Os oceanos do mundo estão se tornando mais salgados perto da linha do Equador e mais doces na proximidade dos Pólos. Esta preocupante constatação é o resultado final de um informe apresentado no final de 2003 e confirma uma série de previsões elaboradas nos últimos anos por diversos modelos climáticos.
O estudo, que foi realizado durante cinco décadas no Oceano Atlântico entre a Groenlândia e a América do Sul, vaticina severas alterações no sistema climático global e nas reservas mundiais de água.
A etapa final do informe foi elaborada pelos cientistas Ruth Curry, da Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI); Bob Dickson, do Centre for Environment, Fisheries, and Aquaculture Science de Lowestoft, Reino Unido e por Igor Yashayaev, do Bedford Institute of Oceanography de Dartmouth, Canadá, mas o trabalho completo é obra de centenas de pesquisadores e de algumas dezenas de instituições especializadas em mudanças climáticas e oceanografia.
No relatório, os cientistas e as instituições que representam concluíram que a evaporação oceânica está aumentando de forma simultânea que a elevação da temperatura do Planeta, provocando substanciais mudanças na salinidade dos oceanos, tanto nas regiões tropicais e subtropicais, que estão se tornando cada vez mais salgados; quanto nas dos Pólos, que estão mais doces.
A confirmação dessas alterações leva a uma simples equação: quanto mais elevada é a temperatura global, maior será a evaporação da água do mar. Esta progressiva evaporação aumentará por sua vez as precipitações pluviais em razão de que a atmosfera não tem capacidade para sustentar tanta água. Quando a evaporação acontece nas áreas tropicais, a água se torna mais salgada porque o mar perde volume, ao mesmo tempo em que a evaporação aumenta as precipitações nas latitudes polares, tendo como conseqüência mares mais doces.
Processo de mudança acelerado
As alterações na composição química dos oceanos estão acontecendo numa dimensão que excede a capacidade de circulação hídrica para compensar este tipo de efeito nos mares, fato que converte as mudanças num fenômeno duradouro em longo prazo com severas conseqüências para o sistema global. O fenômeno foi constatado com particular intensidade nos últimos 5 anos.
O efeito retro-alimentador deste processo é evidente. As mudanças, já constatadas na salinidade dos oceanos, afetam o modelo de chuvas que regula a distribuição, intensidade e freqüência das estações, das secas, das inundações e das tempestades. Este fenômeno, por sua vez, potencializa o aquecimento global que origina as mudanças na salinidade dos oceanos, visto que a evaporação captura o calor na atmosfera e aumenta o Efeito Estufa, fechando um ciclo que resulta no adocicamento das águas nas regiões polares e numa total mudança do clima global.
É importante observar que os oceanos e a atmosfera vivem um processo de interatividade permanente. A evaporação que se produz nas latitudes cálidas, tropicais e subtropicais, transfere vapor de água para a atmosfera que é a encarregada de transladar esse vapor para os Pólos.
Já nos Pólos, este vapor de água em chuva ou neve, acaba voltando para os oceanos, os quais, finalmente, transferem água doce para as áreas tropicais, facilitando a evaporação. Este é o processo que mantém o equilíbrio da distribuição de água ao redor do mundo.
Os oceanos contêm 96 por cento do total da água existente no Planeta, fornecem 86 por cento da evaporação total e recebem 78 por cento de todas as precipitações. O papel que os oceanos desempenham no ciclo da vida é fundamental; por isso, os oceanos são considerados a chave de toda a existência sobre o Planeta, em especial concomitância com as regiões mais úmidas, como a Amazônia, por exemplo.
O informe, durante as últimas cinco décadas, analisou milhares de medições relativas à salinidade das águas em estado de tranqüilidade, tanto nas áreas costeiras como em alto mar, numa faixa do Atlântico limitada pelos círculos polares, boreal e austral.
Os cientistas descobriram que, a partir de 1990, o processo ficou particularmente acelerado coincidindo com os registros das mais altas temperaturas documentadas desde 1861. O estudo também revelou que a evaporação atlântica aumentou entre 5 e 10 por cento nos últimos 40 anos.
René Capriles – Editor da ECO21
Fonte: Revista Eco 21, Ano XIV, Edição 86, Janeiro 2004. (www.eco21.com.br)