Uma Evolução da Produção Animal Natural
A Produção Animal Orgânica é aquela que integrada à produção vegetal orgânica, visa reciclagem de nutrientes e uma maior independência de insumos vindos de fora da propriedade. O manejo dos rebanhos deve respeitar os princípios do comportamento animal, adequando as necessidades de espaço, alimentação e o conforto de cada espécie, visando a sanidade e a produção de alimentos de maior valor nutritivo, isentos de resíduos químicos prejudiciais à saúde humana.
No início da década de 70, a denominação produção animal natural, definia a produção sem a utilização de qualquer insumo químico. Passados 30 anos, no início do terceiro milênio, é possível que ainda existam algumas propriedades onde se pratica essa forma de produção com taxas de desfrute absolutamente negativas.
Este tipo de produção, de forma alguma pode ser confundida com a produção animal natural moderna, que utiliza técnicas e insumos naturais em substituição às práticas convencionais hoje usadas no controle e tratamento das principais doenças e parasitas que afetam a produção animal, sem que isso se constitua em qualquer risco ou retrocesso nos seus índices de produtividade.
A proposta da produção natural está apoiada no fato de que a simples adoção dos insumos naturais na produção, ou a não utilização de qualquer insumo químico (antibióticos, inseticidas, hormônios), embora resulte em carne de melhor qualidade e menor custo, não garante ao produto final todas as características dos orgânicos.
Para um produto ser considerado orgânico não basta ter rastreabilidade, utilizar os insumos naturais ou simplesmente não utilizar qualquer insumo. Por exigência dos consumidores representados pelas certificadoras, existe a necessidade de se adotar todo um programa com planejamento e controles adequados a cada propriedade, de acordo com as normas internacionais.
Normas estas específicas para este tipo de atividade, que englobam todo o processo de produção, desde a qualidade da água, do solo, das pastagens, das rações, dos suplementos, da adubação, dos medicamentos, dos aditivos, dos inseticidas, da genética, do manejo, do conforto animal, do transporte, do abate, do processamento, da embalagem, da rotulagem e, finalmente, do selo de identificação da certificadora para a comercialização.
Estes esclarecimentos são necessários para informar aos pecuaristas que não basta manter o animal a pasto ou a campo para que a produção seja considerada orgânica. Tanto a Instrução Normativa n° 007 do Ministério da Agricultura como as normas das certificadoras internacionais, preconizam um período de 2 a 3 anos para que uma propriedade seja adaptada e possa obter o credenciamento como produtora orgânica, depois dos animais terem sido submetidos a exames de qualidade e pureza. Para quem não utiliza qualquer tecnologia, o caminho para a produção orgânica, não é tão curto quanto parece à primeira vista, mas também não é tão longo para quem pensa em produzir ou já está operando com algumas técnicas e controles convencionais.
A proposta de produção animal natural visa auxiliar o pecuarista na comprovação da viabilidade de manter altos índices de produção e redução de custos, utilizando técnicas e insumos naturais, em substituição dos antibióticos como fatores de crescimento, hormônios sintéticos, inseticidas, vermífugos e adubos químicos.
As diversas certificadoras que atuam no Brasil oferecem cursos e treinamentos especializados para fornecer aos produtores, informações adequadas para que cada criador possa iniciar o seu próprio processo de transição.
As universidades começam a se movimentar, oferecendo seminários e cursos de especialização e a Embrapa também se movimenta com seus Centros de Pesquisa, seguida pelas empresas de pesquisas estaduais e outras empresas de consultoria independentes.
Em todos os casos, pouca atenção tem sido dedicada ao uso dos microorganismos benéficos não geneticamente modificados na produção animal. Entretanto, os resultados de pesquisas científicas confirmados por mais de 2.000 criadores em todo o Brasil e no exterior, nos permite afirmar com segurança que esses microorganismos se constituem no insumo básico para garantir a prevenção, controle e tratamento das principais doenças que acometem as criações.
Desta forma, quem pretende ter altos índices de produtividade na produção animal natural, orgânica, biológica, nativa, biodinâmica ou na permacultura, não poderá prescindir dos microorganismos não geneticamente modificados, das plantas medicinais de efeitos inseticidas e repelentes (nim, citronela, primavera, erva-de-santa-maria, eucalipto, alho, hortelã, semente de abóbora, semente de mamão, etc.), da adubação orgânica (compostagem) e de outros recursos naturais que contribuem em favor da vida.
Boi Verde e Boi Orgânico
Existe uma confusão entre Boi Verde e Boi Orgânico; Boi Verde é somente aquele criado a pasto, podendo receber todo tipo de agroquímicos. Já o Boi Orgânico deve seguir as seguintes regras:
- Drogas hormonais;
- Tranqüilizantes sintéticos;
- Drogas estimulantes;
- Anti-helmínticos sintéticos;
- Anti-oxidantes;
- Nitrogenados e quimioterápicos;
- Hormônios;
- Agrotóxicos;
- Pigmento para acentuar a cor, aromatizantes e flavorizantes nos produtos processados;
- Compostos arsenicais;
- Hormônios e os promotores de crescimento e de lactação sintéticos, administrados por qualquer via;
- Estabulação permanente dos animais;
- Formas de manejo e transporte que levem ao sofrimento, estresse ou alteração do comportamento dos animais;
- No abate é proibido o uso de bastões elétricos;
- Alimento de origem animal são proibidos.
Fonte: Revista Eco 21: www.agrorgânica.com.br
Autor: Laudemar de Amorim, lamorim@lamorim.com.br