O preço das mudanças climáticas

Diversos especialistas em resseguro prevêem um número cada vez maior de catástrofes naturais, alertando os países industrializados a estabilizarem o desenvolvimento, ao invés de impulsioná-lo. Furacões chamados Catarina, Michael, Isabel, Queenie, enchentes, ondas de calor, fenômenos como El Niño e La Niña… estes acontecimentos são vistos pelas empresas de seguros de uma forma sumamente preocupante como “causadores de danos elementares”. 

A maior resseguradora do mundo, a empresa alemã Münchner Rück, há 30 anos pesquisa o comportamento humano e como ele contribui para aumentar o número das catástrofes e, como as seguradoras podem reagir a elas. 

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Alguns especialistas em catástrofes, mais conhecidos como “master of disaster” (mestre do desastre), estudam há, pelo menos três décadas, as mudanças climáticas pelas quais passa o Planeta. 

Uma das conclusões a que chegaram é a de que as catástrofes naturais provocaram, nos últimos dez anos, prejuízos no valor de 333 bilhões de Euros, um montante 6 vezes maior do que há 50 anos. Uma das razões deste aumento é o aquecimento provocado pelo Efeito Estufa. 

Até o fim deste século, a temperatura média da Terra deverá subir cerca de 1,5°C. Isso significa que teremos temperaturas tão altas como nunca, aliadas, obviamente, a um aumento sensível das temperaturas extremas. O último verão europeu (extraordinariamente quente) foi apenas uma pequena amostra disso; ele nos mostrou como o clima vai mudar e com que ondas fortíssimas de calor e seca precisamos contar no futuro. 

O aumento dos danos a serem cobertos pelas seguradoras e resseguradoras não se dá única e exclusivamente em função das mudanças climáticas, mas também como conseqüência do crescimento populacional global, que se duplicou nos últimos 50 anos. 

Além disso, as cidades não se tornam apenas maiores no número de habitantes, mas também na superfície que ocupam. Isso significa que a probabilidade de que um fenômeno natural atinja uma área urbana torna-se cada vez maior. Sem contar o fato de que várias dessas cidades se encontram em lugares especialmente expostos aos perigos como, por exemplo, em regiões costeiras. Essa tendência é, inclusive, mundial. 

Segundo os especialistas, as grandes aglomerações urbanas são especialmente suscetíveis às catástrofes: Somos completamente dependentes de uma infra-estrutura que funcione. Se surge aí algum problema – efeito típico de uma catástrofe natural – então faltará energia, gás, petróleo. Com isso, interrompe-se o tráfego e a comunicação, ou seja, fatores de extrema importância para o fluxo econômico. 

Cerca de 20% dos danos causados por catástrofes naturais são cobertos por seguradoras, sendo que 6 mil dessas empresas têm um resseguro feito pela Münchner Rück. Isso explica porque a maior resseguradora do mundo precisa reagir às mudanças climáticas, mesmo que os próprios assegurados tenham que assumir parte dos riscos. 

É necessário esclarecer aos clientes que o futuro nos reserva danos ainda maiores, o que faz com que os resseguradores tenham que acumular reservas de capital mais sólidas, pensando nas catástrofes que estão por vir. Este é o grande problema. 

Investir na infra-estrutura urbana

Pensando nisso, a Münchner Rück desenvolveu um programa de proteção contra catástrofes naturais. Com o objetivo de minimizar os danos provocados pelo desequilíbrio do meio ambiente, os especialistas da resseguradora acreditam que é necessário investir mais nos fatores sócio-econômicos responsáveis pela cadeia de catástrofes naturais, como na infra-estrutura urbana. Inclui-se aí um planejamento mais rígido em regiões predispostas a terremotos e a limitação do uso do solo em áreas propensas a inundações. 

Embora os especialistas vejam a saída em iniciativas locais, o macro-problema requer soluções globais. Não é preciso apenas contornar os danos ambientais, mas principalmente evitá-los. Enquanto alguns políticos vêem nas declarações dos especialistas um “alerta inicial”, países industrializados como os EUA não dão importância para os efeitos climáticos, sendo que eles respondem por mais de 25% das emissões de gases de Efeito Estufa em todo o mundo e ainda se negam a ratificar o Protocolo de Kyoto. 

Os países industrializados são responsáveis por 75% das emissões. Sem os EUA, seriam 50%. Se reduzíssemos essas emissões em 30%, o resto do mundo, ou seja, o Terceiro Mundo, poderia até mesmo duplicar suas emissões, sem que isso fosse pesar no balanço global. Uma vez que as nações industrializadas, até hoje, só tiraram proveito dessa situação, estaria na hora de esses países assumirem a responsabilidade, fazendo de tudo para não impulsionar ainda mais o desenvolvimento, mas sim para estabilizá-lo. 

Maiores prêmios para compensar perdas 

As seguradoras de danos e acidentes pretendem aumentar os prêmios para compensar os altos prejuízos do ano passado com enchentes, tempestades e fraudes. Despontam, também, as primeiras falências na história das empresas seguradoras. “As enchentes e tempestades em 2002 nos afetaram gravemente. As companhias alemãs de seguro de danos e acidentes tiveram um prejuízo de 2,5 bilhões no ano passado. Somente as inundações de verão pesaram no balanço com 1,8 bilhão de Euros”, disse Edmund Schwake, da Confederação Alemã de Seguradoras (GDV). 

A expectativa agora é que os danos voltem a um nível normal e que persista a tendência de diminuírem os sinistros nos seguros de automóveis. A Federação lançou a idéia de um seguro obrigatório contra catástrofes naturais, com cobertura de prejuízos como os que resultaram da “enchente do século” no Rio Elba e afluentes, no ano retrasado.

Gerd Berz -Meteorologista, Diretor do Departamento de Pesquisa em Risco Geográfico da Münchner Rück