Reflexões sobre a trajetória da Rede CEAs – por uma práxis inovadora

Com a proliferação do conceito de redes que se tem verificado nos últimos anos, alias às práxis daí decorrentes, tem-se observado considerável avanço na formação e no fortalecimento de diversas redes do campo da Educação Ambiental no Brasil. Enquanto a Rede Brasileira de Educação Ambiental (REBEA) vem efetivamente se articulando e reforçando-se como tal, estimula e cria condições para que redes estaduais de EA possam articular-se e vai pouco a pouco entrelaçando e fortalecendo seus elos pelo país. Sabemos que muitos Estados/Regiões não dispõem de redes de EA e esta observação pode ser considerada sob diversos níveis:

a) aqueles Estados/Regiões que não possuem qualquer coletivo de educadores ambientais organizados em rede;

b) aqueles que dispõem de embriões de redes de EA, mas com uma organização ainda bastante tímida;

c) aqueles que tinham iniciativas de redes de EA formadas, mas que atravessam na atualidade momento de contração/repouso, devido a diversos fatores;

d) aquelas redes que atravessam momento de rica (re)criação e consolidação, com projetos e ações em andamento e com uma considerável capacidade de articulação e de comunicação entre seus membros. Cabe neste item tanto as redes que já tinham um histórico de existência como aquelas mais novas.

Paralelamente a este cenário mais ligado a dimensões geográficas e políticas, observa-se o surgimento de redes temáticas de EA, que pautam sua organização também nestes fatores, mas emergem a partir de objetivos temáticos convergentes. Na medida em que o campo da EA no país vai avançando, tanto em termos de produção teórica, quanto em termos de ações práticas, vai clareando diversas áreas que merecem ser trabalhadas de forma específica e que dentro do campo da EA de uma forma geral acabam não sendo discutidas com a profundidade que merecem.

Com relação ao processo de formação destas redes temáticas, observa-se que embora sejam poucas as ações que vão neste sentido, sua própria constituição como redes ligadas a determinadas temáticas inerentes ao campo da EA já pode ser encarada como um considerável amadurecimento da EA brasileira na atualidade. Esta, nesse início de século XXI, vem demonstrando o quanto pode contribuir para a implementação de inúmeras ações voltadas para a transformação das realidades socioambientais atuais, para a melhoria da qualidade de vida de todos os seres (humanos e não humanos) que habitam esse planeta.

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As redes temáticas surgem da necessidade de articular determinados coletivos para a discussão e a implementação de ações direcionadas para fins mais delimitados. Passam então a organizar-se: docentes, estudantes e profissionais ligados ao meio acadêmico para integrar e discutir conjuntamente o desenvolvimento de programas de EA de universidades brasileiras1; educadores ambientais que atuam junto a Centros de Educação Ambiental ou que pesquisam esta temática2; jovens que buscam integrar-se à questão ambiental organizados ou não em movimentos e entidades de juventude3; dentre outros coletivos, instituições, setores.

O foco deste artigo é a discussão da Rede CEAs, que emerge e ganha corpo a partir de pesquisas implementadas pela ESALQ/USP, iniciadas a partir de 1999. A idéia de se incentivar a criação de uma rede foi ganhando corpo na medida em que se avançava nas pesquisas sobre a temática; na medida em que se observava a carência e a necessidade de estudos e de discussões sobre ela. Isso foi paulatinamente sendo acompanhado por uma demanda crescente proveniente de diversos setores da sociedade que dispunham de iniciativas CEAs em atividade, qual sejam: prefeituras, ONGs, universidades, empresas, fundações, Unidades de Conservação, dentre outros, como também de setores que cada vez mais sinalizavam para a necessidade de implementação de projetos de CEAs.

A partir desta demanda começa-se a vislumbrar que a temática dos CEAs é revestida de considerável complexidade, porque trata-se de um conjunto de iniciativas muito distintas entre si, promovidas e geridas por diferentes setores (públicos, privados, mistos, do terceiro setor), que trabalham com públicos também variados, etc. É com este pano de fundo que a Rede CEAs emerge, vislumbrando imensos desafios pela frente. Talvez o primeiro deles é relativo ao fomento de discussões sobre questão conceitual dos CEAs: o que são, quais as finalidades destas iniciativas, o que fazem? Contribuir e estimular para que respostas a estas e outras muitas perguntas possam emergir constitui-se um dos desafios principais e iniciais da Rede CEAs, que também apresenta diversas outras dificuldades e enfrentamentos pela frente.

Tem-se na Rede CEAs então um meio para propiciar que educadores ambientais possam discutir questões inerentes a esta temática – dos Centros de Educação Ambiental – com o intuito de propiciar que as distintas iniciativas se conhceçam; troquem informações sobre suas práticas, seus projetos, metodologias, formas de avaliação, etc. A rede passa a servir como um importante instrumento de comunicação, mas não se restringe a isto. A rede é muito mais que um meio de comunicação e livre circulação de informações, é um canal que pode contribuir para o fortalecimento dos CEAs de um modo geral, das ações que desenvolvem, dos projetos que implementam, para que seus públicos atendidos possam ser provocados para EA (reflexão, ação, mudança de atitudes, comportamentos e valores).

Desafios da Rede CEAs

A Rede CEAs emerge a partir de alguns mapeamentos de iniciativas de CEAs no país, realizados pela ESALQ/USP. Trata-se então de uma ação que surge do campo acadêmico, como uma espécie de contribuição da universidade para a sociedade, como um “retorno” à sociedade de levantamentos realizados com e para ela. Sabemos que há diversas formas de “retorno” – publicações, sites, seminários, etc, mas que o propósito inicial não era este. A disponibilização das diversas informações levantadas por estas pesquisas e mapeamentos realizados pela ESALQ/USP4 poderia ser realizada através de um fomento à implementação de uma Rede que organizasse inicialmente as diversas iniciativas de CEAs mapeadas e estudadas desde então. Trata-se de um processo bastante diferenciado de formação e de constituição de redes do que se tem verificado nos campos social e ambiental no país. No caso desta Rede o processo foi estimulado pela Universidade, e daí decorre uma séries de especificidades que merecem ser apontadas e discutidas oportunamente.

Principais Dificuldades enfrentadas

  • Falta de conhecimento sobre “cultura de redes” – o que é uma rede (dado que há diversas concepções de redes),
  • Falta de clareza sobre o papel da Rede CEAs – trata-se de uma rede nova que promoveu até o momento poucos momentos de encontros presenciais e que necessida de maior divulgação interna. Entra aqui a questão da necessidade de se deflagrar um processo de constituição de legitimidade dentro da própria rede – seus elos, seus facilitadores, instituições hospedeiras, etc.
  • Limitação de recursos materiais e pessoais que os CEAs enfrentam na atualidade – boa parte dos CEAs não dispõem de computador com acesso à internet, o que dificulta a troca de informações e consequentemente a participação cotidiana na rede (neste momento). São comuns os casos de “euquipes”, ou seja, de CEAs que dispõe de uma única pessoa na equipe técnica de trabalho. Muitos destes casos, verifica-se que estas pessoas vislumbram que sua adesão à rede pode significar em sobrecarga de atividades e demandas de tempo, consequentemente restringindo o desenvolvimento das atribuições cotidianas do próprio CEA.
  • Efetiva constituição da Rede em si – a rede necessita, a partir do debate e do enfrentamento destas dificuldades, fortalecer-se.
  • Fomentar a discussão sobre uma temática bastante complexa – estimular o debate sobre a temática dos CEAs no país constitui uma missão consideravelmente ousada para uma rede nova e que encontra inúmeras limitações. Trata-se de uma pauta também recente no campo da EA brasileira, até mesma dentro dos próprios CEAs. Ou seja, nunca se discutiu entre os CEAs suas pautas: o que são, o que fazem, porque fazem, como fazem, para quem fazem, como avaliam, etc.
  • Ter infiltração em todas as regiões do país, podendo cadastrar e interagir com CEAs de diversas regiões o que, pelo tamanho do nosso país, acaba sendo dificultado. A Rede CEAs acaba tornando-se conhecida e conhecendo mais CEAs no Centro-Sul do que nas demais regiões do país. Esta constatação gera questionamentos que podem servir de importantes estímulos à pesquisa: Há carência de iniciativas nas regiões Norte e Nordeste ou não se tem informações sobre elas?

Ações realizadas

Criação e manutenção da lista de discussão da Rede CEAs, hoje com mais de 350 membros (redeceas-l@jatoba.esalq.usp.br);

Publicação de artigo no site do Centro Nacional de Educação Ambiental da Espanha – CENEAM (www.mma.es/ceneam – ver Link FIRMAS);

Realização do I EPCEAs, Encontro Paulista de CEAs, durante o II Encontro Estadual de Educação Ambiental, nos dias 24, 25 e 26 de Julho de 2003, em Rio Claro – SP;

Mapeamento, plotagem e disponibilização do Mapa dos CEAs e NREAs do Estado de São Paulo, em julho de 2003;

Participação no 1º Encontro dos Centros de Educação Ambiental do Rio de Janeiro, realizado pelo NEADIST e CEA Protetores da Vida nos dias 11 e 12 de Setembro de 2003, em São Gonçalo RJ;

Realização do Encontro Nacional de CEAs, ENCEA, nos dias 1 e 2 de outubro, em Timóteo, MG, conjutamente com a REBEA, Fundação Acesita e CEA Oikós.

Criação e manutenção do site da Rede CEAs, com divulgação de informações e notícias de CEAs e da própria rede (www.redeceas.esalq.usp.br)

Disponibilização de Cadastro Virtual de centros e início da inserção de dados;

Participação na Reunião da Facilitação Nacional da REBEA e na Oficina “Sustentabilidade – projetando o futuro”, nos dias 27, 28, 29 de outubro, em São Paulo;

Divulgação da Carta de Timóteo – documento resultante do ENCEA, para CEAs, Secretarias de Meio Ambiente, Secretarias de Educação, Universidades, Redes de EA e Federações das Indústrias; 

Realização de Encontro Presencial do GT de CEAs de empresas, dia 12 de Dezembro em Belo Horizonte – MG;

Participação no II SSBEA- Simpósio Sul-Brasileiro de Educação Ambiental, realizado nos dias 7 a 10 de dezembro, com painéis no stand de redes e no ginásio de exposição de painéis, articulação, divulgação e troca de informações entre educadores ambientais;

Participação no GT V Fórum da REBEA, que está discutindo e implementando a organização do V Fórum de EA e do Encontro da REBEA, em Goiânia, em novembro;

Participação em reuniões da REPEA, ao longo de 2003;

Articulação com CEAs, instituições e profissionais ligados ao campo da EA no país e em outros paises (Portugal e Espanha).

Fábio Deboni da Silva (fabio.deboni@mma.gov.br)

Alexandre Falcão (falcao@esalq.usp.br)

Facilitadores da Rede CEAs

1 Em referência a RUPEA – Rede Universitária de Programas de EA (www.uefs.br/rupea)

2 Em referência a Rede CEAs, foco deste artigo (www.redeceas.esalq.usp.br)

3 Em referência a Rede da Juventude pela Sustentabilidade (juventudepelomeioambiente@grupos.com.br)

4 Em referência ao trabalho realizado pela OCA – Laboratório de Educação e Política Ambiental, ligado ao Departamento de Ciências Florestais da ESALQ/US. (mais informações sobre a OCA: www.oca.esalq.usp.br)

Redação Ambiente brasil