As técnicas de recuperação de matas ciliares são definidas de acordo com a situação área, os parâmetros ambientais do entorno e com o objetivo pensado.
Por que é importante recuperar as matas ciliares?
As matas ciliares são essenciais para a conservação e manutenção do meio ambiente, auxiliam na qualidade e disponibilidade hídrica dos cursos d´água, atuam como uma barreira protetora para que não cheguem resíduos e poluentes aos rios, assim como fornecem corredores ecológicos para a fauna.
Quais são as principais técnicas de recuperação de matas ciliares?
As técnicas de recuperação de matas ciliares variam de acordo com o objetivo, cronograma, valor e insumos disponíveis, sendo primordial antes de tudo um bom planejamento da atividade.
1. Regeneração Natural
- Através da regeneração natural, as florestas apresentam capacidade de se recuperarem de distúrbios naturais ou antrópicos.
- A regeneração natural tende a ser a forma de restauração de mata ciliar de mais baixo custo, entretanto, é normalmente um processo lento.
- Se o objetivo é formar uma floresta em área ciliar, num tempo relativamente curto, visando a proteção do solo e do curso d’água, determina as técnicas que acelerem a sucessão devem ser adotadas.
- Em alguns casos, a ocorrência de espécies invasoras, principalmente gramíneas exóticas como o capim-gordura (Melinis minutiflora) e trepadeiras, pode inibir a regeneração natural das espécies arbóreas, mesmo que estejam presentes no banco de sementes ou que cheguem na área, via dispersão. Nestas situações, é recomendado uma intervenção no sentido de controlar as populações de invasoras agressivas e estimular a regeneração natural.
Quando uma determinada área de floresta sofre um distúrbio como a abertura natural de uma clareira, um desmatamento ou um incêndio, a sucessão secundária se encarrega de promover a colonização da área aberta e conduzir a vegetação através de uma série de estágios sucessionais, caracterizados por grupos de plantas que vão se substituindo ao longo do tempo, modificando as condições ecológicas locais até chegar a uma comunidade bem estruturada e mais estável.
A sucessão secundária depende de uma série de fatores como a presença de vegetação remanescente, o banco de sementes no solo, a rebrota de espécies arbustivo-arbóreas, a proximidade de fontes de sementes e a intensidade e a duração do distúrbio. Assim, cada área degradada apresentará uma dinâmica sucessional específica.
Em áreas onde a degradação não foi intensa e com banco de sementes próximas, a regeneração natural pode ser suficiente para a restauração florestal. Nestes casos, torna-se imprescindível eliminar o fator de degradação, ou seja, isolar a área e não praticar qualquer atividade de cultivo e pastoreio.
2. Plantio de Mudas Nativas
As matas ciliares apresentam uma heterogeneidade florística elevada por ocuparem diferentes ambientes ao longo das margens dos rios. A grande variação de fatores ecológicos nas margens dos cursos d’água resultam em uma vegetação arbustivo-arbórea adaptada a tais variações.
Via de regra, recomenda-se adotar os seguintes critérios básicos na seleção de espécies para recuperação de matas ciliares por meio do plantio direto de mudas nativas:
- Plantar espécies nativas com ocorrência em matas ciliares da região.
- Plantar o maior número possível de espécies para gerar alta diversidade, respeitando também um espaçamento mínimo para as mudas se desenvolverem.
- Utilizar combinações de espécies pioneiras de rápido crescimento junto com espécies não pioneiras (secundárias tardias e climáticas).
- Plantar espécies atrativas à fauna, que irão auxiliar com a dispersão de sementes.
- Respeitar a tolerância das espécies à umidade do solo, isto é, plantar espécies adaptadas a cada condição de umidade do solo.
Na escolha de espécies a serem plantadas em áreas ciliares é imprescindível levar em consideração a variação de umidade do solo nas margens dos cursos d’água, como por exemplo:
- Para as áreas permanentemente encharcadas, recomenda-se espécies adaptadas a estes ambientes, como aquelas típicas de florestas de brejo.
- Para os diques, são indicadas espécies com capacidade de sobrevivência em condições de inundações temporárias.
- Para as áreas livres de inundação, como as mais altas do terreno e as marginais ao curso d’água, porém compondo barrancos elevados, recomenda-se espécies adaptadas a solos bem drenados.
A escolha de espécies nativas regionais é importante porque tais espécies já estão adaptadas às condições ecológicas locais. Por exemplo, o plantio de uma espécie típica de matas ciliares do norte do País em uma área ciliar do sul, pode ser um fracasso por causa de problemas de adaptação climática.
Além disso, no planejamento da técnica de recuperação deve-se considerar também a relação da vegetação com a fauna, que atuará como dispersora de sementes, contribuindo com a própria regeneração natural. Espécies regionais, com frutos comestíveis pela fauna, ajudarão a recuperar as funções ecológicas da floresta, inclusive na alimentação de peixes.
Recomenda-se utilizar um grande número de espécies para gerar diversidade florística, imitando, assim, uma floresta ciliar nativa. Florestas com maior diversidade apresentam maior capacidade de recuperação de possíveis distúrbios, melhor ciclagem de nutrientes, maior atratividade à fauna, maior proteção ao solo de processos erosivos e maior resistência à pragas e doenças.
3. Semeadura Direta
Em áreas ciliares próximas a outras florestas nativas, e quando não se tem disponibilidade de mudas de muitas espécies ou recursos financeiros para aquisição, os plantios mais homogêneos podem ser realizados. Para isso, deve-se atentar a alguns cuidados e recomendações:
- Nestas situações, deve ocorrer um enriquecimento natural da área recuperada, pela entrada de sementes vindas das florestas próximas;
- Existe a possibilidade também de realizar a semeadura a lanço, ou seja, após pré seleção de sementes nativas é feito o lançamento das mesmas na área definida para a recuperação;
- Entretanto, salienta-se que o aumento da diversidade nestes plantios homogêneos tende a ser mais lento, podendo ser necessários posteriores plantios de enriquecimento, a depender do objetivo do projeto.
A combinação de espécies de diferentes grupos ecológicos ou categorias sucessionais é extremamente importante nos projetos de recuperação.
As florestas são formadas através do processo denominado de sucessão secundária, onde grupos de espécies adaptadas a condições de maior luminosidade colonizam as áreas abertas, e crescem rapidamente, fornecendo o sombreamento necessário para o estabelecimento de espécies mais tardias na sucessão.
O que são espécies pioneiras e não pioneiras?
Várias classificações das espécies em grupos ecológicos têm sido propostas na literatura especializada, sendo mais empregada a classificação em quatro grupos distintos:
- Pioneiras;
- Secundárias iniciais;
- Secundárias tardias e;
- Climáticas.
A tolerância das espécies ao sobreamento aumenta nas espécies secundárias tardias e climáticas. Para facilitar o entendimento das exigências das espécies quanto aos níveis de luz, adotou-se apenas dois grupos: pioneiras e não-pioneiras.
O grupo das pioneiras é representado por espécies pioneiras e secundárias iniciais, que devem ser plantadas de maneira a fornecer sombra para as espécies não pioneiras, ou seja, as secundárias tardias e as climáticas.
Maria Beatriz Ayello Leite
Redação Ambientebrasil