As Abelhas Indígenas – Meliponíneos

As abelhas nativas sem ferrão alcançam mais de 300 espécies e são distribuídas na Zona Tropical e Subtropical, nas Américas do Sul e Central, mais Malásia, Índia, Indonésia, África e Austrália.

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As abelhas nativas são conhecidas no meio científico como Meliponíneos. Pertencem à ordem Hymenóptera, à sub-família Meliponinae, agrupadas em três tribos: Meliponini, Trigonini e Lestrimelitini.

As abelhas sem ferrão brasileiras constituem-se nos polinizadores principais de 90% das árvores brasileiras, algumas das quais dependem exclusivamente destes insetos. As espécies possuem tamanhos, formas, coloração e hábitos os mais diversos. Dependendo de cada espécie, os ninhos contém de 500 a 80.000 indivíduos.

O principal interesse pela criação de abelhas sem ferrão está no prazer que o manejo diário proporciona ao homem e sua família, uma vez que esta atividade não representa qualquer risco de acidentes com enxames. É a natureza, e indiretamente o homem, os que mais lucram com os efeitos da criação e preservação destas abelhas, devido aos serviços de coleta de pólen das flores prestados pelas campeiras.

Ao se movimentar sobre as flores em busca do pólen, as abelhas promovem a fertilização das plantas, assegurando a sua multiplicação e perpetuação. Grande parte dos vegetais presentes no Brasil dependem exclusivamente da polinização realizada por estas espécies de abelhas sem ferrão. Daí a grande importância de se preservar estas abelhas, evitando-se o desmatamento desordenado, as queimadas, o uso indiscriminado de agrotóxicos e o extrativismo do mel.

Como muitas dessas espécies produzem mel saboroso, é muito grande a procura pelos próprios meleiros, que retiram o mel destruindo a colméia, assim contribuindo para a extinção dessas abelhas em algumas regiões.  A criação dessas abelhas e a sua exploração racional podem contribuir para a preservação das espécies e dar ao meliponicultor oportunidade de obter mel.

As abelhas sem ferrão, assim chamadas por apresentarem este instrumento de defesa atrofiado, são verdadeiramente insetos sociais. As colônias possuem uma rainha-mãe, várias gerações de operárias, além dos machos dependendo da condição geral da população.

Geralmente, encontramos machos nas épocas onde existe bastante alimento e presença de células reais, sinal que haverá em breve fecundação de rainhas virgens. Os machos são menores e não possuem corbícula, existente nas patas traseiras das operárias, responsáveis pela coleta de pólen das flores.

As operárias de meliponíneos vivem, em média, 30 a 40 dias e são quase brancas ao saírem dos favos, escurecendo com o passar do tempo. Na vida adulta, desempenham diversas funções no ninho, seguindo normalmente a seguinte ordem: faxineiras – nutrizes – arquitetas – ventiladoras – guardas – campeiras.

A rainha, quando fecundada, apresenta o ventre bem dilatado, podendo ser localizada facilmente a olho nu. Normalmente, habita a área de cria, circulando por entre os favos. Existem poucos relatos de fuga de meliponíneos, devido à impossibilidade de vôo da rainha fecundada.

Elas constroem seus ninhos em ocos de árvores, cupinzeiros e formigueiros abandonados, e nos mais variados locais onde encontram espaço e segurança suficientes para o desenvolvimento da colônia (postes, paredes, muros, caixas de força, armários, pedreiras, etc.).

Na elaboração dos ninhos, as abelhas utilizam diversos materiais de construção tais como a cera pura, o cerume (mistura de cera + própolis) ou ainda o batume (própolis + barro), destinados à delimitação do espaço. Algumas espécies usam cadáveres e excremento para construir suas moradias, como já observado em Jandaíra, Uruçu e Irapuá.

Dentro dos ninhos, elas guardam mel e pólen em potes ovalados de cerume. Eles ficam localizados próximos aos favos de cria, dependendo do espaço disponível na colônia. Os favos de cria são normalmente dispostos em forma de discos empilhados, sendo que algumas espécies apresentam favos em forma espiral e em cachos. Várias espécies envolvem a área de cria com uma capa folheada de cerume (invólucro), para proteger larvas e abelhas mais jovens das variações da temperatura.

No Brasil, existem mais de 300 espécies de abelhas sem ferrão, divididas em Meliponas e Trigonas. Através de algumas características gerais podemos distinguir esses dois grupos.

Os representantes mais populares são a jataí (Tetragonisca angustula), uruçu (Melipona scutellaris), tiúba (Melipona compressipes), jandaíra (Melipona subnitida), borá (Tetragona clavipes), mandaçaia (Melipona quadrifasciata), etc.

Seus ninhos são um espetáculo a parte de arquitetura e organização. Geralmente se alojam em cavidades de tamanhos adequados as quais elas acabam de acondicionar com barro, cera e resina. Estas cavidades podem ser ocos de velhas árvores, cipós ou bambus, em ninhos (abandonados ou não) de aves, cupins e formigas e até tijolos ocos, frestas nas paredes, cabaças, panelas. Os ninhos mais fáceis de ver são das espécies que constróem sobre as árvores, e que podem chegar a ter cerca mais de 100.000 indivíduos, como o da famosa irapuá (Trigona spinipes).

A entrada (muito variável conforme a espécie) nos conduz a um mundo fantástico, construído basicamente de uma mistura da cera secretada no dorso das abelhas e resina coletada de plantas (o própolis). Esta combinação chamada de cerume não é casual, pois unem-se as características de maleabilidade e isolamento térmico da cera com o poder antibiótico das resinas. Este material é manipulado incessantemente por operárias para a construção de colunas, potes de pólen e mel, lâminas de isolamento térmico e as células de cria.

A organização social destas abelhas apresenta assim muitas peculiaridades que são desafios científicos:

    * muitas espécies produzem um mel de excelente qualidade – incluindo-se alguns dos quais a medicina popular atribui qualidades terapêuticas;

    * a criação de abelhas sem ferrão é muito fácil até na cidade. A docilidade da maioria das espécies e seu comportamento fascinante as tornam um excelente material lúdico para os adultos e um instrumento de educação ambiental para as crianças;

    * seu papel chave nos ecossistemas dificilmente é apreciado na sua plenitude. As abelhas campeiras, ao coletar o néctar e o pólen, visitam quase todo tipo de arbustos e árvores com flores, servindo assim de agentes polinizadores nas matas e plantações.

Para que estes seres tão benéficos para os ecossistemas tropicais e para o próprio homem continuem existindo temos que tomar medidas, que aliás são as que todos já conhecemos, e que não ajudam só às abelhas, mas a muitas outras espécies.  

Tribo Meliponini 
Nome Popular Nome Científico
Uruçu do litoral baiano, uruçu gigante, uruçu da praia, uruçu verdadeira Melipona scutellaris scutellaris
Uruçu boca-de-renda Melipona seminigra
Uruçu amarela, tuiuva, jandaira Melipona rufiventris
Uruçu mirim, mandari Melipona asilavel
Mandaçaia

Melipona quadrifasciata quadrifasciata

Melipona quadrifasciata anthidióides

Anthicliodes

Melipona mandaçaia

Guaraipo-manduri, gurupu, pé-de-pau Melipona bicolor
Tribo Trigonini
Nome Comum Nome Científico
Jataí-itajaó, inhanti, mosquitinho Tetragonisca angustula angustula
Isaí, lambe-suor Nonatrigona testaceicosnis
Marmelada, moça branca, mané-de-abreu Friesemellita varia
Mandaguari-tiúba

Scaptotrigona postica

Scaptotrigona bipuncatea

Tubi, tiuba amarela, tiuba vernelha Scaptotrigona xanthotricha
Tiuba preta Scaptotrigona sp
Irapuá, arapuá, abelha cachorro Trigona spinipes
Tataira, caga fogo Oxytrigona tataira
Mirim preguiça Frisella schrottkyi
Principai Espécies Melíferas
Nome Popular Nome Científico Família Floração
Acácia negra Acacia mearnsii Mimosaceae jul-ago
Açoita-cavalo Luehea divaricata Tiliacease jan-fev
Araçá Psidium cattleianum Myrtaceae set-jan
Aroeira Schinus terebinthifollius Anacardiaceae jun-ago
Assa-peixe Vernonia beyrichii Asteraceae jun-ago
Guaçatunga Casearia decandra Flacourtiaceae jun-jul
Cambará Gochnatia polymorpha Asteraceae nov-jan
Camboatã Cupania vernallis Sapindaceae mar-abr
Canela-lajeana Ocotea pulchella Lauraceae out-nov
Caqui Diospyrus kaki Ebenaceae set-out
Carqueja Bacharis spp Asteraceae mar-abr
Cipo-são-joão Pyrostegia venusta Bignoniaceae jun-ago
Eucalipto Eucalyptus spp Myrtaceae jul-dez
Feijão-guandu Cajanus indicus Fabaceae abr-out
Guabiroba Campomanesia xanthocarpa Myrtaceae set-out
Guaco Mikania spp Asteraceae jul-ago
Grevilha Grevillea robusta Proteaceae jul-ago
Cafezeiro-bravo Casearia sylvestris Flacaourtiaceae jul
Jerivá Syagrus rormanzoffianum Arecaceae dez-abr
Laranjeira Citrus sinensis Rutaceae ago-set
Limoeiro Citrus lemon Rutaceae ago-set
Leucena Leucena leucocephala Mimosaceae jan-mar
Macieira Prunus malus Rosaceae out-nov
Maricá Mimosa bimucronata Mimosaceae jan-mar
Miguel-pintado Matayba elaeagnoides Sapindaceae out-nov
Milho Zea mays Poaceae out-dez
Pata-de-vaca Bauhinita forficata Caesapilnaceae jan-fez
Pêssego Prunus persica Rosaceae jun-out
Pêra Pyrus communis Rosaceae jul-out
Pitango Eugenia uniflora Myrtaceae set-out
Tarumã Vitex megapotamica Verbenaceae set-out
Trevo-branco Trifolium repens Polygonaceae abr-jun
Trigo-sarraceno Fagopyrum sagitatum Polygonaceae abr-jun
Uva-do-japão Houvenia dulcis Rhamnaceae mar-abr
Vassourão-branco Piptocarpha abgustifolia Asteraceae out-jan

Redação Ambientebrasil