suas atividades se baseiam em conhecimentos adquiridos empiricamente, além de adaptações do manejo adotado em outras regiões do país. Também a não existência de um calendário apícola e a falta de estudos sobre o comportamento das abelhas africanizadas na região constituem grandes limitações para o desenvolvimento da apicultura comercial no Pantanal. Estas dificuldades foram verificadas por alguns produtores da sub-região da Nhecolândia que não lograram êxito em seu empreendimento, principalmente pela falta de orientações técnicas sobre a criação racional de abelhas nas condições locais.

A apicultura é uma atividade econômica de baixo impacto ambiental que possibilita a utilização permanente dos recursos naturais, preservando o meio ambiente e agregando esse “marketing ecológico” aos produtos obtidos. Mas até o presente momento é explorado, quase que exclusivamente, a produção convencional de mel sendo limitado ou até mesmo ausente o aproveitamento dos outros produtos apícolas diretos (geléia real, pólen, própolis, apitoxina e cera) que agregariam valor à toda a cadeia produtiva.

Poucos apicultores têm o conhecimento de que outro benefício oriundo do incremento da apicultura é o aumento da polinização, em culturas agrícolas, com conseqüente ganhos de produtividade e de qualidade, e a sua importância para as demais espécies vegetais, contribuindo para a preservação de muitas plantas que poderiam entrar em processo de extinção, pois em muitas regiões há uma sensível redução no número de animais polinizadores. Estes fatos podem facilitar futuros acordos com os donos das propriedades rurais permitindo que novos locais sejam explorados pelos apicultores com ou sem remuneração pelo uso dessas áreas.

Vanderlei Doniseti Acassio dos Reis (reis@cpap.embrapa.br), Engenheiro Agronômo e pesquisador da Embrapa Pantanal, na área de apicultura.