Silvicultura do Pinus III – Vespa da Madeira (Sirex noctilio)

A Praga da Vespa da Madeira em Reflorestamento de Pinus sp.

Atualmente, há cerca de seis milhões de hectares de plantações florestais no Brasil, dos quais dois milhões com diferentes espécies do gênero Pinus. As espécies de Pinus, na América do Sul, permaneceram por muito tempo isentas de pragas e doenças. Entretanto, a partir dos anos 80, várias espécies de insetos e fungos foram introduzidas no Continente, provocando sérios danos a reflorestamentos implantados com essas espécies.

Assim, várias pragas ameaçam a viabilidade futura dos plantios de Pinus e também a diversidade arbórea como um componente de programas de reflorestamentos sul americanos. Entre elas está a vespa da madeira, Sirex noctilio: ordem Hymenoptera, sub-ordem Symphyta, família Siricidae, subfamília Siricinae, gênero Sirex Linnaeus, 1761. Este inseto está associado a um fungo, Amylostereum areolatum, o qual é tóxico para certas espécies de Pinus.

Inseto nativo da Europa Central, Oriente Próximo e norte da África, o Sirex noctilio, nos locais de origem, são consideradas como praga secundária em troncos de Pinus. Entretanto, quando introduzida na Nova Zelândia, Tasmânia e Austrália, causou danos em grandes áreas reflorestadas, notadamente nos plantios de Pinus não desbastados e superestocados (mais de 1.600 a 1.700 plantas/ha), com idade entre 15 a 20 anos, conseqüência de um manejo inadequado ou pela falta de mercado para a madeira no início do século. Assim, foram iniciados na Nova Zelândia e Austrália os programas de controle biológico da praga, desenvolvendo – se estudos sobre seleção de hospedeiros ou gêneros específicos de parasitóides da área de origem da vespa-da-madeira.

Na América do Sul, a Sirex noctilio foi registrado pela primeira vez, em 1980, no Uruguai, e em 1988 foi constatada no sul do Brasil. Durante o primeiro encontro de Grupo de Trabalho Permanente em Sanidade Vegetal, ocorrido em 1992, no Brasil, os países do Cone Sul (Argentina, Brasil, Chile e Uruguai), identificaram S. noctilio como praga que oferecia ameaça às plantações de Pinus na América Latina.

A praga inicialmente constatada em povoamentos de Pinus taeda no Rio Grande do Sul já em 1989 foi observada em Santa Catarina, e em 1994 foi diagnosticada no Paraná. Atualmente, a S. noctilio está presente em aproximadamente 250.000 hectares de Pinus spp., em cerca de 60 municípios dos três estados do Sul do Brasil. No Paraná, a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento – (SEAB, 07/00), editou o mapeamento dos municípios com a incidência da vespa da madeira.

Estima-se que as perdas causadas pela praga atinjam U$ 5 milhões/ano na sua área de distribuição nos estados do RS, SC e PR.

Biologia e Ecologia do Sirex noctilio

A maioria dos insetos adultos emerge, no Brasil, de novembro a abril, com picos de emergência nos meses de novembro e dezembro. Os machos começam emergir antes das fêmeas. A proporção entre machos e fêmeas é de 1,5 macho para 1,0 fêmea.

Após o período inicial de vôo, as fêmeas perfuram o tronco das árvores com seu ovipositor e colocam seus ovos no alburno. Em cada local de oviposição, esses insetos podem perfurar até 4 (quatro) galerias. As fêmeas maiores colocam de 300 a 500 ovos, em aproximadamente 10 dias. No Brasil, foi observado que o número médio de ovos nos ovários das fêmeas dissecadas varia de 20 a 430, com média de 226 ovos. Durante as posturas, as fêmeas introduzem esporos (artrosporos) de um fungo simbionte, Amylostereum areolatum, e uma secreção mucosa fitotóxica, que são os causadores da toxicidade e da conseqüente morte das plantas. O fungo, que serve de fonte de nutrientes para as larvas da praga, é responsável pela morte da árvore e pela podridão na madeira.

Além disso, a qualidade da madeira é afetada pela atividade das larvas que constroem galerias, pela penetração de agentes secundários que danificam a madeira, limitando seu uso ou tornando-a imprópria para o mercado. Após a morte da árvore, a madeira é degradada rapidamente e sua utilização deve ser feita no máximo seis meses após ter sido atacada.

Os plantios mais susceptíveis ao ataque de S. noctilio geralmente têm entre 10 e 25 anos de idade e estão sob estresse. Povoamentos sem desbastes são mais susceptíveis ao ataque do inseto do que os desbastados.

Os sintomas de ataque começam a aparecer logo após os picos populacionais do inseto (novembro e dezembro), sendo mais visíveis após a revoada, a partir do mês de março.

As características externas mais visíveis que denotam a presença de S. noctilio são: progressivo amarelecimento da copa que depois se torna marrom avermelhada, esmorecimento da folhagem, perda das acículas, respingos de resina na casca (em função da perfuração para oviposição) e orifícios de emergência de adultos. Os sintomas internos são: manchas marrons ao longo do câmbio, devido ao fungo, e galerias feitas por larvas.

Programa Nacional de Controle à Vespa da Madeira (PNCVM)

É inevitável a disseminação dessa praga por todas as áreas com Pinus no Brasil, visto que a praga pode dispersar-se naturalmente entre 30 e 50 km por ano, o que requer medidas urgentes e eficazes para controlar, monitorar e retardar sua dispersão.

A necessidade urgente de controle do inseto fez com que entidades particulares e representativas ligadas ao setor madeireiro, bem como órgãos públicos sensíveis ao problema, criassem em junho de 1989 o Fundo Nacional de Controle à Vespa da madeira – FUNCEMA e o Programa Nacional de Controle à Vespa da Madeira – PNCVM. O FUNCEMA, entidade civil sem fins lucrativos, congregando aproximadamente 100 empresas do setor madeireiro dos três estados do Sul do Brasil, tem como principal objetivo o aporte de recursos para o desenvolvimento do “Programa Nacional de Controle da Vespa da Madeira”. O Programa tem a incumbência de proporcionar estímulo imediato às atividades de pesquisa, em convênio com a Embrapa Florestas, para geração e adaptação de tecnologias, visando o monitoramento e o controle da praga.

Controle Biológico de Sirex noctilio

Experiências bem sucedidas onde a praga foi introduzida demonstram que o controle biológico associado a medidas de prevenção é o método mais eficaz e econômico para o combate de Sirex, principalmente por tratar-se de uma praga exótica, introduzida sem o seu complexo de inimigos naturais. Para a implantação de um programa semelhante, no Brasil, foram introduzidos o nematóide Deladenus siricidicola e os parasitóides Ibalia leucospoides, Rhyssa persuasoria e Megarhyssa nortoni, visando proporcionar uma maior estabilidade da praga com o seu ecossistema.

O nematóide Deladenus siricidicola age por esterilização das fêmeas do Sirex noctilio. Apresenta dois ciclos de vida: um de vida livre, alimentando-se do mesmo fungo simbionte da vespa da madeira e outro de vida parasitária, dentro de larvas, pupas e adultos de S. noctilio. Pelo fato de apresentar o ciclo de vida livre alimentando-se do fungo Amylostereum areolatum, pode facilmente ser criado em laboratório e liberado em campo, através de sua aplicação em árvores atacadas por S. noctilio, podendo atingir níveis de parasitismo próximos a 100%.

AIbalia leucospoides é um endoparasitóide de ovos e larvas da vespa da madeira dentro da árvore enquanto que a Rhyssa persuasoria e a Megarhyssa nortoni, pelo fato de apresentarem um longo ovipositor, atacam larvas da vespa em estágios mais avançados de desenvolvimento.

Quanto à dispersão destes parasitóides, a Ibalia leucospoides pode dispersar-se rapidamente a longas distância (até 80 km) e, quando atinge áreas novas, reproduze-se intensamente. Foi observado também que a I. leucospoides é mais eficiente em locais secos. Rhyssa spp. e Megarhyssa spp. podem se dispersar por todas as áreas infestadas por Sirex, de 7 a 18 km, respectivamente, do ponto de liberação.

O complexo de parasitóides (Ibalia + Rhyssinae) pode eliminar até 70% da população de S. noctilio em determinados locais (Nutall 1989). Entretanto, observou-se que, usualmente, não atingem mais do que 40% da população, percentual este insuficiente para evitar que os ataques da vespa da madeira atinjam níveis elevados, mas que são importantes para manter o equilíbrio ecossistema/praga.

Medidas de Prevenção e Controle

Medidas de Prevenção e Controle através de operações silviculturais

Trabalho dos Voluntários – Rio Iguaçu – ParanáDesbaste: um manejo florestal adequado, consorciado com medidas preventivas evitam o alastramento da praga.

Sanidade florestal: restos de desbastes devem ser eliminados ou queimados para que não sirvam de criadouro da praga.

Tratamento quarentário: secar toda madeira de Pinus, por 48 horas (mínimo) a uma temperatura de 60ºC. As toras que não tenham sido secas em estufa, não devem sair da região infectada.

Instalação de árvores-armadilha: procedimento simples. Em quatro grupos de cinco árvores (cada 100 ha) é aplicado o herbicida Dicamba, a fim de se detectar pontos estratégicos e probabilidades de ataques.

Inoculação de nematóides: o nematóide (Deladenus siricidicola), esteriliza as fêmeas da vespa controlando em média 70% da população da praga.

Parasitóides:Ibalia leucospoides, Megarhyssa nortoni e Rhissa persuasoria; espécies que matam as larvas da vespa-da-madeira.

Medidas de monitoramento instalação de árvores-armadilha 

A utilização de árvores-armadilha, através do estressamento das árvores, é uma técnica muito eficiente e utilizada principalmente para detectar a presença de Sirex sp em níveis populacionais baixos proporcionar pontos para a liberação de inimigos naturais. Além disso, a detecção nos estágios iniciais e de colonização de Sirex noctilio permite o conhecimento da necessidade de realizarem-se desbastes antes que a praga atinja níveis de dano.

A manutenção de um sistema de árvores-armadilha pode aumentar significativamente a eficácia do controle biológico da vespa da madeira. A Embrapa Florestas  recomenda:

  • O processo de instalação de árvores-armadilha deverá ser efetuado anualmente, visto que há um progressivo decréscimo na atratividade à Sirex noctilio, de um ano para outro.
  • As árvores armadilhas devem ser instaladas no período de 15 de agosto a 30 de setembro.

A instalação das árvores-armadilha deve se dar em grupos de cinco árvores, de preferência com DAP entre 10 e 20 cm, variando a distância entre grupos, de acordo com o local onde a praga se encontra, tais como:

  • em áreas onde o Sirex está presente, bem como em áreas distantes até 10 km do foco, instalar grupos de cinco árvores a cada 500 m;
  • a uma distância de 11 a 50 km do foco, os grupos de árvores-armadilha deverão ser espaçados a cada 1.000 m;
  • acima de 50 km do foco, principalmente em áreas de fronteiras, os grupos deverão ser distanciados a cada 10 km;
  • em áreas onde o inseto está a mais de 200 km, a vigilância florestal é a técnica mais adequada.

Os grupos de árvores-armadilha deverão ser revisados entre janeiro e maio, para verificar-se a presença do ataque do inseto.

Assim que a Sirex noctilio for detectada na região, o número de grupos de árvores-armadilha deve ser aumentado e estes devem ser instalados em plantações susceptíveis, próximas as serrarias, nas principais rotas de transporte de madeira e nas bordas de dispersão natural da praga. Também recomenda-se que, nas áreas infestadas, realize-se a amostragem seqüencial, como forma de efetivar um monitoramento mais detalhado.

Uma vez detectada a praga, nas árvores atacadas deve ser aplicado o nematóide Deladenus  siricidicola. Após o estabelecimento dos agentes de controle biológico na região e do declínio da população de S. noctilio, os grupos de árvores-armadilha devem ser instalados para monitorar a presença da praga e de seus inimigos naturais. (Resolução 0215/96 – SEAB)

Medidas de controle biológico

Após a detecção de árvores atacadas, é necessário o início do processo de controle biológico pela aplicação do nematóide Deladenus siricidicola. A Embrapa Florestas, através do laboratório de Entomologia, tem mantido a criação massal deste inimigo natural, assim como sua distribuição para inoculação no campo.

Algumas características desse processo:

  • Os nematóides são distribuídos na forma de doses de 20 ml, contendo cada uma cerca de um milhão de nematóides. Com cada dose, é possível tratar aproximadamente 10 árvores, pois em cada árvore são inoculados em torno de 100.000 nematóides.
  • Ao serem recebidas pelos produtores, ou pelo técnico inoculador, as doses devem ser mantidas em geladeira, à temperatura entre 5º e 8º C. Cada dose tem validade de 7 dias.
  • A temperatura ambiente, durante a inoculação, deverá estar entre 7º e 20º C, pois temperaturas superiores ou inferiores tendem a provocar a morte dos nematóides. O inóculo deve ser armazenado e transportado em caixas de isopor com gelo, à temperatura entre 5º a 15º C, não devendo nunca ser congelado.
  • Outro cuidado técnico muito importante para o sucesso da aplicação de nematóides é a atenção que deve ser dispensada para com o estado de conservação do martelo vasador.

Ações Preventivas de Longo Prazo

As árvores resistentes a S. noctilio são aquelas que se mantêm – se sem danos, apresentando crescimento vigoroso em bons sítios e talhões bem manejados. Um controle mais efetivo de pragas pode ser obtido, a longo prazo, pela aplicação de práticas silviculturais, criando razoável resistência floresta-inseto. Assim, as perdas devidas a insetos podem ser reduzidas.

Medidas Quarentenárias e Recomendações

ASirex noctilio pode dispersar-se naturalmente de 30 a 50 km por ano. Contudo, o transporte de madeira das áreas atacadas para áreas onde ainda não tenha sido detectada a sua presença aumenta a probabilidade de dispersão.

É provável que a S. noctilio foi introduzido no Brasil, vindo do Uruguai. Em função disso, a fiscalização das áreas afetadas e a proibição do transporte de madeira de áreas atacadas para outras são fundamentais para impedir o rápido avanço da praga.

S. noctilio é essencialmente uma praga oportunista. Portanto, a prevenção contra danos, é um problema de manejo, que pode ser aliviado pela vigilância dos plantios e pela aplicação de tratos silviculturais adequados.

Como tratamento curativo, além da realização de desbastes fitossanitários, é fundamental a utilização de agentes de controle biológico.

Mapeamento da Área do Estado do Paraná, atacada pela Vespa da Madeira

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Redação Ambiente Brasil